sexta-feira, dezembro 23, 2011

sábado, novembro 19, 2011

A aflição do novo


Adriano de Aquino
novembro de 2011

Parecer novo é a mais nova aflição da atualidade.
Excitante mundo novo, vida nova, tudo novo. Seria surpreendente se esse aforismo refletisse uma tendência generalizada, entretanto, aceitar o novo não é uma disposição tão consensual quanto gostariam os especialistas do marketing e da publicidade. Ele é cercado de dúvidas e indagações. Por um lado é estimulante, por outro, é suspeito e assombroso. O novo versus o velho é um duelo constante em nossa vida intima e afetiva e nas nossas mais importantes escolhas. Ainda que eu não pretenda divagar sobre os aspectos mais densos desse conceito, ao tocar no assunto acabo aproximando de algo que, ainda que não percebamos com clareza, nos mobiliza todos os dias.
Para ir direto ao objetivo, ou melhor, ao ponto que pretendo abordar nesse texto, afastarei a tentação de divagar sobre as investidas contemporâneas recorrendo a três citações admiráveis que expõem com mestria a complexidade da matéria:
A primeira de Brecht: Alegrem-se com o Novo, envergonhem-se do Velho!
A segunda de Charles Olson: O que não muda é a vontade de mudar.
Devo acrescentar que minhas considerações, ainda que não toquem em contextos filosóficos, tangenciam despretensiosamente as fronteiras da reflexão existencial.
O que nos vem à mente diante da questão: as mudanças que acontecem em toda parte podem ser apreendidas como um novo paradigma sócio cultural? 
Parte da resposta advém do impasse diante da nossa atitude em favor do novo. Em alguns casos, interagir com o novo pode ser relegado a um segundo plano e lá permanecer resguardado até que ele se torne habitual e seu impacto seja neutralizado por força do tempo e do imperativo de adaptação. Por outro lado, a aceitação instantânea, que nada questiona, também não é um passo decisivo em direção ao novo.
A astúcia do relativismo cultural serviu durante um período como um fator desestruturante do longo predomínio das ideologias sobre o pensamento. Nesse aspecto teve um efeito curiosamente objetivo que permitiu descortinar novas perspectivas intelectuais há muito tempo recalcadas. Contudo, ao sedimentar-se como regra deixou de ser uma alternativa dialética para se tornar uma fórmula fácil, adaptável a qualquer circunstancia. Hoje, é o cabeçalho da contemporaneidade, lamentavelmente, perdeu o viço e a graça que tinha na sua origem nitszchiana.
Niezstche, Freud e Marx, considerados pilares da modernidade desvendaram, cada um a seu modo, um novo mundo. Suas idéias atravessaram grande parte do século passado e ainda são referencias ao pensamento contemporâneo. Todavia, o pensamento científico desbravou outras fronteiras do conhecimento. Uma nova cultura, aparentemente mais tecnicista e pragmática, confrontou as bases do humanismo clássico e se espraiou pela sociedade.   
A limitada difusão cientifica de meados do século passado deu lugar a um protagonismo mais atuante. Hoje, pode-se dizer; já estamos acomodados e convivemos bem com avanços científicos. Os avanços das tecnologias da informação, por exemplo, se tornaram tão rotineiros que mesmo um menino de dez anos em alguns minutos se habilita a interatuar com programas difíceis e compartilha infos na rede global de computadores. Se perguntarmos se ele sabe o que está operando, se ele conhece o sistema e as entranhas da máquina, certamente teremos como resposta um não.
Todavia, ainda que convivamos superficialmente com as mais inquietantes tecnologias do século XXI, como a informática, a transferência em rede de dados digitais, a robótica, a engenharia genética e a nanotecnologia podemos intuir o quanto o conhecimento científico e o desenvolvimento tecnológico têm agido e transformado nossos hábitos cotidianos e nossas vidas.
A utilização das mídias digitais ao mesmo tempo em que interage com todas as modalidades do fazer, se destaca de todos os demais itens, serviços e produtos hoje disponibilizados no mundo.
Pode-se dizer que os artefatos digitais e os recursos da rede global são, em síntese, o que há de novo na atualidade.  
Talvez porque, no correr da historia muitas possibilidades do novo acabaram se parecendo com nada, ou pior, se revelaram idéias 'geniais' que findaram em preconceitos, perseguições, mais restrições, controle social e guerras. Em casos menos graves, em desígnios pouco substantivos que resultaram em novas convenções. A precaução de algumas pessoas, às vezes exagerada, os leva a questionar o valor real dessas tecnologias digitais para os avanços humanitários.  
Porém, esses não são motivos fortes o bastante para nos colocar em posição antagônica a tudo que é novo. Ao contrario, é uma boa oportunidade para avaliarmos as muitas possibilidades que o novo nos apresenta.   
Não compartilho da empolgação consumista pela gigantesca oferta de novas tecnologias. Porém, o fato é que o novo tem se manifestado através desses meios. Impossível contestar. O que antes cabia aos movimentos políticos, estéticos, artísticos, ao saber canonizado, à indústria e ao arsenal de bens, serviços e produtos de uso corrente nas sociedades modernas, hoje, se agrupa em torno da tecnologia digital. Essas tecnologias não são as responsáveis exclusivas por todas as transformações que atravessamos, contudo, me pergunto; sem elas tais mudanças seriam possíveis?
Entendo que uma resposta rápida a essa questão reduziria as propriedades dessa nova modalidade de saber e comunicação e limitaria muito as nossas especulações sobre a complexidade das experiências humanas.
Desde episódios triviais do convivo entre pessoas reclusas numa casa, transmitida em rede, até multidões que se manifestam contra regimes autoritários, passando pela vida dos astros da mais valia em justaposição aos seres desprovidos de recursos mínimos de sobrevivência, o que se confirma, dia a dia, é que todos, celebridades e anônimos, se tornaram atores de um tempo distinguido pela transversalidade das novas tecnologias.
Como uma folha em branco, elas aceitam qualquer esboço. Divulgam e compartilham, sem restrições ideológicas, religiosas etc. uma volume colossal de informações. Vimos recentemente, revoluções, fatos, desgraças e sucessos serem transmitidos para a rede global a partir de um celular.
O que antes estava circunscrito aos órgãos de imprensa, rádio e TV, ao gosto dos editores e limitados pela mobilidade, senso de oportunidade, foco jornalístico, interesses políticos, econômicos e empresariais, hoje, está disponibilizado na palma das mãos. É leve, veloz e, de certa forma, onipresente.
Um telefone celular é uma estação multifuncional pronta para transmitir um fato de forma direta, quer dizer, na sua conformação real, no momento em que acontece. 
Por esse prisma, a velha fábula da força do individuo contra o esmagador poder do sistema ganhou outro contorno. O mito da célula que converte o todo ganhou vida própria e reacendeu a chama do imaginário humano. Curiosamente, isso aconteceu na ultima década. Década essa reconhecida como um período dominado pelo pragmatismo. Se isso não configura em si uma mudança, confirma que o processo é agora inexorável.
Conectado às redes móveis em status de acessibilidade, transferindo velozmente voz e dados e sintonizado no ciberespaço, o celular tornou-se uma ferramenta poderosíssima, seja nas vielas da Rocinha, nos esgotos de Sirta, nos arranha - céus nova-iorquinos, nas festas, nos combates, nas cerimônias de batismo, crimes, sepultamentos,poemas,sons,cores e formas.
Nos primórdios dessa tecnologia eu supunha que os melhoramentos eram de caráter pessoal. Tratava-se, então, de mais um confortável utilitário da vida moderna que, dispensando fios e artefatos físicos confinados a um ponto, nos conectava com o mundo através das ondas eletromagnéticas de transmissão bidirecional de voz e dados.
A aparência do novo que se esconde nesse ultimo parágrafo, estreita o ciclo que nutre a aflição diante do novo na medida em que o dilui entre as coisas imediatas, visíveis e materiais. Ao atinarmos que o novo exige de nós uma atitude em sua direção, a aflição se dissipa e nos tornamos contemporâneos.
A terceira citação desse texto é de Giorgio Agamben e fala do tempo onde o novo se aloca: Contemporâneo é aquele que tem o olhar fixo no seu tempo, para nele se aperceber não das luzes, mas da escuridão. 



                                 






 



domingo, novembro 06, 2011

Quanto pesa uma biblioteca?


Quando penso em mudar meus livros de lugar logo aparece o problema que envolve embalagem,tranporte e acomodação. Quem gosta e dá valor aos livros se preocupa em conserva-los bem,ter uma boa estante que facilite as consultas e suficientemente robusta para  suportar seu peso.
Se na escala pessoal isso ja é um problema,imaginem nas grandes bibliotecas públicas mundo afora. Toneladas de livros são publicados todos os anos,além,claro, de outras publicações que precisamos ou gostamos de guardar. Afinal, os livros tem um "peso".Um peso que se estende  em diversas dimensões  e que não gostariamos de perder.     
Como preservar o acesso aos livros, reduzir seu peso fisico sem a perda experimental que a leitura proporciona? Eu me incluo entre as pessoas que apreciam o livro como um objeto de transferencia imprescindivel no jogo entre a obra e o leitor. Porém, é inegavel que seu custo industrial, recursos,matéria prima e sistema de distribuição o encarecem consideravelmente. Nesse sentido, o "peso" de um livro se estende para além das  minhas escolhas pessoais .Por outro lado, a internet vem  ampliando o acesso à leitura de livros,textos,escrituras,imagens e etc.
Curiosamente, nunca me perguntei quanto essa transferencia significa.Alguma vez você já se perguntou  quanto pesa a Internet?
Afinal, a Internet é enorme. Mas, a maioria das pessoas assume que a Internet, está ao nosso redor, é imponderável e chega a qualquer lugar na velocidade da luz. E luz, é um elemento que não tem um peso facil de medir.

A surpresa é que não! De acordo com Michael de Vsauce, teoricamente a Internet pesa alguma coisa,ou melhor,tanto quanto um morango de 50gr.
Michael diz que, de acordo com Russell Seitz, a Internet pesa 50 gramas. O que explica 50 gramas de massa da Internet? De acordo com Vsauce, "a informação é armazenada em binários que existem fisicamente porque os elétrons que carregam os transistores portam uma carga flutuante. Isso porque os elétrons têm massa. "Em outras palavras, eles pesam alguma coisa, embora seja uma quantidade muito pequena pode ser quantificada  em aproximadamente 50 gramas."
Russell Seitz diz  que chegou ao resultado de  50 gramas baseado nos 75-100000000 servidores que operam para fazer funcionar a Internet. Mas quanto é que as informações na internet pesam? De acordo com Vsauce, menos ainda que 50gr. Michael informa que  os relatórios que reunem todas as informações contidas na Internet  pesam apenas 0,2 milionésimos de uma onça, algo próximo a um grão de areia.
Isso significa que nas prais do conhecimento existem zilhões de  grãos disponiveis.
Confiram  no vídeo abaixo os argumentos de Vsauce.


sexta-feira, outubro 21, 2011

Pêsames ao desvario pós humano




Assistir nos noticiários os vídeos do linchamento de Kadafi, entremeado por discursos dos líderes mundiais que celebraram sua execução, confirmou minhas piores expectativas para o futuro. Do futuro não apenas da Líbia, mas, dos valores elementares da civilização.
As declarações de Obama, Sarkozy e Cameron, líderes de três poderosas nações do Ocidente são ofensivas, covardes e criminosas.
Até os ratos dos esgotos de Sirtia, cidade natal e ultimo refugio de Kadafi, ficaram espantados diante da violência da execução sumaria do ditador.
Entretanto, seres pós - humanos, supostamente sensatos, qual milicianos em festa, procederam de forma deplorável. Só faltou, após os discursos, saírem atirando pro ar celebrando uma manifestação de extrema brutalidade como se fosse um ato de justiça.
A morte de Kadafi não foi um ato de justiça, foi um assassinato.
Muito antes do conflito dos últimos oito meses eu já torcia para resistência rebelde
líbia destituir Kadafi do poder e dar inicio a uma nova etapa política, regida pela democracia e pelo estado de direito que trouxesse alegria e prosperidade para o povo daquele país.
Temia que as forças em jogo tendessem para soluções extremas como a adotada na morte e desaparecimento dos restos mortais de Osama Bin Laden. Infelizmente, foi o que vi acontecer. Se esse método prevalecer, dois episódios próximos nos alertam para isso, retornaremos ao tempo dos justiceiros do velho oeste. Imaginar que a morte de Kadafi evitaria um julgamento que poderia constranger o Ocidente é uma desculpa esfarrapada que confirma  a liberação indecente e inaceitável  da pratica de crimes bem adequados.  
Celebrar um método inumano, adotado, alias, pelo próprio ditador Muamar Kadafi nos seus 42 anos de tirania, é  afirmar sua validade, melhor dizendo, legitimá-lo.
Sarkozy, Cameron e Obama, irmanados na hipocrisia, fizeram a guerra contra Kadafi. Assistimos a invasão da Líbia, porém, nunca se pronunciou uma declaração formal de guerra. Tal procedimento só poderia ocorrer com a autorização dos Parlamentos desses países. Sabemos que tal prerrogativa não seria fácil de obter. O que vimos foi uma manobra vil em que a OTAN, desrespeitando descaradamente a resolução da ONU que autorizava uma “intervenção humanitária”, matou indiscriminadamente e promoveu, em nome da paz e da democracia, crimes contra a vida, as instituições do direito e aos valores mais caros da humanidade.
Para quem deseja a liberdade e a extinção do terror imposto ao povo libio pelo cruel ditador o que assistimos foi um show de terror,  igualmente apavorante. 

sexta-feira, agosto 26, 2011

domingo, julho 31, 2011

Azul sobre verde /Blue on Green




Informação técnica/ Technical information
Dimensão/dimension: alt. 3mt / larg. 23mt 
Suporte / support base : fibra de vidro /fiberglass
cor e substratos/ color and substrates:polyurethane urethane


Azul sobre verde 2011
Blue on Green
Mural externo em residência no  Rio de Janeiro
Exterior painting in residence in Rio de Janeiro
photos include
Architect: Índio da Costa
Sculpture: Franz Weissmann

sábado, junho 25, 2011

Brasil – Uma perspectiva

Europalia Press Conference -21th June 2011 -11.00 am
Egmont Palace - Brussel

Brasil – Uma perspectiva
Adriano de Aquino
15/06/2011

Os países americanos são tributários de uma herança cultural oriunda da Europa. Mas, não nos bastou herdar seus postulados civilizatórios, a arte e a cultura. Coube a nós uma grande responsabilidade: formar nações capazes de retornar à humanidade uma contribuição que refletisse outros aspectos do saber e da experiência humana. Esse esforço de constituição de uma cultura própria, singular, é expresso no Brasil de jeitos diversos.
O primeiro deles nos remete ao século XVII, quando o crescimento do investimento clerical implicou a introdução da arte barroca. A partir desse momento, começam a ser identificadas em terras brasileiras as primeiras manifestações artísticas, tais como compreendidas pela cultura européia. No início do século XIX, quando a corte portuguesa aporta no Rio de Janeiro, transferindo para o território brasileiro a administração do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves ocorre um primeiro corte com relação à tradição religiosa que espraiava nos mais distantes recantos da antiga colônia.
A Coroa portuguesa trouxe consigo a intenção de implementar no Brasil os métodos e costumes da metrópole. No processo de consolidação desse reino, a ciência, a cultura e o saber são tratados como primazia: é criada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, a Real Biblioteca, o Real Teatro de São João, a Missão Francesa e o Horto Real. De 1822 a 1889, após sua  independência, o Estado brasileiro   constitui-se como o Império do Brasil e assim “o Império do Sul torna-se uma experiência política e social sem igual no Ocidente”.
Na virada do século XIX para o século XX, com a proclamação da republica, tem início a busca do caráter íntimo da cultura brasileira: todo um movimento em direção ao interior, ao que se supunha ser a origem primária da nação, aponta um novo caminho na busca de uma identidade cultural. Uma nova burguesia letrada e cosmopolita, em geral educada na Europa, olha para o país com o ânimo redobrado para remexer as tradições, os mitos e fazeres populares à procura de algo que oferecesse significado consistente para as bases de uma cultura brasileira moderna. É assim que os pensadores, os artistas, os poetas e os compositores começam a cantar um Brasil profundo, misterioso e fascinante que espreitava por entre as influencias das culturas hegemônicas. 
No fim da Segunda Grande Guerra Mundial, o Brasil, como muitos outros países das Américas, já possuía um grande contingente de operários nas suas manufaturas. A cultura brasileira incorpora, nesse momento, uma vontade de intervir de maneira mais objetiva na vida social. Os movimentos artísticos se multiplicam, mobilizando um grande número de pensadores e artífices que se esmeram em ampliar o campo estético agregando não só elementos da busca de valores próprios da emoção e da sensibilidade, mas, também, a inserção da razão e da critica no repertório criativo.
Os anos 60 e 70 repercutem e disseminam essa vontade de construção expandindo o imaginário para além dos códigos de representação tradicionais. Essas vertentes, divisadas pelos contrastes entre as feições rurais e urbanas da nação, se inter-relacionam nas artes plásticas, na arquitetura, na literatura, no teatro, no cinema, na música e no design, entre outras áreas. Tais fronteiras de criação visavam investigar sua própria atualidade, ou seja, o tempo em que se inseriam e a capacidade de exercer leituras do Brasil e do mundo.
Nessa ocasião, o país atravessa um longo tempo ditatorial e grande parte da arte desse período é produzida como uma forma de resistência ao arbítrio e à violação dos direitos e das liberdades individuais. Ao desafio da busca de linguagens próprias somam-se  atitudes radicais de militância política associada às ações estético-artísticas
Após a redemocratização do país, novos desafios se apresentaram. 

A globalização em curso é um dos desafios que hoje se impõem não só à organização econômico social das nações, mas, também, à arte, ao pensamento e a cultura dos nossos dias. No campo artístico-cultural, essa circunstância produziu um enorme impacto independentemente das condições sócio- econômicas e culturais dos países que se esforçam para acompanhar as velozes demandas globais. Na produção artística da atualidade as mudanças foram tão grandes que muitas pessoas alegam dificuldades  para definir fronteiras que possam distinguir a origem e a  identidade  da  arte produzida na Europa daquela feita na China, na Índia ou nas Américas.
Apesar das diferenças - e, sobretudo por causa delas -, as Américas marcaram posições muito específicas na constituição da cultura de um novo mundo, e por que não dizer de um novo tempo?
Há muitas décadas, os brasileiros têm se inspirado no intenso poder de contágio social oriundo de manifestações culturais fundadas, a um só tempo, na razão e nas derivações da busca de felicidade, rumo a um futuro sem dúvida incompleto, porém renovado pela força de viver. Em seu conjunto, os eventos e as exposições apresentados ao publico belga no Festival Europalia. Brasil visa descortinar o empenho da alma e do pensamento brasileiros na consolidação de suas contribuições aos campos da arte e do conhecimento no âmbito de um horizonte hoje global.

domingo, junho 05, 2011

Princípios inflexíveis do relativismo cultural.


   Os 10 passos que conduzem a completa complacência


  1. A complexidade da cultura contemporânea é só  ilusão.
  2. Arte é vida e vida é arte. Tenha sempre em mente que desde a consagração desse aforismo pode-se afirmar que toda pessoa é um artista,assim como, todo acontecimento que se insere no campo da antropologia cultural é Arte.
  3. Principio,critério e mérito são artifícios seletivos. São refugos da elite decadente e do velho autoritarismo. Não se deixe seduzir pela beleza, não de importância à crítica,muito menos a razão e o rigor,ou melhor, esqueça o que é bom e o que é ruim, esses adjetivos  tinham sentido no passado,hoje,são apenas  preceitos  abolidos,não prestam pra nada. 
  4. Não se acanhe diante dos assuntos complexos nem da autoridade intelectual dos sábios.Cite, na forma de adoração ou desprezo - no fundo é a mesma coisa – as mais  complexas   reflexões de célebres pensadores do passado. Afinal, se voce não sabe a origem de tais pensamentos é bem possível que os demais interlocutores também não saibam.
  5. Discorra com ardor sobre suas experiências. Seja incisivo, estampe suas emoções, frustrações e contradições diante da vida que é, antes de tudo, Arte. Só isso importa
  6. Enalteça sua biografia, torne-a ARTE .
  7. Certifique-se  de que tudo que produz tenha muita visibilidade na mídia especializada  bem como nas publicações de moda,realeza,celebridades,culinária,decoração, mecenas ricos,mulheres famosas etc..Esteja atento,acompanhe com afinco  a escalada de preços dos últimos leilões da Christie's & Sotheby's, são lições fundamentais para o exito  de uma  estratégia no mercado global. 
  8. Pouco importa que não possuas um pensamento próprio sobre os temas mais complexos da atualidade. Manifeste-se,mesmo assim! Exponha sua confusão, mesmo que seja apenas para marcar  posição de contestador de qualquer coisa que pareça importante. Tenha em mente que desde o advento do pós modernismo todo mundo é artista e,portanto,  um protagonista da historia.   
  9. Um militante diuturno do relativismo cultural tolera as diferenças que se enquadram nos códigos estéticos da atualidade, sobretudo, aqueles mais convenientes à sua estrategia.
  10. Na atualidade existem as celebridades e os anônimos. Entre eles o  tempo oscila, complacente e revolto.   

Sindrome do Mito


 O sucesso dos clichês libertários e da condescendência disfarçada de tolerância  acabou por silenciar a manifestação crítica. Vultos surgiram das sombras e no papel de opositores da razão se ajeitam como ardorosos defensores da "criatividade". O cenário é a cultura. Diante dele desfilam atores repetindo entediantes enredos  politicamente corretos. Nesse ambiente  brilham a arte e artistas que se enquadram na ação. Pouco importa o que produzam!O que os enaltece  são os indicadores financeiros e a  visibilidade midiática. Esse é o objetivo.A  falência da razão critica fez desaparecer qualquer desígnio de valor.
Adriano De Aquino

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Homens & Feras


Para aliviar as tensões e o cansaço do trabalho intenso  das ultimas duas semanas decidi que este fim de semana seria dedicado apenas ao prazer. Solo feminino - amor e desacerto, romance de Lívia Garcia-Roza, estava à minha espera. Epa! Isso é promessa garantida de momentos de prazer. Já na primeira página entrei no banheiro e na intimidade de Gilda. Fui, passo a passo e silenciosamente, espionando, qual um agente secreto, as dúvidas os temores, as angustias e sensações de liberdade que emanavam dos relatos de Gilda. Devagarzinho, fui penetrando na intimidade do desejo feminino que, para mim, é um ambiente tão misterioso e atraente quanto um ritual de magia ancestral. Num determinado ponto da historia, não sei por que razão, o nome Gilda acendeu a minha mente com o intenso brilho de um anuncio em neon. Esse nome é um emblema. Na infância e adolescência eu tive uma vizinha com esse nome. Era uma menina misteriosa. E o filme?Quem não se lembra do filme?Na juventude me excitava com a idéia e tremia só de pensar que poderia encontrar uma Gilda hollywoodiana, perversa e dominadora, escondida no interior das mulheres que um dia eu amaria. O perigo, quando belo e sedutor é extremamente excitante. Encantado por essa demanda seria previsível que, mais cedo ou mais tarde, a encontrasse na figura de mulheres belas, desafiadoras e indomáveis. Não deu outra! Na puberdade fui levado a imaginar que o maior desafio seria possuí-las. Santa ilusão! Só quando adulto percebi que o verdadeiro temor se escondia na possibilidade de uma Gilda se interessar demais por mim. Please, Gilda!Antes de seu strip tease preciso recobrar a razão!Pensei. Há mais de duas semanas, antecipando os afazeres que me cercam, vasculhei algumas caixas de livros guardados no sótão. Numa delas reencontrei  o magnífico álbum das touradas do Picasso. O coloquei no canto da estante para folhear quando tivesse um tempo disponível. Essa era a hora!Num salto o alcancei. A fantástica dança caligráfica de Picasso envolvendo touros e homens  encheram meus olhos de beleza. São desenhos fabulosos que descortinam os gestos elegantes da esbelta figura de um toureiro em contraponto aos contornos sólidos dos touros voadores. Essas feras, revestidas de músculos poderosos e arrobas de fúria e desatino, impressas em negro cintilante sobre o branco incólume do papel, se contorcem de dor diante dos meus olhos. A arte é o canto da cultura onde o mistério se processa por inteiro. É ali que se instala com perfeição o maior dom da humanidade. Quando nos entregamos aos devaneios  percorremos caminhos sinuosos de encontro ao inesperado. Com a mente divagando sobre Gilda's, Picasso, toureiros e touros, fui sendo gradativamente despertado para realidade na voz do locutor do UFC anunciando que, em cinco minutos, teria inicio a luta de Anderson Silva contra Vitor Belfort. Numa espécie de link ininterrupto ou escritura de um hipertexto, comecei a divagar sobre o combate tradicional entre homens e feras. Lembrei da primeira e única tourada que assisti. Meu deus, aquilo era um espetáculo de loucura e tristeza. Ainda que os antropólogos coloquem aspas em tudo que é tradição cultural e alguns artistas encontrem significado e beleza na tortura e na dor, aquele espetáculo me impressionou pelo enorme poder que emanava do martírio. Foi uma impressão tão inexplicável que na segunda corrida, para espanto dos vizinhos de arquibancada, eu torcia pelo touro. Recordo que sai da Plaza de Toros puto da vida. Joguei a culpa da minha ira nas apologias estéticas de Picasso e no romance Morte ao Anoitecer de Ernest Hemingway que tanto me impressionara. Não, Hemingway, a tourada não é a única arte em que o artista expõe a vida. A arte,quando grande,acontece nos extremos. O artista que a pratica expõe sempre a própria vida. Depois de alguns minutos, diante de uma taça de um delicioso xerez e abrandadas as impressões das mórbidas visões, caí em mim e lembrei que a escolha de ir e vir, independente dos meios que as estimulam, é responsabilidade exclusiva do individuo, no caso das touradas: eu! Ah!Gilda. Não se trata aqui de um suspiro para a Gilda hollywoodiana, ambiciosa matadora de homens que com um sorriso enigmático consegue ser mais elegante e perversa que um toureiro. Penso na Gilda do solo feminino, uma combatente que procura forças para sobreviver às estocadas das farpas compridas, curtas e de palmo, ao balançar doloroso das bandarilhas e aos efeitos cênicos da capa do matador que antecedem a estocada final da espada mortal. Os combates entre homens são em tudo diferentes. São fenômenos que se ajustam a lógica moderna de forma mais leal, digamos assim. Essa é uma das razões que me faz gostar de boxe e das lutas marciais e detestar as touradas e qualquer tipo de disputa cultural esportiva travada entre homens e bichos. Valorizo a disputa entre iguais, sem armas ou artifícios imorais. Las Vegas, 05 de fevereiro de 2011. O locutor do UFC 126 anuncia a entrada no octógono do desafiante. Vitor Belfort, um grande lutador carioca, senhor de excelente técnica, é o desafiante. No lado oposto do octógono encontra-se Anderson Silva, considerado o melhor lutador de MMA (artes marciais mistas) do mundo. Anderson é um lutador extraordinário. Campeão dos Meio Médios do Shooto, Campeão dos Meio Médios do Cage Rage e atual campeão do cinturão dos Médios do UFC.
Enquanto rolava as apresentações eu recordava o cartel dos grandes lutadores que tanto me impressionaram: Eder Jofre, Muhammad Ali, Sugar Ray Leonard, Roberto Duran, Carlos Monzon, Marvin Hagler, Thomas Hearns, Alexis Arguello, Roy Jones Jr, Mike Tyson, Evander Holyfield, Oscar de la Hoya,Julio Cezar Chávez  e outros mais. Pouco antes do início da luta eu conjecturava, sem nenhuma conotação cívica, sobre a ascendência dos lutadores brasileiros nas arenas internacionais. Se a tourada pode ser considerada uma arte em que o artista expõe a vida, as artes marciais podem ser entendidas como a expressão do talento de vencer o medo que antecede a derrota e a morte. Anderson Silva venceu o desafio, confirmando ser o maior campeão do UFC. Volto agora para outra espécie de desafio capital. Retorno para o solo feminino-Amor e desacerto. 

terça-feira, janeiro 11, 2011

Zangões em Fúria



Sabe aquela revolução sonhada? Aquele desejo íntimo de virar o mundo de pernas pro ar? Aquela fúria contida de gritar pra toda gente sua visão de mundo como uma nova percepção, fundada numa metódica instalação do caos, que você tão bem sabe organizar. E aquela "idéia genial" que você teve na adolescência? Vai abandoná-la? Não faça isso! Reelabore a inspiração que tanto te mobilizou. Reveja os inúmeros recortes de antropologia cultural que te entusiasmaram na universidade e que resultou em muitos estudos para obras que um dia sonhou realizar.
O que você está esperando?
A hora é essa! Libere-se!Vai fundo!
As instituições públicas e privadas de arte e cultura evoluíram muito. Hoje, tudo é aceito e nada mais obstrui as ações estéticas de ponta. Nunca na historia da cultura, tirante, é claro, períodos totalitários, a arte, as instituições oficiais, a economia e o mercado resultaram em almagama tão consistente. Portanto, meu caro, não se faça de vitima da prosperidade. Ninguém escutará suas lamúrias! Mexa-se, corra atrás, procure amanhã mesmo um bom produtor, um divulgador, um agente de marketing. Sistematize seu projeto, se associe a um curador, invista nos contatos com os negociantes de arte, faça tudo que for possível, não importa o que, mas, faça alguma coisa.
Lembre-se: aprimore sua atuação na política acadêmica, produza teses, some títulos vetustos, inclua na apresentação de sua obra, citações fundamentais da arte. Cite, cite muitos nomes da vanguarda histórica, da escola de Frankfurt, de filósofos incompreendidos, mas, muito estimados, dos mitos e signos da rebeldia estética do modernismo, do pós modernismo e tudo mais que te pareça revolucionário, inquieto e transformador. 
Se toque, tudo está ao alcance da mão. Ou melhor, ao alcance da oficialidade cultural, da consciência mediana e, claro, da economia.
A escalada das vanguardas contemporâneas ao topo do sistema de arte é um fato incontestável. Se inteire e participe desse avanço!
A predominância de grupos de artistas contemporâneos nas agendas curatoriais e institucionais é um marco da enternecedora conivência entre arte e sociedade. Essa maravilhosa circunstância decretou o fim dos confrontos entre liberdade criativa e preceitos coercivos de intermediação social. Não cace pêlo em ovo! Nem se abata com críticas rigorosas e bem fundamentadas contra sua obra, as despreze, pois, são apenas reações rancorosas dos conservadores.
Abandone qualquer intenção de buscar significado e beleza, esses quesitos são irrelevantes para um trabalho que objetiva expor com clareza, sem hipocrisia, a carne crua, as fezes e os berros da fauna oprimida e as entranhas da verdade e da vida.  
Aproveite! O caminho está aberto, só te resta explorá-lo.
Observe atentamente os movimentos sociais de ponta, fundados nas premissas do multiculturalismo, da diversidade, da pluralidade, da multiplicidade, da heterogeneidade e variedade, na comunhão dos contrários, na intersecção de diferenças ou ainda, na tolerância mútua. Se as premissas supracitadas não podem ser aferidas na sua totalidade porque, de fato, não se concretizam horizontalmente no ambiente social como um todo, na arte, de um tempo para cá, se tornaram ocorrências sistemáticas.
Acorde, olhe em torno, veja o que seus colegas estão produzindo, siga o fluxo, elabore uma tática, copie e cole os fundamentos teóricos das lutas sociais de ponta e introjete, no fundo da sua alma, as teorias estéticas em voga. Salpique, aqui e ali, retalhos de antropologia cultural e fragmentos autobiográficos. Trace com precisão sua estratégia, arme sua rede de relacionamentos, porém, nunca se esqueça de demonstrar uma atitude contestadora. Sempre que tiver oportunidade critique com dureza todo sistema social, de dicas sobre os temas na pauta da grande imprensa, não faça silêncio, manifeste sempre uma opinião quando solicitado, seja sobre os avanços da física quântica ou educação fundamental. Aproveite qualquer oportunidade para afirmar, peremptoriamente, que sem educação o povo não terá acesso a uma cultura artística transformadora, aliás, a cultura alguma, nem mesmo a que ele próprio produz,vibra e se encanta.
A fúria, meu caro, desconhece limites!  

domingo, janeiro 02, 2011

So far so close (um roteiro)

                      
As recorrentes proclamas da derrocada da America tem algo de  fábula medieval. Os novos tempos estão a me sugerir que por trás das lamúrias da corte, se articula um esquema terrível, uma estratégia que deixaria Maquiavél embasbacado.
Os repetitivos anúncios do tombo da nação mais rica do planeta, em alguns aspectos, sugerem um conto do vigário em escala planetária.
Essa fábula medieval espoca a partir de um flash. Num dia tempestuoso e lúgubre, envolto por um céu típico de El Greco, surge - plano médio -  numa corrida desabalada – plano fechado- as costas e cabelos desgrenhados do  grão Vizir.A câmara o acompanha,ele  atravessa a toda velocidade os labirínticos corredores do palácio anunciado aos berros: A peste! A peste! A peste chegou.
Nesse ínterim takes aleatórios mesclam- numa edição alucinada - trilha sonora do U2(esses menestréis são os mais cotados para as narrativas tenebrosas). Corte/Seqüência- spots da aldeia global. Cidadãos embasbacados, paralisados diante de gigantescos monitores Leds de ultima geração. Os aldeões exclamam em coro:- Oh!
Corte / seqüência- O Mouro, absorto em seus pensamentos- monologo em off: - Maldito Regan ( info na fita –Regan foi um manda chuva! Ex esposa do duque de Cornualha, depois de trocar de sexo,  tornou-se o amante da primeira Ministra do reino da Grã Bretanha) O que me fizeste? Seu trapaceiro!Enfiou-me goela adentro todas as "cerimônias adulatórias"!
Corte /Editores em êxtase fundem imagens da Virgem Maria com as de investidores se atirando do alto das torres de aço e vidro, em pleno vôo, rumo ao solo, takes do WTC em chamas em fusão com uma tremenda correria na Praça de São Pedro.
Close no Mouro
-O maldito Regan com sua alquimia globalizante me engoliu por completo. Meu reino entrou em colapso. O monstro tomou conta das minhas entranhas e está me devorando.
Plano seqüência intimista. Trilha sonora inspirada no desencanto.   
 Close em Cordélia.
_Ora, querido, veja as coisas pelo lado da razão!
_Razão?Cordélia!Onde está a razão?
_ Onde sempre esteve! Ao lado dos poderosos. Nosso reino deu novo sentido à prosperidade social.Enquanto investíamos pesado na mudança de paradigmas, processávamos simultaneamente uma nova era de incertezas.                
Os povos que libertamos se tornaram, dia a dia, menos pobres. Alguns estão prestes a se rebelar. O que antes anunciávamos como progresso mundial hoje se tornou um problema. Mais que nunca precisamos ser firmes. Ha mais de três décadas que não investimos um tostão em crendices industriais. Desejamos que o mundo volte a ser um paraíso de campos verdejantes.  Hoje,nossos investimentos se concentram em tecnologia de ponta,investigação espacial e conhecimento científico mais avançado. 
Sabemos que o importante é o que virá não o que  está ocorrendo. O Vale do Silício, a NASA e os grandes centros científicos estão aqui, em nosso reino. A administração do tesouro real é ocupação para economistas e contadores, funcionários do sistema. Eles entendem de ordenação e regras, contudo, quem da as ordens são os  banqueiros mais poderosos do mundo. Eles é que mandam de fato no Federal Reserve System e,são eles, que representam a razão pura!
São eles os nossos verdadeiros aliados para a disseminação da sensação de insegurança global de que tanto precisamos. Só nós podemos produzi-la em escala monumental. Nada mais útil para os avanços dos nossos projetos que a quebradeira mundial. Quem,além de nós,  poderia induzi-la? Os europeus?Os africanos?Os latinos?Os asiáticos? Os pobres e desesperados povos do oriente médio?Ora, ora! Esses povos são tementes a deus e,sabemos, fiéis pagadores de promessas. Querido e estimado Mouro, seja paciente tudo está ocorrendo conforme previsto. Nada mais comovente para os desprotegidos que um pedido de ajuda vinda de um rico. O clamor dos pobres, via de regra, é desprezado e  jamais atendido. Nossas contas estão paulatinamente sendo resgatadas, em parte, com o sofrimento do nosso próprio povo que, aliás, me parece uma conseqüência justa. Além disso, algumas aldeias globais estão com os cofres abarrotados com nossas divisas. Pergunto, então: existe sabedoria maior que a razão?Fade black-