domingo, fevereiro 19, 2012

Pérolas & Porcos


Produzir bens duráveis,gerar conforto e suprir as demandas de consumo são itens  que se tornaram imprescindíveis à vida contemporânea.  Cada dia que passa aumenta o arsenal de produtos disponíveis no mercado. Com isso o refugo se amplia enormemente e as técnicas de descarte não conseguem acompanhar o ritmo. Nos paises mais ricos esse contraste se agrava a cada dia,nos paises pobres, onde o consumo é mais reduzido,o problema também é grande e  não pode ser desprezado. Até que as campanhas de reciclagem surtam efeitos concretos e a cultura da seleção criteriosa e o tratamento correto dos dejetos se torne uma realidade seremos obrigados a conviver lado a lado com as pocilgas.Além disso,a tendencia em acumular novos problemas sem solucionar problemas do passado é uma  característica humana a ser considerada.Desde o lançamento do Sputnik -o primeiro objeto a entrar em órbita em 1957 - a evolução tecnológica permitiu que naves, foguetes e outras centenas de satélites explorassem o espaço tranquilamente.Atualmente, cerca de 17.000 destroços com mais de 10 centímetros giram em torno da Terra. Por volta do dia 20/09/2011,  a Nasa informou que um satélite americano desativado de 6,3 toneladas ingressou  na atmosfera terrestre e se desintegrou, provavelmente sobre o oceano Pacífico, no oeste dos Estados Unidos.A agencia não sabe exatamente aonde caíram os destroços.Tempos atras um satélite russo colidiu com outro americano. Esses fatos reacenderam  o debate sobre os riscos do acúmulo de lixo espacial para quem vive aqui embaixo. Os avanços do conhecimento humano não tem preço mas, enquanto os buracos negros não provem o contrario, a vida humana sobre o planeta é um fenomeno precioso que merece ser preservado.Quando medidas concretas serão efetivamente aplicadas? Para quem vive aqui embaixo é uma incógnita.  
Adriano De Aquino

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Faíscas civilizatórias



Adriano de Aquino
fevereiro de 2012
A importância da internet e das redes sociais na vida contemporânea transcende os recursos técnicos e o seu alcance global. Tanto isso é um fato que o físico Michio Kaku e o biólogo da evolução Mark Pagel divergem radicalmente sobre aspectos do sistema que em certa medida, são invisíveis aos milhões de usuários da rede mundial de computadores. O único ponto que os dois têm em comum é o fato de que estamos vivenciando um importante processo de transição cultural. No resto, é só confrontação. Ótimo que esse confronto de ideias ocorra à luz dos refletores e não no ambiente fechado dos titulares e doutos em alta especialização sobre temas complexos da atualidade.
Concordo.Não ha duvida de que estamos no limiar de uma nova cultura. A ponta visível dessa nova cultura é extremamente atraente e sedutora. Ela oferece ao público sistemas complexos de processamento de dados em meio à transição da metodologia analógica para a digital. Se isso já é, em si, um mega desafio, acrescente-se o fato de que ao mesmo tempo processa-se a substituição de plataformas tecnológicas. Tudo de modo rápido, direto, ultra eficiente e quase imperceptível para o usuário. Os novos desenhos de produtos motivados por essa indústria se sucedem velozmente. Quase todo dia novos equipamentos, cada vez mais velozes e fáceis de operar, surgem nas vitrines. Além disso, numa rápida olhada, a cultura digital é pródiga em facilidades. Nela os meios e os fins cabem na palma da mão e são sensíveis ao toque dos dedos. É claro que além da utilidade e beleza dos objetos, os preços praticados pela indústria eletrônica de ponta é cada dia mais acessível a uma maior gama de  consumidores.Um fator preponderante para o sucesso desse setor é que esse meio de comunicação encurta a distancia não apenas entre amigos e serviços, mas,também, entre o individuo, os fatos e as celebridades, em tempo real, mundo afora.O brilhantismo ou deslize de um personagem político e a gafe de uma celebridade podem ser rapidamente compartilhados por milhares de seguidores. Essa maravilha da comunicação em rede dá ao usuário a sensação de que todos que transitam no ciberespaço são protagonistas dos fatos mais importantes da atualidade o que, inexplicavelmente, lhes confere uma espécie de poder de desviar consciências e alterar a realidade. Centenas de Viral Vídeo Chart em prol da democracia na Síria, posts sobre os resultados do último Grammy, álbuns de fotos de amigos da juventude 'quando o mundo era muito melhor', copy/paste de matérias jornalísticas, textos, trechos bíblicos, filosóficos, manifestos políticos, etcetera, transitam na rede num tal volume de dados que seria possível montar uma biblioteca de Alexandria a cada 24 horas.  As redes sociais despertaram milhares de ativistas políticos que transferiram a velha pratica dos comícios relâmpagos para o ambiente cibernético onde conclamam o povo a aderir as mais variadas formas de ação política e,em casos mais prosaicos, a uma salvadora orientação espiritual em prol do sucesso pessoal,rumo a felicidade, através da devoção cibernética a Deus.Contudo, os aplicativos das redes sociais servem, de fato, às trocas de ideias,talentos,fatos e mexericos na esfera virtual. Os posts e comentários são curtidos em alguns casos, apenas por uma dezena de amigos. Ver mais que isso é cultivar a esperança no surgimento de uma nova utopia. Uma utopia virtual que se disseminaria por entre postagens, conclamando a participação do internauta em causas libertarias que empolgam multidões, ultimam revoluções vitoriosas e propõe libertar presos políticos na China, em Cuba e nos mais remotos cantos do planeta onde grassa a opressão.
Michio Kaku é um entusiasta da internet e das redes sociais. Ele está agora no Brasil participando de alguns eventos no Campus Party. Ontem, numa entrevista ao site de VEJA ele se revelou um adepto da transformação que vem sendo propiciada pela internet. Na ocasião chegou a afirmar que o destino do Facebook é crescer e que seu papel na sociedade é o mesmo exercido pela fogueira ao longo do processo civilizatório: "se, no passado, o ser humano se reunia em torno do fogo para contar e ouvir histórias, hoje, as pessoas usam a plataforma para compartilhar o que sabem e se informar. Ainda trocamos informações sobre quem fez o quê, quem está se destacando, quem está seguindo tendências, quem está se envolvendo em escândalos".
Mark Pagel,ao contrario de Michio Kaku,acredita que estamos sendo amansados por grandes coisas sociais que acontecem na Internet, como o Facebook. Segundo ele estamos sendo domesticados por esses meios e, com isso, dia a dia, exigimos menos de nós mesmos e abandonamos aos poucos a inovação para sobreviver.
Embates dessa natureza não ilustram apenas a adaptação e o desempenho operacional das pessoas frente às novas tecnologias. Eles dizem muito mais que isso, pois, é do confronto de ideias que nos habilitamos a inserir as nossas duvidas no fluxo dos litígios que movem o processo de transformação cultural. A história nos alerta que negar enfaticamente ou aceitar passivamente as novas tendências artísticas, culturais e comportamentais não é sinal de acuidade intelectual ou argúcia pragmática. Ainda que os extremos delineiem territórios inconciliáveis que nos demanda esforço de compreensão, é no bojo do confronto entre os extremos que se move o processo de inovação cultural. As inovações tecnológicas criam ferramentas e protocolos, porém, sozinhas, não consolidam transformações culturais. Olhar com desdém as partes do jogo em curso pode parecer uma atitude de superioridade cultural fundada num passado glorioso, mas, de fato, nada mais é que um modo ingênuo de encarar as contradições mais importantes do nosso tempo.
O protagonismo é uma ação consciente. Ao contrario das reações intempestivas é o protagonismo atuante que nos leva a refletir sobre as forças em jogo e nos permite olhar para dentro das áreas cinzentas de uma proposta, colocando, frente a frente, as ideias e métodos das diversas correntes do pensamento. É essa conjetura que faz da cultura um foco determinante tanto no plano econômico como político.
No meu entender o protagonismo é mais influente quanto mais se manifesta em atitudes e ações respaldadas em ideias originais, advindas da reflexão criteriosa sobre aspectos plurais das questões em jogo. Afinal, a gênese da inovação não é monopólio de um só pensador.   
O embate entre o entusiasta Michio e o pessimista Mark Pagel não é confronto destinado apenas aos especialistas. Ele é tão importante que deveria ser configurado como videogame e baixado gratuitamente.