sexta-feira, fevereiro 03, 2017

Crônica sobre o provincialismo globalizado.


Hoje, passarei batido pelas páginas do noticiário policial que relatam o dia a dia da política,dos políticos,ministros e autoridades brasileiras, seus cúmplices, agora delatores, e empresários corruptos e corruptores. 
O noticiário político nacional se tornou uma espécie de cartório de boletins de ocorrência (B.O) empilhados sobre a mesa do delegado da PF.
Deixarei para examinar outro dia os efeitos sobre o mundo do crime procedentes do choque da “homologação 77” que, no imaginário da bandidagem nacional, equivale ao que foi o Dia de São Valentim(mais um 14 de fevereiro se aproxima)para os gangsteres da Chicago dos anos 20 do século passado, quando a cúpula de uma facção do crime foi metralhada numa garagem.
Os dois personagens que ilustram esse post se chamam: Ele, DJ (Don Juan) ela, FF (Fifi). É o casal proprietário do espaço onde, por cortesia, se instala o meu ateliê. Nosso convívio é tranquilo, porém, sou obrigado a servi-lhes rações diárias de qualidade, manter seus banheiros exclusivos limpos, repor água fresca todo dia e, sempre que desejarem lhes abrir a porta ao primeiro miado, esteja eu lendo, trabalhando, ouvindo música ou o que quer que esteja fazendo, para atender de imediato seus pedidos de cafuné ou simplesmente para se instalarem na poltrona ou sobre a mesa do computador. DJ é agora um coroa rabugento,bem mais velho que FF,uma criatura doce e amigável mas, isso não impede que convivam muito bem.
É na observação da relação do casal que me hospeda que tenho aprendido coisas interessantes. O diálogo silencioso, a sedução gestual e os afagos entre os dois se chocam com a minha observação sobre a atual situação cultural que limita os gestos, a sedução e o galanteio entre gêneros da esquisita espécie humana.
Desde as cavernas, a espécie humana tem demonstrado forte tendência para a demência e a violência. É uma espécie que deveria ser estudada em profundidade em zoológicos de segurança máxima.
Signos gravados na pedra registravam a saga de homens que estupravam e violentavam mulheres. Levou um tempo enorme até que um dia descobriram que isso é crime e que deve ser punido com severidade. Entretanto, tal correção tardia de rumo, deixou marcas indeléveis na cultura desses seres esquisitos. De um tempo para cá, o gênero feminino entendeu que tem que redobrar sua atenção para não ser vítima passiva da selvageria dos homens. Pressionando a base da razão, as mulheres conseguiram leis de proteção que lhes assegura alguma proteção. Mas, essa espécie esquisita é ardilosa. No mercado de trabalho e em outros ambientes sociais supostamente civilizados, pratica-se um tipo de violência que passa despercebida ou é relegada a simples estranheza que caracteriza essa espécie esquisita.
Vai daí que em plena Era do Conhecimento e da globalização cultural, o galanteio formoso, que tanto prazer oferecia aos ‘libertinos’, que na concepção moderna, refere-se aos pensadores e literatos europeus que se abstraíam dos princípios morais do seu período, principalmente aqueles relacionados à moral sexual,período esse em que o garboso e então jovem gato Don Juan, exercia enorme fascínio, agora corre o risco de também se tornar crime.
Essa reflexão surgiu em minha mente exatamente enquanto observava os afagos entre o casal que me hospeda e lia a notícia de que um ser humano do gênero masculino teve voz de prisão porque numa rua de Nova Iorque agrediu uma mulher chamando-lhe de ‘bela e sensualmente atraente’. A notícia, ao lado dessa, ilustrada pela face esquisita, os lábios sibilinos e os gestos grosseiros do novo presidente norte americano,confinaram meus pensamentos na visão assustadora de uma praça de aldeia provinciana, com sol a pino e calor infernal.