A visão do cérebro como uma espécie de área social ( ou de
serviço)onde atuam forças politicamente
rivais parece, a principio, uma fantasia
divertida. Algo que caberia perfeitamente num roteiro de filme de ficção
cientifica. Ocorre que alguns filósofos e cientistas estão levando a complexa
rede neural muito a sério e se aprofundando em pesquisas que poderão suscitar
uma nova compreensão sobre o que se passa e como se relacionam o provedor(cérebro)
e o software (mente).Por milhares de anos se questionou sobre as funções do cérebro
ou sobre o que é realmente a mente e,
mais ainda,quais as funções da mente? Entre esses três elementos sobrevém,inevitavelmente,
um enigma: qual a relação existente entre cérebro e mente?
Sobre esse labirinto de hipóteses, o site Edge postou no Tópico:MIND. em [1.8.13] http://www.edge.org/conversation/the-normal-well-tempered-mind uma conversa
com Daniel C. Dennett
Daniel Clement Dennett é um proeminente filósofo norte americano. Suas pesquisas se
prendem principalmente à filosofia
da mente (relacionada à ciência cognitiva) e a biologia. Dennett é também um dos mais proeminentes ateus ou,que diabos isso signifique.Pode-se
imaginar que se trata de algo similar a
um Papa do ateísmo da atualidade.
Para Dennett, os estados interiores de consciência não existem. Em outras palavras,
aquilo que ele chama de "teatro cartesiano", isto é, um local no
cérebro onde se processaria a consciência, não existe, pois, admitir isto seria
concordar com uma noção de intencionalidade intrínseca. Para ele a consciência não
se dá em uma área especifica do cérebro, como já dito, mas em uma sequência de inputs e outputs que formam uma cadeia por onde a
informação se move. Essa ideia é desenvolvida em A Ideia Perigosa de Darwin,um dos livros de Dennett .
Com o titulo "The normal well -Tempered mind"(Normal mente bem humorado,em tradução
literal)cabe muito bem na interpretação pessoal que fiz da conversa do Dennett.
No meu entender, suas investigações penetram numa preciosa região da mente e podem desvendar um novo conhecimento de nós,seres pensantes.
Uma das virtudes do conhecimento é elucidar questões
cruciais que atravancam a vida e dificultam o acesso à felicidade. O bom humor
é,para mim, um elemento fundamental desse jogo.É ele que promove e sustenta de
forma consistente a reversão da
insatisfação pessoal diante dos reveses impostos pela realidade objetiva.Hoje,o
bom humor, é um valor capital,muito mais importante que a fortuna, a glória e
outras vetustas representações sociais e
o qual vale a pena se dedicar com afinco.Nessa conversa Dennett abre algumas portas no
corredor do conhecimento. Suas palavras podem auxiliar e fortalecer nossa
determinação em não gastar um tempo precioso com tolices e disputas estúpidas.
No meu entender, suas investigações penetram numa preciosa região da mente e podem desvendar um novo conhecimento de nós,seres pensantes.
Após desfazer um erro cometido há
alguns anos, Dennett avisa ao leitor que reiniciou um novo percurso nos labirintos da
mente. Adotando um desvio do mito ou “Alegoria” da caverna, uma via clássica
da história da Filosofia,onde Platão
discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do
Estado ideal. Dennett, todavia, prefere a via do desmonte
da mente em mentes mais simples e, em seguida, em mentes mais simples ainda,
até encontrar a mente que pode ser substituída por uma máquina. Esse procedimento,chamado de funcionalismo
homuncular,tem inicio na pessoa. A partir dela inicia-se uma sucessão de
quebras em duas, três, quatro ou sete sub pessoas que são basicamente agentes. Esses
homúnculos encetam um retrocesso que é apenas um regresso finito, o qual se
deve tomar cada um deles e dividi-los em um grupo de homúnculos especializados.
Seguindo esse procedimento chega-se a partes que podem ser substituídas, como numa
máquina.
Para Dennett, essa é uma ótima
maneira de pensar sobre a ciência cognitiva. É
o bom e velho AI(Inteligência Artificial) da qual Dennett é um conhecido estudioso . Mas, sua critica sobre o
procedimento adotado anteriormente, o levou a rever aspectos da ideia, basicamente
certa quando foi concebida, mas que um grande
erro quase o direcionou para um câmara
sem saída. Nas
suas palavras: “Eu estava naquele momento encantado
com o neurônio lógico McCulloch-Pitts. McCulloch
e Pitts tinham reunido a ideia de um neurônio artificial muito simples, um
neurônio computacional que tinha várias entradas e uma única saída.Suas pesquisas
provaram que, em princípio, uma rede
neural feita desses neurônios lógicos pode calcular qualquer coisa que você
queira calcular. Isso foi muito emocionante para mim,pois,
significava que, basicamente, você pode tratar o cérebro como um computador e
tratar o neurônio como uma espécie de elemento básico de comutação. Isso foi,
certamente, uma simplificação excessiva. Todo mundo sabia que era uma simplificação excessiva, mas as
pessoas não percebem o quanto, e, mais recentemente, tornou-se claro para mim
que é uma dramática simplificação excessiva, porque cada neurônio, longe de ser
um switch lógico simples, é um agente com uma agenda e são muito mais autônomos e muito mais interessantes do que qualquer
switch.” Ele continua sua explanação preliminar dizendo que:” A pergunta
é: o que acontece com as suas ideias sobre a arquitetura computacional quando
você pensa em neurônios individuais não como escravos obedientes ou como
máquinas simples, mas como agentes que têm de ser mantidos na linha e que tem
que ser devidamente recompensados a ponto de formarem coalizões e cabalas, organizações e alianças? Esta
visão do cérebro como uma espécie de área social de forças politicamente rivais
parece uma espécie de fantasia divertida, mas, agora está se tornando algo que
eu levo muito a sério e é alimentado por
uma série de diferentes correntes."
Bem, se sua mente não foi banhada
pelo tédio e você chegou até aqui tentarei expor uma parte simples do conceito
de Dennett que alegrou meu cérebro, ou mente?
Ele comenta uma passagem fascinante do trabalho do biólogo evolucionista David Haig sobre os conflitos intrapessoais. Haig coloca algumas questões ao nível da genética e até mesmo ao nível do conflito entre os genes que você recebe de sua mãe e os genes que você recebe do seu pai, os chamados genes madumnal e padumnal. Desse amálgama surge um vetor iridescente que estimula uma nova visão sobre a mente humana. Segundo Haig; se os genes madumnal e padumnal ficam fora de sintonia, graves desequilíbrios podem acontecer. Esses desequilíbrios aparecem na pessoa como determinadas anomalias psicológicas. A partir daí surgiu a compreensão de que o cérebro não é um sistema bem organizado comandado por um painel de controle hierárquico, onde tudo está em ordem.Numa visão um tanto dramática,para mim claustrofóbica, da mente como um escaninho entupido de docs. externos,padrões de procedimento, normas de conduta social,aspiração e desejo e onde se processa a burocracia 'existencial' a partir da compreensão de que somos o que pensamos e que,em sintese, um núcleo separador de escolhas boas e más. Na verdade, a mente é mais parecida com a anarquia, com laivos de democracia. Às vezes você pode alcançar a estabilidade através da ajuda mútua entre genes e atingir uma espécie de calma, então, tudo é ótimo. Mas, a possibilidade de que coisas 'fora do lugar' ou mesmo uma aliança ‘madrasta’ ganhe o controle, acontecimento bastante comum,sua mente te coloca no inferno. Se isso ocorrer, em algumas pessoas ocorre com muita frequência, o indivíduo começa a ter obsessões, delírios, compulsões inexplicáveis e assim por diante. Por outro lado, uma mente bem-humorada possui uma organização suave que orienta o individuo pelo bom caminho. Essa é uma conquista, algo que só é alcançado quando tudo está bem, mesmo quando, no âmbito geral, a humanidade e a maioria das pessoas estão tirando as calças pela cabeça. Em parte isso explica também que mesmo diante da zorra global, grande parte das pessoas vive relativamente bem em ajuntamentos conflitosos e gigantescos.
Ele comenta uma passagem fascinante do trabalho do biólogo evolucionista David Haig sobre os conflitos intrapessoais. Haig coloca algumas questões ao nível da genética e até mesmo ao nível do conflito entre os genes que você recebe de sua mãe e os genes que você recebe do seu pai, os chamados genes madumnal e padumnal. Desse amálgama surge um vetor iridescente que estimula uma nova visão sobre a mente humana. Segundo Haig; se os genes madumnal e padumnal ficam fora de sintonia, graves desequilíbrios podem acontecer. Esses desequilíbrios aparecem na pessoa como determinadas anomalias psicológicas. A partir daí surgiu a compreensão de que o cérebro não é um sistema bem organizado comandado por um painel de controle hierárquico, onde tudo está em ordem.Numa visão um tanto dramática,para mim claustrofóbica, da mente como um escaninho entupido de docs. externos,padrões de procedimento, normas de conduta social,aspiração e desejo e onde se processa a burocracia 'existencial' a partir da compreensão de que somos o que pensamos e que,em sintese, um núcleo separador de escolhas boas e más. Na verdade, a mente é mais parecida com a anarquia, com laivos de democracia. Às vezes você pode alcançar a estabilidade através da ajuda mútua entre genes e atingir uma espécie de calma, então, tudo é ótimo. Mas, a possibilidade de que coisas 'fora do lugar' ou mesmo uma aliança ‘madrasta’ ganhe o controle, acontecimento bastante comum,sua mente te coloca no inferno. Se isso ocorrer, em algumas pessoas ocorre com muita frequência, o indivíduo começa a ter obsessões, delírios, compulsões inexplicáveis e assim por diante. Por outro lado, uma mente bem-humorada possui uma organização suave que orienta o individuo pelo bom caminho. Essa é uma conquista, algo que só é alcançado quando tudo está bem, mesmo quando, no âmbito geral, a humanidade e a maioria das pessoas estão tirando as calças pela cabeça. Em parte isso explica também que mesmo diante da zorra global, grande parte das pessoas vive relativamente bem em ajuntamentos conflitosos e gigantescos.
Finalizo essa nota com uma observação
interessante nas palavras do próprio Dennett: “O que estamos vendo agora na ciência
cognitiva é algo que eu tento antecipar há
anos, e, agora, está acontecendo. Está
acontecendo tão rápido que é difícil manter-se atento aos seus desdobramentos.Estamos
afogando em dados e, também, estamos felizes. Jovens brilhantes que cresceram
em meio a esse turbilhão e para quem
isso é apenas uma segunda natureza, estão
imersos em pensar em termos computacionais bastante abstratos.Coisa que tempos atrás
era simplesmente impossível, mesmo para especialistas.Agora uma criança motivada
adequadamente pode chegar a faculdade já preparado para adentrar essas questões. É
muito emocionante.Eles estão indo rápido,quase
fugindo de nós.Vai ser divertido assistir.A visão do cérebro como um
computador está mudando velozmente. O
cérebro é um computador,porém,muito diferente de qualquer computador que você está
acostumado.Não é como seu desktop ou laptop, não é como o seu iPhone, exceto em
alguns aspectos.É um fenômeno muito mais interessante. O
que Turing nos deu, pela primeira vez (sem Turing você simplesmente não podia
fazer nada disso)foi uma maneira de
pensar de forma disciplinada sobre os fenômenos que têm, como eu gosto de
dizer, trilhões de partes parecidas que nos leva a especular o que aconteceria caso deixássemos as ovelhas ou os porcos recuperarem seus talentos selvagens.”
A conversa é enorme e cheia de
texturas fantásticas.
Quem quiser ir adiante aciona o link
no corpo desse texto.