terça-feira, julho 21, 2009

A UNE e o peleguismo Pós Moderno



No Aurélio pelego é: pele com lã do carneiro usada nos arreios à maneira de xairel; indivíduo subserviente, capacho.

No meio político o termo pelego foi popularizado nos anos 1930, durante o governo de Getúlio Vargas. Em 1931 Vargas decretou a Lei de Sindicalização, inspirada na Carta Del Lavoro do fascista italiano Benito Mussolini. Entre outras coisas essa lei submetia os sindicatos ao Ministério do Trabalho. É nessa época que a palavra pelego ganha outros significados servindo para definir o líder sindical de confiança do governo que garantia o atrelamento da entidade ao Estado. Décadas depois o termo voltou à tona com a ditadura militar. Pelego então passou a ser o dirigente sindical apoiado pelos militares, sendo o representante máximo do chamado sindicalismo marrom. A palavra, que antigamente designava a pele ou o pano que amaciava o contato entre o cavaleiro e a sela, virou sinônimo de traidor dos trabalhadores e aliado do governo e dos patrões. Logo, é fácil entender que chamar uma pessoa de pelego é dizer que ela é subserviente/servil/dominada por outra, ou seja, capacho, puxa-saco, bajulador.

A era do conhecimento, da intensa comunicação global e da valorização da sociedade civil trouxe enormes benefícios, contudo, não extinguiu os antigos hábitos políticos nos países mais atrasados onde a nefasta tradição política sobrevive camuflada dentro do sistema democrático.

Um bom exemplo da força dessa sinistra reminiscência pode ser percebida nas palavras e atitudes de Augusto Chagas, presidente da União Nacional dos Estudantes que apresenta em 2009 para a sociedade brasileira a versão pós moderna do peleguismo.

As reações de Augusto Chagas as críticas de que a UNE teria se tornado um movimento chapa-branca (sinônimo de pelego), pelos recursos que recebe do governo Lula, me lembrou a atuação dos pelegos do passado. A parte sutis mudanças impostas pelo presente, o pensamento do atual líder estudantil é muito semelhante aos pelegos do passado tanto no tocante ao desprezo pela autonomia e a reflexão critica quanto pela a cretinice e a submissão. Mesmo diante de inúmeros problemas no sistema de ensino no país, Augusto Chagas coloca como prioridade da entidade a marcha de uma caravana nacional para debater as eleições de 2010 onde a UNE fará campanha para a pré-candidata do governo, a ministra Dilma Rousseff.

Plagiando, de forma invertida, a pratica dos conservadores que viam o comunismo internacional como o grande vilão Chagas combate um demônio nacional, concentrador de todo mal do século XXI. Seu nome: FHC.-Nós vamos emitir opinião para 2010, sim. Não vejo problemas no fato de a UNE ter opinião. Vamos comparar os oito anos dos governos Fernando Henrique e Lula em vários debates. A UNE sempre foi extremamente crítica ao governo FHC, que foi ruim para o país. Mas não vê Lula da mesma forma - disse ele.

Em relação ao presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP),a UNE acha os ataques da oposição equivocados.

- A mera saída do Sarney não resolve nada.

Augusto também não vê problemas no fato de a UNE receber verbas públicas para realizar seu 51º Congresso e retribuir os donativos realizando uma movimentação estudantil contra a CPI da Petrobras.

- Não acreditamos que o objetivo da CPI seja apurar irregularidades. A CPI quer abrir flanco para a exploração do pré-sal por setores privados.

Augusto afirma que a imprensa,a opinião publica e os valores éticos fundamentais que deveriam nortear as relações das instituições de representação com o poder constituído não são impedimentos que levem a UNE a considerar nocivo o recebimento de verbas públicas.

- Movimentos sociais não têm a função de fazer oposição a governos, mas sim para ir atrás de conquistas.

As declarações de Augusto revelam o quanto o pragmatismo pode distorcer os valores mais elevados das causas sociais.Augusto cursa o primeiro ano de Sistemas de Informação na Universidade de São Paulo (USP), depois de desistir de dois outros cursos universitários. Ele disse que mora num apartamento mantido pelo pai, especialista em computação, e passará a receber da UNE uma ajuda de custo para alimentação e transportes de R$ 1.500 mensais.Antes, foi presidente duas vezes seguidas da União Estadual dos Estudantes (UEE), recebendo R$ 1.200 de ajuda de custo. Foram dois mandatos: 2005-2007 e 2007-2009.Com esse aporte de recursos é compreensível que Augusto diga: 'Não me sinto mal por não ter curso nem emprego'-Ora! Augusto, mas isso não é um emprego?Não,responde ele,ao contrário: eu sinto muito orgulho por ter aberto mão da minha trajetória profissional por um tempo. Quando encontro amigos que estudaram comigo e já se formaram eu me sinto bem, seguindo o meu próprio caminho. Não me sinto mal com as críticas de que não concluí um curso ou não tenho emprego. A UNE é o que é pela dedicação política de alguns estudantes. Pessoas passam, o movimento fica. No movimento estudantil, eu aprendi a importância das idéias coletivas.Para consagrar, junto a comunidade estudantil, suas aspirações peleguistas Chagas enaltece o Bolsa Família, vedete do governo Lula, defendendo que seja estendida para os estudantes com a criação da Bolsa UniversitárioAugusto Chagas já tem pronto o modelo da Bolsa que quer ter. Segundo ele a Bolsa Educação seria concedida a universitários de baixa renda e custeada pela União. Ele sugeriu que o benefício seja equivalente a 60% do salário mínimo, ou R$ 279. O valor ficaria bem acima do teto do Bolsa Família, de R$ 182, pago a famílias com cinco crianças na escola. Chagas disse que levará a proposta ao presidente Lula nas próximas semanas: - Não vamos popularizar a universidade no Brasil sem políticas desse tipo.Chagas quer que a bolsa seja concedida a alunos de universidades públicas e privadas. Hoje, a política de assistência estudantil é estabelecida e custeada por cada instituição de ensino, à exceção das bolsas do ProUni. Ele também defendeu que a União subsidie o passe livre de estudantes.

Com essas iniciativas Augusto Chagas nos mostra que o peleguismo também se transforma com o tempo. Os pelegos pós modernos continuam servis, porém, um pouco mais pragmáticos.