sábado, fevereiro 23, 2013

Enlatados & Orgânicos



ENLATADOS

A visita da ativista Yoani ao Brasil abriu uma avenida de especulações. O hipotético envolvimento da blogueira com financiadores argutos que tramam, através dela, uma suposta conspiração contra o regime cubano foi o foco das manifestações de repudio. As 40 perguntas ‘irrespondíveis’ disponibilizadas na Internet por seus detratores, apostaram na desqualificação da ativista e,ao contrario do que imaginavam,perderam feio a aposta. Yoani teve o foco voltado para ela e cresceu como imagem pública para milhares de  pessoas que até bem pouco tempo mal sabiam quem ela era. Yoani não gastou munição, não  se descabelou,gritou ou  retribuiu com arrogância as provocações que recebeu em todo percurso de sua visita.

Uma das perguntas mais pueris incidia sobre a fonte financeira da sua cibermilitância. Entre outras tolices, a pergunta sugeria que além de rica ela é deslumbrada pela fama. A tentativa de a situa-la  como uma espiã da CIA,igualada em ambição pelo sucesso a uma Paris Hilton morena, de  tão tola  só  provocou   risos.  A militância juvenil brasileira pró Cuba, extravasou seu ódio contra ela, porém, como lhe falta massa critica para questiona-la de forma séria, recorreu ao tumulto e as ameaças.

A impressão de que assistimos choques ideológicos foi totalmente enganosa. O que vimos foi a  inépcia  para o dialogo e o sumiço da  política. Diante das novas formas de ativismo político tentar reduzir o debate a confrontos juvenis é uma manobra desonesta das lideranças políticas que proliferam na America Latina como um todo e no Brasil em particular e que se beneficiam  com o atraso dos movimentos políticos.

O ativismo contemporâneo eficiente passa ao largo disso. Brotado nas ruas das grandes cidades ou dos píncaros da pirâmide social, ele não reproduz   os clássicos  conluios entre a o poder econômico e a representação parlamentar que se fincam na base do sistema. Ao contrario,ele nos mostra  uma visão critica bem elaborada que concentra suas ações na demolição sistemática dos interesses que ligam o capital ao poder político.Ha algo novo acontecendo que precisa ser bem avaliado para que tenhamos uma perspectiva clara sobre os acontecimentos que nos cercam.     

ORGÂNICOS
Em uma entrevista ao jornal The Washington Post (11 de novembro de 2003) o financista Georges Soros abriu fogo cerrado contra o presidente  George W. Bush, afirmando que sua prioridade era tira-lo  da presidência do país.Na entrevista Soros enfatizou que esse era o  "foco central da minha vida" e "uma questão de vida e morte". Ele espalhou publicamente  que iria sacrificar toda a sua fortuna para derrotar o presidente Bush caso  " alguém estivesse disposto a garantido-lo".Como  Soros é, alem de financista um homem de ação, doou de cara  US $ 3 milhões para o Centro para o Progresso Americano , mais US $ 2,5 milhões para MoveOn.org , e $ 20 milhões  para a América Coming Together . Esses grupos trabalhavam arduamente para apoiar os democratas na eleição de 2004.Em setembro de 2004 ele dedicou mais dinheiro para a campanha e iniciou uma turnê própria,de  estado em estado, onde apresentava para a plateia o discurso: Por que Não Devemos Reeleger o presidente Bush.Essa caminhada   teve como ponto de partida o National Press Club , em Washington, DC. A transcrição online do seu  discurso teve grande impacto  entre os eleitores,foi  recebido com sucesso e trouxe  incontáveis adesões. Em 2006,quando questionado  sobre sua afirmação em A Idade da falibilidade que apontava os EUA como  "o principal obstáculo para uma ordem mundial estável e justa", Soros respondeu  de forma inequívoca que tal afirmação:  "coincide com a opinião prevalecente no mundo”. E foi mais incisivo ainda quando prognosticou: “ eu acho que é um pouco chocante para americanos ouvir que os Estados Unidos define a agenda para o mundo. E, o resto do mundo tem de responder a essa agenda. Ao declarar uma "guerra contra o terror" após 11 de setembro, vamos definir a agenda errada para o mundo( ...)porque, a guerra cria inevitavelmente vítimas inocentes ". 
Até a eleição presidencial de 2004 Soros não era um grande doador para causas políticas nos Estados Unidos, mas de acordo com o Center for Responsive Politics, durante o ciclo eleitoral 2003-2004, Soros doou 23.581 milhoes de dólares para vários grupos  dedicados a derrotar o presidente Bush. 
Bem, Soros perdeu a batalha e Bush se reelegeu, estendendo seu mandato presidencial de janeiro de 2001 q janeiro de 2009.Para a surpresa de uns e entusiasmo  de  outros,a aposentadoria do Bush não freou o animo de Soros que  em agosto de 2009, doou US $ 35 milhões para o estado de Nova York destinar para crianças carentes entre  3 a 17 anos, sem limite quanto  número de crianças que se classificariam para o programa.Além desse  ato, Soros destinou um adicional de US $ 140 milhões para ser  aplicado no fundo do Estado de Nova York.Esse  dinheiro foi fruto da restituição da Lei de recuperação Federal de 2009.E não parou por ai, em  outubro de 2010, Soros doou US $ 1 milhão, a maior doação da campanha, a Drug Policy Alliance para financiar a Proposição 19  que, caso tivesse passado na votação de novembro de 2011, teria legalizado a maconha no estado da Califórnia.
Em outubro de 2011 a agencia Reuters levantou uma lebre quando distribuiu na imprensa uma  história que dava a entender que  bilionário  Soros era um dos financiadores dos Occupy Wall Street. Um dos objetivos do movimento é protestar contra o 1% mais rico da nação. Após essa  publicação  vários comentaristas apontaram  erros  na história da  Reuters.Contudo,o artigos intitulado: "Quem está por trás dos protestos de Wall Street?" permanece como uma incógnita para os leitores. Na chamada o artigo afirmava que o movimento Ocupar Wall Street "pode ​​ter sido beneficiado indiretamente pela  generosidade de um dos homens mais ricos do mundo.Ninguém sabe ao certo se isso é  verdade. A  Reuters não negou o que divulgou sobre os elos financeiros e ideológicos  entre Soros e a Adbusters - grupo anti-capitalista do Canadá. Sob esse assunto a  lebre continua no ar.Para desviar o foco do mistério,  em setembro de 2012, Soros anunciou que doou US $ 1 milhão para o "SuperPAC" Prioridades de Ação EUA . Aguarda-se agora outras noticias sobre a atividade ‘subversiva e anti conservadora’ de um dos homens mais ricos do mundo.
A resposta imediata de que Soros pretende se tornar ainda mais rico e poderoso é banal demais para estimular a reflexão. A segunda resposta imediata: Soros está deprimido e quer destruir o capitalismo, é subjetiva demais para nos levar adiante. Já, as recentes modalidades de ativismo político, podem nos dar algumas respostas e despertar uma boa reflexão. Uma coisa é certa: o velho antagonismo capitalismo x socialismo ja deu o que tinha que dar. Foi dissolvido na centralidade da economia e na dinâmica do mercado. Ninguem vive para sempre.Isso vale para pessoas e ideias. Nem todo dinheiro do mundo fara com que Soros ultrapasse a meta de vida dos mortais.Porém isso não impede que a inteligencia transponha fronteiras temporais.O que sabe Soros, que muita gente ainda não sabe, sobre a proximidade de um novo pacto global? O que ele vislumbra ao apoiar financeira e ideologicamente movimentos sociais em transito na atualidade. Vivemos um tempo de constantes mudanças. Quem sabe ainda não estamos cientes das profundas contradições que movem de fato o nosso tempo?