domingo, setembro 08, 2019

O Preço de Tudo






Ao assistir o documentário " The Price of Everything" ( tb legendado em português nos canais HBO) tive o impulso de compartilha-lo aqui por dois motivos.
O primeiro motivo foi a lembrança imediata de uma matéria publicada ha tempos no NYT com o título:"A Arte está embriagada pelo dinheiro" que, surpreendentemente,na ocasião, não obteve repercussão à altura da provocadora insinuação.
O segundo motivo é que, em se tratando de Arte, visibilidade, fortuna e fama, qualquer crítica ao pileque generalizado, reunindo artistas,curadores,colecionadores,investidores e o dinheirão fluindo pelo sistema,tendem(as críticas)serem encaradas como lamúrias dos ressentidos e invejosos ao sucesso dos 'eleitos' ou mais uma torpeza reacionária e conservadora contra a liberdade de expressão.
Como,por outro lado, a pobreza e o ostracismo de alguns artistas, tende a ser entendido como fatores inerentes ao destino dos que escolheram a liberdade criativa e pagam seu preço com a exclusão do mercado.

É maçante ter que repetir que confundir aclamação do mercado com credenciamento artístico cultural é uma característica marcante nos néscios
Dois blefes que,paradoxalmente, se nutrem na mesma fonte.
Assim, o debate se encerra com as 'sensíveis' declamações: Arte é Vida & Vida é Arte, em voga na atualidade.
O dinheiro,onde quer que prolifere,tem o poder de abrandar discordâncias.
Esse documentário descortina essas discrepâncias, concede protagonismo especial ao "esquecido,quase morto" pintor Larry Poons,para se aproximar dos supostos critérios do mercado e o retumbante aplauso aos 'vencedores' do circuito.
Porém, quase ao final do filme, o galerista novaiorquino Brow, ao lado do crítico Jerry Saltz, usam discretamente o sentido do olfato para descrever a euforia que eles vêem espalhar nas artes visuais como um alerta; "sentem cheiro de fumaça" no ambiente glamouroso e milionário da arte contemporânea norte americana.
Cabe destacar que o diretor do documentário dispensou os fatores estéticos,teorias e fundamentos e a relação entre Arte e sociedade,qualidade e valor intrínsecos das obras de arte por ele focadas.
Longe disso, preferiu enfatizar, com sutil ironia, o 'espetáculo' do dinheiro na Arte,onde todos os demais atores - juntos e misturados- são coadjuvantes do sistema.