sábado, setembro 30, 2023

A passiva mediocridade da cultura contemporânea me passa uma sensação desoladora. A Era da Informação descortinou novos horizontes para o conhecimento,sem dúvida. De repente, o mundo livre, plural e criativo aflorou diante dos nossos olhos e no tocar dos dedos. Logo de início o 'status quo' sentiu-se ameaçado pela quebra de hierarquias e a abolição dos comuns. Depois, reagrupando forças no ideário woke e na caretice vitimista 'politicamente correta' , eles voltaram com tudo, cobrando alto custo para a liberdade de expressão,empurrando para o degredo as inteligências transgressoras e silenciado o espírito outsider. Paradoxalmente, o plasma embrionário resultante da ruptura da cultura digital, invés de dar vida plena às mais elevadas virtudes, deu origem a tipos cheios de certezas, altruístas pragmáticos revestidos de moral suprema, que interpretam não apenas a Constituição mas a vontade do todo social. Eles nada desejam para si Dedicam suas vidas para normatizar o 'bem comum'. Hordas de defensores dos oprimidos -por 'outros' que não eles mesmos- transitam com orgulho nas esferas virtual e presencial. Jornalistas lacradores, influencers serviçais, acadêmicos tutelares, artistas complacentes, até mesmo diante do evidente cerceamento das liberdades individuais, sentem-se representados pela reedição do 'status quo' progressista pós moderno. Na esfera social mais ampla, o desejo foi publicamente criminalizado e obliterado pelo identitarismo de gênero e, por aí afora. Falar publicamente do desejo virou ofensa social. Hoje, esse tipo de sentimento humano só deve ser compartilhado nas conversas terapêuticas. Ainda é permitido ter nas prateleiras das livrarias obras literárias de um transgressor dos costumes, como Nelson Rodrigues. Os artistas visuais que exaltam a sexualidade, devem ter como medida estética, parâmetros que exaltem a identidade de gênero. Desejo,não! A ária progressista "Avançar socialmente" (sic) é uma armadilha para extrair a identidade do indivíduo e dar vida ao coletivo domesticado. É um ardil cruel. O retorno dos que nunca partiram, é exaltado como o reino superior dos oráculos da democracia. Mas, no nivel do mar, aos olhos dos comuns o que fazem deliberadamente é interromper e censurar o livre fluxo de ideias, vendendo o truque igualitário como simulacros de respeito à diversidade, ocultando dos ingênuos e incautos sua verdadeira face de consenso opressor.

segunda-feira, setembro 11, 2023

Ainda que não tenhamos um quadro claro sobre as transformações advindas da universalização da cultura digital, o que me vêm a mente são os métodos recorrentes nas simplificações de novos termos no meio social. O mesmo parece acontecer agora em relação ao termo 'disruptura' que, em analogia ao termo 'ruptura' do periodo da 'vanguarda historica', me parece uma discrepância reducionista. Os impulsos que culminaram nos movimentos da vanguarda historica,que antecedeu os varios grupos da 'contra cultura' e posteriormente se amalgamou no que se convencionou chamar de 'pós modernismo' .Para mim, é um acúmulo de equivocos que servem apenas para legitimar estilos,porém,não penetraram profindamente na mentalidade do nosso tempo. Sempre haverá inquietação sobre os desdobramentos da cultura. Lembro quando o pensador francês Lyotard transpôs o termo Pós Modernismo para vetores da produção artistica/ cultural,em meados do século XX. O termo teve origem entre engenheiros e economistas para datar o acesso às novas tecnologias de produção, posteriores à Era Industrial. Contudo, trouxe algum conforto e aparentemente suprimiu dúvidas no meio cultural. Logo o termo foi apropriado por milhares de pessoas das artes e cultura do período.Aquela época foi marcada por grande ansiedade. Buscava--se um termo(ideia) que identificasse e até certo ponto legitimasse uma produção que romperia(sic) em definitivo, os padrões estéticos (significado/mensagem) da modernidade consagrada, digamos assim. O vago paradigma pós moderno foi campo fértil para florescer a ideia de que "tudo é arte e todo mundo é artista".Pretensão ingênua, fundada em um conceito tosco de que se tratava de uma ruptura capaz de destruir hierarquias e padrões estéticos antecedentes. Até meus amigos, adeptos das teorias 'desconstrucionistas', viam aquilo como uma ode ao 'laizes faire' juvenil. Vale lembrar que naquela ocasião, entre os vetores da cultura, as empresas de comunicação surfaram numa onda de prosperidade e atingiram indices fabulosos em volume de público/espectador/leitor, quanto em poder econômico. Então, surge a Era da Informação. Logo em seguida os desdobramentos da Internet em sites e plataformas digitais de comunicação interpessoal em escala global. O que até então parecia um futuro promissor, da noite para o dia, se revelou uma surpreendente realidade . O que muitos achavam que seria um processo cultural gradual, foi veloz e abrangente. A disruptura digital foi fulminante. Pegou a todos mais rapidamente do que supunham e desejavam. Foi um fenômeno que penetrou profundamente na mentalidade de milhões de pessoas mundo afora,independentenente das suas peculiaridades culturais e características regionais. Em resumo; refletir ou projetar o presente pelo viés da cultura analógica, é,hoje, uma tarefa árdua que pode reverter em solitária melancolia e também em grandes frustrações para editorias empresariais que detinham a hegemonia da comunicação social.