O escritor Howard Rheingold ("Smart Mobs") acha que não. Sou tentado a concordar com ele. Para ele a sobrecarga crescente de informação online está nos apontando para a necessidade premente de um novo tipo de literacia (tradução literal de literacy que é a palavra técnica para determinar a capacidade de julgar a exatidão das informações encontradas na web).
Segundo Howard: Se os alunos pudessem aprender a sondar uma informação antes de navegar online pela primeira vez, estariam mais capacitados para deliberar se uma informação merece um “não” ou um “sim”.
Avaliar a validade ou as intenções das informações nos meios de comunicação convencionais já exige do cidadão um esforço considerável. Na web, onde os sítios são contados acima do milhão essa tarefa é mais complexa ainda.
Em ano eleitoral, então, as coisas se complicam e tornam-se campos minados de informações suspeitas. Os partidários do candidato da situação lançam noticias de um lado, os opositores de outro, um na tentativa de denegrir o outro. Contudo, a informação clara, imparcial e confiável é difícil de ser apanhada. Como numa torcida de futebol, se torce pela vitória.
Quem freqüenta com assiduidade as redes sociais não tem muita dificuldade para saber a tendência do voto dos seus seguidores. O internauta atento já teve tempo para identificar qual é o candidato presidencial preferido na sua lista de amigos.
Todavia, ainda que a urna seja eletrônica, o voto é secreto e presencial,há sempre,por menor que seja,uma possibilidade de surpresa.O leitor capacitado encontra mais duvidas que respostas confiáveis a cada edição de uma nova pesquisa de intenção de voto.
Há muito decidi em quem vou votar. Não mudarei essa decisão por nenhum fato novo ou espetacular. Para mim, a deliberação de voto não passa por instancia emocional, impacto promocional ou imediatismos. Minha decisão é fruto de uma avaliação conjuntural. Portanto, achaques daqui, escândalos dali, não mudarão minha decisão.
Fui e permaneço sendo contra a violação constitucional. Nada me preocupou mais na política recente que a façanha de Fernando Henrique ao operar em prol da reeleição. Naquele conluio ele comprometeu o rito democrático e nos expôs ao continuísmo. Essa irresponsabilidade o tornará inesquecível.
No meu entender nenhuma causa é mais importante que a alternância do poder.
Alguns amigos, simpatizantes da situação, me questionam sobre a longa permanência das elites políticas brasileiras no poder e que a reeleição é uma reparação tardia. Outros, da suposta oposição, argumentam sobre a perda dos valores éticos. Pelo menos não se atrevem a culpar a mutreta da reeleição. Seria descaramento demais.
Para os dois lados respondo : no poder o mais humilde dos brasileiros torna-se, imediatamente, o mais destacado membro da elite e um intelectual da elite se apraz em jogos rudimentares, sem avaliar os custos de seus atos para as futuras gerações. O que os diferenciava na origem os une no esplendor do poder.
Entristece-me imaginar a possibilidade de um destino pré concebido. Quando a chance de transformação parecia possível, fomos coagidos a sufocá-la. Retornarmos, qual um navio escravo perdido no horizonte, aos eternos jogos do poder. Nesses jogos a democracia é a eterna perdedora.
É difícil avaliar os estragos produzidos por esse tipo de arrogância e desprezo pela democracia.
Ontem, nos umbrais da intolerância, da injustiça e do medo, ou hoje, cegos pelos flashes do marketing eleitoral que se irradia das telas de plasma e monitores digitais na Era da Informação e do Conhecimento, grande parte das informações transitam secretas e indecifráveis.