terça-feira, novembro 05, 2019











A conta, por favor!
Enquanto cientistas políticos ensaiam explicar os motivos das manifestações no Chile,a máquina registradora já contabiliza os prejuízos. Caia o governo - o que parece improvável- ou siga adiante, todo mundo sabe quem vai cobrir os prejuízos. Não é preciso dizer quem vai pagar, não é verdade?
Esse é um ‘detalhe’ cruel que os analistas parecem não dar a devida importância.
Alguns analistas preferem recorrer à teses nostálgicas e vitimistas, preferidas dos intelectuais latino americanos, para confirmar que na região os 'sonhos de futuro' são sempre frustrados pelos pesadelos da realidade.
Já li de tudo um pouco, sobre os movimentos explosivos no Chile.
Claro que não poderia faltar alusões à greve de 1972, que mobilizou os caminhoneiros chilenos e durou 26 dias.
Na ocasião foi considerada o ato inicial que culminou com a posterior derrubada do governo Salvador Allende.
Pera lá, companheiro!
Na ocasião, apontou-se a CIA como a principal financiadora do movimento que derrubou o governo de esquerda.
Agora, o quadro é radicalmente diferente!
Quem financia os movimentos explosivos no Chile?
O que eles querem derrubar, alem das estações de metrô?
É certo que nem todos os problemas humanos são de ordem econômica.
Porém,a pobreza e a falta de oportunidades, oriundas de políticas econômicas desastrosas, pioram muito, dificultam ainda mais, que um maior número de pessoas possa alcançar o bem estar social, que possibilite uma vida menos dura e infeliz.
O Banco Mundial aponta o Chile como único país sul-americano com uma economia de alta renda.
A fórmula que superou os atávicos problemas do Chile e desempenhou um papel fundamental na recuperação econômica, nada tinha de especial ou exótico .
Ao contrário; desde o princípio, o Chile adotou com firmeza a descentralização econômica.
Restringiu a mão do Estado no setor produtivo e assim reverteu a histórica pobreza, promovendo uma verdadeira revolução econômica.
Em curto espaço de tempo,o Chile passou da estagnação econômica mantida por uma estatização da economia para a produtividade crescente do setor privado seguindo um modelo de liberalismo que removeu impostos, reduziu as regulamentações excessivas, a burocracia e as tarifas protecionistas.
Diversas estatais foram privatizadas.Pequenas e médias empresas, em determinados segmentos, passaram a usufruir de maior liberdade fiscal.O poder aquisitivo cresceu e se distribuiu na compra de matéria-prima,ampliando a capacidade produtiva.
O desemprego caiu drasticamente.
Novas empresas surgiram. O setor privado prosperou e se tornou mais competitivo a nível internacional
O PIB quintuplicou.
A qualidade de vida se elevou a ponto de por várias edições do IDH/PNUD latino americano, o Chile se manteve na primeira colocação -seguido pela Argentina e Uruguai e na 44º posição no índice global.
Nos anos 1980, o país se encrencou em difícil crise financeira e hiperinflação, como consequência da malsucedida política econômica ministrada pelos ‘Chicago Boys’ que, entre outras coisas, renunciou às taxas de câmbio flutuantes como referência para a estabilidade monetária. Essa medida, combinada com a hipervalorizarão do peso chileno em relação ao dólar americano, abriu caminho para a pior recessão que o Chile experimentou desde os anos 1930. Essa experiência malsucedida não abateu os chilenos.
O passo seguro do liberalismo econômico adotado trouxe robustez, abundância e eficiência ao sistema, o que ajudou o país a reverter a crise com segurança.
As medidas que se seguiram ampliaram as reformas econômicas e solidificaram a economia, concedendo amplas liberdades à livre iniciativa, fomentando a geração de riquezas.
Resultados positivos, um sobre outros, fortaleceram a expansão das políticas liberais, previamente estabelecidas. Este é um dos motivos pelos quais o Chile, depois da experiência malsucedida dos anos 80’ não ter tido mais nenhuma recaída que fizesse retornar a estagnação econômica dos velhos tempos.
Tenho certeza que um país que passou por tudo isso, enfrentando corretamente as dificuldades,não se abaterá com a manifestações de agora.
A geração que hoje se rebela nas ruas de Santiago é herdeira desses sucessos.
Como não há sucesso econômico que teses de sociologia política não possam desconstruir, não me espanto que a velha e reincidente ´paixão’ latina, em sintonia com o populismo arcaico, que esparrama pelo continente o bolorento odor das tumbas do peronismo, impulsionado pelos ventos insalubres do bolivarianismo, reencarne nos jovens, ávidos por aventura, um anarquismo ‘caliente’ escancarado nas manifestações explosivas de viés globalista.
Abarrotadas de ‘causas’ as mais diversas, o que de fato os manifestantes pretendem mudar?
Uma coisa é certa!
A estética Anonymus dos movimentos globalistas da WallStr, Londres, Paris etc, mudou o visual dos manifestantes de Santiago!
Doravante, serão 'visualmente' integrados aos movimentos de jovens rebeldes dos países mais ricos do Ocidente.
Um salto 'estético'.Sem pobres e descamisados..
Com uma pequena diferença: adotaram o vermelho como traje de combate.
É, mais uma vez, a recorrente explosão da 'paixão' latina pelo sonho vermelho encarnado!









Arte,Cultura e Estado

Um velho e tortuoso tema que,na maioridade do Seculo XXI,ainda  atormenta artistas e intelectuais brasileiros.


Censura não se debate, se combate’, recomenda a ministra Cármen Lúcia aos artistas presentes à audiência pública no STF.
Sendo o STF a última instância de justiça que os cidadãos-artistas ou não- recorrem para preservar e garantir seus direitos, a 'recomendação' da ministra aos artistas presentes é prosaica, sem efeito legal concreto para estancar a censura 'governamental' denunciada pelos artistas presentes e punir, na forma da lei, os censores.
Se levada ao pé da letra a recomendação da ministra pode ser entendida de duas formas.
A primeira é midiática: A sessão foi bacana. Vai repercutir na imprensa.
Certo! Repercutiu, a frase da ministra foi lida por mim,copiada e colada do lide de uma matéria de O Globo.
A segunda,como deboche com os presentes que foram ao STF denunciar, 'debater' e pedir providências do tribunal contra "uma nova forma de censura governamental."
Ao dizer que 'censura não se debate,se combate', os artistas presentes devem ter se frustrado.
Os que viveram sob o tacão da censura e sofreram consequências pessoais e profissionais por suas posições em defesa da democracia e da liberdade de expressão nos anos de chumbo,não precisam ir tão longe,se dispor a preparar e expor suas denúncias para ouvir da ministra o que deveriam saber por experiência própria.
Mas, se porventura,o centro da denúncia dos artistas presentes à audiência diz respeito a uma aludida CENSURA econômica e ao 'desmonte' das instituições estatais, como fator de retrocesso cultural,cresce meu espanto com a posição de notáveis e talentosos artistas da minha geração.
A crença num Estado passivo e justo,não sobrevive a nenhum governo.
Se para garantir o aparelhamento estatal, tendencias ideológicas no poder promovam politicas culturais de aparente inserção, é uma ilusão 'útil' ao sistema acreditar que elas atendam e reflitam os 'avanços' sob a égide de uma democracia cultural.
O Estado não dá conta de suprir massa crítica cultural.
Apenas 'financia' o que uma comissão considera oportuno investir.
Quantos de nós,durante a ditadura, debatemos sobre as possíveis consequências nefastas da tutela estatal, quando da implantação da estratégia dos governos militares -sob a ótica Golbery - das fundações de arte,agencias e empresas públicas de arte e cultura, patrocinadas por um Estado mecenas?
Incontáveis textos e reflexões primorosas foram produzidas na ocasião sobre a temível ilusão de que o Estado seria o 'mecenas' justo em oposição às tendências variáveis do gosto e do incipiente e 'injusto' mercado de arte, cultura e entretenimento.
As ditaduras 'estáveis'(sic) onde o voto é um ornamento secundário "pra inglês ver", o financiamento estatal de arte e cultura é ferramenta de poder que serve,entre outras coisas, para adoçar possíveis e desagradáveis dissidências,financiado uma arte 'oficial', ainda que pareça contestatória e insurgente, contra os artifícios do sistema.
Isso seria o 'justo'? O correto?
Todavia, nas democracias, onde se conta o voto da maioria, o poder muda de mãos.
Quando isso acontece o Estado segue a orientação política do vencedor.
Coisas simples assim, várias vezes comentadas em prosa,verso e textos esclarecedores sobre a insidiosa parceria Estado/ Cultura, acabar sendo debatida nas dependências da Corte Suprema,desperta em mim a melancólica sensação de sentir de novo o gosto amargo da decepção de que não basta uma 'ideologia para viver'.
Parte expressiva da categoria precisa mais que isso.
Precisa de um Estado para prove-la.
Em resumo; uma variante 'artística' das necessidades do povo pobre, submetido à cultura do Estado forte,onipresente.

PS
 Não é apenas ingenuidade.
Ha algo mais preocupante na insistente e prejudicial formula da comunidade artística nacional
 empurrar para baixo do tapete questões que se evita abordar em profundidade. 
Não ha como evitar que os modos de intermediação Estado/Cultura,plantados no país durante o regime militar, que mais tarde se desdobrou em diversos subsídios culturais que atingiram o ápice com a bem intencionada Lei Rouanet, por xs criticada por selecionar 'beneficiados' com grande visibilidade e muitos recursos obtidos nos ramos da industria cultural, um dia viria à tona. Não creio que esse governo tenha ideia clara sobre a importância do assunto, pela maneira descuidada com que o está tratando. Até mesmo a ministra Carmem Lucia que acolheu as denuncias dos artistas, se confunde. E como se confunde! Fala no mesmo tom sobre "Censura e Constituição”. Para ela - a “Constituição deve prevalecer sobre as dificuldades.” Convenhamos, isso não ocorre nem com matérias menos complexas abordadas pelo STF. Rouanet, um intelectual sério,que quando ministro criou a lei que leva seu nome e Capanema que em 1937, por sugestão de Mário de Andrade e Rodrigo Melo Franco, criou o Iphan,duas Politicas de Estado, que deveriam se sobrepor as vontades dos governantes, certamente não previam,sequer imaginavam, que essas politicas sofreriam adulterações de viés politico administrativo nas sucessivas gestões que os sucederam..Considero a 'resistência' -de um lado e de outro -prejudiciais ao bom debate que a Cultura brasileira,por sua importância,ha muito merecia encarar e desenvolver.Mas, como no titulo do seu livro,Mércio Gomes nos alerta que sempre que se abre um clarão de oportunidades - 'O Brasil Inevitável'- surge com virulenta reação que teima em 'buscar' o futuro no passado recente e, muitas xs, na velha tradição patrimonialista.