“O laicismo em vigor na França erradicou a parte sagrada do Homem.”
Eduard Valdman
Rousseau, (autodidata suíço)
genial filósofo, teórico político, escritor, compositor, considerado
um dos principais filósofos do Iluminismo e precursor do romantismo, é tido como o ‘vovô das esquerdas’. Sua
teoria ‘Da Vontade Geral’ enfatiza que o indivíduo pode fazer o
que desejar. Porém, quando se afasta do ‘Estado da Natureza’ e embarca na
sociedade civil,o Homem, por necessidade e obrigação, deve curvar-se à vontade geral,
o que significa dizer que ele terá que obedecer à vontade popular ou da maioria.
Na sua obra ‘Do Contrato Social, ’ Rousseau propõe que todos os
homens se unam em torno de um novo contrato social capaz de garantir a defesa da
liberdade. Sua teoria se baseia em registros históricos -interpretados pôr ele -sobre
as experiências das antigas civilizações onde predominava o consenso. Há muito
que se refletir e questionar sobre que espécie de ‘consenso’ o pensador se referia.
Marx, um dos seus filhos mais famosos, reinterpreta esse ‘consenso’ na
forma moderna da ditadura do proletariado.
Contudo, tempos atrás, lendo textos de vários estudiosos sobre
o legado do profícuo pensador do Iluminismo o ‘consenso’ mais se assemelhava a
uma copiosa dissenção.
Tirante os acadêmicos, que amam dissecar resquícios da natureza
morta, os tataranetos, pendurados nos galhos da esquerda da arvore ‘Rousseau’ creem
que ela ainda dá frutos. Em contrapartida, os aboletados nos galhos da direita consideram
que a arvore Rousseau produz seiva venenosa que corrói os valores da sociedade.
Por motivos muito longos para expor aqui, deixei um pouco de lado a leitura de
artigos sobre o pensador.
Semana passada, mais precisamente na quinta feira 7 de
setembro, recebi a visita do casal Betty Herbour e Eduard Valdman, amigos da
toda vida, em visita ao Rio de Janeiro. Eles passaram no meu ateliê. Antes,
durante e depois do almoço o tema central do nosso encontro abrangeu as ideias
de Rousseau e seus desdobramentos na atualidade. Valdman, poeta e pensador francês
ficou poucos dias na cidade. Teve que retornar logo à Paris a fim de checar a
finalização do seu último livro que sairá da editora na próxima segunda feira,
amanhã. Eduard, ex aluno do Institut d’Etudes Politiques de Paris e Secrétaire
de la Conference de Stage du Barreau de Paris é poeta e brilhante pensador. Nossa
conversa se desdobrou sobre as questões cruciais que a França atravessa no
momento. Sobretudo, por conta do fluxo migratório e da expansão do terrorismo. A
citação no início desse texto foi extraída do livro que em breve estará nas
livrarias. Um dos eixos desse livro foca nas consequências pouco analisadas, para
mim inéditas e arrojadas, sobre os desdobramentos do Iluminismo, fonte no pensamento
francês ‘universalizado’ sobre o qual Rousseau exerceu enorme influência. Numa
resenha, publicada numa pequena brochura que Eduard me deu, o assunto é
explorado de forma inquietante. Diz ele: “ A laicidade não parte exatamente do princípio
de tolerância que frequentemente se evoca. Voltaire[outro expoente do
Iluminismo]era inimigo furioso do obscurantismo religioso e era também violentamente
antissemita[nesse ponto Eduard evoca para si a ira dos ‘libertários’]. Por
outro lado, o déficit simbólico induzido pela Revolução Francesa: Morte ao Rei,
a Deus, ao Pai e a todo Princípio de Autoridade findaram no Terror e na
ditadura bonapartista. A grande potência da Razão, resultante da filosofia dos
Iluministas, teve prolongamentos nas ditaduras marxistas. Os Direitos do Homem
de 1791, inegavelmente constituíram um avanço, mas, colocaram o Homem frente a um
vazio espiritual e a um princípio estreito de laicidade que hoje se mostra
impotente em face ao extremismo."
Nas páginas finais da sua brochura, Eduard acentua: [A sequência] de “contrassenso primordial que aparece hoje, no momento de uma França ateia, dita França laica, que se confronta a uma possante religião – O Islã – é que provoca a França a se reconstruir. ”
No entendimento de Eduard é crucial que se repense Deus, excluído dos capítulos dos Direitos do Homem.
Para mim, ateu, as vias para a reinvenção da civilização ocidental é ainda uma incógnita. Não sei se ela virá de uma razão mais elevada, capaz de abrir um clarão para a espiritualidade como contraponto ao conforto do materialismo, em cheque nas sociedades liberais e que corre grandes riscos de sobrevivência.
Nas páginas finais da sua brochura, Eduard acentua: [A sequência] de “contrassenso primordial que aparece hoje, no momento de uma França ateia, dita França laica, que se confronta a uma possante religião – O Islã – é que provoca a França a se reconstruir. ”
No entendimento de Eduard é crucial que se repense Deus, excluído dos capítulos dos Direitos do Homem.
Para mim, ateu, as vias para a reinvenção da civilização ocidental é ainda uma incógnita. Não sei se ela virá de uma razão mais elevada, capaz de abrir um clarão para a espiritualidade como contraponto ao conforto do materialismo, em cheque nas sociedades liberais e que corre grandes riscos de sobrevivência.