quarta-feira, novembro 15, 2017

Sobre Artistas e Finanças




Quando se fala em ‘Economia Criativa’ muitas pessoas logo imaginam ‘muita grana’, sucesso financeiro, fama e fortuna dos artistas. O fato dessa ideia estar em voga atualmente confunde aspectos significativos de como a economia acontece nas artes. 
Na superfície, a ideia veste de glória os artistas que alcançam grande sucesso midiático. Entretanto, trata-se de uma ilusão. Tirante as estrelas do showbiz, os astros pops, os expoentes da indústria cultural  e os artistas que pautam suas produções no sistema de comunicação – incluindo, nesse contexto, os financiados pelos investimentos do marketing no setor editorial, cinematográfico, televisivo e as ações do mercado para alavancagem dos preços das obras de artistas vivos, a realidade da economia criativa é bem diferente do que em geral se supõem 
No tocante aos artistas, estrito senso, a ‘economia criativa’ - na realidade -é uma ficção. 
Ela não tem base concreta nos custos inerentes à produção artística e nos possíveis lucros auferidos aos autores. 
Nem poderia ter! Os fatores envolvidos na criação artística não são objetivamente mensuráveis. Alem disso,a 'mais valia' de uma obra de arte no correr do tempo beneficia financeiramente os mercadores e investidores.
Os desafios e os custos da produção artística vão muito além dos gráficos da economia monetária propriamente dita. 
Cabe ao artista, sabedor dessas limitações, entender e enfrentar outro ângulo da economia que decorre da questão existencial e de sobrevivência e, também, objetivamente, fundar uma maneira de manter incólume a liberdade criativa, a livre experimentação e a superação das dificuldades inerentes ao seu trabalho. 
Isso, claro, se ele pretende fazer uma obra emanada do frescor e que o surpreenda como criador. 
Para manter o fluxo do consumo de obras imersas nos códigos esteticos estabelecidos, o custo é basicamente o do material e do empenho promocional em torna-lo um alvo midiático de grande visibilidade e um fetiche de mercado. 
Não é fácil. Porém, é menos difícil que ousar algo novo e autentico, por excelencia. 
Na maior parte das vezes, os itens pautados na ousadia criativa tendem a exaurir os recursos investidos e, algumas vezes, podem afetar a saúde do artista. Isso porque a economia do artista, digamos assim, tem como prioridade ampliar o arco das suas investidas criativas. Opção esta que nem sempre reverte em ganho monetário. Esses itens são muitas vezes entendidos por alguns artistas como a causa do seu sofrimento e incompreensão por parte do público.
Não digo peremptoriamente: 'Dane-se o público' porque a incompreensão me apraz. E muito! 
E, também, porque há um grande egoísmo - orgulho de si - em todo criador.
Por esses e outros motivos somos tomados de tristeza quando um grande artista - na juventude ou na velhice - sofre de carência financeira. 
Nas colunas de entrada e saída da economia de um artista, os fatores não se expressam em cifras. Se expressam na ousadia, na determinação e na qualidade intrínseca da sua obra. Não é raro ver artistas muito dedicados, que não cumprem uma planilha de trabalho regular e não medem despesas para suprir sua demanda por material, que atravessam noites e dias debruçados sobre seu trabalho e que, quando se dão conta, espantam-se não apenas com o fato de o dinheiro ter acabado, mas que a ‘economia’ da sua saúde mental ou física foi um pouco abalada. 
Como inserir esses fatores numa tabela progressiva da Economia Criativa?
Inútil e infecunda tentativa! 
A Economia da Cultura se aplica estritamente aos investimentos em setores da Industria Cultural e fomenta a Cultura do Espetáculo. 
Para a criação artística não existe um plano previamente traçado, previdência social ou aposentadoria. Muitos artistas ancoram suas produções em incentivos fiscais. Mas,tal perspectiva, gera outro tipo de angústia e não supre as necessidades mais fecundas da criação. Convenhamos que fazer um 'Projeto' para cada 'inspiração' é um treco insano. 
O artista, estrito senso, que não produz com uma equipe de auxiliares, é um ser solitário, sujeito as intempéries do seu talento. 
A única vantagem dessa forma de vida é que ele é o primeiro contemplar algo belo e se extasiar ou – se decepcionar com sua mais recente criação,porque não lhe tocou a alma. 
Então, de volta ao serviço!