terça-feira, outubro 01, 2024

 

Quando Coppola, após longos anos silente, reaparece no cenário artístico com uma obra, sou apanhado pela sensação de que Fênix é o elemento mitológico que melhor expressa o magnifico, irreverente e substancioso poder da criação.
Depois de ler alguns comentários de especialistas em 'showbiz' sobre Megalópoles, a realização recente de Coppola, antes mesmo de ver o filme, tive a impressão de que mais uma vez esse artista atingiu em cheio o que considero o cerne de todo processo criativo inovador e surpreendente.
Um artista que propõe a si mesmo a ousadia de romper com os parâmetros estéticos de seu tempo e atravessar o umbral do inusitado, impacta o senso comum, formatado por personalidades da alta cultura que se arrogam os tutores do gosto e da empatia do público ávido por novidades mas que não se sente abalizado para avaliar o que vê, lê ou escuta sem que um mestre/crítico, agora convertidos em 'coaches' coisa que, aliás, sempre foram, lhe forneça a senha, as referencias cults e as razões(sic) de porque deve admirar ou não o que tem diante de si.
Um comentarista especializado postou que Megalópoles o surpreendeu negativamente porque não lhe ofertou o Coppola que sempre admirou. Ele ficou frustrado porque o autor dos clássicos 'The Godfather' conspurcou seu legado ao assumir a criação de um filme 'confuso e chato' no crepúsculo da vida.
Eu, exatamente por motivo inverso, como escrevi na página Instagram do Coppola, onde acompanhei a fase de lançamento do Megalópoles, considero que o desafio maior de um artista não é apenas ser talentoso mas, sábio o bastante para escapar das armadilhas culturais que levam à auto emulação que o prende à constante repetição da fórmula que outrora o consagrou junto aos especialistas e o tornou um ícone do gosto público.

O fenômeno da Fênix é, para mim, a experiencia existencial mais gratificante que um artista tem o privilégio vivenciar.