quinta-feira, setembro 24, 2009

Arte Contemporânea

Artoons -Pablo Helguera


Arte Contemporânea é maior parte das vezes entendida como um movimento artístico.No Brasil fala-se de arte contemporânea como se fala do Impressionismo ou Modernismo por exemplo. Se fosse um movimento artístico seria o mais durável dos movimentos estéticos da recente história da arte. O termo ganhou essa dimensão a partir dos anos 80 do século passado, quando uma casta de artistas, curadores, mercadores e admiradores se apropriaram do caráter difuso do termo para ali abrigarem seus paradigmas estéticos. A ampla visibilidade dessas produções nas grandes mostras públicas, nas Bienais, nas instituições de arte, no mercado e na mídia vivifica um paradoxo que aflige a cultura brasileira há muito tempo. Aqui, as iniciativas inovadoras tornam-se tímidas quando confrontam a mentalidade provinciana que se arrasta desde a era colonial, submetendo todos a uma ordem soberana que abate os opostos e banaliza os anseios por mudanças. Um conjunto de coisas, objetos, gestos, conceitos, instalações e outros programas estéticos que repartem procedimentos aparentemente não tradicionais e dividem códigos análogos apontam para um padrão estético dominante. As propostas que não se alinham a esse padrão enfrentam muitas dificuldades para emergirem à visibilidade publica.

Numa palestra realizada em 2005 na cidade do México Donald Kuspit definiu primorosamente a questão.Diz ele: “é muito difícil, mesmo impossível, escrever uma história da arte contemporânea -uma história que faça justiça a toda a arte considerada contemporânea: essa é a lição do pós-modernismo. Se escrever a história é algo como unir as partes de um enigma, como sugere o psicanalista Donald Spence, então, arte contemporânea é um enigma cujas partes não surgem juntas. Não há nenhuma narrativa cabível entre elas, para usar o termo de Spence, sugerindo, a principio, apenas incertezas. Porém, em suas partes individuais podem ser compreendidas. O contemporâneo por definição não é necessariamente o histórico, isto é, o contemporâneo é uma quantidade de eventos associados em um presente plausível, ou melhor, uma narrativa consistente que integra algum destes eventos em um sistema ou padrão que, simultaneamente, os qualifica, dando - lhes uma espécie de intencionalidade em relação ao seu propósito”.

Zelosos em suas estratégias pessoais, aplicados nas relações institucionais e com visão centrada no sucesso os segmentos da corrente de pensamento predominante na contemporaneidade acumulou conquistas. Nesse curto espaço de tempo vimos museus de arte tradicional e moderna abrir núcleos de arte contemporânea, operações mercantis se tornarem destaque na mídia que, exaltando os recordes de preços das obras de artistas da atualidade,descartaram as analises criticas sobre o valor intrínseco da arte. Proliferaram curadorias enaltecendo a “genialidade” do próprio curador. As assessorias de marketing galgaram status cultural. Vimos brotar “novas” idéias baixadas de updates temáticos que vagam pelo mundo. Expandiram as exposições e debates “polêmicos” tomados de forma imprópria de outros campos do saber.Esse conjunto de feitos revela o triunfo do entretenimento na vida contemporânea. Tamanha visibilidade ratifica a certeza de que vivemos sobre a égide de um modelo estético dominante.

O vale tudo que permeia a abundancia de modos e estilos confluindo num mesmo viés, consolidou uma permanência estética de longa duração. Nos últimos 30 anos fomos intimados a tolerar um modelo de expressão artística. O custo disso foi seu esgotamento.Cronos, o deus grego que representa o tempo, é o ícone mais adequado a esse período. Porém, sua maldição é austera com os homens. Primeiro os ilude, depois os abandona a própria sorte, diante da impossibilidade de subverter o tempo.

Adriano de Aquino

09/09