quarta-feira, junho 27, 2007

Angelo de Aquino 1945/2007


Angelo,meu irmão.

Sempre tive um profundo respeito pelo seu temor da morte. Entendia como manifestação intensa de seu amor pela vida e um jogo esperto em relação ao imponderável. Alheio a uma postura humilde, fez do temor uma virtude que o fortaleceu para o confronto derradeiro. Nesses dias dificieis eu imaginava o que tramava nos momentos de solidão, ameaçado pela doença que insistia em debilita-lo e a qual não concedeu nenhuma grama de comiseração. Jamais manifestou para mim algum sinal de impotência ou desespero. Foi assim até o ultimo sopro de vida. Guerreiro, se fortalecia junto aos amigos, para logo depois mergulhar nos recantos mais profundos de si próprio, isolado e protegido no mundo sólido e reconfortante que construiu ao longo de sua existência. Creio que nesses momentos programava, lenta e arduamente, seu encontro com a morte. Assim como criou um mundo original com suas pinturas e inventou um método complexo e particular de apostas, se preparou para o jogo final de sua vida. Sem abrir mão dos desejos, calculou cada passo, estreitou o convívio com Eduarda e as pessoas que amava, desprezou as coisas insignificantes, lançou ao mar a carga secundaria e se posicionou, nu e integro, para cumprir mais um desafio.
Morreu como viveu, com toda intensidade.

Adriano