terça-feira, junho 15, 2010

Ciberespaço?Onde fica?Pra que serve?

Há algum tempo me sugeriram que falasse sobre o que leva tantas pessoas, eu inclusive, a manter contínuo contato através das redes sociais. Como entusiasta dessa onda achei que seria útil colocar algumas considerações sobre essa coisa chamada relacionamento virtual. Topei a idéia. Ocorre que escrever sobre um fazer que já se tornou quase um hábito é complicado.Além do mais , uma série de compromissos, datas e trabalho intenso mantinham meus pensamentos longe desse assunto.Fui adiando o intento enquanto pude.Afinal,sentar diante do micro e passear pelas paginas do Facebook,saber das pessoas,ler textos e poesias e trocar mensagens é um prazer,porém,falar sobre as coisas que fazemos e porque fazemos dá um trabalho danado e exige dedicação.Não basta um tempo livre.São tantas idéias que vagam distantes.Junta-las num bloco de notas demanda uma cabeça afim de encarar a missão.Abri as gavetas da mente e digitei algumas coisas. Depois de inúmeras divisões e subdivisões essa primeira parte ganhou uma forma que acredito ser legível.

Espero que tirem proveito.

Adriano De Aquino

06-2010

Ao contrario daqueles que atribuem à comunicação virtual um papel secundário que, por alguma razão “nobre”, digamos assim, os mantêm alheios ou fazem piadas sobre os que se dedicam intensamente as trocas virtuais, penso que a atividade virtual colocou no plano concreto alguns fatores de considerável relevância.Não apenas o mundo da comunicação institucional/empresarial-jornal, revistas, propaganda e marketing - sofreram e vêm sofrendo abalos em suas estruturas formais e de negócios. O mundo, depois do advento e profusão das novas tecnologias da informação e comunicação, não é mais o mesmo.

Isso é fato!

Mas, como aferir essas mudanças?Ou, como comprovar que a vida social mudou, para melhor ou pior?O homem emancipou-se de velhos hábitos, costumes e preconceitos? E os meios de produção, se alteraram substancialmente?Essas são questões importantes, todavia, por tangenciarem aspectos objetivos exigem indicadores técnicos apurados. Esse não é um campo de forte interesse em minhas reflexões. Isso não quer dizer que eu não leia ou me interesse por argumentos, estudos e livros que aprofundem esses itens. A Sociedade em Rede de Manoel Castell e a Cultura da Convergência de Henry Jenkins, para citar apenas dois trabalhos do gênero, supriram minha curiosidade sobre as aplicações da TI na sociedade contemporânea e suas conseqüências na cultura e na vida social. Seria inútil, pelo menos nessas reflexões, tentar argumentar por esse viés. Não conseguiria transferir para o leitor dados que pudessem contribuir para a compreensão do conjunto de indicadores que esses autores e outros mais fornecem de maneira clara. No entanto, no âmbito da observação e experiência pessoal, posso oferecer algumas notas sobre esse assunto

Recentemente, num encontro de amigos, esse tema veio à tona. Na ocasião ouvi uma serie de considerações contrarias a importância das redes sociais e coloquei algumas idéias sobre a substituição gradual dos meios de comunicação e sua influencia no transito de códigos sociais.

Observei que, em geral, as criticas a virtualidade se concentram em fatores econômicos (marketing pessoal vulgar, abusos contra o direito autoral, publicidade invasiva, etc.), na superficialidade da comunicação virtual e na atuação dos órgãos de inteligência que vasculham e monitoram as paginas da internet. Não duvido que esses fatores existam e que mereçam atenção e cuidado, contudo, uma das características da cultura é não submeter todos, de maneira hegemônica, aos insidiosos desejos de um poder predominante, seja econômico, político ou comportamental. Além do mais, definir como superficial as múltiplas possibilidades oferecidas pela rede de comunicação global é, em si, um diagnostico superficial. Todos sabem que a eficácia da cultura reside em sua dinâmica de constante mutação e, nesse sentido, sempre haverá desconfiança, dissidência, subversão e confronto com os valores impostos através da duvida sobre as intenções de uma noticia aparentemente “séria” veiculada num jornal, livro ou documento, ou por um post colado numa pagina de um site de relacionamento.

Na oportunidade propus que deixássemos de lado os aspectos econômicos, a espionagem e os riscos de invasão de privacidade que hoje afligem muita gente e olhássemos a internet como um sítio aonde a troca de experiências pessoais vem angariando dia a dia, maior valor. Alguns experts afirmam que os sites e outras ferramentas virtuais não tem se mostrado, no correr desses anos, eficientes maquinas de fazer dinheiro. Porém, sua rápida expansão vem gerando grandes prejuízos aos veículos de imprensa e as mídias convencionais. Talvez, por essas razões, a internet seja encarada por alguns como economicamente inconveniente.

Afinal, o compromisso com a noticia e a verdade dos fatos é mais conveniente quando gera recursos e sustenta um poder. Entretanto, o poder da grande imprensa, como todo poder, está sujeito a crises.

A crise da imprensa que hoje testemunhamos tem contornos graves.

É freqüente, em situações intricadas, se correr atrás de um responsável pelo prejuízo.

Já ouvi e li muitas explanações. A mais usual aponta a internet como a principal responsável pela crise da grande imprensa.

Será?

Não creio, melhor dizendo, não gostaria que a expansão da internet se concretizasse sobre a sepultura dos grandes jornais e revistas. Todavia, caso a internet seja de fato a principal responsável pelo prejuízo é bom que as grandes organizações da imprensa acelerem na direção correta, pois, tudo indica que a internet não diminuirá velocidade, ao contrario. Se a grande imprensa pretende permanecer tão poderosa quanto foi no passado recente, necessita urgentemente de um acelerador ligeiro e certeiro.

Assisti, dias atrás, uma publicidade da Folha de São Paulo veiculada na TV. Uma imagem bacana de um canto da cidade (São Paulo, certamente) é pano de fundo para a atriz Fernanda Torres anunciar as mudanças do jornal. Fernanda nos informa que a Folha mudou, sugerindo ao telespectador que o jornal adotou um novo estilo. A propaganda acertou na escolha da atriz para desempenhar uma mensagem informal. Figura e fundo se mesclam caprichosamente, despertando, de passagem, certa semelhança com muitos vídeos postados no Youtube.

Num ataque de São Tomé, visitei a pagina da Folha on line e constatei que mesmo não sendo uma propaganda enganosa, não deixa de ser uma mensagem equivocada.

É licito que a Folha anuncie. Afinal, ela precisa de novos leitores e, se possível, recuperar os que perdeu para a internet.Contudo,o êxito de tal desafio passa por questões mais complexas sobre as quais uma propaganda tem pouco poder de sedução.

Um leitor não compra apenas um jornal, compra uma quantidade de matéria jornalística bem tratada,credibilidade e uma boa leitura.

Se a propaganda que vi se comprovasse no acesso livre aos cadernos, as crônicas e outras matérias eu constataria, no ato, alguma mudança. Porém,assim como muitos jornais brasileiros, o acesso on line da Folha permanece restrito aos assinantes. A melhor propaganda de um jornal é seu produto e esse produto é feito por jornalistas e outros profissionais de imprensa que já constam da folha de pagamento da empresa. Por que pagar uma agencia de publicidade para anunciar um produto que só pode ser avaliado e credenciado através da leitura?

Essa pergunta torna-se mais evidente quando constatamos que qualquer navegante pode acessar livre e gratuitamente todas as matérias jornalísticas de muitos dos grandes jornais do mundo.

No meu ponto de vista o acesso livre às matérias jornalísticas não é o principal motivo que leva o leitor a abandonar a leitura dos jornais. Quando me pergunto sobre as causas que me levaram gradualmente a abandonar a leitura diária dos periódicos, quer dizer, do jornal impresso, e tento relacionar esse fato ao meu cotidiano na internet, a suspeita de sua responsabilidade na crise da grande imprensa torna-se um álibi frágil.

Motivações mais danosas para o gradual afastamento do publico podem ser investigadas em outros cantos. Por que não no equivoco das estratégias da grande imprensa para conviver e sobreviver às mudanças radicais dos últimos trinta anos?

Nesse período, pessoas com mais de 50 anos viram seu campo de trabalho virar de pernas pro ar. Indivíduos mais reticentes e mesmo os mais flexíveis foram empurrados para um novo tempo. Sujeitos de faixa etária produtiva foram compulsoriamente aposentados. Isso não ocorreu apenas no trabalho regular ou no emprego fixo de setores mais graduados da população. O fato é que uma multidão de pessoas foi excluída de uma participação econômica e social mais ampla. Gostemos ou não isso é um fato. Nas artes, na política, nos negócios e nas relações interpessoais ocorreram mudanças substanciais.

Essas reflexões advêm de uma duvida- como disse acima; se inúmeros experts afirmam que a internet não é uma fonte de lucros para todo e qualquer negócio, sobretudo para aqueles do campo da comunicação, por que seria para um jornal?

Os núcleos comerciais das empresas jornalísticas parecem desconhecer esse fato. Será que não sabem que se alguém tem interesse numa matéria especifica publicada por um jornal de acesso restrito, algum amigo de sua rede de relacionamento, assinante do diário, poderá lhe enviar a matéria inteira por email ou pelas ferramentas disponíveis nos sites de relacionamento? Simples assim!

Muitas pessoas parecem não entender e resistem em vão a uma nova realidade.

O fato é que a internet não atrai as pessoas porque usurpa os direitos das “commodities jornalísticas” (o slogan é de Murdoch que agora integra o mundo virtual por vontade própria. Acusou o Google de surrupiar direitos e comprou o site de relacionamento MYSPACE que até 2006 reunia 106 milhões de usuários registrados. Se o Myspace fosse um país teria a 11ª população do mundo - entre o México e o Japão).

O poder da internet reside no fato de que conecta milhões de pessoas interessadas em trocar experiências e divulgar suas produções, coisa que as empresas de comunicação não têm condições de oferecer.Quando ocorre, é fruto de interesses por vezes difusos.

Não é apenas a tecnologia rápida de comunicação, ferramentas, joguinhos, noticias atualizadas segundo a segundo que conferem valor crescente e, até certo ponto, incontrolável à internet. O livre trânsito e a franquia de espaços como as redes sociais, onde pessoas se expressam livremente, postam imagens, vídeos, textos, teorias, poemas e tudo mais que transita no dia a dia, vem credenciando a internet como um vetor de comunicação plural e democrático. É muito difícil, pra não dizer impossível, que as grandes empresas de comunicação consigam superar essas ofertas.

A adoção de um marco legal é uma medida positiva, creio que sua aprovação evitara o predomínio do vale tudo e dos abusos que circulam na rede,prevenindo grandes prejuízos às empresas e indivíduos .O governo brasileiro vem conduzindo de forma correta sua elaboração. Entretanto, qualquer tentativa, por parte do Estado,dos empresários e organizações privadas de comunicação de conter a expansão da internet através de medidas extremas, reverterá em conseqüências dramáticas para a liberdade de expressão.

Muitos navegantes manifestam a opinião que os anseios do homem ultrapassam as questões econômicas e que a informação é um bem comum que não deve estar sujeito apenas às diretrizes empresariais, ao gosto e ditames das editorias. Essas pessoas encontraram na internet um lugar para trocas produtivas.

É por essa e outras razões que milhões de pessoas buscam as redes sociais

Entendo que a multidão de experiências em transito possa parecer confusa e inócua para aqueles que se abrigam na duvida diante do novo e tendem a reduzir as trocas virtuais a questões factuais: O que fazemos aqui?Onde isso nos levará? O que tudo que dizemos e ansiamos pode ser realizado concretamente?

No sentido mais amplo essa pergunta não é nova. Precede a existência da internet. Foi feita repetida vezes por persas, gregos, romanos e toda a sorte de gente da antiguidade, do oriente milenar ao ocidente moderno.

A filosofia, no correr de sua existência expandiu o horizonte do saber, as religiões continuam garantindo a segurança celestial para aqueles que aceitam e obedecem a seus mandamentos e a ciência, um vetor do conhecimento supostamente mais equipado para responder essa questão ou uma parte dela, coloca, à medida que desvenda alguns mistérios, outros, mais complicados ainda.

Porém, nós, indivíduos, como nos posicionamos diante do que vem ocorrendo no mundo?

Aceitamos os postulados religiosos e vamos em frente, filiamo-nos a uma corrente do pensamento filosófico, nos abrigamos nas ideologias, nos entregamos de corpo e alma aos pareceres científicos?

O fato é que na vida cotidiana esses fatores são boa parte do tempo relevados, esquecidos. Enfiamos-nos em relações amorosas, em negócios e carreiras que nos transferem uma carga pesada de compromissos e obrigações.

Então, nos confrontamos com a missão de cumprir uma existência amorosa, realizar um trabalho que nos recompense, se possível enriqueça. Enfim, sair do anonimato, ser reconhecido e alcançar a felicidade. Dito assim parece simples, mas, sabemos, é um desafio que até Hercules temeria enfrentar. Ocorre, entretanto, que nessa missão estamos sozinhos. Afora os livros de auto-ajuda, nenhum texto sério, tratado científico ou teologia religiosa secular se aventuraria a responder a todos de uma só forma. As escrituras sagradas, as pesquisas científicas ou os textos filosóficos foram e são gerados na tentativa de responder as grandes questões do homem e da natureza, num patamar elevado onde a fé ou o método, nem sempre infalíveis, tornam-se opacos, diante das necessidades pessoais do dia a dia.

Bem! Então, o que fazemos aqui, no ciberespaço?

Entendo que um grande número de pessoas, cansadas dos modelos verticais de intermediação social e comunicação, busca um lugar onde possam trocar livremente pensamentos, experiências pessoais e produção. Hoje, com a internet, ninguém mais espera que um crítico generoso ou um jornalista sensível note e divulgue o quão importante é a obra de um poeta desconhecido ou de um artista extraordinário, sem visibilidade na mídia, ações, instalações, gestos e outros meios disponibilizados no atacado ou varejo da arte. Atualmente, o poeta navegante, seus amigos e fãs se ocupam de divulgar o que consideram admirável. Centenas de pessoas o lêem, comentam e apreciam. Esse é o maior valor que circula na internet. Trocando em miúdos; nesse local, o que você pensa, posta e comenta tem VALOR. Nada e ninguém têm poder para interromper, desviar ou adulterar esse fluxo. Nesse NOVO canto do mundo os diretores de seção e os editores de pauta até uma “nova ordem”, foram aposentados.