sexta-feira, outubro 20, 2023

Harvard perde apoio de bilionários após carta pró-Palestina https://www.poder360.com.br/internacional/harvard-perde-apoio-de-bilionarios-apos-carta-pro-palestina/ Comento: Se os lideres das agremiações de alunos de Harvard acham que 'Guerra ao Terror' é uma guerra desproporcional entre povos fronteiriços, os patronos dessa universidade deveriam não só parar de abastecer o caixa da instituição. Minha sugestão é que os patronos desse bando de desinformados, proponham aos centros acadêmicos um plesbicito com dois itens e uma conclusão: 1- que todos os recursos destinados ao fundo estudantil sejam doravante destinados a uma Comissão de Recuperação do Povo da Palestina, que virá a ser constituída fora do âmbito acadêmico. Tal iniciativa se basearia nas considerações criticas sobre as virtudes e falhas do Plano Marshal, que ajudou na reconstrução da Europa, após a devastação da Segunda Guerra Mundial. Que essa Comissão seja integrada apenas por gente isenta ao ativismo e politicagem estudantil. 2- que essa Comissão seja composta apenas por gente com alta capacitação em temas de alta complexidade. Excluindo-se membros dos corpos docente e discente de Harvard, tendo em vista que os mestres da instituição são corresponsáveis pela baixa capacitação cognitiva dos seus discípulos no que tange a distinção gritante entre grupos terroristas e povo em geral. Conclusão: considerando-se a baixa rentabilidade cognitiva dos alunos de Harvard frente aos volumosos recursos destinados pelos super ricos, a criação dessa Comissão Curatorial reverteria em benefícios concretos para o povo da Palestina. Extirparia os focos do terrorismo que ronda a região, oprimindo e barbarizando o povo palestino com objetivo único da extinção do Estado de Israel e seu povo. Detalhe: É prudente que essa Comissão não tenha qualquer vinculação com a ONU e o Parlamento Europeu que por anos vive sob a pressão de investidores e políticos coniventes e indecisos na definição do Acordo Nuclear com o Iran.

quinta-feira, outubro 05, 2023

Ainda bem que o aforismo "Não me associo a um clube que me aceite como sócio" do Groucho Marx, é compartilhado por bilhões de pessoas mundo afora. O clube dos super ricos é uma creche para terceira idade que junta gente que herdou fortunas e gente que por esforço e competência fez a própria fortuna.Entretanto, ao serem aceitos pela diretoria, as diferenças existenciais se dispersam e se transformam em uma massa homogênea empenhada em garantir seu alto padrão de vida. Mal comparando parece o Congresso Nacional, onde a maioria canalha exerce um poder enorme sobre os neófitos cheios de boas intenções. O fato é que os sócios do Fórum Global se acham o sócios proprietários do planeta. Ao darem uma tacada de golfe, imaginam que a bolinha é a Terra e ele o senhor do universo, com o poder de organizar o equilíbrio dos planetas. A começar pela Terra. O afã desses sócios é criar condições ideais para manter o seu alto padrão de vida. Para isso é necessário reduzir a população de terráqueos. Lembram do filme 'Soleil Vert'? O argumento é um pouco inspirado nos grandes autores de ficção científica dos anos 50/60. O filme é sombrio mas, comparado com as insanidades dos sócios do FG, é bem mais instigante porque tocava em dois grandes problemas da humanidade com uma provocação moral: até que ponto vai seu humanismo, quando se trata de sobrevivencia da espécie. Um velho, outro novo. O velho é a Fome. O novo a Superpopulação. 'Soleil vert' é uma ficção futurista focada nesses dois polos. Naquele mundo a fome era grande. A solução do Fórum dos Poderosos era seletiva e pragmática. Uma usina de reciclagem de proteína humana atacaria radicalmente os dois problemas, reduzindo a população e suprindo a comunidade dos eleitos com as proteínas necessárias para manter a vida. Um biscoito(Soleil Vert) nutritivo, feito com a matéria prima de corpos humanos com data de validade vencida, era a principal fonte de proteina. O programa concedia aos vendedores dos próprios corpos- gente das camadas mais pobres, velhos,incapacitados e indigentes dos subterrâneos da sociedade-o direito de vender seus corpos para suprir a produção de proteínas para alimentar o povo do andar de cima. A fórmula era oferecer o conforto de um suicídio assistido, onde o infeliz desfrutaria das sensações de um mundo lindo e experimentaria sensorialmente momentos de êxtase, transcendência e felicidade. Aqui,nesse ponto,vale uma observação. Quando esse filme foi lançado as polticas de ação afirmativa estavam circunscrita aos debates entre um pequeno número de intelectuais e tímidas investidas acadêmicas. Na ocasião do lançamento o filme foi negligenciado por tratar a vida humana(corpo&alma)como matéria prima reciclável para manter o abastecimento de nutrientes para as classes mais ricas enfrentarem a Fome. Hoje, talvez não tivesse o mesmo impacto tendo em vista o predominio das políticas de ação afirmativa, tipo 'meu corpo minhas regras' que não se restringe apenas ao auto domínio feminino de decidir sobre a vida de um feto indesejado mas vale também para a venda de órgãos,não apenas de cadáveres mas, também, de gente viva como crianças sequestradas e gente necessitada que, tendo dois rins, pode vender um para abrandar a miséria. Os associados do Fórum Global usam de uma retórica salvacionista planetária mas omitem dizer claramente quem precisa morrer ou não nascer, para que o aquecimento global seja estancado. Dentre as hipocrisias da classe política, ONU, Ongs etc, a subserviência ao Clube dos Super Ricos é a mais evidente. A banalização da vida da gente pobre e infeliz, que se mata na linha de frente da gigantesca produção de bens de consumo que, ao fim e ao cabo, reverte inexoravelmente em poluição e desastres ambientais(sic)é,no fundo, o que teóricos do Fórum Global pretendem eliminar. O desejo oculto desse clan é reduzir pela metade a população global. Suponho que exista um grande estoque de robôs prontos para executar de forma mais limpa e econômica o que hoje faz o contingente humano de mão de obra. O paradoxo do clube dos super ricos é pretender salvar o planeta exterminando metade da população. Mas dizer isso assim, na lata, fica grotesco e desumano. Na dramaturgia e na arte os delírios são impulsos criativos. Quando desce pro plano da realidade objetiva, vira doutrinação estúpida e celeiro dos novos profetas do Apocalipse. Disparar a paranoia anti viral é uma das táticas da grande estratégia do Fórum Global, que fomenta nas mentes incautas o delírio de enfileirar 'corpos mortos pela covid', num cordão humano que preenche a distância que separa a Lua da Terra. BILL GATES FALANDO SOBRE REDUZIR A POPULAÇÃO MUNDIAL YOUTUBE.COM

sábado, setembro 30, 2023

A passiva mediocridade da cultura contemporânea me passa uma sensação desoladora. A Era da Informação descortinou novos horizontes para o conhecimento,sem dúvida. De repente, o mundo livre, plural e criativo aflorou diante dos nossos olhos e no tocar dos dedos. Logo de início o 'status quo' sentiu-se ameaçado pela quebra de hierarquias e a abolição dos comuns. Depois, reagrupando forças no ideário woke e na caretice vitimista 'politicamente correta' , eles voltaram com tudo, cobrando alto custo para a liberdade de expressão,empurrando para o degredo as inteligências transgressoras e silenciado o espírito outsider. Paradoxalmente, o plasma embrionário resultante da ruptura da cultura digital, invés de dar vida plena às mais elevadas virtudes, deu origem a tipos cheios de certezas, altruístas pragmáticos revestidos de moral suprema, que interpretam não apenas a Constituição mas a vontade do todo social. Eles nada desejam para si Dedicam suas vidas para normatizar o 'bem comum'. Hordas de defensores dos oprimidos -por 'outros' que não eles mesmos- transitam com orgulho nas esferas virtual e presencial. Jornalistas lacradores, influencers serviçais, acadêmicos tutelares, artistas complacentes, até mesmo diante do evidente cerceamento das liberdades individuais, sentem-se representados pela reedição do 'status quo' progressista pós moderno. Na esfera social mais ampla, o desejo foi publicamente criminalizado e obliterado pelo identitarismo de gênero e, por aí afora. Falar publicamente do desejo virou ofensa social. Hoje, esse tipo de sentimento humano só deve ser compartilhado nas conversas terapêuticas. Ainda é permitido ter nas prateleiras das livrarias obras literárias de um transgressor dos costumes, como Nelson Rodrigues. Os artistas visuais que exaltam a sexualidade, devem ter como medida estética, parâmetros que exaltem a identidade de gênero. Desejo,não! A ária progressista "Avançar socialmente" (sic) é uma armadilha para extrair a identidade do indivíduo e dar vida ao coletivo domesticado. É um ardil cruel. O retorno dos que nunca partiram, é exaltado como o reino superior dos oráculos da democracia. Mas, no nivel do mar, aos olhos dos comuns o que fazem deliberadamente é interromper e censurar o livre fluxo de ideias, vendendo o truque igualitário como simulacros de respeito à diversidade, ocultando dos ingênuos e incautos sua verdadeira face de consenso opressor.

segunda-feira, setembro 11, 2023

Ainda que não tenhamos um quadro claro sobre as transformações advindas da universalização da cultura digital, o que me vêm a mente são os métodos recorrentes nas simplificações de novos termos no meio social. O mesmo parece acontecer agora em relação ao termo 'disruptura' que, em analogia ao termo 'ruptura' do periodo da 'vanguarda historica', me parece uma discrepância reducionista. Os impulsos que culminaram nos movimentos da vanguarda historica,que antecedeu os varios grupos da 'contra cultura' e posteriormente se amalgamou no que se convencionou chamar de 'pós modernismo' .Para mim, é um acúmulo de equivocos que servem apenas para legitimar estilos,porém,não penetraram profindamente na mentalidade do nosso tempo. Sempre haverá inquietação sobre os desdobramentos da cultura. Lembro quando o pensador francês Lyotard transpôs o termo Pós Modernismo para vetores da produção artistica/ cultural,em meados do século XX. O termo teve origem entre engenheiros e economistas para datar o acesso às novas tecnologias de produção, posteriores à Era Industrial. Contudo, trouxe algum conforto e aparentemente suprimiu dúvidas no meio cultural. Logo o termo foi apropriado por milhares de pessoas das artes e cultura do período.Aquela época foi marcada por grande ansiedade. Buscava--se um termo(ideia) que identificasse e até certo ponto legitimasse uma produção que romperia(sic) em definitivo, os padrões estéticos (significado/mensagem) da modernidade consagrada, digamos assim. O vago paradigma pós moderno foi campo fértil para florescer a ideia de que "tudo é arte e todo mundo é artista".Pretensão ingênua, fundada em um conceito tosco de que se tratava de uma ruptura capaz de destruir hierarquias e padrões estéticos antecedentes. Até meus amigos, adeptos das teorias 'desconstrucionistas', viam aquilo como uma ode ao 'laizes faire' juvenil. Vale lembrar que naquela ocasião, entre os vetores da cultura, as empresas de comunicação surfaram numa onda de prosperidade e atingiram indices fabulosos em volume de público/espectador/leitor, quanto em poder econômico. Então, surge a Era da Informação. Logo em seguida os desdobramentos da Internet em sites e plataformas digitais de comunicação interpessoal em escala global. O que até então parecia um futuro promissor, da noite para o dia, se revelou uma surpreendente realidade . O que muitos achavam que seria um processo cultural gradual, foi veloz e abrangente. A disruptura digital foi fulminante. Pegou a todos mais rapidamente do que supunham e desejavam. Foi um fenômeno que penetrou profundamente na mentalidade de milhões de pessoas mundo afora,independentenente das suas peculiaridades culturais e características regionais. Em resumo; refletir ou projetar o presente pelo viés da cultura analógica, é,hoje, uma tarefa árdua que pode reverter em solitária melancolia e também em grandes frustrações para editorias empresariais que detinham a hegemonia da comunicação social.

quinta-feira, janeiro 12, 2023

“A ciência do século 21 desempenhou um papel relativamente pequeno no controle da SARS(...)Estamos cansados de mascarar e colocar em quarentena, disse Alan Schnur, especialista aposentado da OMS em doenças transmissíveis que trabalhou no surto de SARS na China. Na China, as pessoas não mexem com o governo(...)Com a autocracia, você não tem pessoas armadas aparecendo nas capitais dos estados dizendo: Estamos cansados de máscaras e quarentena".Essas e outras citações constantes do texto Bob Davis,postado no site Foreign Policy em 08 de Janeiro do corrente ano, apontam para uma questão crucial: onde pode-se hoje vislumbrar a fronteira que separa as nações democraticas dos regimes autoritários? Não apenas os procedimentos centralizados no combate a pandemia,as decições monocraticas da mais alta corte judicial do país colocam em alerta o cidadão quanto as garantias do seu direito civil de opinar,expressar seu pensamento e se manifestar publicamente no tocante aos temas de natureza política,saude publica etc. Seja no plano do combate à pandemia,seja no plano politico,hoje,é quase impossivel identificar o ponto da fronteira que separa regimes autocraticos das nações democraticas. Afinal,em'nome da democracia e da ordem social',a censura,multas,punições e mandados de prisão,sem direito de defesa e sem o conhecimento dos autos pelos representantes legais dos supostos criminosos acusados de terrorismo,podem ser realizaddos tanto pela policia do regime chinês como no Brasil.
GettyImages Bob Davis "A China transformou sua forma de lidar com o COVID-19 em uma propaganda de autocracia, gabando-se de como seu sistema político permitiu salvar vidas, enviar vacinas para países pobres e se tornar o fornecedor mundial de equipamentos de proteção. “A julgar pela forma como esta pandemia está sendo tratada por diferentes lideranças e sistemas [políticos] em todo o mundo, [podemos] ver claramente quem se saiu melhor”, disse o presidente chinês Xi Jinping no início de 2021 na Escola Central do Partido em Pequim. Mas com o COVID-19 agora se espalhando como uma tempestade de poeira pela China, enchendo crematórios e esvaziando lojas e hospitais de remédios, Pequim não parece mais uma vencedora. As estimativas de mortes nos próximos seis meses vão de 1 milhão a 2 milhões . No conflito entre democracia e autocracia, que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou ser a batalha que define esta geração, comentaristas da esquerda e da direita estão marcando este ponto para a democracia. Governos autocráticos “não podem admitir erros e não aceitam evidências de que não gostam”, elogiou Paul Krugman , do New York Times . “Afinal, a economia da China não ultrapassará a dos Estados Unidos em tamanho até 2035”, por causa das políticas COVID-19 de Xi, regozijou -se o conselho editorial do Wall Street Journal , citando um trabalho de pesquisa japonês e vinculando as falhas ao sistema político da China. No entanto, por mais arrogantes que tenham sido as declarações de vitória da China, os resultados da pandemia dificilmente são uma vitória por nocaute para a democracia. Cerca de 300 americanos por dia ainda morrem de COVID-19, e os níveis relativamente altos de proteção desfrutados pela população dos EUA são resultado de uma infecção generalizada – e das mortes de mais de 1,1 milhão de americanos que vieram com ela – bem como de vacinas de alta tecnologia. As campanhas de saúde pública para controlar a pandemia enfrentaram a oposição de políticos de direita e milhões de céticos do COVID-19, trocando histórias em sites de mídia social proibidos na China. E embora a velocidade do surto de COVID-19 na China seja de tirar o fôlego - e as autoridades estejam encobrindo o número de mortos -, os analistas de saúde pública não esperam que a China iguale o histórico lamentável dos Estados Unidos ao lidar com o vírus. Per capita, seriam necessárias cerca de 4,5 milhões de mortes para que o número de casos de COVID-19 na China se igualasse aos Estados Unidos. O COVID-19 testou democracias e autocracias igualmente - e a maioria falhou de maneiras diferentes. Os Estados Unidos e a China são os exemplos mais proeminentes, mas sistemas da democracia peruana à autocracia russa estragaram suas respostas à pandemia. Em alguns casos, a competição entre sistemas políticos pode ser benéfica. A corrida entre os Estados Unidos e a União Soviética para levar um homem à Lua, por exemplo, deu um grande impulso aos gastos com ciência e ampliou os limites da tecnologia microeletrônica, necessária para uma missão lunar. Mas uma pandemia exige que os países compartilhem informações, coordenem bloqueios e trabalhem em conjunto no desenvolvimento de vacinas. Nada disso ocorreu. A China ocultou informações, bloqueou investigações internacionais sobre a causa da doença e fez com que seus diplomatas fizessem alegações de que o vírus surgiu nos Estados Unidos. Os Estados Unidos, sob o então presidente Donald Trump, rotularam o COVID-19 de “vírus da China” e culparam a China por seus problemas políticos. Relações geladas continuam sob Biden. De muitas maneiras, a resposta inicial da China foi uma repetição de seu tratamento inicial abafado do surto de SARS quase duas décadas antes. Depois de tentar esconder o surgimento de um vírus mortal transmitido pelo ar – mais tarde apelidado de síndrome respiratória aguda grave, ou SARS – na província costeira de Guangdong no final de 2002, a China colocou em quarentena os afetados e seus contatos próximos. Cinemas, discotecas, campi universitários, locais de trabalho e outros locais públicos fecharam enquanto as autoridades tentavam convencer os chineses em pânico a não fugir das grandes cidades e espalhar a doença para o interior. Em poucos meses, o vírus foi contido. Globalmente, 8.098 pessoas adoeceram com SARS, incluindo 774 que morreram - números que parecem dolorosamente pequenos na época do COVID-19. Nenhuma vacina nova ou nova tecnologia foi necessária para combater o vírus. “A ciência do século 21 desempenhou um papel relativamente pequeno no controle da SARS”, concluiu uma revisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2006. “As técnicas do século 19 continuaram a provar seu valor”. Enfrentando um coronavírus diferente em 2020, a China voltou ao manual da SARS, mas em grande escala, bloqueando vastos segmentos da população com muito mais firmeza do que os países europeus que tentaram uma estratégia semelhante, como a Itália, poderiam sustentar. Embora a estratégia tenha ganho um tempo valioso para vacinar, ainda que de forma incompleta, a população chinesa, ela falhou em derrotar o vírus. A SARS era muito menos infecciosa que o COVID-19 e só se espalhou depois que as pessoas desenvolveram sintomas, como febre alta. As quarentenas impediram a replicação do vírus. Não houve essa sorte com o COVID-19, que foi espalhado por pessoas que não apresentavam sintomas e correu pelo mundo depois que as autoridades chinesas suprimiram as informações sobre o surto inicial em Wuhan e não agiram rapidamente. Diante de um inimigo implacável e inconstante do vírus, a China construiu uma vasta burocracia de testes, vigilância e bloqueio para impor sua política de COVID-0. Mas a estratégia não tinha um objetivo claro. Em outros países que tinham controles rígidos, como Nova Zelândia e Austrália, esse tempo foi usado para vacinar a população e, quase tão crucialmente, construir o sistema de saúde para se preparar para a chegada inevitável de um surto em grande escala. Na China, a energia dedicada a manter o COVID zero consumiu tempo e recursos, e o investimento em saúde encolheu em 2020 e 2021. Os bloqueios na China e em outros lugares tiveram um custo enorme, destruindo as cadeias de suprimentos, criando escassez e estimulando a inflação. Também forçou os alunos a saírem das salas de aula e a entrarem em suas casas atrás de telas de computador e dificultou que os pacientes procurassem médicos por outras doenças além do COVID-19. É difícil avaliar se as democracias ou autocracias lidaram melhor com esses diferentes desafios – especialmente em um país como a China, onde a capacidade de fazer pesquisas locais sem restrições é extremamente limitada. Na China, as desvantagens de uma resposta autocrática tornaram-se cada vez mais aparentes à medida que a pandemia se arrastava, principalmente a relutância do responsável em mudar de rumo. Ao longo de 2022, Xi concentrou-se no próximo 20º Congresso do Partido em outubro, alardeando sua forma de lidar com o COVID-19 como outra justificativa para seu terceiro mandato sem precedentes e empilhando o Comitê Permanente do Politburo com aliados. “Ao responder ao surto repentino de COVID-19, colocamos as pessoas e suas vidas acima de tudo, trabalhamos para prevenir casos importados e ressurgimentos domésticos e perseguimos tenazmente uma política dinâmica de zero COVID”, disse ele ao Congresso do Partido, repetindo a mesma linguagem que havia usado em uma reunião de julho. A política rígida de Xi incluiu uma recusa em importar vacinas mais eficazes desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa usando a nova tecnologia de mRNA. A política rígida de Xi incluiu uma recusa em importar vacinas mais eficazes desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa usando a nova tecnologia de mRNA. Importar ocidentais seria visto como uma admissão de que a tecnologia chinesa era menos capaz, especialmente se os chineses migrassem para alternativas ocidentais. A China estava enviando milhões de doses de sua vacina Sinovac para nações pobres. “Como a China poderia persuadir outros países a importar suas vacinas se aprovava as vacinas ocidentais… reconhecendo assim implicitamente sua superioridade?” disse Minxin Pei, especialista em política chinesa no Claremont McKenna College. A liderança chinesa também rejeitou os esforços para aliviar os bloqueios de zero COVID, que estavam prejudicando a economia e semeando o descontentamento popular. Em abril de 2022, a Câmara de Comércio da União Europeia na China pediu discretamente ao vice-primeiro-ministro Hu Chunhua em uma carta para facilitar os bloqueios para aqueles que foram vacinados e importar vacinas ocidentais. Os requisitos Zero-COVID estavam “causando interrupções significativas, estendendo-se desde a logística e produção até a cadeia de suprimentos na China”, reclamou a Câmara Europeia na carta, que não foi divulgada publicamente. Alguns no governo chinês foram simpáticos e esperavam usar a pressão estrangeira para convencer a burocracia a relaxar, disse Jörg Wuttke, presidente da Câmara Européia. Mas o plano foi rapidamente rejeitado depois que se tornou público. Em uma reunião do Politburo em maio de 2022, Xi dobrou a aposta em zero-COVID, dizendo que o controle da pandemia havia atingido um “estágio crítico”. No Congresso do Partido, Hu, antes considerado uma estrela em ascensão, foi afastado do Politburo. Em julho de 2022, um plano das autoridades municipais de Pequim para exigir vacinação para entrar em cinemas, museus e outros locais públicos foi cancelado após pouco mais de um dia. Os bloqueios tornaram-se tão arraigados quanto a resposta ao COVID-19 que as vacinas se tornaram suspeitas, principalmente em um país com histórico de medicamentos adulterados e outros escândalos de segurança. Ansioso para proteger sua posição emergente como uma alternativa de manufatura à China, afrouxou muitas de suas restrições em setembro de 2021. “Não podemos recorrer a medidas de quarentena e bloqueio para sempre, pois isso causará dificuldades para as pessoas e para a economia”, o primeiro-ministro Pham Minh Chinh disse na época. As autoridades vietnamitas se concentraram no que chamaram de “viver com o COVID-19”. No geral, a taxa de mortalidade do Vietnã por COVID-19 é cerca de 15% da dos Estados Unidos. Cingapura, uma autocracia mais branda, também se ajustou rapidamente. Como uma ilha, era mais fácil para Cingapura bloquear os viajantes. Contava também com um estabelecimento independente de saúde pública de confiança da população. Mesmo antes do surto de COVID-19, o governo construiu um hospital de doenças infecciosas que geralmente fica apenas parcialmente cheio, disse Deborah Seligsohn, especialista em governança chinesa da Universidade Villanova, “para que tivesse capacidade extra necessária para uma pandemia”. Na China, o governo finalmente cedeu cerca de um mês após o Congresso do Partido. Com o aumento dos protestos políticos e a estagnação da economia, o governo subitamente suspendeu quase todas as restrições no início de dezembro. Essencialmente, declarou vitória, argumentando que a variante omicron não era tão mortal quanto as anteriores e mantendo em segredo a contagem de infectados, hospitalizados e mortos. “O período mais difícil já passou”, escreveu a agência de notícias estatal Xinhua em um comentário de dezembro. Jornalistas ocidentais relatam crematórios trabalhando 24 horas por dia, 7 dias por semana, hospitais lotados, ruas vazias da cidade enquanto as pessoas continuam a se agachar e escassez de remédios. Wuttke, o presidente da Câmara Europeia, disse que seus membros agora devem planejar paralisações generalizadas quando os trabalhadores adoecerem ou temerem se apresentar ao trabalho. As mortes são estimadas em 9.000 ou mais por dia. “Com a autocracia, você não tem pessoas armadas aparecendo nas capitais dos estados dizendo: 'Estamos cansados ​​de máscaras e quarentenas'. Na China, as pessoas não mexem com o governo.” Mas o vírus também expôs os problemas da democracia na resposta às crises de saúde pública. Embora o talento científico e a riqueza dos Estados Unidos tenham ajudado a produzir vacinas poderosas usando novas tecnologias apenas um ano após o surgimento do COVID-19, o sistema político dos EUA não conseguiu convencer pessoas suficientes a arregaçar as mangas para evitar centenas de milhares de mortes. Antes da pandemia, os Estados Unidos eram considerados os mais bem preparados de 195 nações para lidar com uma pandemia, de acordo com o Global Health Security Index, um projeto do Johns Hopkins Center for Health Security e da Nuclear Threat Initiative, uma organização antinuclear. . Isso provou ser arrogante. Os Estados Unidos tiveram problemas para realizar testes COVID-19, compartilhar informações sobre a propagação do vírus e coordenar respostas federais e estaduais. “Muitas vezes, os dados compartilhados entre as agências de saúde pública eram enviados por fax”, disse Angela Rasmussen, virologista da Organização de Vacinas e Doenças Infecciosas da Universidade de Saskatchewan. Políticos populistas se opuseram ao uso de máscaras faciais e se opuseram aos mandatos de vacinas. Trump e algumas autoridades promoveram curas malucas para o COVID-19, incluindo hidroxicloroquina , um medicamento antimalárico, e subestimaram as vacinas que seu governo ajudou a criar. Líderes populistas de outros países, particularmente México e Brasil, seguiram o exemplo. “Com a autocracia, você não tem pessoas armadas aparecendo nas capitais dos estados dizendo: 'Estamos cansados ​​de mascarar e colocar em quarentena'”, disse Alan Schnur, especialista aposentado da OMS em doenças transmissíveis que trabalhou no surto de SARS na China. “Na China, as pessoas não mexem com o governo.” Enquanto isso, a mídia social ajudou a espalhar visões conspiratórias de que o perigo do COVID-19 foi exagerado e o número de hospitalizações e mortes exageradas. As teorias da conspiração, geralmente uma marca registrada das autocracias sem uma imprensa livre capaz de separar o fato da ficção, também se tornaram uma característica mais proeminente das democracias. Aproximadamente a mesma porcentagem de americanos com mais de 80 anos recebeu duas injeções na China e nos Estados Unidos. Em 2021, Yanzhong Huang, membro sênior de saúde global do Conselho de Relações Exteriores, previu com confiança que os Estados Unidos alcançariam a “imunidade de rebanho” à frente da China. Agora, ele diz que superestimou a capacidade do governo Biden de convencer os americanos a serem vacinados e reforçados. “O ambiente político acabou sendo mais prejudicial”, disse ele. Em um dos indicadores mais reveladores de fracasso, a expectativa de vida chinesa superou a dos Estados Unidos durante a pandemia pela primeira vez desde que as Nações Unidas começaram a manter registros em 1950, quando os americanos foram atingidos pelo COVID-19 e overdoses de drogas. Outras democracias, no entanto, se saíram melhor, particularmente a Austrália e a Nova Zelândia, ambas nações insulares, onde era mais fácil fechar as fronteiras para forasteiros infecciosos. Em ambos os lugares, a fé no sistema político, de acordo com pesquisas do Pew Research Center, era muito mais forte do que nos Estados Unidos. Mas a Coreia do Sul – uma nação com níveis de desconfiança dos EUA no governo – também teve um bom desempenho. Lá, o governo se concentrou em testar rapidamente o COVID-19, rastrear os infectados e convencer as pessoas a ficar em quarentena. Mais do que o dobro da porcentagem de sul-coreanos receberam reforços de vacinas do que os americanos. A porcentagem de pessoas que morreram de COVID-19 é um quinto da dos Estados Unidos. “É muito difícil fazer uma declaração geral sobre qual regime político respondeu à pandemia de forma mais eficaz”, disse Pei, o estudioso de Claremont McKenna. O desempenho varia entre democracias e autocracias, disse ele, e dentro de cada sistema. O mais importante, disse Rasmussen, o virologista, é que democracias e autocracias trabalhem juntas na saúde pública, em vez de se concentrarem em culpar umas às outras, como os Estados Unidos e a China fizeram em grande parte. “O que é realmente necessário é capacidade de vigilância genômica onde ela não existe” para encontrar vírus antes que eles se espalhem, disse ela. “Você realmente não sabe quantos outros coronavírus estão ao nosso redor.” Bob Davis cobriu as relações econômicas EUA-China por décadas para o Wall Street Journal. Ele é o coautor de Superpower Showdown: How the Battle Between Trump and Xi Threatens a New Cold War .

quinta-feira, fevereiro 11, 2021

Ressentimento

Sempre que leio artigos bombásticos(link no post) sobre os rumos da cultura na atualidade, me vem a lembrança o excelente  livro -que já citei aqui algumas vezes- intitulado  'A Cultura Inculta' escrito há trinta anos  pelo filósofo e professor norte americano  Allan Bloom.

 Um pequeno trecho do artigo de Laura Gullar, publicado em agosto de 2017 na Revista Ideias, toca em aspectos da visão crítica do pensador sobre os motivos e as consequências do colapso da educação moderna no Ocidente.

Diz ela: "Há livros seminais que deveriam voltar ao centro dos debates. Um deles, que acabo de revisitar, é o de Allan Bloom, professor de História das Ideias na Universidade de Chicago, tradutor de Platão e Rousseau, que escreveu uma obra que é fundamental para entender nosso tempo de degradação cultural. “A Cultura Inculta” é um ensaio sobre o declínio da cultura geral e de como a educação superior fraudou a democracia e empobreceu os espíritos das gerações que hoje estão no comando."

Concordo! 

'Cultura Inculta' é um livro seminal!

É um farol na escuridão porque esclarece os pontos nevrálgicos que soam como  prefácio | epitáfio  do que hoje é a cultura geral. Quem tiver interesse em ler a resenha da autora, acessa o link no box comentário.

Voltando ao tema bombástico inicial, o 'levante' tardio de intelectuais, políticos e professores franceses contra a exportação do modelo de 'esquerdização' das universidades norte americanas e sua absorção nas universidades do país, soa para mim como um 'rap' nostálgico. 

Hoje, duas décadas vencidas do século XXI, ver  políticos, intelectuais proeminentes e acadêmicos franceses clamarem por emancipação do "esquerdismo fora de controle e da cultura do cancelamento na América" é, no mínimo, constrangedor.

Alertar os franceses de que essa vertente ideológica "está minando a sociedade francesa e que é um ataque à herança francesa" é lamentável, quando todos sabem -sobretudo os franceses- que nomes ilustres da cultura, que hoje se apresentam como denunciantes, estiveram por décadas em silencioso e confortável conluio com as ideias que agora denunciam.

Parece evidente que sem esses apoios, a influência  americana sobre vários setores da vida francesa não seria uma ameaça tão significativa quanto hoje ressentem e alardeiam. 

"O presidente francês Emmanuel Macron em outubro advertiu contra "certas teorias das ciências sociais inteiramente importadas dos Estados Unidos(...)Seu Ministro da Educação também alertou sobre uma 'batalha travada contra uma matriz intelectual das universidades americanas" e por aí afora.

https://www.dailymail.co.uk/news/article-9242453/Out-control-woke-leftism-cancel-culture-threat-FRANCE-French-politicians-say.html?fbclid=IwAR3SBeZtG1HOIILSroumDSEkgCwr8REqD80fivelNYJXW6XcIQxX86Gq8g4



terça-feira, maio 12, 2020

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Um depoimento
Por Adriano de Aquino
maio de 2020



1 . Anotações sobre o processo de trabalho.

Em meados dos anos 80, fui atraído pelos ecos da Revolução Digital que incitou a Terceira Revolução Industrial, já consolidada em pequenas mas cruciais mudanças nos modos de produção, alterando significativamente   o antigo sistema de tecnologia eletrônica /mecânica e analógica para o novo sistema da eletrônica digital.
A travessia, que teve início nos anos 50, me pegou na infância. A revolução em curso agregou no imaginário da minha geração a forte impressão de que o futuro seria totalmente diferente das narrativas clássicas. Esse fenômeno cultural se estendeu por três décadas. No final do século XX, com meios eletrônicos digitais fartamente expandidos, a Cultura Digital se estendeu do campo técnico cientifico especializado para a universalização, digamos assim. Independentemente da bagagem cultural dos indivíduos, toda a sociedade global foi velozmente ‘alfabetizada’ pela inserção digital. Apta a decifrar seus códigos básicos, criar seu avatar eletrônico e digitar sua senha num terminal bancário,docs e infos,a maior parte da população do mundo atravessou o portal da Cultura Digital.
Um dos marcos dessa universalização foi o impasse do ‘bug’ do milênio que disseminou um certo pânico de que toda memória e informações acumuladas e processadas eletronicamente poderia ser irreversivelmente apagada. Esse impasse atravessou para o século seguinte. Superado o impasse técnico, o novo século (XXI) nasceu sob a égide da Era do Conhecimento.
Essa introdução visa estabelecer as conexões que me levaram a refletir sobre as perspectivas da criação artística em uma Era marcada pela fluidez da informação, a gigantesca profusão de imagens anônimas, a efemeridade dos eventos que espocam em um segundo, atinge milhões de pessoas e desaparecem na mesma rapidez. Mas, permanecem registrados como ‘bits’ no ciberespaço, onde nada perde ou se apaga.
Esse novo mundo, repleto de sinais embaralhados e “propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível”(Z. Bauman),provocou uma mudança de mentalidade que não poderia deixar de tocar o  processo criativo em sua ampla concepção, frente a ideia de ‘tempo presente’.
Foi o que aconteceu comigo.

2 . Entre 2005 / 2007 meu trabalho começou a desviar para pesquisas sobre a sutil ‘ruptura’ entre cultura analógica e cultura digital. Apesar de não ser uma ruptura que teve origem no ambiente estético/artístico, não ter sido bombástica e estilosa, fundada em manifestos polêmicos e exuberantes provocações artísticas contra os métodos acadêmicos e a tudo que reverenciasse o passado a elegância e o ‘mau gosto’(sic) dos burgueses, mudou substancialmente a mentalidade artística.
Os vanguardistas históricos consideravam um atraso, prejudicial ao desenvolvimento humano e social, o congelamento estético submetido ao padrão neoclássico. 
Transgressão, a palavra de ordem de todos os movimentos radicais da modernidade, chocou os conservadores e, no correr do tempo, se banalizou. 
A título de fazer o 'novo' vigorar, contestações recalcadas ganharam corpo como expressão individual.O mundo das causas pessoais colaram em si o rótulo de Arte. 
“Tudo é Arte/Arte é Tudo” se tornou um mantra pós-moderno.  
É curioso que alguns artistas dos dias atuais, paradoxalmente apelidado de ‘pós-moderno’, ainda creem nesse postulado.
Todavia, ao penetrar nos corredores da matrix, meu ponto de vista sobre as atitudes, gestos e coisas ‘pós-modernos’, correntes nos dias de hoje, focadas nas recorrentes propostas teóricas e estéticas inspiradas na Vanguarda Histórica, hoje se tornaram uma ‘escola’- quase uma doutrina estética que modela modos de fazer similares e repetitivos. 
Em vista desses desafios teóricos me vi enredado na dicotomia do ‘mundo das referências’ cujas as partes geralmente opostas e complexas se converteram em lugar comum.
Como escapar da arapuca de uma ‘arte de citações’, prenhe de referências restritas aos estilos consagrados no mundo da arte, agora consolidada na tendência global rebocada por temas político-sociais de gênero, grupos, minorias e particularidades étnicas e pessoais – autobiografias estetizadas - se instalou  no ciclo intermitente do ‘valor’ estético contemporâneo, reciclado do referencial com o passado e nos múltiplos ‘ismos’, camuflados de novidade? 
  
3 , Essas reflexões me levaram a encarar uma mudança radical no meu processo pictórico para escapar do ciclo de oferta de ‘mais imagens’ num mundo superpovoado delas, e voltar a me encantar e surpreender com um fazer que desbravasse um novo viés do fenômeno criativo.

Essas questões me levaram a confrontar o âmago das transformações em curso. O que observei é que não se tratava mais de um debate ‘fechado’ no velho contexto da ‘arte pura’ em torno da estética da erudição e da alta cultura artística já que –para mim – as mudanças em curso arrastaram tudo, se estendendo ao amplo campo da cultura geral em efervescente ebulição.

Aos poucos fui percebendo que a sutil sobreposição de uma nova cultura geral, paulatinamente revolucionava o modo de ver o mundo, as mentalidades e as trocas sociais.

Como essas mudanças aconteciam nas artes sem serem provocadas pelo inconformismo dos artistas e intelectuais?

4 . Muito se fala das mudanças oriundas das tecnologias digitais e do encantamento das pessoas pelos artefatos multifuncionais, designer elegante e acesso ilimitado ao universo dos dados, conceitos e imagens que inundaram o ambiente da cultura geral.
Porém, pouco se fala sobre o que está abaixo da superfície reluzente dos equipamentos digitais. De fato, a revolução digital não é apenas mais um movimento tecnológico, como os que ocorreram sucessivamente desde os primórdios da civilização.  Isso é o que aparece no toque das superfícies dos meios digitais. Porém, a ‘deep web’, vanguarda da ruptura cultural, em contraposição à cultura analógica - que trançava e protegia o conhecimento na esfera 'cult' e intelectualizada ancorada nas correlações e referencias consolidadas na era moderna, inundou indiscriminadamente o sistema de informações que antes só transitavam em ambientes específicos, revelando que as coisas mudaram de fato, disponibilizando indistintamente um acervo gigantesco de infos para um grande e plural contingente de usuários. Sem grande estardalhaço, a Cultura Digital contundentemente penetrou nos hábitos e costumes da sociedade global.

Já convencido que a vitrine tecnológica era mais do que uma ‘onda’ passageira –era, de fato, um tsunami cultural, -  inicialmente desprezado por grandes figuras da intelligentsia e adeptos da erudição enciclopédica do velho mundo, que a criticavam como usina de ‘gadgets’ para formatar medíocres, reconsiderei essas transformações no plano estético propriamente dito. Minhas interações no ambiente digital foram diluindo a cortina de fumaça do conservadorismo erudito. Percebi, desde então, que não havia condições concretas de resistir ao empuxo do tsunami cultural que varreu o mundo, soprando uma brisa renovadora.
Essas reflexões foram vitais para a virada no meu processo de trabalho.
Em 2007 fiz uma grande exposição no Paço Imperial com obras da Série Divisões Internas. Obras dessa serie eram realizadas em superfícies sintéticas, mas ainda submetidas à tradição pictórica- com referências esparsas entre as formas geométricas, o gesto sensível, a caligrafia das pinceladas, as sutilezas das texturas cromáticas que no meu caso particular aconteciam no dialogo hipotético com as fontes do Concretismo e do Neoconcretismo históricos.  Até então, esses movimentos eram para mim um porto seguro, cheio de tesouros referenciais, que  há tempos eu desejava deixar para traz.  
Minha visão crítica sobre as sequelas do colonialismo cultural e seus desdobramentos no tecido social nativo não se dá apenas em relação à demarcação- interna e externa- do Brasil como ‘exportador’ de commodities agrícolas e minerais, de abundante exotismo naif mercantil e um território aberto à fácil disseminação de réplicas dos arrojados modelos culturais internacionais. A frágil constituição da nossa modernidade artística não é um garrote que nos condena a ‘autodeterminação’ cultural. Em vista disso, para mim, eleger estilos modernos consagrados como ‘alma nacional’ – se tornou uma contradição danosa ao conhecimento e o pensamento estético. Somos arrojados e mais complexos do que isso!

Como tentativa de escape desses paradigmas, nessa exposição dediquei uma sala para a projeção de um trabalho experimental intitulado Imagem & Memoria(link). 
As obras dessa serie não existiam concretamente, versavam apenas em manipulações digitais compartilhadas na memória do programa do computador que me impulsionaram a criar imagens imateriais manipulando dados coletados a esmo nas interações no ciberespaço. Há um pequeno filme sobre essa experiência e um texto que fala das intenções da proposta.

5 . Em 2008 realizei duas exposições na Caixa Cultural. Uma no Rio e outra em São Paulo, que foram divisor de aguas no meu processo pictórico.  As mostras mesclavam pinturas em técnica e suporte tradicionais e obras realizadas sobre superfícies sintéticas, interfaces magnéticas e metais –aço carbono e alumínio, revestidos com pigmentos especiais e substratos (resinas) sintéticas de tecnologia de ponta– PU / Poliuretano Uretane.
Esses insumos de alta tecnologia, não produzidos especificamente para a produção artística se mostraram compatíveis com a experiência que me dedicava. Recondicionando a técnica industrial chamada ‘fechamento de filme’ – ao meu proposito estético, apanhei o substrato básico – uma resina sintética, mais transparente que a clara de ovo usada no processo da tempera-  desenvolvi uma fórmula de diluição de pigmentos translúcidos sucessivamente  aplicados em finas camadas sobrepostas com objetivo de puxar  o croma predominante para superfície onde as cores eram aplicadas, trazendo à tona a fisicalidade do suporte revestido pela cor –aço carbono ou alumínio espelhados. 

6 . A partir de 2008 – depois de muitos erros e acertos- adotei em definitivo esse tipo de procedimento pictórico para todas as obras que produzo desde então.
Nota: o que mais me surpreendeu nessa exposição (2008) foi ter ouvido de diversas pessoas que essa experiência escapava do ‘campo da pintura’. Era outra coisa, não mais pinturas! Alguns achavam que era um processo de reprodução digital de ponta -metacrilatos e similares - comuns nos dias atuais.  Como senti os comentários como autênticos, sem conotação pejorativa a minha obra, guardei como um elogio gratificante. Eureca! ‘Transgredi’(ops) com êxito os limites impostos à pintura e conclui: pinturas únicas, feitas à mão, muitas vezes dadas como  ‘mortas’, se desdobram em múltiplas e sensíveis aparências no mundo das ‘coisas’ reais.

5 . Em 2012, fiz uma pequena exposição só com obras com essa técnica na Galeria Gustavo Rebello. Depois (2014) fiz outras. Uma no Rio (Mercedes Viegas) e duas no exterior.

7 .  O conceito que reveste essa série - em processo - tem duas pegadas. As duas relacionados ao ‘tempo da pintura’. Um tempo é o do próprio processo pictórico em si (in compartilhável). O outro (compartilhável) é o tempo do objeto pintado frente ao observador eventual. Essa fatura pictórica dispensa o gesto sensível, a textura pictórica marcada pela caligrafia autentica e inconfundível do pintor, para dar vida autônoma à superfície pintada em relação ao observador que nela se vê refletido enquanto aprecia e se movimenta frente à obra. Esse conceito tem intima relação com o ‘tempo presente’ e o transito das informações em diversas camadas, eixo da cultura digital.
Do ponto de vista poético, essas obras reativaram em mim a alegria da experiência desbravadora que se lança numa viagem sem rota- projeto/croqui ou estudos- tendo em vista que um ‘projeto’ de pintura é incompatível com o meio. Isso me levou também a um novo encontro com os fenômenos da natureza sem ter como base as ilustrações naturalistas/ desfiguradas ou abstraídas, pela vontade do autor.
As alusões aos fenômenos da natureza dizem respeito à incidência da luz ou ausência dela, sobre as coisas do mundo. Ao evitar representa-las artisticamente –os fenômenos naturais da luz, cores e formas em movimento -  acontecem aleatória e singularmente. As difusas e mutáveis aparências formais dessas obras sobrevêm a cada ‘visão’ do objeto.
Não trato de representa-las como tal, mas sim torna-las em si –intrinsecamente- pinturas ‘espelho d’agua’ em posição anômala -porque vertical -  aos espelhos d’água horizontais espalhados na natureza que desde a infância me encantavam por amalgamar em um só elemento os mistérios da profundidade à platitude, como fenômenos espelhados nas superfícies reluzentes.