quinta-feira, dezembro 24, 2015

War in Cyberspace




Renegados 'on line' são caçados mundo afora por xerifes da rede.
A rebeldia dos ativistas da free web contra as reservas dos grandes domínios e a lei dos direitos autorais que cerceiam a informação pelo viés econômico e da segurança de dados, despertou bandos de renegados espalhados pelo mundo.
O problema é complexo e de difícil solução.
A justiça norte americana tenta debelar o movimento pelo viés da lei.
Há tempos o renegado Kim Dotcom chefe do Magaupload e seu bando se mandaram do território americano. Se refugiaram na Nova Zelândia e de lá continuam a pulsar fluxos digitais na rede mundial de computadores. O movimento conta com a simpatia de milhões de usuários. Os ativistas da free web contestam os critérios legais que protegem as grandes empresas de entretenimento que cerceiam a livre informação. Alegam que a internet é território livre, avesso ao controle empresarial e do estado, item previsto na constituição americana que protege o livre transito do conhecimento. As autoridades americanas fecharam o site de compartilhamento de arquivos Dotcom, Magaupload, que já foi um dos sites mais populares da Internet. Os promotores acusam o site de ter arrecado pelo menos US $ 175 milhões, com download ilegal de filmes. Os promotores acusam os homens de conspiração para cometer infração de direitos autorais, extorsão e lavagem de dinheiro. Se forem considerados culpados, eles poderiam enfrentar décadas de prisão.
Os acusados contestam. Dizem que se trata de falsa acusação e que o site viabiliza enorme gama de informação e conhecimento que não devem se ater ao controle empresarial ou do estado.
Um julgamento histórico está em vias de bater nos tribunais americanos. O Juiz Dawson presidiu uma audiência de extradição e delineou o processo contra os quatro homens Em sua decisão sobre o pedido de deportação, o juiz Dawson escreveu que a evidência "estabelece um caso ‘prima facie’ para responder por todos os entrevistados em cada um dos aspectos."
O despacho do juiz é necessário para o pedido de extradição.
Contudo, Dawson adverte que não se trata de uma determinação de que os Estados Unidos tenham um caso válido e que a extradição não é uma declaração judicial de que eles são culpados.
Os advogados do Dotcom já disseram que vão recorrer da decisão. O caso pode ter implicações mais amplas para as regras de direitos autorais na Internet.
Ron Mansfield, um dos advogados dos renegados, disse que se a lei dos Estados Unidos prevalecer, compartilhamentos de conteúdo do YouTube para o Facebook teriam que ser necessariamente policiados mais cuidadosamente.
A coisa se complica mais ainda quando os defensores dos renegados alegam que “Hoje, não se fez Justiça", disse Ira Rothken.
Ele aguarda com expectativa a revisão da decisão no tribunal.
O fato pode trazer mais uma crise internacional tipo Snowden. Apesar da pressão dos EUA, ministro da Justiça da Nova Zelândia, Amy Adams, não é obrigada a assinar esse pedido de extradição.
Em um comunicado à imprensa na quarta-feira, a Sra Adams disse que iria esperar a conclusão de eventuais recursos antes de tomar uma decisão.
Guerra nas Estrelas é vesperal dos conflitos internacionais no ciberespaço.

sábado, dezembro 12, 2015

Hit Natalinos

Carta + Carta + Carta
Minha carta desabafo 2015
Hits Natalinos
É grande a lista de alegrias, perdas, ganhos, tolices e tragédias a se refletir e avaliar sobre o ano que se encerra. 
Ainda não tive tempo para brindar a mim mesmo pela pujança do meu instinto animal de sobrevivência contra os ataques sucessivos das três órbitas de governo que teimam em violar a minha integridade pessoal, difundindo a explosão de mal-estar social que vara para dentro e para fora a soleira da porta,excita e estimula a disputa generalizada,a ponto de levar à loucura os militantes da insegurança local e planetária.  
É tanta insistência que mal tive tempo de consultar o marcador do estoque de ‘sorte’ que ainda me resta. 
O impacto na conta corrente desanima ir adiante, mas  a mão invisível do destino me afaga e anima. Ela continua previdente, não falhou nem uma vez em 365 dias. Empurrou-me para longe de uma bala perdida em busca de abrigo num corpo caminhante. Também não precisei ir a um médico por qualquer emergencia, nem fui torturado pela ansiedade hipocondríaca que leva a vítima de um espirro a uma batelada de exames preventivos. 
Na atual conjuntura, a soma desses fatores é quase um milagre. 
Ainda bem que meus neurônios continuam na ativa prestando serviços inestimáveis a minha máquina orgânica. Porém, no tocante a invasão dos ‘inputs’ da comunicação social, o famoso e inescapável mundo exterior, meu humor oscila entre o desprezo absoluto e a atenção esperta de um cão de guarda. 
Hoje, abrindo a caixa de e.mail o compartimento dos neurônios ‘cão de guarda’ rosnaram para os visitantes indesejáveis. 
O que esses seres robóticos pensam que são? 
Que ousadia! 
Antes mesmo que você abra a porta eles já entram trazendo,sorridentes, suas mensagens mercadológicas de paz e amor. 
Pro’s diabos! 
Que papo é esse de impor unilateralmente uma lista dos melhores de 2015? 
As listas de consultas populares não inspiram confiança.Basta conferir o histórico eleitoral para constatar quem são os "eleitos" pela maioria.
Ora, se a vizinha alcoólatra dorme embalada pelos hits do momento e acorda todas as manhãs de cara com um programa ‘up’ de uma apresentadora “modelo” na Tv , não significa que o morador da porta ao lado é obrigado a socializar com essa merda. Sou gentil com ela. Não tenho preconceitos contra alcoólatras, mas me previno de ser atingido pela insistência que assola as mentes entorpecidas. 
Mas, são as mentes entorpecidas que mais absorvem as mensagens afirmativas. Certos dessa máxima, as agências de comunicação e marketing acham que todos são dependentes da ‘droga’ da comunicação social. 
Fundados nesta certeza atacam todas as mentes,na ânsia de coletar um clique e respostas imediatas dos espectadores distraídos,ávidos pela coletivização das celebridades e deslumbrados em geral. 
Ja disse mais de mil vezes,repito outras mil:me lixo para a lista dos ‘10 Mais de 2015’. 
Os Top 10 são escolhidos por dez trouxas financiados por dez empresas da industria editoral,galeristas,estetas fashion e o escambau mercadológico. 
Consulte a lista do júri que os elege e constate a corrente ‘pra frente’ do jornalismo cultural que os elege. 
Não queria estar nessa escolha nem para entrar no paraíso cercado de  72 virgens louquinhas para dar,banquetes intermináveis, tâmaras e mel.  
Não importa o que eu ache.Eles são impessoalmente  gentis e acolhedores mesmo com quem os despreza. 
Por isso,antes que o Leão da Receita rosne no início de 2016, eles invadem na maior desfaçatez as veias abertas do ciberespaço para te encher de comunicação amigável listando "Quem foi Quem em 2015",os artistas mais vendidos,os preços mais espetaculares nos leilões de arte,o personagem do Ano etc e tal, ao mesmo tempo em que te desejam um ano novo cheio de coisas velhas, repetitivas,cheirando a mofo e se arrastando nas filas dos espectadores de uma arvore de natal ‘socializada’, boiando na lagoa.Uma coisa eles tem certeza.Milhares de replicantes entorpecidos pelo sucesso alheio 'compartilharão' essas maravilhas da ilusão mercantil.
Bom Natal, Papai Noel Coletivo! 
Mas, por favor, me tira dessa generosidade histérica.

quinta-feira, novembro 19, 2015

As artimanhas da moral absoluta.



As argumentações dos progressistas -made in Brasil e dos democratas - politicamente corretos - made in USA- convergem para um ponto comum.Para os dois vetores do protagonismo político moderado as democracias do ocidente são os principais culpados pela expansão do terror mundo afora. 
As argumentações diferem em alguns detalhes(armas,petróleo), todavia, se estabilizam na certeza de que a mais devastadora violência contra a humanidade se origina dos três pilares do vicio,da dominação e da ganância que conduzem ao crime.São eles:a democracia, as garantias à liberdade individual e o livre mercado .
Os multiculturalistas são unanimes em afirmar que esses vetores, expandidos em operações culturais,econômicas e militares além mar, se constituem armas de guerra política. Vem dessa hipótese maluca a ideia de que o maior erro das potencias ocidentais foi tentar impor a democracia na regão,em detrimento da cultura das castas religiosas.Quando se condena as práticas insidiosas do livre mercado não se aponta os governos corruptos como únicos responsáveis.A tendencia é apontar a permissividade criminosa dos cidadãos que vivem nas democracias do ocidente como cúmplices do sistema.Isso é um blefe que,em certa medida,no entendimento dos progressistas, relativiza a violência jihadista contra civis.
Para os combatentes da jihad islâmica esses itens representam a base de uma ofensiva autócrata contra a qual os fieis devem opor resistência, dispondo inclusive a própria vida ao sacrifício se atirando na missão divina de espalhar o terror enquanto ato de auto defesa dos valores culturais e territoriais mais autênticos. 
Do 11 de setembro aos dias atuais, os combatentes da jihad islâmica tem angariado simpatizantes no ocidente.
Alguns intelectuais dessa banda do mundo estabeleceram uma muralha de proteção onde guardam os argumentos de defesa que atestam,antes de tudo, que os crimes cometidos pelas democracias ocidentais contra aquela região do globo e aos muçulmanos em geral,são inomináveis e infinitamente mais violentos e destruidores. 
Tomarei aqui uma citação fora dos padrões mais elegantes das correntes liberal/progressista do ocidente para ilustrar minhas reflexões.
Todos já estão cansados de saber o que pensa Chomsky sobre a insidiosa vilania das democracias ocidentais.Também estamos fartos de saber que os progressistas nativos consideram os neoliberais os maiores assassinos do planeta.Isso significa dizer que se você não enxerga a realidade por esse viés é porque é um reacionário conivente com o Terror imposto aos povos do Oriente Médio,America Latina,Leste Europeu,Africa e demais vitimas do capitalismo eurocêntrico e norte-americano. 
Todavia,poucos se importam com o que pensa sobre o terrorismo(se é que pensa)os velhos comunistas, para quem os neoliberais,multiculturalistas, progressistas e o escambau são uma tralha burguesa e que,ao fim e ao cabo, merecem -todos- "uma boa bala,um bom paredão e uma boa morte."
O trecho que segue é parte de um artigo intitulado "Atentado em Paris: as lágrimas de crocodilo dos dirigentes europeus e dos EUA " de autoria de Edmilson Costa,secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista Brasileiro.Diz ele:”Esse atentado em Paris se enquadra nas ações de terrorismo puro e simples. Cerca de 130 pessoas foram assassinadas, nenhuma delas possuía relação com o governo ou tinha realizado qualquer ação contra o islamismo. Foram mortos simplesmente por estar no lugar errado, na hora errada. Tratou-se, evidentemente, de um ato bárbaro que ceifou a vida de inocentes, executado por fanáticos, sem nenhum critério político, ideológico ou militar. Na verdade, os executores desse massacre eram apenas peões guiados desde longe por interesses geopolíticos e econômicos do imperialismo, tanto europeu quanto norte-americano.” 
Como vemos o arauto do comunismo foi mais explicito que os liberais/progressista ocidentais na sua condenação aos atos do terror em Paris. Ainda que os comunistas,assim como os jihadistas, sofram alergia crônica à democracia, o autor dessas linhas foi menos “compreensivo” com o terror avulso que os grupos politicamente corretos -made in USA, os progressistas nativos e os multiculturalistas ocidentais no tocante aos atos da sexta feira sangrenta.
Fica evidente que para um comunista ferrenho o “terrorismo puro e simples” sem objetivos políticos nobres,como o deles,é uma violência gratuita.Para um comunista,o terror de inspiração ideológica, cometido em nome de uma ideologia igualitária,fundada na hipótese insana de que o extermínio das diferenças é o caminho para paz, fundamenta a moral na qual a execução em massa dos inimigos burgueses é um terror justificável..
Todavia,todos os segmentos do protagonismo político fluente nas democracias ocidentais são unanimes em admitir que a democracia,as liberdades individuais e o livre mercado são os principais responsáveis pela crescente violência no mundo.
Essas vertentes, a parte algumas diferenças, desprezam as características violentas inseridas na gênese das culturas religiosas.
Todos isentam o islamismo como fomentador de uma cultura da violência.Coincidem na premissa de que a violência contra as mulheres,as minorias étnicas e religiosas e contra tudo mais que permeia o leque da diversidade cultural,são refratários a violência e devem ser redimidos da culpa.
É incrível que uma mentira tão maquiavélica ainda subsista em pleno século XXI. 
Para esses indivíduos, amputar clitóris, dilapidar mulheres supostamente promiscuas, vetar o prazer ao gênero feminino, açoitar e matar infiéis,subestimar crenças,punir com a morte os homossexuais, decapitar os apostatas,doutrinar mentes desde a mais tenra infância é 'natural' as culturas religiosas e,como tal, devem ser respeitadas como algo inofensivo à sociedade.Multiculturalistas defendem abertamente essa tradição por acreditarem que sua permanência não lastreia a opressão,o medo e,claro,o ‘boom’ da violência por todo o planeta.Dado que os muçulmanos, na era global,se tornaram cidadãos do mundo,a arrogância, fundada na moral sagrada, lhes autoriza mudar radicalmente o mundo a fim de elevar a humanidade,como um todo, à categoria de servidores obedientes a Alá.
No seculo passado,a sua maneira, os eugenistas nazi tinham a mesma pretensão de controlar a raça do mundo. 
É difícil encontrar hoje algo mais violento do que isso!
Para esse intento,comum aos diversos vetores do protagonismo politico da atualidade, a democracia ocidental é um estorvo que deve ser combatido até o juízo final.

sexta-feira, novembro 13, 2015

Asas da Carne






































Não leio,comento e compartilho qualquer comentário sobre a frenética escalada de preços das obras de arte.Seja nos leilões ou operações avulsas do mercado. O afã da grande imprensa e do público em geral pelo hipódromo financeiro das artes é motivo de grande frenesi.Propagar  os recordes dos preços de venda de um objeto de arte é apenas tietagem histérica  de quem confunde valor com preço e trabalha de graça para o sistema.O tiete pós moderno responde como um automato aos estímulos da atualidade manifestando orgulho pelos preços estratosféricos que as obras atingem no mercado. O sucesso financeiro de algumas celebridades ocorre,sobretudo,por conta do altos preços propagados pela comunicação social,segmento estratégico do marketing. Depositar crédito nesse mecanismo é pura tolice.Altos  preços excitam o público avido por disputas sem nexo algum. Essas tolices, ao lado das pinturas do Bacon, revelam a grotesca atração dos 'incautos' pela ostentação e a estupidez. Um fato econômico não é um fenômeno artístico.Pagar-se somas elevadas para obras de arte não significa acrescentar virtudes e valor artístico a uma obra de arte. 
A trupe dos boquiabertos e deslumbrados -incluindo alguns artistas embasbacados - festeja os 'lances' que se concretizam em lucros estupendos dos intermediários.Ganhos que os autores e mesmo a arte em si,pouco se beneficiam materialmente.Quem lucra são os intermediários. Nada mais que isso. É bom para um artista vender suas obras  a fim de sobreviver de forma digna com o fruto do seu trabalho e dar segmento a sua produção. 
Os índices do mercado são vitais apenas para operações objetivas das Bolsas de Valores e Mercadorias.Entretanto,usar esses índices como exegese é de uma estupidez cavalar que me enche de vergonha da especie humana e do que ela é capaz.
O fato que interessa e sequer é mencionado é que a ostentação de hoje - o mega preço atingido pela revenda do  tríptico do Bacon tendo Lucian Freud como modelo, pintado em 1969 - coloca em segundo plano o  dado sublime que é o dialogo criativo entre os artistas.Essa obra abre à visão sensível, puramente artística e profundamente afetiva, que irmana os habitantes de um mesmo mundo.
É,em síntese,um registro magistral do afeto sublime que nos une aos amigos.
Monetizar tudo,inclusive fenômenos amorosos, é a banalidade mais recorrente aos imbecis.
A foto ‘Asas de Carne” com o tempo se tornou uma especie de premonição.A interação fotografo/artista estabelecida nas duas pontas da imagem,tanto no olho que captura quanto no modelo que é registrado,se materializa em fina ironia que sabiamente previa o que uma sociedade futura,altamente competitiva e subjugada ao status e ao preço das coisas, faria com as obras dos artistas.
Tiram a carne e devastam a alma.
Depois festejam e dividem os lucros.
Suprema ironia!



Adriano de Aquino

postado em 13/11/2013  TL/














quinta-feira, setembro 10, 2015

Pouco tempo atras os vínculos explícitos entre arte/mercado eram vistos como algo vulgar.Para os puristas de uma hipotética cultura autentica,um anátema.Os últimos trinta anos produziram um fenômeno de massificação em grande escala de bens e serviços com finalidades mercantis.Nada escapa a essa lógica.Os 'insumos' estético-emocionais da criatividade artística foram engolfados pelo sistema e se tornaram ferramentas de fomento de um consumo supostamente mais seletivo e sofisticado.
Entre os milhares de pressupostos atribuídos à arte,um deles muito cultuado no momento,fala do desafio da pessoa no mundo contemporâneo.
Os bens materiais,hits e valores voláteis de uma sociedade competitiva,inspiradora de anseios que estimulam o ritmo insano da escalada social, se consolida no glamour das celebridades.Esses personagens atravessam de cabo a rabo o mundo do dinheiro,da moda,da cultura e das artes.
Um 'must'.
Porém,todo esse glamour é dócil e pueril frente a uma realidade que tudo reduz ao minimo divisor comum: a realidade não é o bastante para suprir os termos mais sensíveis de uma vida plena,intensa e digna.
Quanto mais agora,diante da centralidade econômica sobre todas as coisas. Seria uma ingenuidade imaginar que o mundo sensível estaria protegido da massificação por uma muralha de disciplinas e conceitos que ainda insistem em hierarquizar um sistema cultural dominante pelo viés da certidão de autenticidade criativa, concedida por um 'expert' curatorial,um dono de galeria,um comentarista da mídia cultural ou outros segmentos de intermediação intelectual entre Arte,sociedade e negocio.
Portanto,por mais irônico que possa parecer,as mais constantes discussões e a difusão midiática sobre arte da atualidade foca implícita ou explicitamente na economia.
Na grana!
As promoções culturais em larga escala seguem o método do marketing que faz circular conceitos estéticos a fim de distinguir o 'diferencial'- para melhor- de um produto alvo para logo adiante se esborrachar no antro econômico e mercantil ao qual as artes e os artistas estão inexoravelmente submetidos.
A maior parte deles com quase nenhum dinheiro.Outros, ostentando cifras elevadas.Esses são os "eleitos" de um sistema apurado de negocio que insere todos- eleitos e ofuscados- no mesmo game!Nesse mundo mais que perfeito,ninguém será excluído-Todos são artistas!Com menos,nenhuma ou extravagante visibilidade. 
Não vá a uma feira de arte sem um link à mão. Em geral,o produzido pelos próprios expositores.No âmbito social(não em ambito pessoal) não ha transversalidade que escape a tensão que empurra para a massificação. Arte aos borbotões em contraponto ao raquitismo de conteúdo crítico autônomo,livre do direcionamento estético de gestores do gosto alheio. 
No meu entender,não ha discussão possível sobre a Arte da atualidade sem que se mergulhe profundamente nas reflexões suscitadas pelo livro de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy comentado no link abaixo. 

http://obenedito.com.br/capitalismo-artista/

quarta-feira, junho 17, 2015







Em dezembro de 2010 publiquei nesse blog uma crônica  com o título  Avançados & Reacionários. A convergência dos extremos.” Quem se interessar em ler,clica no link.  
A  referida crônica edita um hipotético dialogo entre duas pessoas com pontos de vista antagônicos sobre as ocorrências que tomaram conta do sistema da arte da atualidade. 
Na minha trajetória de cinquenta anos de atividade artística sempre evitei a retórica conservadora que visa proteger a arte dos  'acintosos ataques’ externos.
Considero tal premissa uma presunção desmedida.Quando a arte carecer de suporte externo ela terá exaurido sua potencia intrínseca e selado seu atestado de óbito.
As incontáveis teses que decretavam a morte da arte até hoje aguardam o resultado da autopsia e as cinzas da cremação.
Entendo que segmentos que operam na intermediação da arte criem estrategias para difundir os produtos estéticos que hoje se agregam à linha de produção que abastece os terminais de exibição,difusão e venda de arte.Confundir essas operações,que tratam das circunstancias restritas ao gosto,investimento financeiro e preferencias estéticas de uma época com  imanências do sentido sensível da arte é um engano que resulta em crendice e ignorância.  
Porém,encarregar o artista dessa missão é algo inconcebível.O artista que faz o papel de escudeiro da arte é um mitificador,um crente da religião da arte,impedido por força do dogma a dessacraliza-la e,portanto,interagir livremente num campo onde reina a liberdade. No percurso da minha atividade confrontei diversos adeptos da sagração dos eleitos,feitas por teóricos,críticos e agentes do sistema e montadas para alavancar artistas e afirmar  ‘modelos’ de arte.
Desde sempre tive consciência que tal atitude reverteria em oposições sistêmicas o que, por um lado, é compreensível e até certo ponto desejável porque que se trata de estimular a consciência para enfrentar as complexas manobras da massificação. 
Quem se posta contra os meios que visam modelar o status da arte e do artista,seja através do culto as personalidades supostamente investidas de uma revelação simbólica da verdade,seja pela ação afirmativa dos índices praticados pelo negocio da arte,não  espera nada diferente.
O que é diferente e gratificante é constatar que no correr do tempo meu posicionamento é compartilhado em diversas manifestações de repudio ao culto das celebridades.Inúmeras pessoas,exauridas pelas técnicas de consagração impostas pelos meios dominantes de difusão e que se dedicam a refletir sobre o fazer artístico,não apenas no plano da transcendência ,mas,também,sobre os procedimentos pragmáticos e a política que se instaurou nos domínios da criação,descortinam um amplo  horizonte  para especular sobre as perspectivas do sujeito frente as novas modalidades de projeção,consagração e consumo dos produtos culturais.  .
Nesta postagem usei a mesma montagem  de fotos que ilustravam a crônica mencionada.Numa das fotos, Beyus,o profeta do “todo mundo é um artista” é colocado ao lado da foto de duas alegres ‘fruidoras’ do fenômeno artístico contemporâneo.Entendam o riso e a descontração.Uma das pontas que predomina na fruição estética da atualidade é o hedonismo.
Para aqueles que se aventuram a refletir para além das aparências porque acreditam que a arte guarda valores intrínsecos e reserva um 'mistério' que vale a pena adentrar,compartilho um trecho do livro Estetização do Mundo do Gilles Lipovetsky & Jean Serroy que, através de uma objetividade lancinante,rompe com o culto da sacralização que ainda embaça a visão sobre o fenômeno artístico na atualidade.
Em linhas gerais,tal atitude converge para a mesma atmosfera desmistificadora onde transcorre o dialogo hipotético da crônica citada.
Um detalhe:para uma visualização mais legível das paginas,clique sobre o box.  





Na luta pela sobrevivência o sujeito faz coisas as vezes impensadas, tolas, violentas ou calculadas as quais, mais adiante, pode não se orgulhar. 
A sobrevivência é uma determinação natural Dela ninguém escapa.
Ela não poupa fracos ou fortes.Ricos, medianos ou pobres. Seres dóceis ou brutamontes,calculistas frios e determinados ou emotivas são obrigados a dar seu quinhão de vida para essa prova crucial da existência.Pode-se lutar pela sobrevivência com elegância ou mesmo com ostentação.Entretanto,ainda que os monges e iluminados creiam que dessa pecha estão salvos,o mínimo redutor comum da sobrevivência é despertado quando o primeiro sopro de oxigênio invade o pulmão da criatura que dela só escapa(ou vence?) com a morte.
Pelos idos dos anos 20/30 do século passado Walter Benjamin precisava de grana para continuar manter o esqueleto em pé e o organismo nutrido e funcionando.Nessa época escreveu uma série de roteiros para programas radiofônicos difundidos em Berlim e Frankfurt. A maior parte desses programas foi feita pela voz do autor. Apesar de não se orgulhar muito do trabalho que diz ter feito apenas devido a dificuldades financeiras, Benjamin foi um dos pioneiros para a expansão do rádio que surgira na Alemanha três anos antes.
Qual seria a motivação de tal decepção?Eis uma pergunta jamais respondida.
A editora Nau lançou no Brasil o livro A HORA DAS CRIANÇAS - narrativas radiofônicas (projeto editorial da Rita Ribes Pereira com tradução de Aldo Medeiros) que reúne textos de 86 programas com periodicidade variada, 60 dos quais o próprio Benjamin se encarregou da leitura.Para quem gosta do autor trata-se de uma oportunidade para conhecer como o pensador via e se comunicava com o mundo das crianças da sua época,as quais dedicava uma hora de leitura.
Vendo hoje a grade de produtos que o sistema de comunicação empresarial hipermoderno oferece às crianças, uma questão se destaca.
Poucos anos após o termino da programação radiofônica que durou aproximadamente três anos, Benjamim veio a conhecer e sofrer na própria pele a dura realidade e as trágicas consequências que se impôs sobre a sociedade alemã da qual se tornou uma vitima.
Quantos assíduos ouvintes da Hora das Crianças tornaram-se instrumentos da vontade nazista?
Hoje se discute se existe, de fato, uma relação entre a grade de ofertas de produtos pelo sistema de comunicação de massas o consumismo desbragado e a escalada da violência perpetrada,inclusive,contra e por crianças.
No campo dos estudos culturais o ensaio de Benjamin “A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica” (1936) descortinou a perspectiva da arte frente os novos meios tecnológicos de difusão.Entretanto,a previsibilidade sobre as consequências do uso desse sistema em grande escala permanece uma incógnita.
Não encontrei arquivos de voz da programação. Para compensar colo aqui o link de um belo conto/poema do Benjamin que já postei tempos atrás.





domingo, janeiro 25, 2015

Arte & Estrategia



Seria um contrassenso para não dizer um absurdo exigir dos artistas contemporâneos uma sequencia lógica e contínua do que foi a ruptura moderna, sobretudo, as marcas inconfundíveis da vanguarda histórica. Pergunto-me se o desejo ardente por atitudes similares, inspiradas na ruptura do modernismo, se tornou uma obsessão para os artistas contemporâneos. Ser contemporâneo e como ser contemporâneo virou regra geral, não uma postura, uma atitude. As réplicas chupadas pelos *heady made -para o dissabor paternal do Duchamp- se tornaram o dever de casa das academias e uma pauta dominante da produção estética dos últimos trinta anos. Quer dizer,definiu-se um punhado de códigos estéticos apanhados nas vertentes mais radicais do modernismo fez-se download das variedades e saiu-se pelo mundo atribuindo certificado de atualização da "Arte Contemporânea" a partir dos programas e temas pré definidos pelos curadores. Tudo feito com autorização explicita dos artistas. Ingenuidade,burrice ou oportunismo e os três simultaneamente, afetam de forma direta o primado fundamental da criação: liberdade. Aí surge o primeiro sintoma da dependência orgânica de grande parte dos artistas da atualidade aos ditames do mercado 'livre'.Eles entendem literalmente o paradigma ' livre mercado' e enxergam, pela brecha,a liberdade criativa como um acessório disponível a todos os dotados de virtudes artísticas.O temor infantil dos artistas, expressado na repulsa ao contraditório, mostra que de fato a tão aludida liberdade é um blefe que sucumbe até a contradição explicitada nas criticas do Gullar. Como,em tese,desprezam o entendimento estético do Ferreira é possível que o temor se localize na difusão e na penetração do veiculo da grande imprensa onde o poeta tem uma coluna.Quer dizer,em termos objetivos,trata-se de uma defesa corporativa aparentemente fundada na ilusão de que a ARTE é uma instancia divina e a liberdade uma dadiva dos deuses.Está,portanto,acima do bem e do mal e dissociada dos interesses mesquinhos e utilitários. Podem fazer o que bem entendem,vale tudo,porém,exigem que todos entendam,aceitem e omitam suas criticas ao que fazem sobre a ameça de se tornarem reacionários.Os tolos,fincados no ideário do politicamente correto,acreditam que ser critico do sistema vencedor,não importa qual, é ser intolerante e,portanto,reacionário.Nem desconfiam que a burrice é um mau maior! Um paralelo grotesco pode ser percebido na advertência:"Ame-a ou deixa-a" em paz,tão caro aos autoritários mais retrógrados da historia.Esses 'anjos' celestiais sequer imaginam a muralha de resistência que Duchamp e amigos enfrentaram na ocasião da ruptura histórica que tentam a todo custo reeditar.Claro,essas crianças mimadas obedecem as ordens gentis e amigáveis que os abriga de ruídos e contradições oriundas do real:seus amáveis curadores de estimação.
*Heady enquanto, inebriante,intoxicante,arrebatado,impetuoso,violento,temerário etc, me parece melhor definir o espirito elegantemente indomável dos replicantes contemporâneos.

quarta-feira, janeiro 21, 2015

Triste Despedida


Às 10:36 GMT foi divulgada a notícia de que um pequeno grupo de fanáticos terroristas invadiu a sede do Charlie Hebdo.
Às 10:30GMT eu já estava embarcado no avião que me traria de volta ao Rio.
Um atraso- por condições climáticas- de aproximadamente uma hora para decolagem permitiu que os passageiros embarcados pudessem acessar seus celulares.

Isso me permitiu ter acesso a informação ‘in loco’ sobre o atentado ao Charlie Hebdo que até aquele instante havia registrado 12 mortes.

Às 11:28 GMT,cinco minutos antes do comandante anunciar a autorização para decolagem e pedir para os passageiros desligarem os celulares, a foto que ilustra esse post foi a última imagem que vi da cidade onde passei mais de um mês, comemorei meu aniversário, o Natal e a entrada de um novo ano junto a minha irmã, sobrinhos e amigos.

A notícia desviou minhas divagações sobre a estadia em Paris.
Meus pensamentos  tomaram outro rumo.

A França, Paris em particular, são emblemas de conquistas libertárias. Naquela terra, naquela cidade e sobretudo naquela cultura de incontáveis conquistas sociais, onde a indústria de bens se expande do campo objetivo de produção para as áreas do pensamento, da cultura, da arte e dos direitos humanos, a fortuna que mais se destaca aos olhos do viajante é a liberdade individual.

Esse item está diretamente vinculado ao maior orgulho nacional: ‘Le droit du citoyen’.

Ainda que a liberdade seja um conceito sujeito a todo tipo de abordagem e especulações de fundo teórico, na prática, ela se manifesta na sociedade francesa de maneira inequívoca.
Não é a toa que atribui-se aos parisienses a invenção do ‘trottoir’ que na versão popular significa apenas uma boa calçada mas, no sentido atribuído pelos poetas da cidade, é a arte de andar, passear e flanar pelas ruas  às três horas da tarde ou da madrugada, sem se sentir ameaçado por hordas bárbaras  ou mesmo pelas forças de segurança pública simplesmente porque você é uma pessoa diferente da maioria.

Discutir nos bistrôs, portar publicações radicais, vestir-se como um dândi, um gótico ou um Aiatolá, ou mesmo gritar aos quatro ventos o que pensa, em Paris, é uma atitude tão natural quanto respirar.

Antagonizar o governo, as indústrias, o consumo, as corporações do setor econômico, a imprensa, o 'pouvoir'  e  a hegemonia militar do ocidente é um clássico do ativismo social francês. 

Contudo, matar o HUMOR, foco da irônica resistência, atinge a liberdade no seu ventre.

Esse ato deve trazer à tona a irresponsabilidade de uma militância supostamente esquerdista e debiloide do ocidente que apoia atos terroristas que visam restringir, para não dizer exterminar definitivamente, a liberdade.
Saio dessa cidade com uma sensação de tristeza  e luto por todos os jornalistas mortos neste ato estúpido de consequências terríveis.

O epitáfio dessa ação pode ser sintetizado numa frase anônima bem ao estilo de maio de 68,poucos anos antes do Charlie Hebdo ressurgir das cinzas do velho  HaraKiri Hebdo, extinto por descontentamento de um ministro gaulista: "Um homem não é estúpido ou inteligente: ele é livre ou não é."

Essa é a questão maior da tenebrosa intolerância do extremismo religioso e a que mais aflige as sociedades livres do Ocidente.


Levante auspicioso




Adriano de Aquino
Paris/Sexta feira -12/12/14 
12°/vento e chuva fina.
Ontem, eu havia programado o circuito que hoje faria  por algumas exposições imperdíveis. Descartada de cara  a ida ao Beabourg, tendo em conta que a instituição programou como o destaque do mês a ¨retrospectiva¨ de Jeff Koons, artista cuja obra não se encaixa no meu interesse estético, além de não se  ajustar ao termo retrospectiva de jeito algum .Mas, convenhamos, faz jus a todos os predicados que definem a pujança do marketing pessoal e da ambição espalhafatosa pelo sucesso, fundamentos básicos para quem se empenha na técnica de alavancar currículo e preços e que, hoje, nas alturas, compram até mesmo prestigio, que dirá retrospectivas.
Se a estratégia de mídia do show de Koons objetivava criar um vácuo onde a crítica de arte não tivesse ambiente para germinar, o objetivo foi atingido em cheio. 
Argumentos tolos e as maiores bobagens foram publicadas em vários veículos de comunicação com a mesma altivez com que se diz coisas sérias sobre as correntes estéticas do momento. A orientação parece ter sido a de exacerbar  interrogações para seduzir  o público consumidor de cultura artística  que anseia por respostas para tudo e veem questões  embutidas na banalidade e no gosto dos artistas endinheirados, as 'celebridades' que galgaram o status de  mídia, produzindo os mesmos maneirismos, carregados da doce inocência dos predestinados à fama e a fortuna, que encantam o espectador ávido por novidades e delicias do sucesso.
Enfim, mais do mesmo, diluído  em falsa polemica.
Matérias aos borbotões enchem paginas com fofocas e comentários de admiradores em contraponto as manifestações de repulsa visceral dos que consideram a arte do Koons puro lixo.
O esquema atrai o inocente  o levando a supor que está diante de algo revolucionário e transformador. Chamadas de mídia cheirando a mofo: "impostor ou gênio? Koons, um homem de negócios bem sucedido ou o ultimo artista pop?" De tão manjadas deixam claro que ninguém que pensa  vai se ocupar  a respeito, sequer responde-las. 
O mega esquema para o show do Koons, usou de todos os recursos promocionais, inclusive, disponibilizando simultaneamente no Beaubourg um debate sobre um tema saturado no ambiente artístico/intelectual. Para conceder "inserção" histórica ao pop star, ajeitaram o calendário da agenda de palestras da instituição para incluir a obra de  Koons na temporalidade das rupturas históricas do  modernismo ao contemporâneo,  em  um evento paralelo e simultâneo à mostra -até 05 janeiro de 2015- com  palestras  de críticos e estudiosos  sobre as reflexões do Duchamp e suas intervenções nos  parâmetros estéticos vigentes no inicio do Século XX e a 'redefinição'  das fronteiras da  arte..  Tudo bem montadinho para bombar o show do Koons no Beaubourg. E...bombou!

Foi com essa argumentação que convenci à Lynne que eu não era a companhia ideal para acompanha-la nessa tarde  de convencional  e brochante turismo cultural pós moderno.
Então, ela sugeriu que a acompanhasse  à uma galeria do quartier para visitar a exposição 'L'Art de la Aprpropiation'.Meu interesse era zero. Mas, para não frusta-la mais uma vez, cedi.
 A exposição consistia na montagem de uma serie de obras do que hoje se convencionou chamar de 'appropriationisme", o mais recente estilo já convenientemente aplicado ao mercado e nas escolas de arte. Nada que valha a pena realatar.
Poucos comentários de ambas as partes, nos dirigimos, então,  para o Gran Palais para ver a mostra do Hokusai. Porém, a  terceira  tentativa de visitar esta  exposição que desejávamos ver,  foi novamente frustrada. Uma fila enorme de japoneses obstinados em prestigiar o grande mestre, somada a chuva fina e o vento frio, acabaram por quebrar nossa resistência.
De volta a estação La Muette, seguimos para visitar a exposição "Impression,Soleil Levant".Nessa estadia visitei essa mostra umas quatro vezes.
Mesmo não sendo a mostra de maior destaque na agenda  cultural parisiense deste dezembro, eu havia anotado essa visita como obrigatória antes mesmo de sair do Rio.
Primeiro por conta do museu. O Marmottan é meu museu preferido desde o tempo de estudante em Paris. Segundo, porque a proposta da mostra de abordar a verdadeira história do "chef-d'oeuvre" de Claude Monet, me pareceu um desafio a conferir. Sobretudo, tendo em vista que a primeira grande historia do impressionismo, escrita por John Rewald e publicada nos anos 50, que apontava essa obra como o ícone do Impressionismo e titulo  que deu origem ao nome desse  estilo, ao contrario das suposições que indicavam a pintura intitulada "La Gare de Saint-Lazare" como a gênese desse movimento artístico.
Comprovei mais uma vez como um trabalho de curadoria criteriosa define uma museografia correta capaz de tornar uma visita a um museu uma experiência intensa entre o visitante e o tema proposto, entre obra e espectador. 
A iluminação adequada-perfeita para falar a verdade-integrada a uma museografia discreta e elegante empenhada em destacar pontos convergentes entre as obras expostas e enfatizar a busca incansável do artista pela luz e contra planos que marcam a poética profundidade pictórica de Monet, fazem dessa mostra um delicado estudo sobre a pintura e enlevam o visitante em uma experiência sensível e emocionante conduzida por um trabalho curatorial serio e dedicado, desprovido de vaidades supostamente autorais. O desafio da curadoria é ainda maior tendo em vista que ao sair dessa mostra o visitante desce dois lances de escada e mergulha nas profundezas das 'nynfeas' que pertencem a coleção nacional de arte, agora, definitivamente instalada no museu Marmottan Monet.
Só a titulo de curiosidade colo aqui uma citação critica contra a histórica exposição de 1874, intitulada "L'impression"(soleil levant sur la Tamise) que consta do catálogo desta exposição:<<...la impression de Lever le soleil est traitee par la main enfantine d'un ecolier qui etale pour la premiere fois des couleurs sur un surface quelconque...>>na versão literal em português: "  A pintuira Soleil Levant  é processada pela mão infantil de um colegial que pela primeira vez espalha cores em qualquer superfície"  Marc de Montifaud,L'Artiste,1 mai 1874, inserida no catalogo de forma a nos dizer que os ponto de vista de  críticos e intelectuais do oficialato cultural de uma época, se dissolvem no ar como pensamentos fugazes e ínsitos, contra ou a favor . 
As grandes obras transcendem o tempo.
Ainda que a opinião do critico de então  não tenha correspondência direta com meu comentário sobre o show do Koons,  o assunto não deixa de ser engraçado dado que, hoje, o marketing e a mídia cultural em consonância com as politicas institucionais, valorizam ao extremo  a projeção econômica de alguns produtos artísticos,  com  ênfase no sucesso  pessoal e na  economia do espetáculo, itens alheios a verdadeira  polemica que perpassa o ambiente artístico dos nossos dias. 
Enfim, esses fatores, juntos e misturados, são o inverso  de Marc de Montifaud,,mas, como ele, tendem a figurar na história de forma semelhante.
Saímos satisfeitos e fomos nos deliciar com uma refeição e um papo substancioso no Pure Cafè.