Requentando velhos assuntos polêmicos, pra lá de conhecidos sobre Jackson, os “clínicos da vida equilibrada” se dedicam a avaliar o cadáver não sepulto à luz das mesmices de sempre. Nas ultimas vinte quatro horas venho ouvindo e lendo “vozes divinais” surgirem por entre lagrimas, tributos e tristeza e de seus púlpitos de razão esclarecida, discorrem sobre uma espécie de “morte anunciada” de Michael Jackson.
Até as pedras sabiam que Jackson era um ser atormentado e sofrido. O bonito de sua historia é que, acima disso, ele não se embasbacou com o sucesso precoce. Ao contrario, transcendeu com esforço e muita dedicação seu enorme talento natural. Durante sua carreira transformou-se artística e fisicamente. Suas varias metamorfoses físicas, por serem mais objetivas e de comunicação imediata, deram margem as mais severas interpretações. Em nossa sociedade as questões relativas à aparência física e identidade pessoal são bastante confusas. Uma sociedade racista descrimina, ainda mais, um negro que se torna branco. É aceitável que os brancos se tornem o que bem entenderem. Um negro virar branco gera ruídos inconvenientes nas duas etnias. Quando tal desconforto não é imediatamente execrado é cinicamente explicado e mesmo convenientemente tolerado. O que se tenta esconder com essa atitude é que o individuo pouco ou nada importa. Não esqueçamos que essa é a mais poderosa fórmula de dissolver as identidades.
Alguns dizem que depois de Thriller Michael Jackson iniciou uma descida vertiginosa rumo ao desastre e a morte como astro de primeira grandeza. Parecem querer nos lembrar que o MJ era um ser humano cheio de problemas. Talvez pensem que “nosotros” não sabíamos ou seriamos incapazes de imaginar. Já estávamos carecas de ouvir as incontáveis e historias dos moralistas sobre a brancura de Jackson que nasceu negro, acusado de pedofilia, apontado como dependente químico, infantilizado e de sexualidade confusa, derrotado por seu próprio ego e financeiramente falido. O que querem nos dizer reprisando essas informações? Que os homens que sobem demais um dia caem? Que poetas, artistas e seres sensíveis merecem o castigo e a dor por não seguirem os receituários de boa conduta? Existe disponível nessa sociedade hipócrita uma receita de equilíbrio emocional e afetivo que sirva igualmente para todos os indivíduos? Ou um ingrediente cientifico que arranca a dor das experiências pessoais e familiares? Enfim, um astro rico e famoso estaria acima das pressões de um mercado altamente competitivo e de uma sociedade ávida por novos estímulos.
MJ artista é resultado do homem que foi. Múltiplo e poderoso criador.