sábado, setembro 25, 2010

Segundos de Contemporaneidade




“O próximo segundo será apenas uma vaga recordação de um tempo célere, que distancia
Frederico Nimbus
Último segundo de tempo algum.


Acordar numa linda manhã ensolarada, após uma noite amena e restauradora é uma dádiva sublime. A sugestão de Kant foi muito útil para Timothy.  Ele acordou sem a mais vaga lembrança dos febris, quase histéricos, acontecimentos sociais da noite anterior. Agora, com a mente desperta e renovada, tomava um café forte enquanto rolava sua pagina de e.mail Deletou, sem abrir, as noticias dos jornais, passou batido pelas ofertas dos sites promocionais e clicou sobre a mensagem mais recente de Nimbus, onde leu:
Caro amigo,
Ontem não pudemos conversar como eu gostaria sobre aquele trecho do livro do Allan Bloom – A Cultura Inculta – que tanto te agradou. Conferencias são eventos ansiosos que dificultam minha concentração em  assuntos muito importantes que possam,porventura,desviar meu foco da experiência em curso. O recorte que me enviou é deveras estimulante. Até agora apenas passei os olhos sobre alguns capítulos do livro. Numa resenha que li na semana passada alguém, que agora não recordo o nome, fez um comentário sucinto que me estimulou  mais ainda, a ler a referida obra de Bloom. Em resumo o tal sujeito diz que nesse livro Allan Bloom enfatiza que: “a crise social e política do Ocidente é realmente uma crise intelectual. Desde a falta de objetivos das universidades à falta de conhecimentos dos estudantes, desde os clichês da libertação à substituição da razão pela "criatividade", Bloom mostra como a democracia ocidental acolheu inconscientemente idéias vulgarizadas de niilismo e desespero e  de relativismo disfarçado de tolerância”. Segundo o comentarista, essa obra Bloom é uma extensa análise das correntes intelectuais contemporâneas em voga na atualidade.
Fiquei bem impressionado com as fotos que enviou de suas pinturas mais recentes. Elas nos fazem ver uma plasticidade instigante. Fiquei contente em constatar que os desafios que havia se proposto e as experiências que vinha realizando com um diferente processo pictórico, chegaram ao ponto de efervescência inspirador. Estou curioso para ver pessoalmente as novas obras. Só posso lamentar que as grandes exposições de arte, como a que ontem se inaugurava no pavilhão do museu, estão submetidas ao direcionamento ideológico simplista. Ainda levará um bom tempo para que esses eventos sucumbam de vez. Sabemos  que o modelo de mostrar a arte em Bienais e espetáculos grandiosos afins, não dão mais conta de expor a pluralidade da criação artística de nossos dias. As reedições infindáveis do mesmo modelo apenas denotam  os desígnios dos gestores culturais  diante de uma massa falida irrecuperável. Não é apenas por ignorância, vaidade ou fervor por poder cultural que os gestores se apegam ao modelo. Não podemos desprezar o fato de que essa função é uma frente de comercio que proporciona o acesso fácil aos recursos públicos. É um campo de restrita concorrência. Sabemos o quanto é difícil, mesmo para uma vitima da contemporaneidade circunscrita ao ultimo segundo, aceitar a morte de uma instituição de cultura, ainda que ela seja uma remota réplica passadista. Bloom tem razão ao dizer que: “as idéias vulgarizadas de niilismo e desespero, de relativismo disfarçado de tolerância” é a marca do nosso tempo.
Por falar nele - no TEMPO – envio agora o link que prometi te enviar - Tempo Histórico e Tempo Lógico- do filósofo estruturalista francês de origem alemã  Victor Goldschmidt  http://www.consciencia.org/tempo-historico-e-tempo-logico-na-interpretacao-dos-sistemas-filosoficos-victor-goldschmidt
Nesse ensaio ele faz uma interpretação dos sistemas filosóficos. É bastante interessante a forma que ele apresenta as distintas maneiras de interpretar um sistema. Seja interrogando sua verdade, sua origem; ou as  razões que levam o individuo a  buscar suas causas.

Abraço
Frederico Nimbus




Ao fechar a caixa de mensagens Timothy lembrou que ontem, antes de cair no sono, escreveu algumas anotações no seu moleskine. A curiosidade o fez ler aquilo como uma leitura inédita.
Encontrou isso:
Lembra-te de esquecer
Kant
Na página ao lado viu uns caracteres amontoados desordenadamente que não reconheceu como letra sua.
Mesmo assim leu o que estava escrito:
Três minutos sobre um ringue de boxe, tão rápido para nós na platéia, é infinito para um lutador durante a porrada e a dor. Só um grande poder de esquecimento mantém a mente do boxer desperta e seus reflexos ligados ao gestos do oponente. Esse é o moto que impulsiona seu desejo de permanecer lutando. Esse poder, revigorado nos intervalos, o lembra que precisa se esquecer de si mesmo para retornar ao ringue no próximo assalto. De um round pra outro ele tenta desesperadamente se refazer. Nesses preciosos segundos o poder de esquecimento é sua única esperança. É esse esquecimento da dor e do sofrimento que sempre me encantou na luta de boxe. Lembro da covardia cometida pelos agentes do entretenimento quando colocaram Maguila diante de Holyfield. Imagino o espanto do Maquila quando viu a montanha Holyfield se erguer à sua frente. Se por acaso ele hesitou em ir adiante eu não notei. Acho que naquele segundo ele se esqueceu de tudo. Da mãe, da sua cidade natal e dos amores da sua vida.
Só o esquecimento explica tamanha ousadia. Os contos populares chamam isso de coragem ou bravura. Eu, o ligo ao esquecimento. Repare nos detalhes. Constate você mesmo. Raramente assistirá um boxeador de alta estirpe, ser atingido por uma porrada violenta e tentar automaticamente bloquear com a luva o sangue que jorra do corte. Nós fazemos isso por reflexo. Eles não! Não podem se dar a esse luxo,um descuido sequer,seja no gesto mais natural de estancar o sangue que jorra, será seu fim. Quando a dor em nós se manifesta nossas mãos partem para o local atingido e em frações de segundos, gritamos. O boxeador que cometer essa falha estará derrotado. É por essas e outras que não dou o menor crédito  aos ditos populares ou mesmo para as razões que explicam em detalhes o que jamais foi vivenciado pelo narrador.