Seria um contrassenso
para não dizer um absurdo exigir dos artistas contemporâneos uma sequencia
lógica e contínua do que foi a ruptura moderna, sobretudo, as marcas
inconfundíveis da vanguarda histórica. Pergunto-me se o desejo ardente por
atitudes similares, inspiradas na ruptura do modernismo, se tornou uma obsessão
para os artistas contemporâneos. Ser contemporâneo e como ser contemporâneo
virou regra geral, não uma postura, uma atitude. As réplicas chupadas pelos
*heady made -para o dissabor paternal do Duchamp- se tornaram o dever de casa das
academias e uma pauta dominante da produção estética dos últimos trinta anos.
Quer dizer,definiu-se um punhado de códigos estéticos apanhados nas vertentes
mais radicais do modernismo fez-se download das variedades e saiu-se pelo mundo
atribuindo certificado de atualização da "Arte Contemporânea" a
partir dos programas e temas pré definidos pelos curadores. Tudo feito com
autorização explicita dos artistas. Ingenuidade,burrice ou oportunismo e os
três simultaneamente, afetam de forma direta o primado fundamental da criação:
liberdade. Aí surge o primeiro sintoma da dependência orgânica de grande parte
dos artistas da atualidade aos ditames do mercado 'livre'.Eles entendem
literalmente o paradigma ' livre mercado' e enxergam, pela brecha,a liberdade
criativa como um acessório disponível a todos os dotados de virtudes
artísticas.O temor infantil dos artistas, expressado na repulsa ao
contraditório, mostra que de fato a tão aludida liberdade é um blefe que
sucumbe até a contradição explicitada nas criticas do Gullar. Como,em
tese,desprezam o entendimento estético do Ferreira é possível que o temor se
localize na difusão e na penetração do veiculo da grande imprensa onde o poeta
tem uma coluna.Quer dizer,em termos objetivos,trata-se de uma defesa
corporativa aparentemente fundada na ilusão de que a ARTE é uma instancia
divina e a liberdade uma dadiva dos deuses.Está,portanto,acima do bem e do mal
e dissociada dos interesses mesquinhos e utilitários. Podem fazer o que bem
entendem,vale tudo,porém,exigem que todos entendam,aceitem e omitam suas
criticas ao que fazem sobre a ameça de se tornarem reacionários.Os
tolos,fincados no ideário do politicamente correto,acreditam que ser critico do
sistema vencedor,não importa qual, é ser intolerante e,portanto,reacionário.Nem
desconfiam que a burrice é um mau maior! Um paralelo grotesco pode ser
percebido na advertência:"Ame-a ou deixa-a" em paz,tão caro aos
autoritários mais retrógrados da historia.Esses 'anjos' celestiais sequer
imaginam a muralha de resistência que Duchamp e amigos enfrentaram na ocasião
da ruptura histórica que tentam a todo custo reeditar.Claro,essas crianças
mimadas obedecem as ordens gentis e amigáveis que os abriga de ruídos e
contradições oriundas do real:seus amáveis curadores de estimação.
*Heady enquanto, inebriante,intoxicante,arrebatado,impetuoso,violento,temerário etc, me parece melhor definir o espirito elegantemente indomável dos replicantes contemporâneos.
*Heady enquanto, inebriante,intoxicante,arrebatado,impetuoso,violento,temerário etc, me parece melhor definir o espirito elegantemente indomável dos replicantes contemporâneos.