Resiliência é um termo usado com frequência por analistas que estudam as tendências sócio/cultural do nosso tempo. Na Física a palavra é relativa a característica mecânica que define a resistência aos choques de materiais No dicionário formal a palavra resiliência significa a capacidade que temos como pessoa ou sociedade de voltar ao estado natural, principalmente após alguma situação crítica e fora do comum.Ora,se há alguma coisa “fora do comum”,uma virada de procedimentos que faz com que tudo no nosso dia a dia pareça ‘antinatural’,quer dizer, fuja ao ciclo previsível dos acontecimentos naturais tipo amanhecer,entardecer e anoitecer, é a dinâmica do tempo estendido motivado pelo fluxo ininterrupto da informação.Ela é responsável pela transformação veloz com que as coisas ocorrem num dia que se amplia para alem das 24horas convencionais.Um veiculo de comunicação,como um jornal, por exemplo, sobre a mesa do café da manhã,no almoço será um calhamaço de papel onde se relembra noticias do passado. Admitamos ou não o nosso tempo ‘natural’ digamos assim, foi estendido potencialmente pela cultura digital. Os fatos e as coisas do mundo nos chegam instantaneamente. Não são mais passiveis de serem editadas a posterior. São apreendidas de imediato. Os meios tradicionais de noticias que não se adéquam ao tempo virtual são expelidos do presente. Esse é um dos dados que as transformações radicais propiciadas pelo acesso on line a informação esparramou por todo o globo.A “volta ao estado natural” remete,queiramos ou não,ao mito do “beau sauvage”. Ainda que os analistas pós modernos tentem desviar desse conceito(Rosseau) em suas considerações,ele permanece ao fundo,como um fantasma a nos lembrar de um passado glorioso no qual o homem era mais humano e feliz.
Oh!Maldita tradição (ou traição)que insiste em moldar a imagem,semelhança e mentalidade os nascituros!
Minha leitura desse domingo desviou da cretinice da vida política nacional para percorrer trechos de um debate sobre as habilidades socioemocionais consideradas importantes para profissionais do futuro. Num seminário intitulado Educar Para as Competências do Século 21 ocorrido em março, no Brasil, e na Conferência de Educação Privada, realizada em abril em San Francisco (EUA) pela International Finance Corporation, ligada ao Banco Mundial,os participantes tatearam questões que afligem as sociedades,os pais e as escolas.
Mais uma vez se comprova o quanto é confortável projetar o futuro dentro de um laboratório ou de um gabinete político. Como parece fácil e sofisticado avaliar as tensões culturais e sociais da atualidade e projeta-las num sistema lógico de pressupostos. Ocorre que nem sempre o futuro é tão acolhedor às ideias e pressupostos antecedentes. É admissível que os especialistas se mobilizem para transferir para programas de educação simulações do que ocorre -HOJE- no mercado de trabalho com o objetivo de buscar aperfeiçoamentos nos sistemas de ensino atuais. Isso é bacana e demonstra uma preocupação meritória em como conduzir milhões de jovens num mundo devastado por guerras, corrupções desmesuradas e todo tipo de ação que reverte contra a vida igualitária e justa, mas também, "com as habilidades cruciais, não exclusivamente técnicas, mas, sim, sociais e emocionais como a resiliência, a curiosidade, a colaboração,o pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, por exemplo."Eventos dessa ordem soam como positivos. Contudo, ao firmarem um propósito de ‘reparação’ num mundo corroído pela violência, a estupidez e a destruição em busca do ‘progresso” econômico, as colunas do edifico futurista parece não ter fundações solidas.Sequer tocam o chão.
A resiliência projetada a partir das otimizações de um advir consonante com as observações do passado/presente, diferentemente da ocorrência na física onde objetiva definir a resistência entre os materiais, pode ser um método eficaz e bom. Mas, nada garante que também possa ser tão ruim, dócil e submisso quanto o método anterior . A superação de desafios, o pensamento crítico e colaborativo que hoje tornam o mundo menos ignorante, surgiram de experiências educacionais que previam resultados pautados em projeções antecedentes focadas em objetivos muito diferentes e conflitantes com a realidade dos nossos dias.
Só de provocação: a resiliência aplicada a um personagem como o Putin, por exemplo, pode ser apenas a volta da Rússia ao estado natural de União Soviética. A resiliência aplicada a Dilma pode ser nada mais que a volta ao ‘estado natural’ de colônia. A resiliência do Sarney, um retorno ao estado natural das cavernas e assim por diante,quer dizer,pé a pé para trás.
*Uma proposta corporalística/mental para um cientista resiliente é clonar um gene
naentherdal e inocula-lo numa Barbie humana.Criar o ultra beau sauvage