domingo, janeiro 10, 2016

Narco Fashion

Relutei por um tempo compartilhar o artigo do link. 
Me negar a replicar, ainda que de forma numericamente insignificante,a maciça visibilidade de mais tolices, além das que já abundam no Brasil, é um procedimento que adotei nas redes sociais. 
Porém, o culto piegas ao ‘marginal justo’ contra o Estado opressor e injusto, mantido por uma sociedade hipócrita, omissa e criminosa denunciada e combatida por bastiões da verdade,como os 'astros' dessa pantomima moralista,é uma babaquice que me desperta repulsa. 
Diante de mais um embuste me sinto na obrigação de revidar a carolice oportunista das celebridades histriônicas, como é o caso dos personagens centrais do artigo desse link. 
“A vida é um negócio. A única coisa que muda é a mercadoria. Você não concorda? ”
É raro ver tamanha platitude para expressar encanto pelo cartel mexicano das drogas. 
Todavia, foi assim mesmo, com essa indagação carregada de admiração que em 2012 Kate del Castillo, uma das atrizes mais famosas do México,fechou um tuíte expressando desconfiança no governo mexicano e admiração pelo traficante El Chapo.
Politica,propriamente dita,Zero!
Justiça social e segurança pública,então,nem se diz.
As sociedades mais pobres não merecem esses benefícios admiráveis que em países onde a lei é um valor inegociável, conferem alguma segurança a sociedade.. 
Para engrossar o caldo de uma mitologia contemporânea eletrizante,como num filme de Hollywood, Kate protagonizará nessa entrevista com o ator Sean Penn, um deslumbrado por personagens engajados em causas dispares que podem ir da militância histriônica por um Chávez a uma rebeldia alucinada sem qualquer causa política aparente.
Esse é o perfil 'outsider' de um ator conturbado pela contradição entre o "negocio" milionário que exerce e o ser humano -tocado pela lucidez- que interpreta na vida real. 
O resultado desse trailer de conflito existencial pode ser lido na matéria em tom de roteiro de blockbuster dramático,em forma de elegia ao tráfico de drogas.
A vida, ao contrário do deslumbramento da dupla, é muito mais complexa que um "negócio", seja ele qual for. 
Ainda que a cultura do espetáculo invista os tubos para formatar a mentalidade do espectador e explodir as bilheterias, a existência, a dor humana e a própria realidade é que definem o mundo, à revelia dos padrões morais, da estética hollywoodiana e das lendas que transbordam a atualidade.
A cabecinha doidivana da Kate e o deslumbre ativista do Penn, se esborracham na medíocre tentativa de converter El Chapo em um Emiliano Zapata.
O artigo é uma fogueira de vaidades.
Uma disputa de narcisismos entre Penn e El Chapo com a doidivana Kate del Castillo como plateia.
Porém,o que transparece como fato inconteste é que um oceano de inteligencia e talento separam Sean Penn de John Steinbeck, responsável pelo roteiro do filme Viva Zapata! do Elia Kazan 
Na verdade, El Chapo sequer tem a estatura de um Pancho Villa, ex-domador de cavalos, ex-bandido e guerrilheiro, que liderava os camponeses do Norte com o objetivo de combater o Exército Federal e os grandes proprietários, conquistando vilas e cidades e que, em determinado ponto da conturbada história mexicana, se aliou a Zapata,dois sinônimos dos maiores líderes revolucionários mexicanos.
Em resumo:"a secreta visita ao homem mais procurado do mundo" é um estardalhaço promocional ridículo que seria mais eletrizante caso os dois protagonistas acompanhassem El Chapo no seu novo domicilio pelo tempo em que lá permanecer.
Até a próxima fuga, rastreada em tempo real por um reality show compartilhado em rede, com Kate e Sean como o casal da missão especial.

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