terça-feira, março 09, 2010

A Fabula do Lobo e da Ovelha - versão pós -pós moderna


Desde o fim da IIª Grande Guerra, quando a hegemonia cultural se transferiu da Europa para os Estados Unidos, os europeus tentam retomar a liderança perdida.
Sabemos que toda perda impõem conseqüências psicológicas complexas.
Lutas duras e investimentos vultosos não conseguiram dar sustentação a ambição européia de retomar o centro do debate artístico/cultural. As tentativas mais objetivas, realizadas pelas políticas de estado europeias  transitaram, nos últimos 60 anos, entre a implantação de novos equipamentos -Beaubourg, New Tate,novos museus alemães,etc- e o crescente incentivo fiscal para a participação do capital privado nos negócios de arte e cultura.
No âmbito do mercado as ações mais agressivas visando alçar as alturas o preço da arte européia encontrou em Saatchi um agente eficaz. Às vezes imagino que esse brilhante homem de negócios é um agente secreto tipo 007. Ele se destaca de todos os demais. Sua potencia econômica e suas investidas táticas são tão bem feitas que lembram um plano estratégico elaborado pelos serviços de inteligência das agencias do governo britânico. Esse negociante inglês viu com clareza que a New Art inglesa seria  mais eficiente se tomasse de assalto o mercado norte americano, começando o ataque pelo foco central da arte contemporânea- Nova York. Foi o que fez. Aliou-se a Gagossian -outro agente secreto- e, montados em grosso volume de capital, deram inicio a uma nova fase da arte britânica em escala global.
Xinguem à vontade mas, até agora, o plano está dando certo e rendendo milhões. Saatchi inaugurou uma colônia artística britânica overseas muito influente e poderosa a contragosto dos artistas, críticos e marchands norte americanos. Contudo, o esforço europeu de centrar o foco no velho modelo das bienais continua afundando. Argumentos de lá e de cá não configuram nada que valha a pena comemorar. Tentativas de incluir a arte de países considerados periféricos até agora não surtiram resultados que abonem as 154 bienais espalhadas por todo o mundo. Ficam na mera ação de mostrar,mostrar e mostrar,porém, a integração cultural além fronteiras geográficas permanece um entrave real.
Segundo Carolyn Christov, a nova curadora de Kassel, “as bienais possuem uma certa independência territorial e independência enquanto laboratórios de experimentação para novas praticas artísticas e novos modelos de sociedade”. Só por essa afirmação amalucada já da pra sentir a bobagem que vem por aí. Pretender que, nos dias de hoje, um evento de arte seja o laboratório onde se processam as “novas praticas artísticas” e, pasmem, “novos modelos de sociedade” é um delírio juvenil. Nem os hippies de outrora, com a cabeça cheia de maconha, diriam tal sandice.
Pois, é! Será nas mãos e na cabecinha dessa moça que os alemães pretendem dar o novo recado estético ao mundo. Vocês não esperam que eu contra argumente o laboratório de uma doidona. Processar, em circuito fechado, uma nova arte, lembra doutrina de estado fascista. Paro por aqui!Não vale a pena ir adiante, pois, qualquer movimento que exclui o que esta sendo processado aqui fora, no real e no cotidiano, é tema para agentes da KGB que, alias, já encerrou sua missão no fim da guerra fria.
Nesse conjunto de fatores as ações mercantis, desavergonhadas e ultra agressivas de Saatchi soam como algo mais eficiente, compatível com o tempo de predominância econômica sobre todas as coisas e, portanto, passível de ser discutido,contestado e atacado.
Já, os “bonzinhos” gestores das Bienais, protegidos por paradigma falso e mentiroso, de interação radical com a cultura e,supostamente, desvinculados do mercado, praticam o mal maior para as artes de nossos dias.