segunda-feira, julho 14, 2025

Billie Eilish: Tiny Desk Concert

Coloquio sobre o amor

Agradeço o convite da Academia Brasileira de Filosofia para participar deste evento no qual o AMOR é o centro das atenções, tanto dos palestrantes como dos participantes. Em tempo, existe um tema mais digno da nossa atenção do que o AMOR? Aproveito para agradecer à organização do encontro por ter corretamente referido a minha atividade como "artista plástico", em vez do genérico "artista visual". Explico: em outras ocasiões, sugeri que a mencionassem dessa forma, mas não obtive êxito. Aliás, várias vezes tentei retificar a aplicação do termo em apresentações, sem sucesso. Na física, a plasticidade, quando aplicada a um vastíssimo conjunto de corpos materiais, incide em transformações que, ao serem submetidas a ações externas – inclusive humanas –, não retornam ao seu estágio inicial. No fenômeno criativo, as substâncias físicas, amalgamadas pelos artistas, dão forma e corpo a algo que antes não existia. Os materiais e a forma que derivam da plasticidade não voltam mais ao estado original. O termo se aplica com exatidão à minha atividade. Foco: Perspectivas, desdobramentos e variáveis dos sentimentos provenientes da virtude do amor na contemporaneidade. O conceito "amor líquido", criado pelo sociólogo Zygmunt Bauman, que consta de sua obra homônima, descreve o tipo de relações interpessoais que se desenvolvem na atualidade, caracterizadas pela ausência de solidez e cuidado, e pela marcante tendência de serem cada vez mais fugazes, superficiais e alheias a compromissos. Todavia, ao acolher o termo "amor" no âmbito da sua análise, Bauman parece concordar que as negatividades por ele aludidas não descartam a persistência do amor nas trocas humanas. Nesse sentido, não seria um disparate recorrer à plasticidade como resgate das virtudes do amor. Diante disso, não sendo eu filósofo e menos ainda estoico, peço permissão ao filósofo Sêneca, para quem o amor, em especial no tocante à divindade cósmica (Deus), é uma virtude estoica, não moldável em sua essência e não sujeito à plasticidade, no sentido filosófico, evidentemente. O desafio de forjar em palavras minha visão do amor se restringe às dimensões humana e terrena. Entendo o amor como um conceito forjado pela cultura, sujeito a camadas sucessivas de experiências sociais em diferentes contextos históricos. Plasticidade/Dialética Nota: Na neurociência a plasticidade se refere à capacidade de adaptação e mudança, especialmente no cérebro. A neurociência avançou bastante sobre a dinâmica do nosso cérebro em resposta à experiência. Trata-se, portanto, de um evento de cunho individual, desprovido de regras pré determinadas. Dialética é um método de investigação e argumentação que busca a verdade através do confronto de ideias opostas dentro de nós e aquelas que circulam no mundo. A "plasticidade", na acepção filosófica, é para mim o eixo dos infinitos desdobramentos do amor nas relações humanas, sejam elas íntimas ou platônicas. As muitas camadas do amor – à humanidade, materno-paterno, filial, romântico, fraterno, pelas ideias/conceitos/conhecimento (ideia de Deus), etc. – fazem do amor a experiência existencial mais inspiradora, profunda e bela. Aqui faço uma inflexão em direção à paixão, um estado emocional intenso, impulsionado por atração física avassaladora e idealização do outro, abrangendo uma variedade de manifestações psíquicas acionadas pela descarga hormonal da libido. Ainda que a experiência nos alerte sobre as armadilhas da paixão, mergulhamos nela com frequência. Não confundir paixão com amor é uma atitude psíquica/emocional saudável. Coaches da antiga Grécia aconselhavam seus seguidores a contrair paixão na adolescência e a evitá-la na idade adulta. Sábia recomendação. Entre muitos sentimentos despertados pelo amor, o temor e a perda estão inevitavelmente inseridos. Até porque o medo de amar está intrinsecamente vinculado à perda, seja por rejeição ou morte – duas circunstâncias demasiado humanas sobre as quais os poetas, ao longo de toda a história humana da qual temos registros, criaram e continuam criando obras profundas e maravilhosas sobre as vicissitudes do amor. O tempo é inexorável. Não há nada sobre a Terra imune à sua influência. Os labirintos do tempo são imprevisíveis a ponto de nos levar a temê-lo tanto que nos abrigamos no subterfúgio do "tudo é efêmero". Uma porta de escape para grandes tormentos, sobretudo porque as ações do tempo não se importam com nossos sentimentos, desejos, ideias, projetos e teorias. Com o surgimento e a universalização da cultura digital e suas características ímpares, uma das maiores aflições da cultura contemporânea é a perspectiva de perdermos a humanidade e o amor entre os homens ser tragado para um buraco negro nos confins do universo. Desaparecer. Porém, ao contrário das mudanças deslumbrantes de ordem prática, como a veloz alfabetização digital — que alavancou um enorme contingente da sociedade a possuir uma identidade virtual, interagir com tutoriais simples e objetivos para acessar a malha dos sistemas operacionais do cotidiano, obter as mais variadas notícias do mundo em tempo real e compartilhamentos indiscriminados em larga escala, etc. — trouxeram também uma curiosa versão de correspondência afetiva/amorosa e desdobramentos no âmbito do desejo. É isso que pretendo abordar, sobretudo porque, creio eu, a cultura digital estendeu as relações humanas para dimensões inusitadas, compartilhadas em tempo real. A era digital se pauta na expansão do conhecimento, no compartilhamento de ideias e na aproximação indiscriminada de culturas diversificadas. Simultaneamente, vimos surgir o medo generalizado de sermos atirados no espaço da solidão cósmica, onde o encontro entre pessoas reais será paulatinamente suprimido. Seus duplos virtuais vagarão no ciberespaço pela eternidade. No universo das artes, ao me ater com atenção sobre a "travessia" entre o analógico e o digital, o que vejo é estimulante e promissor. No tocante aos sentimentos derivados do amor, essa travessia tem se revelado profícua. Seria muito longo abordar em profundidade obras de arte, romances literários e filmes que prefaciam essa transição com ousadia. Cito apenas dois: "Blade Runner 1", onde homens naturais escravizam seres replicantes criados pela engenharia genética e, no final, o herói humano cai de amores por uma andróide; e "Her", que aborda a vida de um solitário escritor que mergulha numa relação amorosa com um avatar feminino ultrarrealista gerado pelo novo sistema operacional do seu computador. O escritor Theodore é um ser moderno lato sensu. Muito antes da aparição da Samantha, uma entidade virtual intuitiva e sensível que inspira amor e desejo, ele já sofria do sentimento de angústia em relação à vida e aos significados da existência. Aliás, angústia existencial é um sentimento (ou programa?) que mobilizou a geração do imediato pós-guerra e se estendeu nos muitos movimentos da contracultura de viés libertário que marcaram o século XX. O enredo de "Her" tangencia o resgate das musas da mitologia grega. Frequentemente, elas eram figuras femininas reais ou míticas que despertavam a criatividade, imaginação e o deleite dos artistas. Porém, é na criação e difusão da produção musical contemporânea que existem exemplos do trânsito suave da travessia dos paradigmas da modernidade e do que se convencionou chamar de pós-moderno para a era digital. Desde que substituí minha discoteca física (LPs/CDs/Blu-rays) por um canal do YouTube onde arquivo minhas playlists, um outro horizonte – não natural – descortinou-se. Quem frequenta com assiduidade essa plataforma sabe disso. Não se trata apenas de uma via de informação, mas de um cosmo de fluxos intermitentes de produções diversificadas jamais vistas, disponibilizadas nas pontas dos dedos. Assim, minhas interações de mão dupla nesse universo levam e trazem coisas que eu levaria séculos para coletar e fruir no formato analógico. Foi assim que tomei conhecimento de canais onde circulam produções e artistas os quais as tradicionais empresas de comunicação e entretenimento — seletivas por definição e ancoradas no mercantilismo — são incapazes de difundir. Constatei também que o AMOR ainda é o mais frequente tema para os criadores de conteúdo musical que "bombam" nas redes sociais. Para muitas pessoas pode parecer apenas uma simplória representação midiática do amor. Contudo, em meio ao turbilhão de produtos, é possível encontrar criações autênticas e sensíveis. E mais, é através desse meio digital que se percebe o quanto as ideologias e o dirigismo das velhas elites intelectuais estão defasadas no tempo e fechadas em si mesmas. Do ponto de vista da cultura geral em trânsito livre nas redes virtuais, esses movimentos são verdadeiras falácias. Certamente, por constatarem sua inexorável decadência, financiam milícias reacionárias para reprimir a liberdade de expressão e denunciar núcleos virtuais independentes e autônomos. Exemplo da capilaridade da comunicação virtual é a interface 'Reaction' do YouTube, onde milhares, talvez milhões de usuários, ancoram suas 'TLs' de apreciação comentada da produção musical da atualidade. Aqui vale um contraponto em relação às tradicionais fórmulas de análise crítica,fundadas na autoridade intelectual de especialistas eruditos versus opinião popular. No fluxo digital, percebe-se com clareza o quanto os movimentos sociais dirigidos por grupos autoritários, identitarismo/woke e dirigismo acadêmico, são insignificantes. A tese do racismo estrutural, por exemplo, só têm eco nos veículos tradicionais da grande imprensa, entre o professorado nos campi,a militância progressista,artistas e celebridades 'personalíssimas', abrigadas nas trincheiras do coletivismo politicamente correto, irmanados na crença de que o mundo só será melhor após eles salvarem a humanidade e o planeta(sic) . Cito um exemplo da falácia identitária : por volta de dois anos atrás, o grande sucesso nos 'reactions' foi a apresentação do compositor/cantor Chris Stapleton na premiação da CMA. Stapleton é um músico branco,natural do Estado de Kentucky, portanto,identificado como 'white country music'. Para desespero e frustração dos progressistas 'wokes' e identitários, sua composição 'Cold' — uma comovente canção de amor perdido — foi por dois anos a performance musical mais emocionalmente comentada e enaltecida nos 'reactions'. O dado relevante desse estrondoso retorno virtual é surpreendente. Contava-se, claro, que Stapleton seria ovacionado pelos cowboys texanos, pelas loirinhas 'countries' e pelos sulistas brancos e melancólicos, abastecidos de 'whiskey' do Tennessee. Para minha surpresa e talvez de todos, o que vi nos 'reactions' foi que os mais vibrantes e emocionados comentaristas da performance do Stapleton eram majoritariamente usuarios negros. Até mesmo negros voltados para o repertório blues/jazz/rap, avessos a 'country music', fizeram questão de postar 'reaction' emotiva enaltecendo à performance do músico. Essa reação é um choque de realidade na falange do racismo estrutural. O sentimento amoroso confirma-se de fato como uma virtude que transcende etnias, ideias, teorias e projetos políticos de direcionamento e controle social. Outro ponto que merece destaque são os canais de difusão para compositores e cantores desconhecidos da grande imprensa e invisíveis à indústria do entretenimento, como 'Colors'. Sucessos como Billie Eilish, hoje no auge da fama, tiveram suas primeiras apresentações públicas nesse canal. Suas refinadas e belas composições, bem como sua voz, falam de amor numa versão original e encantadora. Anamaria Sayre fala assim sobre ela: "Saudade é uma palavra portuguesa que pode ser definida, grosso modo, como um sentimento de melancolia, nostalgia ou anseio por algo amado, mas ausente. Não existe uma tradução perfeita, mas uma das expressões mais próximas que já vi em inglês para essa palavra é a performance de Billie Eilish em Tiny Desk. Você pensaria que a cantora nascida em Los Angeles inventou o termo. Cada respiração é tão cheia de melancolia indulgente e arrependimento esperançoso que, aos 22 anos, ela se tornou uma figura cativante do que significa, ou melhor, do que se sente, amar e perder simultaneamente." Noutra perspectiva, surgem composições que também falam de amor numa dimensão radicalmente platônica. Um caso que tem gerado polêmica é o do compositor Daxlin Vielo com sua balada romântica 'Sangrando Através do Silêncio' (Bleeding Through the Silence), que emociona milhares de usuários. Porém, sua performance vem levantando controvérsias, pois atribui-se a ele o fato de não existir como pessoa real. Dizem tratar-se de um robô sentimentalizado, como Hal de '2001: Uma Odisseia no Espaço' ou um tipo de robô sensualizado como a Samantha do filme 'Her'. Supõe-se que Daxlin seja uma criação virtual de um programador de IA que coletou milhões de informações, uma infinidade de poemas de amor,perda e dor, texturas musicais na órbita dos blues e baladas românticas, timbres de voz e sonoridade de grandes cantores e instrumentistas, passou tudo por um filtro seletor, juntou ao arquivo um avatar ultrarrealista de perfil nostálgico e solitário e deu 'vida' a um cantor de sucesso. Alguns se disseram decepcionados por chorar pelo sentimento de um avatar. Chorar ao som de uma triste música de amor é algo muito comum. Mas, chorar pela 'dor' de um programa computacional fala mais do sentimento de abandono do próprio usuário. O que nos leva a refletir sobre a carência que assola as sociedades dos nossos dias. E ela vem de longe. Derramar lágrimas "por algo amado, mas ausente", motivado por um ente hipotético/virtual , torna o lamento humano vergonhoso? Chorar por um amor perdido só é digno quando vivenciado intensamente no plano real? Essas são questões que vêm à tona no trânsito cultural que agora atravessamos. No desdobramento dessas reflexões, a expressão clássica: -"De onde viemos para onde vamos?" remete a questões existenciais de fundo sobre a origem e o destino da humanidade. O temor pelas mudanças em curso adicionou um alerta: até que ponto podemos ir sem que o sentimento de amor à vida e à humanidade nos abandone? A nostalgia frente ao eclipse da modernidade e aos percalços da convivência afetiva duradoura é mesmo a causa que resultou na liquidez do amor dando lugar a "ausência de solidez e candura, a tendência generalizada das relações amorosas serem cada vez mais fugazes,superficiais e descomprometidas."? Não creio! No vasto oceano das trocas sociais,o AMOR permanece o que sempre foi: fonte inesgotável de inspiração para obras de arte, belas poesias e boa literatura, densas e intrigantes dramaturgias e cenário atraente para os consumidores de folhetins sentimentalistas gerados pela indústria do entretenimento. Na política tem sido usado como slogan simplório por oportunistas e demagogos. No plano ético/moral foi inserido no discurso maniqueísta de membros da alta corte de justiça que se arrogam tutores da 'recivilização' e escrutinadores do bem e mal, do certo e errado. A institucionalização desses fatores no plano da política é intimidador. Objetiva judicializar a crítica, dissipar o contraditório,cercear e punir os debates públicos e as plataformas digitais. Isso projeta um mundo sombrio. Tão temeroso quanto os piores recortes da história. 
 Só a liberdade torna as sociedades mais humanas,as pessoas mais seguras de si e abertas ao amor verdadeiro e real. 

 Rio de Janeiro,12 de Junho de 2025 

Adriano de Aquino






 

terça-feira, outubro 01, 2024

Quando Coppola, após longos anos silente, reaparece no cenário artístico com uma obra, sou apanhado pela sensação de que Fênix é o elemento mitológico que melhor expressa o magnifico, irreverente e substancioso poder da criação. Depois de ler alguns comentários de especialistas em 'showbiz' sobre Megalópoles, a realização recente de Coppola, antes mesmo de ver o filme, tive a impressão de que mais uma vez esse artista atingiu em cheio o que considero o cerne de todo processo criativo inovador e surpreendente. Um artista que propõe a si mesmo a ousadia de romper com os parâmetros estéticos de seu tempo e atravessar o umbral do inusitado, impacta o senso comum, formatado por personalidades da alta cultura que se arrogam os tutores do gosto e da empatia do público ávido por novidades mas que não se sente abalizado para avaliar o que vê, lê ou escuta sem que um mestre/crítico, agora convertidos em 'coaches' coisa que, aliás, sempre foram, lhe forneça a senha, as referencias cults e as razões(sic) de porque deve admirar ou não o que tem diante de si. Um comentarista especializado postou que Megalópoles o surpreendeu negativamente porque não lhe ofertou o Coppola que sempre admirou. Ele ficou frustrado porque o autor dos clássicos 'The Godfather' conspurcou seu legado ao assumir a criação de um filme 'confuso e chato' no crepúsculo da vida. Eu, exatamente por motivo inverso, como escrevi na página Instagram do Coppola, onde acompanhei a fase de lançamento do Megalópoles, considero que o desafio maior de um artista não é apenas ser talentoso mas, sábio o bastante para escapar das armadilhas culturais que levam à auto emulação que o prende à constante repetição da fórmula que outrora o consagrou junto aos especialistas e o tornou um ícone do gosto público. O fenômeno da Fênix é, para mim, a experiencia existencial mais gratificante que um artista tem o privilégio vivenciar.

sexta-feira, outubro 20, 2023

Harvard perde apoio de bilionários após carta pró-Palestina https://www.poder360.com.br/internacional/harvard-perde-apoio-de-bilionarios-apos-carta-pro-palestina/ Comento: Se os lideres das agremiações de alunos de Harvard acham que 'Guerra ao Terror' é uma guerra desproporcional entre povos fronteiriços, os patronos dessa universidade deveriam não só parar de abastecer o caixa da instituição. Minha sugestão é que os patronos desse bando de desinformados, proponham aos centros acadêmicos um plesbicito com dois itens e uma conclusão: 1- que todos os recursos destinados ao fundo estudantil sejam doravante destinados a uma Comissão de Recuperação do Povo da Palestina, que virá a ser constituída fora do âmbito acadêmico. Tal iniciativa se basearia nas considerações criticas sobre as virtudes e falhas do Plano Marshal, que ajudou na reconstrução da Europa, após a devastação da Segunda Guerra Mundial. Que essa Comissão seja integrada apenas por gente isenta ao ativismo e politicagem estudantil. 2- que essa Comissão seja composta apenas por gente com alta capacitação em temas de alta complexidade. Excluindo-se membros dos corpos docente e discente de Harvard, tendo em vista que os mestres da instituição são corresponsáveis pela baixa capacitação cognitiva dos seus discípulos no que tange a distinção gritante entre grupos terroristas e povo em geral. Conclusão: considerando-se a baixa rentabilidade cognitiva dos alunos de Harvard frente aos volumosos recursos destinados pelos super ricos, a criação dessa Comissão Curatorial reverteria em benefícios concretos para o povo da Palestina. Extirparia os focos do terrorismo que ronda a região, oprimindo e barbarizando o povo palestino com objetivo único da extinção do Estado de Israel e seu povo. Detalhe: É prudente que essa Comissão não tenha qualquer vinculação com a ONU e o Parlamento Europeu que por anos vive sob a pressão de investidores e políticos coniventes e indecisos na definição do Acordo Nuclear com o Iran.

quinta-feira, outubro 05, 2023

Ainda bem que o aforismo "Não me associo a um clube que me aceite como sócio" do Groucho Marx, é compartilhado por bilhões de pessoas mundo afora. O clube dos super ricos é uma creche para terceira idade que junta gente que herdou fortunas e gente que por esforço e competência fez a própria fortuna.Entretanto, ao serem aceitos pela diretoria, as diferenças existenciais se dispersam e se transformam em uma massa homogênea empenhada em garantir seu alto padrão de vida. Mal comparando parece o Congresso Nacional, onde a maioria canalha exerce um poder enorme sobre os neófitos cheios de boas intenções. O fato é que os sócios do Fórum Global se acham o sócios proprietários do planeta. Ao darem uma tacada de golfe, imaginam que a bolinha é a Terra e ele o senhor do universo, com o poder de organizar o equilíbrio dos planetas. A começar pela Terra. O afã desses sócios é criar condições ideais para manter o seu alto padrão de vida. Para isso é necessário reduzir a população de terráqueos. Lembram do filme 'Soleil Vert'? O argumento é um pouco inspirado nos grandes autores de ficção científica dos anos 50/60. O filme é sombrio mas, comparado com as insanidades dos sócios do FG, é bem mais instigante porque tocava em dois grandes problemas da humanidade com uma provocação moral: até que ponto vai seu humanismo, quando se trata de sobrevivencia da espécie. Um velho, outro novo. O velho é a Fome. O novo a Superpopulação. 'Soleil vert' é uma ficção futurista focada nesses dois polos. Naquele mundo a fome era grande. A solução do Fórum dos Poderosos era seletiva e pragmática. Uma usina de reciclagem de proteína humana atacaria radicalmente os dois problemas, reduzindo a população e suprindo a comunidade dos eleitos com as proteínas necessárias para manter a vida. Um biscoito(Soleil Vert) nutritivo, feito com a matéria prima de corpos humanos com data de validade vencida, era a principal fonte de proteina. O programa concedia aos vendedores dos próprios corpos- gente das camadas mais pobres, velhos,incapacitados e indigentes dos subterrâneos da sociedade-o direito de vender seus corpos para suprir a produção de proteínas para alimentar o povo do andar de cima. A fórmula era oferecer o conforto de um suicídio assistido, onde o infeliz desfrutaria das sensações de um mundo lindo e experimentaria sensorialmente momentos de êxtase, transcendência e felicidade. Aqui,nesse ponto,vale uma observação. Quando esse filme foi lançado as polticas de ação afirmativa estavam circunscrita aos debates entre um pequeno número de intelectuais e tímidas investidas acadêmicas. Na ocasião do lançamento o filme foi negligenciado por tratar a vida humana(corpo&alma)como matéria prima reciclável para manter o abastecimento de nutrientes para as classes mais ricas enfrentarem a Fome. Hoje, talvez não tivesse o mesmo impacto tendo em vista o predominio das políticas de ação afirmativa, tipo 'meu corpo minhas regras' que não se restringe apenas ao auto domínio feminino de decidir sobre a vida de um feto indesejado mas vale também para a venda de órgãos,não apenas de cadáveres mas, também, de gente viva como crianças sequestradas e gente necessitada que, tendo dois rins, pode vender um para abrandar a miséria. Os associados do Fórum Global usam de uma retórica salvacionista planetária mas omitem dizer claramente quem precisa morrer ou não nascer, para que o aquecimento global seja estancado. Dentre as hipocrisias da classe política, ONU, Ongs etc, a subserviência ao Clube dos Super Ricos é a mais evidente. A banalização da vida da gente pobre e infeliz, que se mata na linha de frente da gigantesca produção de bens de consumo que, ao fim e ao cabo, reverte inexoravelmente em poluição e desastres ambientais(sic)é,no fundo, o que teóricos do Fórum Global pretendem eliminar. O desejo oculto desse clan é reduzir pela metade a população global. Suponho que exista um grande estoque de robôs prontos para executar de forma mais limpa e econômica o que hoje faz o contingente humano de mão de obra. O paradoxo do clube dos super ricos é pretender salvar o planeta exterminando metade da população. Mas dizer isso assim, na lata, fica grotesco e desumano. Na dramaturgia e na arte os delírios são impulsos criativos. Quando desce pro plano da realidade objetiva, vira doutrinação estúpida e celeiro dos novos profetas do Apocalipse. Disparar a paranoia anti viral é uma das táticas da grande estratégia do Fórum Global, que fomenta nas mentes incautas o delírio de enfileirar 'corpos mortos pela covid', num cordão humano que preenche a distância que separa a Lua da Terra. BILL GATES FALANDO SOBRE REDUZIR A POPULAÇÃO MUNDIAL YOUTUBE.COM

sábado, setembro 30, 2023

A passiva mediocridade da cultura contemporânea me passa uma sensação desoladora. A Era da Informação descortinou novos horizontes para o conhecimento,sem dúvida. De repente, o mundo livre, plural e criativo aflorou diante dos nossos olhos e no tocar dos dedos. Logo de início o 'status quo' sentiu-se ameaçado pela quebra de hierarquias e a abolição dos comuns. Depois, reagrupando forças no ideário woke e na caretice vitimista 'politicamente correta' , eles voltaram com tudo, cobrando alto custo para a liberdade de expressão,empurrando para o degredo as inteligências transgressoras e silenciado o espírito outsider. Paradoxalmente, o plasma embrionário resultante da ruptura da cultura digital, invés de dar vida plena às mais elevadas virtudes, deu origem a tipos cheios de certezas, altruístas pragmáticos revestidos de moral suprema, que interpretam não apenas a Constituição mas a vontade do todo social. Eles nada desejam para si Dedicam suas vidas para normatizar o 'bem comum'. Hordas de defensores dos oprimidos -por 'outros' que não eles mesmos- transitam com orgulho nas esferas virtual e presencial. Jornalistas lacradores, influencers serviçais, acadêmicos tutelares, artistas complacentes, até mesmo diante do evidente cerceamento das liberdades individuais, sentem-se representados pela reedição do 'status quo' progressista pós moderno. Na esfera social mais ampla, o desejo foi publicamente criminalizado e obliterado pelo identitarismo de gênero e, por aí afora. Falar publicamente do desejo virou ofensa social. Hoje, esse tipo de sentimento humano só deve ser compartilhado nas conversas terapêuticas. Ainda é permitido ter nas prateleiras das livrarias obras literárias de um transgressor dos costumes, como Nelson Rodrigues. Os artistas visuais que exaltam a sexualidade, devem ter como medida estética, parâmetros que exaltem a identidade de gênero. Desejo,não! A ária progressista "Avançar socialmente" (sic) é uma armadilha para extrair a identidade do indivíduo e dar vida ao coletivo domesticado. É um ardil cruel. O retorno dos que nunca partiram, é exaltado como o reino superior dos oráculos da democracia. Mas, no nivel do mar, aos olhos dos comuns o que fazem deliberadamente é interromper e censurar o livre fluxo de ideias, vendendo o truque igualitário como simulacros de respeito à diversidade, ocultando dos ingênuos e incautos sua verdadeira face de consenso opressor.

segunda-feira, setembro 11, 2023

Ainda que não tenhamos um quadro claro sobre as transformações advindas da universalização da cultura digital, o que me vêm a mente são os métodos recorrentes nas simplificações de novos termos no meio social. O mesmo parece acontecer agora em relação ao termo 'disruptura' que, em analogia ao termo 'ruptura' do periodo da 'vanguarda historica', me parece uma discrepância reducionista. Os impulsos que culminaram nos movimentos da vanguarda historica,que antecedeu os varios grupos da 'contra cultura' e posteriormente se amalgamou no que se convencionou chamar de 'pós modernismo' .Para mim, é um acúmulo de equivocos que servem apenas para legitimar estilos,porém,não penetraram profindamente na mentalidade do nosso tempo. Sempre haverá inquietação sobre os desdobramentos da cultura. Lembro quando o pensador francês Lyotard transpôs o termo Pós Modernismo para vetores da produção artistica/ cultural,em meados do século XX. O termo teve origem entre engenheiros e economistas para datar o acesso às novas tecnologias de produção, posteriores à Era Industrial. Contudo, trouxe algum conforto e aparentemente suprimiu dúvidas no meio cultural. Logo o termo foi apropriado por milhares de pessoas das artes e cultura do período.Aquela época foi marcada por grande ansiedade. Buscava--se um termo(ideia) que identificasse e até certo ponto legitimasse uma produção que romperia(sic) em definitivo, os padrões estéticos (significado/mensagem) da modernidade consagrada, digamos assim. O vago paradigma pós moderno foi campo fértil para florescer a ideia de que "tudo é arte e todo mundo é artista".Pretensão ingênua, fundada em um conceito tosco de que se tratava de uma ruptura capaz de destruir hierarquias e padrões estéticos antecedentes. Até meus amigos, adeptos das teorias 'desconstrucionistas', viam aquilo como uma ode ao 'laizes faire' juvenil. Vale lembrar que naquela ocasião, entre os vetores da cultura, as empresas de comunicação surfaram numa onda de prosperidade e atingiram indices fabulosos em volume de público/espectador/leitor, quanto em poder econômico. Então, surge a Era da Informação. Logo em seguida os desdobramentos da Internet em sites e plataformas digitais de comunicação interpessoal em escala global. O que até então parecia um futuro promissor, da noite para o dia, se revelou uma surpreendente realidade . O que muitos achavam que seria um processo cultural gradual, foi veloz e abrangente. A disruptura digital foi fulminante. Pegou a todos mais rapidamente do que supunham e desejavam. Foi um fenômeno que penetrou profundamente na mentalidade de milhões de pessoas mundo afora,independentenente das suas peculiaridades culturais e características regionais. Em resumo; refletir ou projetar o presente pelo viés da cultura analógica, é,hoje, uma tarefa árdua que pode reverter em solitária melancolia e também em grandes frustrações para editorias empresariais que detinham a hegemonia da comunicação social.

quinta-feira, janeiro 12, 2023

“A ciência do século 21 desempenhou um papel relativamente pequeno no controle da SARS(...)Estamos cansados de mascarar e colocar em quarentena, disse Alan Schnur, especialista aposentado da OMS em doenças transmissíveis que trabalhou no surto de SARS na China. Na China, as pessoas não mexem com o governo(...)Com a autocracia, você não tem pessoas armadas aparecendo nas capitais dos estados dizendo: Estamos cansados de máscaras e quarentena".Essas e outras citações constantes do texto Bob Davis,postado no site Foreign Policy em 08 de Janeiro do corrente ano, apontam para uma questão crucial: onde pode-se hoje vislumbrar a fronteira que separa as nações democraticas dos regimes autoritários? Não apenas os procedimentos centralizados no combate a pandemia,as decições monocraticas da mais alta corte judicial do país colocam em alerta o cidadão quanto as garantias do seu direito civil de opinar,expressar seu pensamento e se manifestar publicamente no tocante aos temas de natureza política,saude publica etc. Seja no plano do combate à pandemia,seja no plano politico,hoje,é quase impossivel identificar o ponto da fronteira que separa regimes autocraticos das nações democraticas. Afinal,em'nome da democracia e da ordem social',a censura,multas,punições e mandados de prisão,sem direito de defesa e sem o conhecimento dos autos pelos representantes legais dos supostos criminosos acusados de terrorismo,podem ser realizaddos tanto pela policia do regime chinês como no Brasil.
GettyImages Bob Davis "A China transformou sua forma de lidar com o COVID-19 em uma propaganda de autocracia, gabando-se de como seu sistema político permitiu salvar vidas, enviar vacinas para países pobres e se tornar o fornecedor mundial de equipamentos de proteção. “A julgar pela forma como esta pandemia está sendo tratada por diferentes lideranças e sistemas [políticos] em todo o mundo, [podemos] ver claramente quem se saiu melhor”, disse o presidente chinês Xi Jinping no início de 2021 na Escola Central do Partido em Pequim. Mas com o COVID-19 agora se espalhando como uma tempestade de poeira pela China, enchendo crematórios e esvaziando lojas e hospitais de remédios, Pequim não parece mais uma vencedora. As estimativas de mortes nos próximos seis meses vão de 1 milhão a 2 milhões . No conflito entre democracia e autocracia, que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou ser a batalha que define esta geração, comentaristas da esquerda e da direita estão marcando este ponto para a democracia. Governos autocráticos “não podem admitir erros e não aceitam evidências de que não gostam”, elogiou Paul Krugman , do New York Times . “Afinal, a economia da China não ultrapassará a dos Estados Unidos em tamanho até 2035”, por causa das políticas COVID-19 de Xi, regozijou -se o conselho editorial do Wall Street Journal , citando um trabalho de pesquisa japonês e vinculando as falhas ao sistema político da China. No entanto, por mais arrogantes que tenham sido as declarações de vitória da China, os resultados da pandemia dificilmente são uma vitória por nocaute para a democracia. Cerca de 300 americanos por dia ainda morrem de COVID-19, e os níveis relativamente altos de proteção desfrutados pela população dos EUA são resultado de uma infecção generalizada – e das mortes de mais de 1,1 milhão de americanos que vieram com ela – bem como de vacinas de alta tecnologia. As campanhas de saúde pública para controlar a pandemia enfrentaram a oposição de políticos de direita e milhões de céticos do COVID-19, trocando histórias em sites de mídia social proibidos na China. E embora a velocidade do surto de COVID-19 na China seja de tirar o fôlego - e as autoridades estejam encobrindo o número de mortos -, os analistas de saúde pública não esperam que a China iguale o histórico lamentável dos Estados Unidos ao lidar com o vírus. Per capita, seriam necessárias cerca de 4,5 milhões de mortes para que o número de casos de COVID-19 na China se igualasse aos Estados Unidos. O COVID-19 testou democracias e autocracias igualmente - e a maioria falhou de maneiras diferentes. Os Estados Unidos e a China são os exemplos mais proeminentes, mas sistemas da democracia peruana à autocracia russa estragaram suas respostas à pandemia. Em alguns casos, a competição entre sistemas políticos pode ser benéfica. A corrida entre os Estados Unidos e a União Soviética para levar um homem à Lua, por exemplo, deu um grande impulso aos gastos com ciência e ampliou os limites da tecnologia microeletrônica, necessária para uma missão lunar. Mas uma pandemia exige que os países compartilhem informações, coordenem bloqueios e trabalhem em conjunto no desenvolvimento de vacinas. Nada disso ocorreu. A China ocultou informações, bloqueou investigações internacionais sobre a causa da doença e fez com que seus diplomatas fizessem alegações de que o vírus surgiu nos Estados Unidos. Os Estados Unidos, sob o então presidente Donald Trump, rotularam o COVID-19 de “vírus da China” e culparam a China por seus problemas políticos. Relações geladas continuam sob Biden. De muitas maneiras, a resposta inicial da China foi uma repetição de seu tratamento inicial abafado do surto de SARS quase duas décadas antes. Depois de tentar esconder o surgimento de um vírus mortal transmitido pelo ar – mais tarde apelidado de síndrome respiratória aguda grave, ou SARS – na província costeira de Guangdong no final de 2002, a China colocou em quarentena os afetados e seus contatos próximos. Cinemas, discotecas, campi universitários, locais de trabalho e outros locais públicos fecharam enquanto as autoridades tentavam convencer os chineses em pânico a não fugir das grandes cidades e espalhar a doença para o interior. Em poucos meses, o vírus foi contido. Globalmente, 8.098 pessoas adoeceram com SARS, incluindo 774 que morreram - números que parecem dolorosamente pequenos na época do COVID-19. Nenhuma vacina nova ou nova tecnologia foi necessária para combater o vírus. “A ciência do século 21 desempenhou um papel relativamente pequeno no controle da SARS”, concluiu uma revisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2006. “As técnicas do século 19 continuaram a provar seu valor”. Enfrentando um coronavírus diferente em 2020, a China voltou ao manual da SARS, mas em grande escala, bloqueando vastos segmentos da população com muito mais firmeza do que os países europeus que tentaram uma estratégia semelhante, como a Itália, poderiam sustentar. Embora a estratégia tenha ganho um tempo valioso para vacinar, ainda que de forma incompleta, a população chinesa, ela falhou em derrotar o vírus. A SARS era muito menos infecciosa que o COVID-19 e só se espalhou depois que as pessoas desenvolveram sintomas, como febre alta. As quarentenas impediram a replicação do vírus. Não houve essa sorte com o COVID-19, que foi espalhado por pessoas que não apresentavam sintomas e correu pelo mundo depois que as autoridades chinesas suprimiram as informações sobre o surto inicial em Wuhan e não agiram rapidamente. Diante de um inimigo implacável e inconstante do vírus, a China construiu uma vasta burocracia de testes, vigilância e bloqueio para impor sua política de COVID-0. Mas a estratégia não tinha um objetivo claro. Em outros países que tinham controles rígidos, como Nova Zelândia e Austrália, esse tempo foi usado para vacinar a população e, quase tão crucialmente, construir o sistema de saúde para se preparar para a chegada inevitável de um surto em grande escala. Na China, a energia dedicada a manter o COVID zero consumiu tempo e recursos, e o investimento em saúde encolheu em 2020 e 2021. Os bloqueios na China e em outros lugares tiveram um custo enorme, destruindo as cadeias de suprimentos, criando escassez e estimulando a inflação. Também forçou os alunos a saírem das salas de aula e a entrarem em suas casas atrás de telas de computador e dificultou que os pacientes procurassem médicos por outras doenças além do COVID-19. É difícil avaliar se as democracias ou autocracias lidaram melhor com esses diferentes desafios – especialmente em um país como a China, onde a capacidade de fazer pesquisas locais sem restrições é extremamente limitada. Na China, as desvantagens de uma resposta autocrática tornaram-se cada vez mais aparentes à medida que a pandemia se arrastava, principalmente a relutância do responsável em mudar de rumo. Ao longo de 2022, Xi concentrou-se no próximo 20º Congresso do Partido em outubro, alardeando sua forma de lidar com o COVID-19 como outra justificativa para seu terceiro mandato sem precedentes e empilhando o Comitê Permanente do Politburo com aliados. “Ao responder ao surto repentino de COVID-19, colocamos as pessoas e suas vidas acima de tudo, trabalhamos para prevenir casos importados e ressurgimentos domésticos e perseguimos tenazmente uma política dinâmica de zero COVID”, disse ele ao Congresso do Partido, repetindo a mesma linguagem que havia usado em uma reunião de julho. A política rígida de Xi incluiu uma recusa em importar vacinas mais eficazes desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa usando a nova tecnologia de mRNA. A política rígida de Xi incluiu uma recusa em importar vacinas mais eficazes desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa usando a nova tecnologia de mRNA. Importar ocidentais seria visto como uma admissão de que a tecnologia chinesa era menos capaz, especialmente se os chineses migrassem para alternativas ocidentais. A China estava enviando milhões de doses de sua vacina Sinovac para nações pobres. “Como a China poderia persuadir outros países a importar suas vacinas se aprovava as vacinas ocidentais… reconhecendo assim implicitamente sua superioridade?” disse Minxin Pei, especialista em política chinesa no Claremont McKenna College. A liderança chinesa também rejeitou os esforços para aliviar os bloqueios de zero COVID, que estavam prejudicando a economia e semeando o descontentamento popular. Em abril de 2022, a Câmara de Comércio da União Europeia na China pediu discretamente ao vice-primeiro-ministro Hu Chunhua em uma carta para facilitar os bloqueios para aqueles que foram vacinados e importar vacinas ocidentais. Os requisitos Zero-COVID estavam “causando interrupções significativas, estendendo-se desde a logística e produção até a cadeia de suprimentos na China”, reclamou a Câmara Europeia na carta, que não foi divulgada publicamente. Alguns no governo chinês foram simpáticos e esperavam usar a pressão estrangeira para convencer a burocracia a relaxar, disse Jörg Wuttke, presidente da Câmara Européia. Mas o plano foi rapidamente rejeitado depois que se tornou público. Em uma reunião do Politburo em maio de 2022, Xi dobrou a aposta em zero-COVID, dizendo que o controle da pandemia havia atingido um “estágio crítico”. No Congresso do Partido, Hu, antes considerado uma estrela em ascensão, foi afastado do Politburo. Em julho de 2022, um plano das autoridades municipais de Pequim para exigir vacinação para entrar em cinemas, museus e outros locais públicos foi cancelado após pouco mais de um dia. Os bloqueios tornaram-se tão arraigados quanto a resposta ao COVID-19 que as vacinas se tornaram suspeitas, principalmente em um país com histórico de medicamentos adulterados e outros escândalos de segurança. Ansioso para proteger sua posição emergente como uma alternativa de manufatura à China, afrouxou muitas de suas restrições em setembro de 2021. “Não podemos recorrer a medidas de quarentena e bloqueio para sempre, pois isso causará dificuldades para as pessoas e para a economia”, o primeiro-ministro Pham Minh Chinh disse na época. As autoridades vietnamitas se concentraram no que chamaram de “viver com o COVID-19”. No geral, a taxa de mortalidade do Vietnã por COVID-19 é cerca de 15% da dos Estados Unidos. Cingapura, uma autocracia mais branda, também se ajustou rapidamente. Como uma ilha, era mais fácil para Cingapura bloquear os viajantes. Contava também com um estabelecimento independente de saúde pública de confiança da população. Mesmo antes do surto de COVID-19, o governo construiu um hospital de doenças infecciosas que geralmente fica apenas parcialmente cheio, disse Deborah Seligsohn, especialista em governança chinesa da Universidade Villanova, “para que tivesse capacidade extra necessária para uma pandemia”. Na China, o governo finalmente cedeu cerca de um mês após o Congresso do Partido. Com o aumento dos protestos políticos e a estagnação da economia, o governo subitamente suspendeu quase todas as restrições no início de dezembro. Essencialmente, declarou vitória, argumentando que a variante omicron não era tão mortal quanto as anteriores e mantendo em segredo a contagem de infectados, hospitalizados e mortos. “O período mais difícil já passou”, escreveu a agência de notícias estatal Xinhua em um comentário de dezembro. Jornalistas ocidentais relatam crematórios trabalhando 24 horas por dia, 7 dias por semana, hospitais lotados, ruas vazias da cidade enquanto as pessoas continuam a se agachar e escassez de remédios. Wuttke, o presidente da Câmara Europeia, disse que seus membros agora devem planejar paralisações generalizadas quando os trabalhadores adoecerem ou temerem se apresentar ao trabalho. As mortes são estimadas em 9.000 ou mais por dia. “Com a autocracia, você não tem pessoas armadas aparecendo nas capitais dos estados dizendo: 'Estamos cansados ​​de máscaras e quarentenas'. Na China, as pessoas não mexem com o governo.” Mas o vírus também expôs os problemas da democracia na resposta às crises de saúde pública. Embora o talento científico e a riqueza dos Estados Unidos tenham ajudado a produzir vacinas poderosas usando novas tecnologias apenas um ano após o surgimento do COVID-19, o sistema político dos EUA não conseguiu convencer pessoas suficientes a arregaçar as mangas para evitar centenas de milhares de mortes. Antes da pandemia, os Estados Unidos eram considerados os mais bem preparados de 195 nações para lidar com uma pandemia, de acordo com o Global Health Security Index, um projeto do Johns Hopkins Center for Health Security e da Nuclear Threat Initiative, uma organização antinuclear. . Isso provou ser arrogante. Os Estados Unidos tiveram problemas para realizar testes COVID-19, compartilhar informações sobre a propagação do vírus e coordenar respostas federais e estaduais. “Muitas vezes, os dados compartilhados entre as agências de saúde pública eram enviados por fax”, disse Angela Rasmussen, virologista da Organização de Vacinas e Doenças Infecciosas da Universidade de Saskatchewan. Políticos populistas se opuseram ao uso de máscaras faciais e se opuseram aos mandatos de vacinas. Trump e algumas autoridades promoveram curas malucas para o COVID-19, incluindo hidroxicloroquina , um medicamento antimalárico, e subestimaram as vacinas que seu governo ajudou a criar. Líderes populistas de outros países, particularmente México e Brasil, seguiram o exemplo. “Com a autocracia, você não tem pessoas armadas aparecendo nas capitais dos estados dizendo: 'Estamos cansados ​​de mascarar e colocar em quarentena'”, disse Alan Schnur, especialista aposentado da OMS em doenças transmissíveis que trabalhou no surto de SARS na China. “Na China, as pessoas não mexem com o governo.” Enquanto isso, a mídia social ajudou a espalhar visões conspiratórias de que o perigo do COVID-19 foi exagerado e o número de hospitalizações e mortes exageradas. As teorias da conspiração, geralmente uma marca registrada das autocracias sem uma imprensa livre capaz de separar o fato da ficção, também se tornaram uma característica mais proeminente das democracias. Aproximadamente a mesma porcentagem de americanos com mais de 80 anos recebeu duas injeções na China e nos Estados Unidos. Em 2021, Yanzhong Huang, membro sênior de saúde global do Conselho de Relações Exteriores, previu com confiança que os Estados Unidos alcançariam a “imunidade de rebanho” à frente da China. Agora, ele diz que superestimou a capacidade do governo Biden de convencer os americanos a serem vacinados e reforçados. “O ambiente político acabou sendo mais prejudicial”, disse ele. Em um dos indicadores mais reveladores de fracasso, a expectativa de vida chinesa superou a dos Estados Unidos durante a pandemia pela primeira vez desde que as Nações Unidas começaram a manter registros em 1950, quando os americanos foram atingidos pelo COVID-19 e overdoses de drogas. Outras democracias, no entanto, se saíram melhor, particularmente a Austrália e a Nova Zelândia, ambas nações insulares, onde era mais fácil fechar as fronteiras para forasteiros infecciosos. Em ambos os lugares, a fé no sistema político, de acordo com pesquisas do Pew Research Center, era muito mais forte do que nos Estados Unidos. Mas a Coreia do Sul – uma nação com níveis de desconfiança dos EUA no governo – também teve um bom desempenho. Lá, o governo se concentrou em testar rapidamente o COVID-19, rastrear os infectados e convencer as pessoas a ficar em quarentena. Mais do que o dobro da porcentagem de sul-coreanos receberam reforços de vacinas do que os americanos. A porcentagem de pessoas que morreram de COVID-19 é um quinto da dos Estados Unidos. “É muito difícil fazer uma declaração geral sobre qual regime político respondeu à pandemia de forma mais eficaz”, disse Pei, o estudioso de Claremont McKenna. O desempenho varia entre democracias e autocracias, disse ele, e dentro de cada sistema. O mais importante, disse Rasmussen, o virologista, é que democracias e autocracias trabalhem juntas na saúde pública, em vez de se concentrarem em culpar umas às outras, como os Estados Unidos e a China fizeram em grande parte. “O que é realmente necessário é capacidade de vigilância genômica onde ela não existe” para encontrar vírus antes que eles se espalhem, disse ela. “Você realmente não sabe quantos outros coronavírus estão ao nosso redor.” Bob Davis cobriu as relações econômicas EUA-China por décadas para o Wall Street Journal. Ele é o coautor de Superpower Showdown: How the Battle Between Trump and Xi Threatens a New Cold War .