A proximidade das eleições requenta o debate político, levanta poeira e embaça a visão do eleitor, relativizando a importância do voto. De saco cheio com a pasmaceira algumas pessoas propagam a anulação do voto em todas as instancias. Todavia, no conjunto dos fundamentos democráticos o voto é a prerrogativa individual mais eficaz. O voto era o bicho papão do político profissional. Deixou de ser! Os políticos não temem mais nem Deus nem o Diabo. Eles temem apenas o Ibope.
O gigantesco poder do marketing político tudo mudou. As campanhas políticas travam seus combates no território do marketing. O esquema é simples e funciona muito bem. O conceito de que a voz do povo é a voz de deus, levado aos extremos, eleva a aceitação popular de um personagem político ao nível de Verdade. A estratégia mais comum do marketing político é grudar nesse aforismo. É a versão política do toque de Midas. Essa estratégia se baseia na convenção de que tudo que é popular é bom e representa o bem. Tudo que daí deriva é Verdade. Tempos atrás a propaganda de um fabricante de eletrodomésticos produziu uma campanha promocional baseada nesse artifício e obteve grande êxito propagandístico. Divulgação gratuita e espontânea das massas. Quem não quer? O slogan empolgou de tal forma o público que se tornou uma forma popular de avaliação de coisas e mesmo pessoas. A frase era simples e eficaz, pois conferia ao público consumidor o ilusório poder de qualificar coisas, produtos e pessoas da mesma maneira que se anuncia uma lavadora automática: “Não é nenhuma Brastemp”. Esse slogan foi copiosamente utilizado até por pessoas dos níveis médio/superior de instrução. A ardilosa armadilha agregou ao departamento de vendas do fabricante, sem nenhum custo adicional, uma multidão de garotos propagandas. O sucesso do slogan se confirmou na empatia popular pela frase, ainda que a maioria dos repetidores não tivesse condições financeiras de comprar o produto.
O marketing político, baseado em técnicas específicas consolidou sua estratégia a partir desse nexo. A inconsistência da política parlamentar movida, na grande maioria, por interesses alheios a coisa pública, fez desaparecer a oposição combativa. Os políticos que divergem do governo o fazem de forma lerda, insossa e solitária. Afinal, a oposição tem que seguir seu roteiro de marketing. Os políticos menos volúveis sonham com o dia em que surgirá no seio da sociedade, quer dizer, de uma pequena fração de cidadãos indignados, o apoio político que os manterá no poder por mais uma legislatura. Nesse ínterim, cidadãos insatisfeitos, espantados diante de tamanha mediocridade, assistem a destruição paulatina da ética e a perpetuação da gênese dos conchavos políticos mais vergonhosos.
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