sexta-feira, janeiro 22, 2016

‘Énouement’



Tem manhãs que desperto sacudido por sonhos juvenis.
Creio que todos os sonhos que se desenrolam em nossas vidas são pré-produções infantis,gravados entre a infância e a adolescência e exibido por toda nossa existência.
"Não podemos esmorecer!" 
Este foi o último alerta que vi estampado nas faixas erguidas por uma multidão de jovens alegres na terra dos sonhos. Senti uma certa discrepância entre as imagens e a mensagem. Mas, o mundo dos sonhos é pleno de mistérios e enigmas que misturam tempos que se foram, mas, sei lá porque, permanecem. 
Sequer procuro desvendar. Ao longo do dia sou contemplado com as sensações apanhadas nos domínios dos sonhos e sinto um certo desconforto em compartilha-las na dimensão da realidade real.
Enfim, sou muito egoísta com meus sonhos.
Todavia, depois que o artista John Koening publicou seu "Dicionário das Tristezas Obscuras" me dediquei a achar uma 'nova' palavra- no sentido de genuína - que pudesse expressar as tentativas de conectar as várias dimensões do real. Encontrei na palavra ‘Énouement’, cujo o verbete alude ao advento da “sensação agridoce de ter chegado no futuro, visto como tudo aconteceu, mas não ser capaz de contar para o seu EU do passado” uma significação estimulante.
Era isso que me faltava. 
Que Freud me perdoe, mas sou persuadido a admitir que para além dos traumas germinais o mundo atemporal dos sonhos tem uma espantosa sinergia com o ciberespaço(vice e versa) e os meios virtuais de percepção do mundo.
A cultura digital é forjada no sonho que constrói mundos virtuais tão palpáveis quanto o real. Tangíveis a ponto de nos levar a indagar: Onde acontece a realidade real? 
Como não tenho queda por fantasias surrealistas, minha tendência é considerar o real como o ‘sítio do absurdo’. 
É nele, no real, que tudo é possível.É nele que se processa a fantasia, os sonhos, a vida cotidiana, a mesmice,a opressão e as revoluções.
A convergência da realidade real com a realidade virtual dilatou os canais da percepção e, por conseguinte, ampliou a comunicação interpessoal. 
A vida e o mundo se estenderam para horizontes antes vivenciados apenas por poetas e destemidos aventureiros que habitavam nossos sonhos juvenis de liberdade.
Essa é a revolução que se processa AGORA que poucos tem o dom da graça de perceber e compartilhar em tempo real. 
Caso compartilhem, como contemporâneos do evento, pouco ou quase nada conseguem transferir para o EU do passado que vos fala. 
Diante disso é pura tolice olhar o momento atual com o paradigma que atribui totalidade ética/moral ao fator presencial. Essa virtude imposta ao EU ficou no passado por limitar o entendimento de que a experiência humana só se realiza na materialidade - corpo e a alma fincados no tempo real – que, por tratar-se de uma raridade experimental acontece em fases cruciais da existência como no nascimento, gozo, dor e na morte. 
Entende-la como a única ocorrência digna de uma existência sem ‘vícios’ adquiridos na realidade virtual, é uma recorrência ao passado por temor do presente/futuro.
O duplo SER - um consciente e presencial, outro virtual e alienado - é puro blefe de quem ainda acredita na unidade do SER como estagio mais elevado da consciência.
A realidade é múltipla. Por que o SER não seria também?
As realidades se complementam e o SER que as interpenetra se expande em múltiplas percepções sensoriais. 
Torço para que se instrumentalize mais rapidamente possível as ferramentas tecnológicas para a humanidade alcançar uma terceira, quarta e quinta dimensão do real sem a necessidade de uma mediação mística, uso de drogas alucinógenas ou delírio ideológico/ fundamentalista que, de acordo com a tradição arcaica, finda em servidão, tortura e guerras.
Alcançar esse estágio da evolução levará a humanidade a democratizar o acesso a dimensões hoje intransponíveis para os ‘caretas’ que, lamentavelmente, compõem a massa dos realistas crédulos e obcecados pela economia da subsistência e pelo poder político. 
Tal fenômeno acarreta na mais ousada evolução da espécie.
Induzir um fundamentalista religioso radical ou um militante convicto a atravessar a limitada dimensão condicionada do real é mais transformador que uma guerra sangrenta para derrota-los. 
A realidade ficará mais complexa e rica e o mundo um lugar melhor para se viver.
O diabo desse sonho é que a opção de vivenciar plenamente a realidade me leva direto para os domínios da frustração. 
Talvez, por isso, o alerta: "Não podemos esmorecer!" tenha amplo significado nas muitas dimensões do real.
Ele se manifesta também como resistência objetiva ao corrupto e seu “Poder” de convencer a massa de que ela é impotente para vencê-los.
O fato é que não É!
Estamos em plena transformação. 
Antes do advento das redes digitais,a resposta correta e exemplar da Operação Lava Jato, da PF, do MP e da PGR ao clamor da população, se restringiria ao campo do desejo.Além disso,sem essas ferramentas muitas pessoas sequer saberiam da extensão e malefícios causados pela população de pilantras e corruptos e seus associados que achacam o presente e comprometem o destino das futuras gerações de brasileiros.
Aos poucos os pegaremos! 
Ainda tem muitos deles escondidos que serão progressivamente alcançados