ENLATADOS
A visita da ativista Yoani ao Brasil abriu uma
avenida de especulações. O hipotético envolvimento da blogueira com financiadores
argutos que tramam, através dela, uma suposta conspiração contra o regime cubano
foi o foco das manifestações de repudio. As 40 perguntas ‘irrespondíveis’ disponibilizadas
na Internet por seus detratores, apostaram na desqualificação da ativista e,ao
contrario do que imaginavam,perderam feio a aposta. Yoani teve o foco voltado
para ela e cresceu como imagem pública para milhares de pessoas que até bem pouco tempo mal sabiam quem ela era. Yoani não gastou
munição, não se descabelou,gritou
ou retribuiu com arrogância as
provocações que recebeu em todo percurso de sua visita.
Uma das perguntas mais pueris incidia sobre a
fonte financeira da sua cibermilitância. Entre outras tolices, a pergunta
sugeria que além de rica ela é deslumbrada pela fama. A tentativa de a situa-la
como uma espiã da CIA,igualada em ambição pelo sucesso a uma Paris Hilton
morena, de tão tola só provocou risos. A militância juvenil brasileira pró Cuba,
extravasou seu ódio contra ela, porém, como lhe falta massa critica para questiona-la
de forma séria, recorreu ao tumulto e as ameaças.
A impressão de que assistimos choques ideológicos foi
totalmente enganosa. O que vimos foi a inépcia
para o dialogo e o sumiço da política. Diante das novas formas de ativismo político
tentar reduzir o debate a confrontos juvenis é uma manobra desonesta das
lideranças políticas que proliferam na America Latina como um todo e no Brasil
em particular e que se beneficiam com o atraso dos movimentos políticos.
O ativismo contemporâneo eficiente passa ao largo disso. Brotado nas ruas das grandes cidades ou dos píncaros da pirâmide social, ele não reproduz os clássicos conluios entre a o poder econômico e a representação parlamentar que se fincam na base do sistema. Ao contrario,ele nos mostra uma visão critica bem elaborada que concentra suas ações na demolição sistemática dos interesses que ligam o capital ao poder político.Ha algo novo acontecendo que precisa ser bem avaliado para que tenhamos uma perspectiva clara sobre os acontecimentos que nos cercam.
ORGÂNICOS
Em
uma entrevista ao jornal The
Washington Post (11 de novembro
de 2003) o financista Georges Soros abriu fogo cerrado contra o presidente George W. Bush, afirmando que
sua prioridade era tira-lo da
presidência do país.Na entrevista Soros enfatizou que esse era o
"foco central da minha vida" e "uma questão de vida e
morte". Ele espalhou
publicamente que iria sacrificar toda a sua fortuna para
derrotar o presidente Bush caso " alguém estivesse disposto a
garantido-lo".Como Soros é,
alem de financista um homem de ação, doou de cara US $ 3 milhões para o Centro para o Progresso Americano , mais US $ 2,5 milhões para MoveOn.org , e $ 20 milhões para a América Coming Together . Esses
grupos trabalhavam arduamente para apoiar os democratas na eleição de 2004.Em setembro de 2004 ele dedicou mais
dinheiro para a campanha e iniciou uma turnê própria,de estado em estado,
onde apresentava para a plateia o discurso: Por
que Não Devemos Reeleger o presidente Bush.Essa caminhada teve
como ponto de partida o National Press Club , em Washington, DC. A transcrição online do seu
discurso teve grande impacto entre os eleitores,foi recebido
com sucesso e trouxe incontáveis adesões. Em 2006,quando questionado sobre
sua afirmação em A Idade da
falibilidade que apontava os EUA
como "o principal obstáculo para uma ordem mundial estável e
justa", Soros respondeu de forma inequívoca que tal afirmação:
"coincide com a opinião prevalecente no mundo”. E foi mais incisivo
ainda quando prognosticou: “ eu acho que é um pouco chocante para americanos
ouvir que os Estados Unidos define a agenda para o mundo. E, o resto do mundo
tem de responder a essa agenda. Ao declarar uma "guerra contra o
terror" após 11 de setembro, vamos definir a agenda errada para o mundo(
...)porque, a guerra cria inevitavelmente vítimas inocentes ".
Até
a eleição presidencial de 2004 Soros não era um grande doador para causas
políticas nos Estados Unidos, mas de acordo com o Center for Responsive
Politics, durante o ciclo eleitoral 2003-2004, Soros doou 23.581 milhoes de
dólares para vários grupos dedicados
a derrotar o presidente Bush.
Bem,
Soros perdeu a batalha e Bush se reelegeu, estendendo seu mandato presidencial
de janeiro de 2001 q janeiro de 2009.Para a surpresa de uns e entusiasmo
de outros,a aposentadoria do Bush não freou o animo de Soros que em
agosto de 2009, doou US $ 35 milhões para o estado de Nova York destinar para
crianças carentes entre 3 a 17 anos, sem limite quanto número de
crianças que se classificariam para o programa.Além desse ato, Soros
destinou um adicional de US $ 140 milhões para ser aplicado no fundo do
Estado de Nova York.Esse dinheiro foi fruto da restituição da Lei de
recuperação Federal de 2009.E não parou por
ai, em outubro de 2010, Soros doou US $ 1 milhão, a maior doação
da campanha, a Drug Policy Alliance para financiar a Proposição 19 que, caso tivesse passado na
votação de novembro de 2011, teria legalizado a maconha no estado da Califórnia.
Em
outubro de 2011 a agencia Reuters levantou uma lebre quando distribuiu na
imprensa uma história que
dava a entender que bilionário Soros era um dos financiadores dos Occupy Wall Street. Um dos objetivos do movimento é protestar contra o 1% mais rico da
nação. Após essa publicação vários
comentaristas apontaram erros na história da
Reuters.Contudo,o artigos intitulado: "Quem está por trás dos protestos de
Wall Street?" permanece como uma incógnita para os leitores. Na chamada o
artigo afirmava que o movimento Ocupar Wall Street "pode ter sido beneficiado
indiretamente pela generosidade de um dos homens mais ricos do
mundo.Ninguém sabe ao certo se isso é verdade. A Reuters
não negou o que divulgou sobre os elos financeiros e ideológicos entre
Soros e a Adbusters - grupo anti-capitalista do Canadá. Sob esse assunto a lebre continua no
ar.Para desviar o foco do mistério, em setembro de 2012, Soros
anunciou que doou US $ 1 milhão para o "SuperPAC" Prioridades de Ação EUA . Aguarda-se agora outras noticias
sobre a atividade ‘subversiva e anti conservadora’ de um dos homens mais ricos
do mundo.
A
resposta imediata de que Soros pretende se tornar ainda mais rico e poderoso é
banal demais para estimular a reflexão. A segunda resposta imediata: Soros está
deprimido e quer destruir o capitalismo, é subjetiva demais para nos levar
adiante. Já, as recentes modalidades de ativismo político, podem nos dar algumas respostas e despertar uma boa
reflexão. Uma coisa é certa: o velho antagonismo capitalismo x socialismo ja deu o que tinha que dar. Foi dissolvido na
centralidade da economia e na dinâmica do mercado. Ninguem vive para sempre.Isso vale para pessoas e ideias. Nem todo dinheiro do mundo fara com que Soros ultrapasse a meta de vida dos mortais.Porém isso não impede que a inteligencia transponha fronteiras temporais.O que sabe Soros, que muita gente ainda não sabe, sobre a proximidade de um novo pacto global? O que ele vislumbra ao apoiar financeira e ideologicamente movimentos sociais em transito na atualidade. Vivemos um tempo de constantes mudanças. Quem
sabe ainda não estamos cientes das profundas contradições que movem de fato o
nosso tempo?