terça-feira, junho 23, 2009

O tempo passa, o tempo voa.


A CIA e o laboratório iraniano - é o titulo do artigo de Thierry Meyssan divulgado esta semana por vários amigos.Recebi dúzias de emails indicando esse texto para leitura e reflexão. A unica coisa que conclui é que o tempo passa,o tempo voa e a esquerda continua a mesma de sempre.

Ler o texto é possível, refletir sobre ele é inviável. O artigo é escrito seguindo o velho modelo de textos ideológicos simplificados misturado a episodios de conspiração. O autor expõe dois ou três aspectos da política internacional das grandes potencias. Fala das suas perversas estratégias, da ganancia e do controle dos recursos naturais e das riquezas dos países subdesenvolvidos, do conluio das classes dominantes provinciais com o rico empreendedor estrangeiro. Porém,nada fala dos anseios por liberdade manifestado pelo povo iraniano e das possíveis razões internas que incendeiam os tumultos que vem ocorrendo em Teerã.

Isso porque para Meyssan (como para boa parte da esquerda) povo não existe,quando existe não tem vontade própria. Nesse pensamento tudo que o povo produz, pensa ou faz é manipulado,quando não imposto pela força ou interesse vil,como é o caso das manifestações que vem ocorrendo em Teerã.Para ele o “caos é provocado com muita astucia pela CIA, que semeia a confusão inundando os iranianos de mensagens SMS contraditórias”.

Para dar corpo a suas idéias o autor volta a “março de 2000 quando a secretária de Estado Madeleine Albright admitiu que a administração Eisenhower havia organizado uma mudança de regime no Irã, em 1953(...)A Operação Ajax visava derrubar Mossadegh, com a ajuda do xá, e substituí-lo pelo general nazi Fazlollah Zahedi, até então detido pelos britânicos”

Essa lenga-lenga serve para levantar a suspeita de que as atuais manifestações em Teerã seriam inspiradas nas ações que ocorreram naquela ocasião quando a “CIA imaginou um cenário que desse a impressão de um levantamento popular quando se tratava de fato do andamento de uma operação secreta. O auge do espetáculo foi uma manifestação em Teerã com 8000 figurantes pagos pela Agência a fim de fornecer fotos convincentes à imprensa ocidental”. A partir dessa historinha Meyssan penetra nos velhos métodos de ajustar a realidade e as informações aos seus interesses político/ideológicos. Coisa que os stalinistas faziam com muita astucia. Diz ele que o que estamos vendo é “mais uma vez, o Iran se tornar um campo de experimentação de métodos inovadores de subversão. A CIA utiliza agora uma arma nova: o domínio dos telefones móveis. Desde a generalização dos telefones móveis, os serviços secretos anglo-saxões multiplicaram as suas capacidades de intercepção (...). Em primeiro lugar, trata-se de difundir por SMS durante a noite dos tumultos a notícia segundo a qual o Conselho dos Guardiões da Constituição (o equivalente ao Tribunal Constitucional) havia informado Mir-Hossein Mousavi da sua vitória. A partir daí, o anúncio, várias horas mais tarde, dos resultados oficiais — a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad com 65% dos votos expressos — parecia uma fraude gigantesca. Entretanto, três dias antes, Mousavi e os seus amigos consideravam a vitória maciça de Ahmadinejad como certa e esforçavam-se por explicá-la pelos desequilíbrios na campanha eleitoral. Assim, o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani pormenorizava as suas queixas numa carta aberta. Os institutos de sondagem dos EUA no Iran prognosticavam um avanço de 20 pontos percentuais de Ahmadinejad sobre Mousavi. Em momento algum a vitória de Mousavi pareceu possível, mesmo sendo provável que fraudes tenham acentuado a margem entre os dois candidatos. Nos países que ocupam — Iraque, Afeganistão e Paquistão —, os anglo-saxões interceptam a totalidade das conversações telefônicas quer seja emitidas por tele móveis ou por aparelhos com fio. A finalidade não é dispor de transcrições de tal ou tal conversação, mas identificar as "redes sociais". Por outras palavras, os telefones são espiões que permitem saber com quem uma dada pessoa está em relação. Partindo daí, pode-se esperar identificar as redes de resistência. Num segundo tempo, os telefones permitem localizar os alvos identificados — e neutralizá-los".

Mais adiante o autor revela toda montagem da conspiração: “Simultaneamente, num esforço novo, a CIA mobiliza os militantes anti-iranianos nos EUA e no Reino Unido para aumentar a desordem. Um Guia da revolução no Iran foi distribuído. Ele inclui vários conselhos práticos, tais como: acertar as contas Twitter no fuso horário de Teerã; centralizar as mensagens nas contas Twitter@stopahmadi e não atacar os sítios internet oficiais do Estado iraniano. "Deixem isso para o exército dos EUA (sic).Uma vez aplicados, estes conselhos impedem toda autenticação das mensagens Twitter. Já não se pode saber se eles são enviados por testemunhas das manifestações em Teerã ou por agentes da CIA em Langley, não se pode mais distinguir o verdadeiro do falso. O objetivo é criar cada vez mais confusão e levar os iranianos a lutarem entre si."

E continua:"Os estados-maiores, por toda a parte do mundo, seguem com atenção os acontecimentos em Teerã. Cada um deles tenta avaliar a eficácia deste novo método de subversão no laboratório iraniano. É evidente que o processo de desestabilização funcionou. Mas não é seguro que a CIA possa canalizar os manifestantes para que eles façam por si mesmo aquilo que o Pentágono recusou fazer e que eles não têm qualquer vontade de fazer: mudar o regime, acabar com a revolução islâmica."

Resumindo: o pedante texto insiste na velha ideia de que apenas pessoas como Meyssan e outros pressunçosos esquerdistas enxergam através da cortina de fumaça dos tumultos sociais.Os demais,quer dizer,todos que lutam de alguma forma por liberdade e transparência, o povo iraniano que se manifesta pelo respeito ao voto que se traduziria em pequenas reformas, os pensadores do ocidente que apoiam a expansão do conhecimento,dos direitos humanos e da liberdade em escala global são para Meyssan apenas massa de manobra,ingênuos úteis,manipulados com astucia pelos mais destacados ‘gênios da espécie humana’ –os agentes da CIA.

O original encontra-se em http://www.voltairenet.org/article160639.html