sexta-feira, novembro 13, 2015

Asas da Carne






































Não leio,comento e compartilho qualquer comentário sobre a frenética escalada de preços das obras de arte.Seja nos leilões ou operações avulsas do mercado. O afã da grande imprensa e do público em geral pelo hipódromo financeiro das artes é motivo de grande frenesi.Propagar  os recordes dos preços de venda de um objeto de arte é apenas tietagem histérica  de quem confunde valor com preço e trabalha de graça para o sistema.O tiete pós moderno responde como um automato aos estímulos da atualidade manifestando orgulho pelos preços estratosféricos que as obras atingem no mercado. O sucesso financeiro de algumas celebridades ocorre,sobretudo,por conta do altos preços propagados pela comunicação social,segmento estratégico do marketing. Depositar crédito nesse mecanismo é pura tolice.Altos  preços excitam o público avido por disputas sem nexo algum. Essas tolices, ao lado das pinturas do Bacon, revelam a grotesca atração dos 'incautos' pela ostentação e a estupidez. Um fato econômico não é um fenômeno artístico.Pagar-se somas elevadas para obras de arte não significa acrescentar virtudes e valor artístico a uma obra de arte. 
A trupe dos boquiabertos e deslumbrados -incluindo alguns artistas embasbacados - festeja os 'lances' que se concretizam em lucros estupendos dos intermediários.Ganhos que os autores e mesmo a arte em si,pouco se beneficiam materialmente.Quem lucra são os intermediários. Nada mais que isso. É bom para um artista vender suas obras  a fim de sobreviver de forma digna com o fruto do seu trabalho e dar segmento a sua produção. 
Os índices do mercado são vitais apenas para operações objetivas das Bolsas de Valores e Mercadorias.Entretanto,usar esses índices como exegese é de uma estupidez cavalar que me enche de vergonha da especie humana e do que ela é capaz.
O fato que interessa e sequer é mencionado é que a ostentação de hoje - o mega preço atingido pela revenda do  tríptico do Bacon tendo Lucian Freud como modelo, pintado em 1969 - coloca em segundo plano o  dado sublime que é o dialogo criativo entre os artistas.Essa obra abre à visão sensível, puramente artística e profundamente afetiva, que irmana os habitantes de um mesmo mundo.
É,em síntese,um registro magistral do afeto sublime que nos une aos amigos.
Monetizar tudo,inclusive fenômenos amorosos, é a banalidade mais recorrente aos imbecis.
A foto ‘Asas de Carne” com o tempo se tornou uma especie de premonição.A interação fotografo/artista estabelecida nas duas pontas da imagem,tanto no olho que captura quanto no modelo que é registrado,se materializa em fina ironia que sabiamente previa o que uma sociedade futura,altamente competitiva e subjugada ao status e ao preço das coisas, faria com as obras dos artistas.
Tiram a carne e devastam a alma.
Depois festejam e dividem os lucros.
Suprema ironia!



Adriano de Aquino

postado em 13/11/2013  TL/