quarta-feira, maio 20, 2009

"Fare Mondi / making worlds"- Dialogo de Blog



Ele digita:
17 de maio 15:30

Desculpe, não era minha intenção confundir estações. O péssimo habito de resumir pensamentos complexos sempre resulta em desastre. Para ser mais preciso, acredito que o modelo Bienal de Arte, hoje em uso, ha muito se esgotou. Contudo, múltiplos interesses retardam o enfrentamento da crise dessas instituições de arte. Na economia as crises se apresentam de forma mais incisiva. Todos sofrem e algo precisa ser mudado. Nas artes, as crises são sucessivas, residem no interior do próprio processo criativo.É insano tentar fugir de algo que é  próprio ao processo artistico. Todavia, nas instituições de arte e cultura as crises anunciam a falência de um sistema. As repetidas tentativas de superá-la através de paliativos superficiais apenas prolongara por mais tempo a vida de um modelo moribundo. Na argumentação que segue foram coladas algumas considerações minhas sobre um texto de Donald Kuspit a respeito do mesmo assunto. 

Lawrence Alloway em seu livro a Bienal Veneza 1895-1968 foi claro e preciso sobre essa questão. Alloway anota que em 1966 o Bienal mostrou 2.785 trabalhos de artistas de 37 países; para 181.383 freqüentadores, 800 críticos da arte, jornalistas além de negociantes de arte. Esses números dão uma ordem de grandeza e estimam o valor da exposição e a escalada e a velocidade das novas comunicações internacionais. Alloway comenta sarcasticamente que "para os que gravitam em torno de uma opinião elitista a abundância de produtos estéticos mostrados na Bienal foi identificada como uma diluição da essência pura da arte.Os críticos da esquerda se opuseram a mostra por causa da preponderância de estilos internacionais sem utilidade social manifesta". Talvez, Alloway tenha sido demasiado irônico ao afirmar que a orgia do contato é "uma comunicação" na Bienal de Veneza de 1968.Nas 112 outras mostras e nas feiras oficiais e comerciais que aconteceram na Itália naquele ano, apontavam que o alvo principal era discutir a competitividade e a diversidade extrema da Bienal, sobretudo, as mudanças esteticas dos trabalhos exibidos e questionar o conceito do trabalho de arte como símbolo permanente. Ao invés de, ainda segundo Alloway, se debater a complexidade das estruturas e das inúmeras formas de interpretações. Isto é: a arte física e conceitualmente móvel, vista sob vários contextos e que freqüentemente muda de significado a cada contexto. Para Alloway, o trabalho de arte não é exatamente um objeto e sim sua particularidade, quer dizer, é parte de um sistema de comunicação. Se pode dizer que na pós- modernidade o trabalho de arte comemora a desestabilização e a dessacralização da "obra de arte"- ideia que começõu a tomar corpo  na modernidade. Alloway vê uma vantagem intelectual ou uma oportunidade interpretiva nesta desestabilização(eu também). Quando o trabalho de arte se torna menos seguro em sua identidade, torna-se mais aberto à interpretação e dessa forma mais significativo e comunicativo. Isto realça sua contemporaneidade, pois, há mais comunicação na interpretação. Quanto mais isso acontece mais contemporâneo parece,quer dizer,mais vivo no presente. Dessa forma, dispensa a necessidade de permanência. Nesse sentido, os pluralismos turbulentos de interpretações, se opondo aos valores dominantes, confirmam que a diversidade turbulenta da arte moderna parece ter aumentado exponencialmente na pós-modernidade, contribuindo para que a multiplicidade de interpretações a mantenha no jogo da contemporaneidade.Sem isso,tudo se desvanece no esquecimento, ou seja, transforma algo abstrato em concreto, melhor dizendo, em algum marco histórico na estrada de uma narrativa predeterminada do progresso artístico. Nesse caso não se aventa nenhuma dúvida acadêmica, trata-se de uma complexa realidade. Mas, algo estranho aconteceu na Bienal de Veneza,"o contrapeso entre a tentativa de mostrar a abundância da arte contemporânea e, por outro lado, afiançar qual será a arte historicamente importante(isso se tornou o mote das bienais subsequentes) para o futuro, sendo especialmente preciosa no presente, desviou para longe o que assinalamos como positivo anteriormente. Para mim essa atitude foi sinal de uma tentativa de remover as ervas daninhas da incerteza para fora do contemporâneo, predeterminando a história da arte. Apesar da diversidade entre os pavilhões nacionais, as nações tentaram mostrar um PERFIL histórico sob o viés do "vejam quão contemporâneos somos" credenciado por um suposto julgamento da história(uma espécie de "historia do presente" conduzida por curadores) .As nações estreitaram a escolha dos artistas a serem exibidos sob o pretexto de que dessa forma tornam suas representações mais seletivas. Isso, de certa forma, justifica a negligencia em relação a muitos artistas contemporâneos e a uma perda de consciência critica. A tentativa prematura de remover ervas daninhas, excluindo muitos outros modos de arte da atualidade, deu lugar a exclusividade sobre a abundância, ocultando a espontaneidade contemporânea e dando visibilidade a uma espécie de processo histórico manufaturado de permanência - as instalações,por exemplo,que surgiram nesse período como uma manifestação "efêmera" se tornaram,desde então, um "estilo" dominante nesse tipo de mostra.Ocorre, entretanto, que tal triunfo falsifica ambos,contemporâneos e históricos. O disparate da tentativa de afirmar qual arte tem valor permanente para o futuro e que artistas tem mais perspectivas de permanência histórica,assim como as listas pseudopluralistas dos melhores artistas do ano que proliferam nos ambientes de arte cosmopolita, acreditam ter o poder de tornar permanente uma parte da arte contemporânea. Muitos agentes, curadores e intermediários hoje funcionam como uma "casta imprimatur" um tipo de Deus “ ex -machina”que, ao contrario que muitos supõe,têm efeito entrópico na arte que escolhem como importante.  

Arbitrar, prematuramente, sobre uma parte da art apontando como historicamente  importante um estilo ou um artista é uma pretensão descabida de antever sua recepção em um futuro próximo ou remoto.Nesse sentido, as Bienais se tornaram uma espécie de antítese arqueológica quando esse campo do conhecimento revela ao mundo a "descoberta" da tumba de um desconhecido faraó  que de fato um dia foi  soberano.

Ela digita:

17 de maio às 18:12
Oi, belo folego! Pelo visto temos muito o que conversar. Eu estava brincando e indo para a praia lavar a alergia ao polén, a tal da "hay fever" que bate' durante a primavera. Ha' alguns anos percebi que o "Wasteland" do T.S. Eliot deve aquelas extraordinarias e misteriosas imagens poeticas a uma crise de alergia ao polén: "april is the cruellest month, breeding lilacs out of the dead land, mixing memory and desire..." e o texto continua de forma eloquente.Quanto às Bienais, elas realmente se aproximaram muito das Feiras de Arte. O mercado avançou em cima de tudo nas ultimas decadas. E' curioso porque voce cita um texto do anos '60; daquele momento que convencionamos datar o inicio da chamada arte contemporanea. Priscas eras. Exatamente naqueles anos a arte estava parindo mil propostas novas, radicais, utopicas, novas teorias e novas linguagens que propunham a dissoluçao do objeto de arte, a criaçao de formas de arte que nao tivessem atrativas para o mercado. Nao demorou muito tempo e os xerox, as fotos desfocadas, as folhas rabiscadas com os projetos das performances, começaram a ser cobiçados pelo mercado e logo vendidos por preços altissimos. Faz tempo que a arte nao desova uma nova teoria que sacuda os parametros da percepçao artistica e o que assistimos, como voce observou, é todo mundo querendo fazer parte da historia. Historia com H maiusculo. E os exemplos sao tantos. Acho que faz parte deste momento de decadencia. E como tudo tem andado muito rapido, espero que este momento também passe logo.Tenho ido à Bienal del Veneza nos ultimos vinte anos ou quase isso. Estou curiosa para ver como sera' a Bienal da crise. O titulo "Fare Mondi / making worlds" me parece uma homenagem aos anos '60, uma maneira de se apelar àquel emomento da arte como isnpiraçao. O curador justificou o titulo dizendo que interessa a capacidade dos artistas de criarem mundos.... nao necessariamente objetos. Nos ultimos dez anos a Bienal ganhou o espaço imenso do antigo Arsenal de Veneza (14.000 mq) para fazer a sua exposiçao curatorial além dos pavilhoes do paises e os Giardini. Alias, voce se referia a 37 paises; este ano sao 77!!! Ao lado desses ha' 38 eventos colaterais promovidos por instituiçoes internacionais de arte espalhados pela cidade. De maneira que acho interessante. Mesmo quando nao gosto, me faz pensar em um monte de coisas. Depois conversaremos mais.Por ora, lavei a alergia em um belo banho de mar... Para quem nao tem mar na porta de casa, e nem mesmo o ano todo, foi um evento memoravel. beijos.
Ele digita:

18 de maio às 17:23
Essa edição repete os mesmos erros das edições anteriores.Centrar num tema o fluxo da produção contemporânea.Os scholars da academia de arte global usam a temática como um guarda - chuva para abrigar suas mais "fashions" teorias,pouco importa o que esteja ocorrendo por baixo da cobertura.Uma chatura insuportável acompanhada por textos mais chatos ainda.A Bienal de São Paulo usou do mesmo recurso ao recorrer a temas de bienais anteriores.Um desastre.Um dos problemas é a regência de um TEMA para a arte.Por que insistir no mesmo problema tanto tempo?
Ela digita:

18 de maio às 18:59
Como tema esse é bem aberto; nao é um tema, é um titulo; é quase tudo o que os artistas fizerem. Me parece uma tomada de posiçao do lado dos artistas e não do lado dos curadores tipo bienal do vazio...
Ele digita:

18 de maio às 19:34

Porém,continua um tema e como tal um equivoco.Existem erros mais grosseiros,claro!