sábado, agosto 12, 2017

Bula alemã para pastar no tédio




A Documenta 14, considerada pelos próprios curadores como a "maior mostra de arte contemporânea", é a máquina alemã que acelera a Estetização do Mundo em direção ao mundialismo artístico. 
As mega exposições da produção atual tem como regra básica nocautear no primeiro stand os mais entusiasmados curiosos que rodam pelo mundo a cata de novidades.   
Nessa, como em outras edições, os temas tradicionais da arte se tornam  visíveis não por seus contextos históricos ou estéticos mas, pelo aditivo adicional da recriação(sic) de outros significados,engendrados pelos curadores.  A sequencia interminável de  performances se pauta em ‘puro’ ativismo político. Ora, pudera, antes se falava em ‘arte’ pura. 
Pureza, como vemos, permanece sendo a maior utopia do mundo das artes.
Que gente mais conservadora!
Alguns participantes -os mais radicais- se apresentam como ‘não’ artistas. Negam as questões artísticas e se apresentam explicitamente como performáticos excepcionalmente políticos. 
Paradoxalmente, não negam serem incluídos na ‘maior mostra de arte contemporânea’. 
Se pintar um contrato com uma rica galeria comercial e burguesa,certamente não abrirão mão de partir para a ocupação do sistema de arte. Mas, alertam que essa é uma ação tática com intuito de  implodir o sistema  por dentro.  
Tudo que diz respeito a gênero, etnia e outros tópicos do entediante manual politicamente correto, impresso nas páginas dos jornais diários, tem presença assegurada em toda megaexposição. 
A Documenta é uma versão da Bienal de Veneza, sem os canais, a arquitetura secular e os encantos da velha Itália. 
É uma Bienal com empuxo de um motor BMW de 1500 cavalos de estimação.
Recebi hoje a Bula alemã e consultei alguns tópicos. 
Sobre as intrigantes questões da arte da atualidade não há uma linha ou mesmo uma imagem.
Mas, pouco importa?
Quando se que tem de sobra uma penca de ideologias e uma farta distribuição de signos sócio político e culturais, querer ver coisas desprovidas de mensagem explicita, misteriosas e intrigantes -como só a arte sabe ser- é no mínimo, um desejo excêntrico e antiquado.
Na consulta à Bula destaquei um item que trata especificamente dos sintomas da Arte Latino Americana no contexto estético transglobal. 
A apresentação de uma das expositoras desse bloco artístico, define bem o conceito que norteia os curadores da maior mostra de arte contemporânea:”Transexual, a teuto-chilena Lorenza Böttner perdeu os braços quando criança. Sua obra pode ser vista como resistência: enquanto o diagnostico  médico e os modos de representação pretendem dessexualizar e transformar o corpo deficiente em algo sem definição de gênero.O trabalho de Lorenza erotiza o corpo trans e sem braços,equipando-o com potência sexual e política.
A artista ela mesma e as decorrências da sua vida é a Obra em si.
O ideário da ruptura radical da "Arte Vida/Vida Arte", que se afogou nos canais de Veneza na Bienal dos anos 60 do século passado, continua incentivando os nadadores a continuarem  tentando chegar na praia.

sexta-feira, agosto 04, 2017

Ostracismo SQN

 Desde os primórdios da sociedade que a punição aos criminosos é um problemão.
Na antiguidade grega, fosse por justa causa, injustamente, declínio do poder de um tirano ou de homens justos, os sucessores (vencedores) usavam o desterro ou o ostracismo, como forma de punição aos derrotados.
O exílio é uma punição cruel e severa demais, típica dos regimes autoritários que se acham donos do país. Porém, o ostracismo não!
A punição pelo ostracismo de um personagem vil que por pura ambição pessoal, sustentada por devaneios ideológicos, trouxe fome, desemprego, a discórdia e a miséria ao seu povo, me parece correta e muito adequada ao tempo presente. 
Por que não ocorre?
Ora, o que faria a comunicação empresarial para vender mais commodities se dispensasse o cortejo de lamúrias das vítimas da ‘perseguição política’?
Enquanto as esperanças da população faziam coro às ‘Utopias’ de igualdade e justiça social, os líderes progressistas eram deuses do Olimpo. 
Entretanto, ao assumir o poder, com apoio das diversas categorias sociais e de grande parte da classe média urbana, reeditando o velho discurso populista, com uma pitada de cordialidade ‘amorosa’, esses deuses, em poucos dias, se revelaram tão canastrões, desonestos e corruptos quanto os imundos mortais que dominavam o cenário político nacional.
Mensalão & Petrolão, duas táticas dos progressistas usadas para engrossar as fileiras dos parlamentares comprados nas bancas das maiores legendas do país, agregados à roubalheira, garantiam e, ainda garantem (ver:'Carniceirão' do Temer) o comando das instituições políticas da república.
Jose Dirceu, um dos deuses dos progressistas, esteve à frente do poder. Na ocasião tinha nas mãos todos os instrumentos para realizar o sonho dos eleitores. Suas tentativas nesse sentido foram mais que modestas, canhestras, medíocres e demagógicas. 
Então, como recurso de oratória, culpava a oposição. 
Até que um dia, o maior feito político do Dirceu no poder - o Mensalão – que visava cabrestear economicamente o Congresso Nacional, foi tornado público. Dirceu caiu em desgraça. Foi investigado, julgado e condenado. Não passou muito tempo na cadeia e voltou ao cenário político como um dos estrategistas do Petrolão. Foi acusado,julgado e condenado,de novo.
Ficou pouco tempo na prisão.
Pois bem! Dirceu está de novo nas lides. Todas as suas tentativas – políticas ou de simples corrupção - fracassaram. 
Seus devaneios ideológicos diluíram.Não refletem na realidade 
Qual a razão de um personagem desses, que fracassou em tantas frentes de luta e ter se mostrado um desastrado no comando das táticas de poder, ganhar tanto espaço na mídia empresarial? 
E, pior, ser compartilhado nas redes sociais até por quem dele não se lembraria, se não fosse lembrado pelos jornalistas do esquema. 
Seus textos são previsões de mais derrota e glórias à decadência. 
Ao escrever sobre Maduro, Dirceu me despertou o sentimento de piedade.
A obsessão pelo poder acelera a senilidade. 
Nessas horas penso o quanto os gregos da antiguidade eram sábios ao não punirem com a severidade do desterro ou da morte, personagens que perderam contato com o tempo e a história. Enfim, aos decadentes! 
Em casos assim, eles puniam com o ostracismo. 
Ninguém mais, além dos familiares, crédulos da seita ou amigos íntimos, deles se lembravam ou... compartilhavam.