terça-feira, julho 11, 2006

?Como Viver Junto!


Apesar das inúmeras mudanças que vem ocorrendo em todos os setores da sociedade, é lamentável atestar as tímidas variações nas instituições artístico-culturais em nosso país.
A edição 2006 da Bienal de São Paulo insiste em manter ativos conceitos esgotados.Até o momento a polemica em torno do evento está restrita a pretensão de Edemar Cid Ferreira em presidir a instituição.Encarcerado, acusado de crime financeiro - segundo a acusação ele faliu fraudulentamente o banco que presidia - pretende de novo comandar a instituição cultural.Alguns consideram sua posse um ultrage e pretendem tomar atitudes, outros não acham o assunto tão relevante e comentam despreocupadamente.Outros mais, piadistas, admitem que o candidato tem atração por falências.
Entretanto, poucos questionam se as intervenções em espaços consagrados já deram o que tinham que dar.
Uma esquisita rotina nos escaninhos da burocracia cultural exige que os curadores e outros experts funcionais da arte, definam o tema que inter-relacionará os trabalhos artísticos sobre o quais a mostra se organizará. Talvez seja apenas um motivo para convidar artistas ou definir o marketing da mostra, contudo, devo acrescentar que a incessante repetição da fórmula de eleger um tema para as grandes mostras, tornou-se uma pratica enfadonha.
Como Viver Junto, tema da próxima Bienal, me parece um tópico comum nas palestras dos psicólogos de terapias de casais ou pedagogos que avaliam a adaptação das crianças ao sistema escolar. Mesmo sabendo que o referido tema não pretende subordinar a produção artística que reunirá, o método revela a força do hábito de se fazer como sempre se fez.Para que minha crítica não tenha apenas a rudeza do deboche, justifico: se o tema queria direcionar o olhar dos artistas e do publico para as condições atuais do convívio global acho que fracassou.Primeiro porque tornou o foco da proposta por demais difuso e, depois, pelo fato de que as angústias que afetam a vida em comum, sobretudo as geradas pelas múltiplas sensações de insegurança planetária que tencionam a convivência entre Ocidente e Oriente, palestinos e israelitas, cristãos e muçulmanos, homens e mulheres, etc... são mais bem compreendidos quando definidos de forma objetiva,como na recente Bienal norte americana do Whitney, que focou na guerra do Iraque.
Caso a ampla abertura do tema dessa Bienal de São Paulo pretenda abrigar manifestações estéticas que reflitam sobre questões relativas ao convívio conjugal, relações familiares, comunais, profissionais etc... seria prudente que antes de definir seu tema avaliasse uma citação sobre os dias atuais atribuída ao financista George Soros: as pessoas não mais se relacionam, elas transacionam. Assim, estaríamos seguros de que o tema dessa Bienal focaria questões cruciais da atualidade.
Além disso, é licito imaginar que a abrangência do tema permite conceber um país com elevado grau de tolerância capaz de Viver Junto, cordialmente, com o uniforme emporcalhamento da vida política nacional.
Nas sociedades subdesenvolvidas, onde a viscosidade dos velhos hábitos arrasta uma pesada estrutura provinciana, sabemos que as mudanças levarão mais tempo.Porém, quem sabe, numa próxima grande mostra estrangeira um prestigiado curador resolva expor as obras que escolher, simplesmente expondo-as, alheio a temas e outras invencionices.
Será que a partir de então os curadores pelo mundo afora seguiriam a nova tendência?O que vemos hoje são as grandes mostras se adaptarem, circunstancialmente ao padrão, em circuito fechado, dos curadores. Contudo, devo admitir, eles não escondem, o alvo é a mídia e os glamurosos doping’s centers.
Adriano DE AQUINO
Comentários> Jacob Klintowitz sobre as cerâmicas da artista Shoko Suzuki