sexta-feira, maio 02, 2014

‘Como conquistar uma nova geração de patronos para os museus’ é o titulo de um artigo recente no NYT que expõem os aspectos decisivos da passagem do cetro dos velhos magnatas provedores dos museus para a mais nova geração de endinheirados.No ambiente perfumado do mais sofisticado aroma e cheio de glamour e elegância das grandes marcas onde transitam coisas belas para os olhos e deliciosas ao paladar, as fissuras do sistema que as sustenta é invisível. Mas,é ele que agora está em jogo.
A crise é grave!
E não é apenas de natureza econômica,é, sobretudo,cultural.Quando as duas vertentes centrais da sociedade-economia e cultura- sentem-se ameaçadas no seu ajustamento estético é por que as coisas estão em processo de mudança e poucos se apercebem disso.A crise das instituições culturais não se restringe apenas a manutenção dos museus.Ela afeta o modelo de amostragem de arte tipo bienais, exposições temáticas hiperbólicas,entediantemente desproporcionais em confronto com a cultura que se expande nas ruas,guetos e canais das grandes cidades e nas avenidas virtuais.
Um choque ‘fin de siècle’,diria um ‘sans culottes’ ejetado pela máquina de um tempo revolucionário.
Apesar dos rituais milionários dos leilões apontarem que o dinheiro inunda o sistema da arte em lances com valores mirabolantes, a crise do sistema institucional de arte se agrava.Na verdade, se hoje uma grande instituição não é financiada com dinheiro público ela padecera na decadência estrutural e funcional. Mas, ao contrario do que muitos supõem não se trata apenas de um problema econômico. Não se trata de economia demais ou de menos no sistema. O que vemos é o vértice de uma crise cultural de proporções transformadoras.
Não façam ilações precipitadas.
A crise que agora se apresenta não é de natureza artística. Aliás,é bom lembrar que a arte sempre soube e sempre se nutriu,renovou e reinventou-se nas crises da cultura estabelecida. Essa será mais uma ‘virada’ da qual a arte fará bom uso para moldar novos campos de experimentação.
A montagem das fotos que ilustra esse post é uma picardia. A palavra picardia, catada no velho vocabulário, se ajusta ao ambiente aristocrático de outrora que legitimou a arte de uma época. Ao lado, a imagem de um sofisticado ambiente museológico dos dias atuais que, a rigor, pretende legitimar a arte do nosso período. O espelhamento de dois tempos refletidos num só plano escancara as diferenças formais e estilísticas, porem, não de modos e atitudes. É incrível,mas,permanecem os mesmos!Quanto esforço fez a aristocracia para reter entre seus dedos as tramas da cultura. Quanto esforço e capital os novos patronos empoderarão no sistema de museus e grandes mostras para oxigenar um aparelho moribundo?A cultura digital se agigantou de tal forma que não dá mais para evitar uma radical substituição dos valores. A informação maciça e fluente esmaga inexoravelmente os meios de comunicação tradicionais. Todos parecem assustados com o que virá. As tendências, antes ditadas por um núcleo editorial, se esgueira nas redes.Estamos no olho do furacão de uma transformação sem precedentes na historia da cultura.
Não adianta resistir.Alias,para que resistir?
Não basta, portanto, trocar a geração de provedores. O problema das grandes instituições de arte é muito mais profundo. Num certo sentido assemelha-se a perda gradual de poder dos aristocratas cultos do século XVIII, detentores de fortuna, poder e saber.
Brecht já alertava: “Alegrem-se com o Novo, envergonhem-se do Velho!”
Em 06/2010 postei um artigo no Hiperblog que vem de encontro as minhas considerações nesse texto.Quem tiver interesse acessa o link:
http://adrianodeaquino.blogspot.com.br/2010/06/alegrem-se-com-o-novo-envergonhem-se-do.html