sábado, agosto 25, 2012

ARTE – UMA MARCA DIVERTIDA


Adriano de Aquino

F for fake!
O consumo desenfreado não deve parecer uma ação anárquica, um ato alucinado e sem controle. O consumidor, ansioso por novidades e com grana no bolso, tem que sentir o poder que tem nas mãos. Ele pertence à categoria mais elevada nos indicadores de cidadania dos dias atuais. Por essa e outras razões consome mais coisas do que necessita pra sobreviver. Essa modalidade de individuo pode comprar o que bem entende, porém, esse apetite tem que parecer uma ação moderada, fruto da escolha. Equilíbrio emocional e conforto são qualidades intrínsecas às pessoas de posse. Desde os primórdios da aristocracia os bem-aventurados comiam um leitão inteiro como se estivessem fazendo uma refeição frugal, na maior elegância. Gula sem posses é sinal de necessidade e carência. Coisa de necessitado. Um consumidor altivo devora o mundo com a fleuma de um monge budista. Pensando nisso técnicos em difusão do consumo criaram programas infalíveis. Eles partem de um principio elementar; o consumidor desconhece a fórmula e os componentes químicos / sintéticos que temperam o sanduiche da sua preferência. Mas, a ignorância sobre os ingredientes e os meios de produção daquela massa alimentar esquisita, não é impedimento para que ele engula, sem pestanejar, o manjar que deseja. A única exigência do consumidor mais arguto é que a embalagem tenha uma informação nutricional detalhada que cita valor energético, carboidratos, gorduras trans out, sódio e etc. Alias, pouco importa essa tabela porque nenhum consumidor leva consigo um medidor de elementos químicos de alta precisão. É só mais um artifício esperto da indústria de alimentos para organizar a bagunça entre oferta e procura.   Os técnicos de indução de consumo tornaram-se os regentes da orquestra que toca o mercado.Tudo muito bem bolado pra que o consumidor não se desespere e compre coisas que não são compatíveis com seu status social. Pra que tudo funcione convenientemente vigora no mercado um índice de marcas e preços, uma espécie de GPS do consumidor. Coexistem agora  milhares de marcas especificas como a Louis Vuitton, por exemplo, que é uma marca tradicional  para consumidor endinheirado, porém,a réplica pode ser comprada em qualquer esquina do  Champs Elysées  por preços módicos.Existem também as marcas genéricas que agregam tudo que se pode imaginar. Algumas instituições e  eventos de ARTE suprem a grande demanda por produtos sensíveis na vitrine dos bens culturais. No século passado essa rubrica só operava com produtos aferidos por críticos, estudiosos e um sistema mercantil legitimado por critérios qualitativos. Hoje em dia a categoria genérica ARTE agrega qualquer coisa que antes era apresentado numa lojinha de curiosidades. 
ARTE É VIDA, VIDA É ARTE essa é  a ideia genial que está por trás do negocio.  Uma brincadeira curiosa e divertida deixou de ser uma brincadeira e se tornou uma performance artística na qual os participantes revivem uma cena do conto infantil A Bela Adormecida. Para ser mais atrativo ainda o evento de ARTE deve oferecer um desfecho bem real, como o que ocorre agora na Ucrânia. Os participantes desse momento de ARTE- homens e mulheres- assinaram um contrato no qual se comprometem a casar-se caso a moça ‘desperte’ após um beijo. 
Não é genial?
Regra - ARTE hoje tem que ter regra, formulário e texto complexo para a atualização cultural do consumidor- dispõem que cada uma das Belas selecionadas dormirá por três dias na obra do artista ucraniano-canadense Taras Polataiko no Museu Nacional de Arte de Kiev e, durante o sono, vão ser beijadas por homens que tentarão despertá-las.
Os homens são instruídos a não tocar nas moças – apenas beijá-las nos lábios uma única vez – após consumirem balas de menta.
A instalação fica em cartaz até o dia 9 de setembro.
Essa modalidade de ARTE pode não produzir nenhum êxtase, mas, certamente, vai gerar casamentos surpreendentes. 
E, por acaso, algum não é?