domingo, outubro 29, 2006

Coletivos Estéticos: Utopia ou Ideologia?

O século XXI vê renascer as ações coletivas em diversos setores. No seu ensaio sobre o coletivismo virtual colado nesse HiperBlog, Jaron Lanier www.well.com/~jaron nos fala das idéias, dos métodos e estratégias desse tipo de procedimento no universo cibernético. Seu instigante texto me dispensa da obrigação de fazer maiores considerações sobre as experiências dos muitos coletivos que transitam na internet. Os problemas cotidianos e o grande volume de informações que nos chegam todos os dias tornam exaustivas nossas intenções de manter critérios de avaliação sobre os conceitos que surgem, ou são replicados, em enorme velocidade. Esse ensaio é uma tentativa de abordagem das questões que envolvem os diferentes aspectos das manifestações coletivas nas artes e na cultura contemporâneas. Seus êxitos, fracassos e, claro, suas fragilidades frente às manipulações advindas dos diferentes setores sócio-culturais. Desconheço experiências, anteriores aos últimos vinte anos, de coletivismo estético muito ativo em nosso país, sobretudo no campo das artes plásticas. Exemplos desse tipo de procedimento estético ocorreram de forma mais consistente no teatro e na musica - o Teatro do Oprimido, Opinião, Viajou Sem Passaporte, 3Nós3, Tupi Não Dá, Asdrúbal e etc...somente para citar alguns grupos locais em atividade nos anos 60/70 e 80. Naquela ocasião os coletivos defendiam a autonomia, confrontavam o autoritarismo, desprezavam o circuito oficial de arte e cultura eram agitadores políticos e críticos da industria cultural de massas, incentivavam as pessoas a derrubarem as fronteiras que separam a arte da vida, a arte e comunidade, os instigando a se juntarem a suas manifestações de amor, consciência ou revolta na busca de consenso contra as contínuas violações do estado aos direitos do cidadão. É bom lembrar que esses grupos prezavam, acima de tudo, realizações em locais não institucionalizados. Naquela ocasião os coletivos apareciam e desapareciam, replicavam, iam e voltavam e novamente se dissolviam em controvérsias estéticas, interesses difusos de parte do grupo e outras formas de dissabores inerentes às experiências coletivas e em prol de uma suposta vontade da maioria. Hoje, mesmo não existindo uma ligação direta e aparente com seus predecessores, os movimentos coletivistas preservam alguns aspectos centrais da idéia. Porém, a expansão das práticas artísticas redesenhou o território estético e as reinvestidas dos coletivos acionaram relações diferenciadas entre a arte e o espectador. Aqui tentarei tratar, especificamente, dos modos de operação, estratégias e outros procedimentos coletivos evitando paralelos com as múltiplas modalidades da arte contemporânea circunscrita ao chamado circuito de arte. É possível que eu exagere ao afirmar que no passado recente, nas artes plásticas, os coletivos de artistas não foram marcantes. Contudo, reconheço, que de uns dez anos para cá, essas experiências começaram a se consolidar de forma mais visível no país. Mesmo não sendo imprescindível é útil recorrermos a episódios que no começo do século XX atacaram frontalmente as definições, até então correntes, sobre arte. Isso irritava aqueles que queriam que as coisas permanecessem como estavam. Porém, fortaleceu os que desejavam mudanças. É incontestável que um conjunto de propostas estéticas agregadas a outros complexos fatores mudaram o panorama artístico, radicalmente. No Brasil tais procedimentos abalaram os alicerces do provincianismo. Uma das conseqüências dessas mudanças passa pelo entendimento comum sobre o que é arte e o que não é arte. Em posts anteriores eu comentei alguns discursos de artistas da atualidade que esgotam explicações para afirmarem que o que fazem é arte. Essas questões são polemicas e por isso mesmo permanecem em discussão. Quem quiser encerra-las prematuramente, através dos artificialismos em voga, vai dar com os burros n’água. Um paralelo com o que hoje ocorre no universo virtual é inevitável. Segundo Jaron, a incorreção dos tópicos inseridos no coletivo Wikipedia, por exemplo, no ritmo que seguem, podem legar às gerações futuras uma visão equivocada sobre a atualidade, ou melhor uma Bíblia, complacente e conformista, copilada por apóstolos anônimos. Os coletivos on line se enrolaram em graves contradições.
O principal objetivo das ações grupais organizadas, efêmeras ou duradouras - que ocorrem nas comunidades pobres, em favelas, na mídia independente ou tática, na internet, nas florestas, em acampamentos de sem terras ou nas ruas das grandes capitais - é intervir na realidade local e transforma-la. Quanto mais essas ações se ajustam à filosofia do grupo mais produtivas são pra dentro, para a própria comunidade foco e para fora, para a sociedade como um todo. Baseados em recentes idéias e conceitos sobre representação e realidade, sociabilidade e perspectivas de intercâmbios entre artista/espectador, oriundos de pensadores contemporâneos, grupos de varias modalidades artísticas atuam em diversos ambientes sociais. Alem dos filósofos, pensadores e estrategistas, seu ideário também encontra importantes subsídios na física quântica. Por exemplo: os grupos que não simpatizam muito com o poder da ciência, combatem a manipulação genética sem controle da sociedade, confrontam as induções ao consumo humano regular de alimentos transgenicos, se opõem à expansão do uso de energia nuclear e etc,... se esforçam para alertar o maior numero possível de pessoas para as nefastas conseqüências da poluição ambiental. Os recentes conhecimentos da física quântica e de outros segmentos acadêmicos os municia nas ações que visam exigir dos governos e das empresas uma postura ética responsável em ralação às gerações futuras. Ao ampliarem nosso entendimento sobre dimensão, moléculas, partículas, tempo, espaço, percepção, realidade, etc. esse braço da ciência nos tornou ainda mais responsáveis sobre o futuro da vida na Terra. Além disso alguns físicos quânticos distinguem como relevante o sentimento dos indivíduos sobre o mundo e crêem possível que os fluxos mentais e a consciência podem transformar, de fato, o que chamamos de realidade. Ora, transformar a realidade é um dos objetivos das ações coletivas.
Na internet, nos documentários, livros ou em revistas podemos nos informar sobre as inúmeras pesquisas que nos colocam frente a perspectiva de reversão do velho paradigma de que a realidade é imutável. Suas teorias aportam questões que há poucos anos atrás só seriam feitas por filósofos, artistas, escritores ou poetas: Por que nos restringimos às velhas formas de relacionamento? Por que insistimos na arcaica reedição de nossas habilidades perceptivas do real? Por que continuamos aprisionados aos arcaicos movimentos possíveis da consciência e aos processos uniformes de realidade?
As ambíguas relações com a liturgia, no âmbito da civilização ocidental, preservadas nos templos, nas almas religiosas, nas práticas e rituais, agregam milhões de seres humanos que compartilham a fé e o entendimento dela proveniente de que os poderes metafísicos explicam as mazelas da vida e reduzem o sofrimento. Parecem alheios as maiores conquistas da razão e da ciência na luta contra as doenças e a dor . Por outro lado, a racionalidade, que tudo coloca em suspeição, nos ensina a olhar com desdém os fundamentos ritualísticos, suas metáforas espaciais e suas práticas corporais. Somos educados a purgar nossas dúvidas através da lógica da negação. É nesse espaço dicótomo que compartilhamos nossas existências num mesmo fluxo temporal.

Contudo, ao abrir uma janela para um novo conhecimento as recentes teorias da física quântica problematizaram, ainda mais, nossa existência, colocando em nossas mentes a possibilidade de mudanças concretas de nossas vidas no plano do real. Seus novos achados somados as tensões cotidianas de uma sociedade altamente competitiva, que mal consegue planejar o dia de amanhã, levam os indivíduos a buscarem novos significados capazes de os manterem equilibrados diante dos desabamentos sucessivos das antigas verdades absolutas. É claro que isso não explica tudo, porém, é fato, que hoje resistimos menos aos conhecimentos e experimentos desbravadores. Por essas e outras razões, explica-se que alguns artistas e coletivos estéticos atuam nos interstícios entre a mentalidade vigente e as dúvidas existenciais que nos afligem , mesmo frente ao custo de produzirem mais insegurança.
É possível que o entusiasmo pelos aspectos superficiais de uma nova, ou se preferirem, diferente utopia, seja apenas um movimento tático sem graves conseqüências. Ações rápidas geram expectativas e chamam atenção sobre si. Entretanto, se essas atitudes se instalam longo período no coletivo, em detrimento a uma maior dedicação à estratégia e a autocrítica, as conseqüências são fáceis de prever. Em pouco tempo veremos apenas os rastros de seus desaparecimentos. Contudo, caso tenham se estruturado, tanto tática quanto estrategicamente, e tenham algo novo a nos propor, vale a pena acompanhar seus movimentos.
Vejamos: regra geral os coletivos mais instigantes são aqueles que operam à margem das curadorias e do olhar controlador do estado, das grandes estruturas institucionais ou de grupos que ambicionam apenas gloria, grana e poder. Suas ações, que para muitos parecem à primeira vista banais e que outros emocionam profundamente, como os rituais coletivos de comunidades pobres, substituição de placas de ruas por um outro nome, layout de condomínios celestiais ou satíricas performances que mimetizam personagens ou situações facilmente identificáveis de poder dominante, parecem afirmar um desapego e uma entrega incondicional à vida e ao que aferem como realidade. Essas atitudes são comuns a muitas manifestações de coletivos espalhados pelo planeta. Contudo, no Brasil tais ações ainda se mostram hesitantes. Muitos grupos usam das características peculiares da criação coletiva dentro do ambiente institucional e nas galerias comerciais de arte, onde as ambigüidades tornadas produtos culturais, se afirmam como identidades artísticas, até certo ponto convencionais. Essa imprecisão é fruto da duvida que os angustia quando desejam se descolar do sistema de arte. Por essa razão recorremos à mesma pergunta de sempre: por que esses ativistas insistem em preservar o território identificado como arte? O que os submete? O que os fascina?

Toda renuncia é difícil, mesmo para aqueles que crêem que a renuncia à arte os entregará, radicalmente, à vida ou ao que chamam realidade. Mesmo permanecendo intimamente ligados a estética essa angustia os imobiliza. Talvez esses fatores não sejam suficientemente convincentes e seguros para desliga-los do mundo da arte, onde preferem continuar sendo identificados, e, portanto, inseridos na categoria de artistas contemporâneos. Agindo assim os ativistas coletivos, pensadores, criadores de estratégias de ação que buscam novas relações e novas percepções nos revelam temer mais do que ousar. É certo que vivemos num mundo pressionado pela alta especialização, onde a exclusão é uma dura condenação. Porém, ao hesitarem entre arte não arte, colocam em segundo plano a carga conceitual que os motiva. Essa indefinição os imobiliza e enfraquece, expondo-os as manipulações dos gestores culturais ligados as velhas praticas dos coletores de novidades artísticas, dos negociantes de arte e dos programas de marketing das grandes instituições culturais.Muitos acreditam, por exemplo, que a mudança do nome de uma avenida da capital paulistana, mesmo não sendo entendida como arte pela cultura vigente, pode se converter em ato útil inspirando mais ativistas a criarem mais ações táticas que levem ao desmantelamento da estrutura cultural e mental dominante. Nesse contexto os paralelos com segmentos da industria da imagem são inevitáveis, sobretudo com a publicidade. Muitos ativistas sonham em diluirem-se em espaços públicos. Talvez creiam que assim procedendo reinventam significados e símbolos capazes de transmutarem suas subjetividades artísticas e o real. Calcular efeitos, planejar ações estéticas, da mesma forma com que se planejam as campanhas publicitárias, criar situações incomuns em vias publicas, elaborar detalhadamente atos que desviem do óbvio, são coisas que encantam os ativistas, contudo, caso todos os itens do conjunto não se encaixem perfeitamente aos fins objetivados pelo grupo os equívocos se multiplicam. Quando isso acontece os traços sensíveis de suas utopias se dissolvem no ar ou na mídia. Isso ocorre com freqüência porque as ações estéticas tendem a enveredar pelo o artístico que pulsa na alma dos participantes, deixando em segundo plano os fins e a própria proposta coletiva original.Os coletivos que tentam se afirmar nos campos estético/político as exigências são ainda mais severas. Os movimentos artísticos da atualidade lhes trouxeram novos desafios à medida que conteúdo e tema não mais importam para a arte. O esmero e a técnica deixaram de ser fatores relevantes de uma obra bem como seus códigos que já nascem exauridos. Portanto, repassa-los ou torná-los ponto agregador de formas de ação coletiva político/estética em comunidades desprovidas de meios materiais podem, quando muito, encobrir práticas demagógicas resultantes de velhas e recondicionadas ideologias. Tais procedimentos além de agravarem os conflitos locais reduzem a perspectiva cultural às retrogradas manipulações paternalistas.

A sociedade ocidental contemporânea cultua a aparência. Nenhum profeta da atualidade está equipado para anunciar como e quando esse culto findará e quais seqüelas sócio – culturais deixará. Muitos crêem que o abandono do significado e a ânsia pelas ultimas novidades são conseqüências desses tempos incertos e que a arte atual é mais um dos seus reflexos. A arte contemporânea que transita no ambiente cosmopolita internacional pode até carregar mensagem política, afetiva, metafísica ou qualquer outra suposta mensagem, contudo, não são esses fatores que a inserem na grade de produtos culturais disponíveis. Nesses círculos sofisticados a intensa rotatividade de códigos e signos asfixia os conteúdos. Excluindo-se o econômico, nenhum valor ou conceito sobrevive muito tempo em sua atmosfera.

Os coletivos brasileiros que atuam nas comunidades, em torno dos movimentos sociais, organizados ou não, em favelas, em territórios desamparados pelo poder público, em espaços públicos insólitos e frente aos mais variados conflitos ambicionam estabelecer interações profundas com a localidade, dar voz aos indivíduos, valorizar o simbólico e, se possível, denunciar o abandono do poder público, o desprezo da cultura vigente e as mazelas locais. Maior parte das vezes esse esforço resulta em enorme frustração para os membros dos coletivos e para a própria comunidade que se envolve no projeto. Uma parcela considerável dos produtos resultantes dessas ações (filmes, balés, show musicais e etc...) quando apresentados ao publico de fora (platéias, espectadores, consumidores) são entendidos como ações paternalistas que apagam, ou sobrepõe, os valores culturais da própria comunidade. Quando muito, consagram os participantes na mídia, nas instituições culturais e no mercado. Sem desmerecer a idéia e o esforço desses grupos, o que nos parece é o que pouco aprofundamento conceitual no planejamento estratégico e o foco difuso das ações não são itens que consideram importantes. Em casos mais graves alguns coletivos não conseguem revela-las nem para dentro (habitantes da própria comunidade não se reconhecem) nem para fora, para extratos mais elevados da sociedade. Aqui me refiro, exclusivamente, a coletivos comprometidos com princípios e propósitos. Desconsiderei as manobras oportunistas.

Para os coletivos estéticos oriundos das comunidades pobres os problemas se agravam ainda mais. Excluindo-se as mobilizações em torno da produção do carnaval, festivais regionais e rituais religiosos as comunidades menos favorecidas materialmente enfrentam enorme dificuldade para estabelecer pontos comuns de ação coletiva e ainda obterem recursos para realizarem seus projetos. Os militantes do próprio local, além de se desdobrarem em esforços, dão de cara com enormes dificuldades de captação na iniciativa privada ou nos órgãos públicos. A competição desigual, os interesses locais das legendas partidárias, os vários conflitos internos, os labirintos da burocracia, o inalcançável acesso aos patrocinadores, enfim, obstáculos descomunais restringem os projetos aos segmentos habituais mais palatáveis a cultura dominante: os enquadrando nos eventos musicais.O filme Prisioneiro da Grade de Ferro– Auto-Retratos, do diretor Paulo Sacramento http://www.prisioneiro.com.br/ é uma obra de autor, cuidadosamente editado, que obteve êxito ao transmitir para platéias variadas as vozes da comunidade carcerária de um presídio de São Paulo (Carandiru). Essa película, sob alguns aspectos, remete a procedimentos similares as praticas coletivas, mesmo tendo sido realizada por profissionais de cinema. É muito difícil em condições tão precárias se evitar a simplificação comum às experiências coletivas em situação de confronto e risco. Contudo, uma estratégia bem arquitetada e criatividade podem ajudar bastante na difusão de uma produção estética onde a coletividade reclusa interage com a produção de maneira convincente. Os coletivos norte americanos Action Community Art http://www.actionfactory.org/ ou Critical Art Ensemble http://www.critical-art.net/ são experiências que transcenderam os limites regionais trabalhando com situações de confronto, vale a pena conhecer um pouco das suas propostas e ações.
A fragmentação das formas de produção, característica da globalização, caiu com um raio sobre as sociedades menos desenvolvidas. No caso brasileiro onde a tradição sofre profundo abandono o impacto foi grande. A mundialização não é uma coisa nova, é certo, contudo, ela ainda nos aporta problemas graves que se refletem em todos os lugares e as conseqüências atingem todos os setores, indistintamente. Alguns acadêmicos dizem que: Experiências bem sucedidas num lugar podem funcionar de forma semelhante em outro. Essa frase, oriunda do olhar tecnicista, foi tropicalizada pelos altos escalões dos governos latinos americanos. Os núcleos de poder da região foram obrigados a se adequarem à lógica do mercado global para reduzir os riscos de perderem os canais de acesso aos recursos da economia mundial. As experiências bem sucedidas das nações desenvolvidas tornaram-se tabula rasa para os gestores públicos locais, porém, como triunfos não descem escada, os benefícios não chegam a população. A adoção dessas argumentações justifica os ajustes econômicos e empurram com a barriga o crescimento do país.
As montadoras de veículos, os supermercados, os fast foods, a industria de vestimentas, laboratórios farmacêuticos, eletro doméstico e etc..., instalam-se e produzem - em graus de relativa diferenciação com os padrões adotados pelos países de forte economia e alta especialização - em qualquer lugar do planeta que possua farta e barata mão de obra, baixa escolaridade e uma parcela da população com grana para consumir . Para Os serviços que exigem melhor formação, como os operadores dos centros de telemarketing, por exemplo, que empregam pessoas com formação universitária e poliglotas, as exigências são mais severas. Quem identifica nessas diferenças um presságio, o futuro não muito distante, é ainda mais sombrio.
Para a arte e as iniciativas culturais, tirante os setores da industria da imagem, do som, entretenimento e comunicação eletrônica, o momento presente é muito preocupante. Esses segmentos são sensíveis à política local, seus vícios e suas vicissitudes. As trocas que se multiplicam a cada instante pelo mundo afora aqui encontram resistência e acabam sucumbindo aos mecanismos do poder e a mentalidade dominante, protegidas pelo que a nossa tradição tem de pior: Paternalismo.
É fato que a internet possibilita o acesso a informações e troca de experiências e idéias que se imagina adaptáveis às realidades locais. Porém, o que aqui constatamos, na maior parte dos casos, são idéias inovadoras se adaptarem aos interesses de pequenos grupos fechados de poder. Muitos se equivocam ao pensarem que isso se deve a uma fobia brasileira pela internet. Acreditam que ocorre pelo fato de não termos adentrado os domínios das tecnologias de ponta, sermos vitimas de uma cruel distribuição de renda, uma enorme população de analfabetos, bolsões de miséria e que, enfim, mal conseguirmos reinventar nosso destino. Ao contrario, a informatização das agencias do governo, do sistema bancário e o enorme contingente de telefones celulares e etc... revelam uma formidável adaptação da população aos novos meios eletrônicos de informação e comunicação. Nesse segmento triunfam os jogos eletrônicos e outras amenidades que colocam a disposição dos usuários uma vasta gama de produtos interativos. Os coletivos estéticos ainda não dispõe de estratégias capazes de atrair a massa de usuários da tecnologia de comunicação digital para suas ações. Essa é uma lacuna que necessita maior atenção dos grupos que interagem na rede. Agora, se as ações na internet podem ser efetivamente perigosas, com conseqüências devastadoras para a sociedade, previstas por muitos tecnicistas, será resultante, sobretudo, do que já vem ocorrendo nos paises de ponta. À parte as declarações paranóicas , diversos sábios alertam para perigos que rondam as novas tecnologias o universo virtual, seus produtos, métodos, objetivos e estratégiade ação.

Para finalizar algumas palavras sobre as intrincadas e ambíguas relações dos coletivos estéticos com a mídia. Alguns coletivos insinuam menosprezar a manipulação da mídia quando dizem, de forma um tanto infantil, o quanto espertos são para manipulá-la. Essa pretensão nasce de um sentimento comum a grande parte da opinião publica de que a mídia, sempre ávida por notícias e novidades, é alvo fácil quando caça fatos e pessoas, coisa que faz cotidianamente. Contudo, na prática, sabemos que as coisas não são tão simples quanto parecem. É comum as pessoas se orgulharem do mundo que constroem para si, por isso, não me surpreende que os coletivos se olhem com admiração. Penso isso diante da idéia que se instalou como um paradigma entre os coletivos mais atuantes. Eles se consideram uma espécie de enviados dos novos tempos, capazes de fazer bom uso da mídia, formular ações e quebrar padrões através das táticas de comunicação. Muitos ativistas depositam fé cega na crença de que a desinformação é uma característica do nosso tempo e que os artistas coletivos devem fazer uso disso. No meu entender, é justo o contrario, vivemos na era do excesso de informações. Até concordo que as duas situações surtam efeitos sociais similares. Porém, o que constatamos é que os espertos ainda estão do outro lado, ou seja, na grande mídia. Isso explica porque os mais destacados coletivos estéticos ajustam suas ações para caberem nos espaços dos veículos de comunicação. O que me deixa curioso é: em se tratando de comunicação, numa era em que os critérios se volatilizaram, como definir o que é bom ou ruim?

Adriano de Aquino
Outubro de 2006