domingo, outubro 15, 2017

Divagações






Domingo 15 10 2017, na estação das divagações, me ponho a refletir sobre a produção artificial de uma polemica estúpida envolvendo arte e moral, fartamente explorada pela grande mídia. Vejo, com mais espanto, uma sequência interminável de argumentos descabidos revestidos da tola intenção e conceitos vagos sobre arte e moral nos tempos correntes. 
Releitura (um subtítulo bonitinho para encobrir a incapacidade de se pensar a complexidade do tempo presente) é uma forma pueril de se reduzir o pensamento contemporâneo a um pastiche midiático, submetendo-o ao controle da máquina da comunicação social que impiedosamente massifica o pensamento da atualidade. 
Tal circunstancia é o revés de uma atitude realmente emancipatória. 
Constato com desgosto o grande estrago que o multiculturalismo e a relativismo cultural, que imperam na cultura dos últimos trinta anos, causaram nos corações e mentes da gente de hoje.  
A falsa polêmica que se alastra na atualidade levou muitos a desprezarem os cortes artístico/ científico/ético/moral lançados pela vanguarda histórica do começo do século XX .
Atribuir comparações esdrúxulas de fundo moral entre nus performáticos de hoje com obras da antiguidade grega, mesmo com as do renascimento, é jogar na lixeira as importantes transformações geradas pelo novo pensar sobre o homem, a cultura, o tempo e o mundo. Antes de tudo, é bom frisar que não se combate mais dogmas morais de uma arte oficial ou de uma ciência que emolduravam, os dois, os modelos das academias vetustas de outrora (século XIX). Naqueles templos cultuava-se as aparências do ‘belo’ e do ‘conhecimento’ cientifico, ajustados ao mundo ungido por uma elite que se sobrepunha aos demais no tocante a complexidade da experiência humana através da história.
Tentar reproduzi-lo não é factível nem mesmo para os replicantes do século XXI. Tecer um manto de fábulas num mundo desabitado por deuses do passado pode levar a produção de seriados proto medievais de grande sucesso. Todavia, na realidade, são apenas farsas, fadadas (de fadas, mesmo) a uma temporada de sucesso midiático e fim.  
O que hoje assisto são confrontos entre turbas de doidos tentando impor uma vontade sobre as demais. Seja de que lado for. Tal situação revela aspectos da pretensão dos contemporâneos. Não tendo diante de si mais dogmas para enfrentar com galhardia, os libertários fora de época se batem contra a censura etária ou, as falhas dela, no que tange o cumprimento das regras estabelecidas por lei para o consumo de produtos culturais da atualidade.  Outro aspecto é o ajuste da ignorância generalizada sobre o processo histórico que denota profundo desprezo por pensadores como Freud, Nietsche, Einstein e muitos outros que derrubaram pedra por pedra as colunas dos edifícios do saber erguidos pelos senhores do conhecimento (mainstream) que os manteve em pé por longo tempo, como proteção de  um sentido precário de unidade humana. Relegar as grandes transformações da alta modernidade a segundo plano é nada mais que retrocesso. É um tipo de conservadorismo de viés progressista que se firma na crença do bom combate contra os dogmas morais que supostamente subsistem. Pura balela. A indústria cultural de massas aniquilou esses artifícios.
Esse mundo acabou! Caput!
A façanha que o levou ao fim foi movida por sucessivas transgressões.
Francamente, não há um pingo de transgressão ou embate liberador que possa ser copilado e reeditado pela grande imprensa pelo simples fato de que ela é a voz e as cores do que o ‘status quo’ deseja e investe pesadamente.




Voltando as divagações na estação do pensamento. As fotos que complementam as imagens do local onde ocorrem minhas divagações, são alusões as obras do Suprematismo (não confundir com os deploráveis  suprematistas raciais) movimento artístico russo iniciado por Malevitch nas bordas do século XX. Numa das fotos aparece o artista cercado de suas obras em sua estação de trabalho, no tempo em que foram feitas.




A que a segue abaixo é o ajuste que a pós modernidade imprime para inserí-las no circuito de arte contemporânea, a fim de  atender as demandas dos centros culturais e do público de arte da atualidade. 
Seja no contexto artístico/ histórico, seja no contexto moral, trata-se de uma apropriação adequada às ações das instituições culturais e do mercado de arte da atualidade.
Time is money! Literalmente.