segunda-feira, junho 03, 2013

UM ESCAFANDRISTA NA BIENAL DE VENEZA


Transitando pelas vielas atemporais, transpondo biografias estetizadas, objetos multiformes, verbetes de antropologia cultural,estetização dos discursos ideológicos e miríades de erários auto confessionais, alinhados sob o pórtico da arte do século XXI, o escafandrista devotado busca no seu navegador indicações sobre o percurso a ser seguido nessa inspeção. Encontra no seu navegador de ultima geração o mapa traçado por Lawrence Alloway em seu livro a Bienal Veneza 1895-1968. Sim, pensa ele, o lugar é precisamente esse!
Mas, logo percebe que no correr desse curto espaço de tempo algo estranho aconteceu na Bienal de Veneza. A tentativa de mostrar a abundância da arte contemporânea ao mesmo tempo em que se tenta remover as ervas daninhas da incerteza para fora do contemporâneo a fim de adequá-la aos novos ciclos da arte, de solução prevista,levou a Bienal de Veneza a perder gradativamente  substância sensível, ao mesmo tempo em que ganha lastro especulativo espetacular.
Esse conjunto de fatores acrescido as intempéries do mar e da atmosfera geopolítica foram desastrosas para a estabilidade da instituição. Recarregar de nova potência um corpo em decomposição é missão hercúlea e com fortes tendências ao fracasso. Nesse item, o escafandrista marcou na sua tabuleta de avaliação um X sobre a opção:"resultados insatisfatórios". A danosa corrosão, provocada pela clausura do sistema de arte frente aos novos desafios da atualidade, somado a fatores objetivos de natureza econômica e mercadológica e pretensiosamente politica, se impôs  no mesmo  passo em que degradou impiedosamente essa histórica instituição de arte. Essa que,alias, é a mãe de similares espalhadas pelo mundo e que algumas já pereceram há muito tempo. Pesada demais e imprópria para navegação em tempos hiper modernos, a Bienal de Veneza afunda mais rapidamente que as edificações maravilhosas dessa cidade emblemática. Apesar da diversidade entre os pavilhões nacionais onde as nações tentam mais uma vez mostrar um perfil  supostamente inovador sob o viés do deus do tempo pautado numa máxima ultrapassada : "vejam quão contemporâneos somos" o que se registra como evento singular é sua sobrevida como parque temático ilustrativo das questões periféricas à arte mas que tocam e se impõem como ações mercantis subvencionadas por políticas culturais ambíguas que ainda cultua a 'critica' ao sistema da arte como o motor propulsor das transformações sócio culturais.Ha muito não é mais!
Um dos exemplos observáveis são as repetições do mesmo recurso estratégico usado pelos EUA para a consagração da arte norte americana(POP)na edição de 1960.Hoje, a China e outras nações, antes periféricas no circuito internacional da arte,recorrem ao método  que daquele tempo para cá, se tornou um  padrão. As Bienais se tornaram uma espécie de antítese da arqueologia. Enquanto esse campo do conhecimento se esmera em  revelar ao mundo a "descoberta" da tumba de um desconhecido faraó  que, de fato, um dia foi  soberano, as Bienais se esmeram em mumificar lendas contemporâneas.
A visão do século XX,  projetada por  Allan Bloom,( A Cultura Inculta) como  o século da crise intelectual, quando as universidades ruíram  pela “falta de conhecimentos dos estudantes, desde os clichês da libertação à substituição da razão pela "criatividade" dando espaço para ideias continentais vulgarizadas de niilismo e desespero e  de relativismo disfarçado de tolerância”, inspira os devaneios profundos do escafandrista que se põem a imaginar  o século XXI  no papel do  'exterminador do  futuro'. No registro dessa pesquisa submarina resta apenas uma pequena anotação de pé de página, em contraponto ao aforismo do Beyus:"Toda pessoa é um artista" o escafandrista sublinhou: “Nesses moldes,definitivamente,eu não sou um artista”