quarta-feira, novembro 29, 2017

O Jaguar e as Lésbicas







Tanta coisa transborda da internet que até minha memória está se tornando preguiçosa. A introjeção da inteligência artificial nos afazeres diários transformou nosso modo de agir e pensar e, quem sabe, até lembrar coisas do passado.
Hoje, fazendo uma busca especifica no oráculo digital, um bit intrometido fez aparecer - do nada, sem que eu tivesse solicitado - a foto da traseira de um velho Jaguar –com placa do Estado da Guanabara – estacionado em um tempo distante, numa rua qualquer desse país.
A surpresa me espantou. Primeiro porque a consulta não tinha relação alguma com automóveis. Eu fazia uma pesquisa para atualizar as informações sobre as ilhas gregas que visitei muitos anos atrás. Dentre as ilhas consultadas estava a de Lesbos. A ilha, assim como as mulheres de Lesbos, ganhou notoriedade através do tempo devido sua mais ilustre figura, a poeta Safo. Pertencente a alta sociedade e extremamente culta, Safo organizou a primeira academia de mulheres, onde ensinava música, dança e poesia. Safo se inspirou nas grandes obras, como o Ilíada e a Odisseia de Homero. Seu grande carisma a levou a reunir em torno de si as mulheres de Lesbos e, com elas, desbravar um novo ponto de vista para a cultura grega: um ‘olhar’ o mundo à partir da própria mulher.
Até hoje Safo encanta mulheres e homens. Platão a admirava. A chamava de “Musa Sábia”.  Os romanos da Roma Imperial a tinham em alta estima. A conotação pejorativa dada às mulheres que amam e se relacionam sexualmente uma com as outras, só surgiu muito tempo depois da decadência do Império, durante a Idade Média. Com o passar do tempo essa conotação ganhou musculatura se tornando um rígido preconceito. 
Deixando de lado os feitos maravilhosos e sedutores da poeta, mas,não sem antes mencionar uma fagulha da sua sensível e ousada consciência: “Alguns homens dizem ser as cavalarias, outros dizem ser os soldados, e outros dizem ser as naus a coisa mais bela sobre a terra negra. Mas, eu digo, o mais belo é o que amamos”, volto para a foto do calhambeque conversível branco que, tenho como certo, pertencia ao meu pai. O lindo Jaguar branco pérola - em perfeito estado - é exatamente como era e guardo na lembrança o carro do meu pai nos idos dos anos 50/60.
Naquela ocasião aquele tipo de Jaguar era raro na paisagem do Leblon. Os pais dos meus amigos de infância tinham lindos  e modernos Cadilac’s, Chevrolet, Hudson, Dodge, Desoto, Buick, Oldsmobile,Ford e outras marcas americanas. O Jaguar Mark V branco conversível, estacionado em frente ao número 80 da Rua Afrânio de Mello Franco, era único no bairro.
Foi o Jaguar do meu pai que me transportou em direção a primeira visão e ao sentimento inaugural do contato físico e amoroso entre duas mulheres. A retirada do véu, que encobre os mistérios em torno das relações amorosas entre gêneros, aconteceu no verão de 1956 ou 57. Eu era muito garoto, tinha dez,onze anos ou pouco mais que isso, quando minha  família tomou a estrada a bordo do magnifico Jaguar Mark V, com destino a região dos Lagos, onde o fato aconteceu. 
Só tempos depois, já adulto, entendi o impacto que a cena teve sobre mim.  
Lembro de alguns verões com meus pais e os casais amigos que iam para a região se divertir, pescar, jogar pôquer, beber, dançar e fazer coisas de adultos que, para nós meninos, não eram assim tão interessantes e as  quais ,tirante a sensação maravilhosa de liberdade, pouco lembraria mais tarde. 
Mas, esse caso em particular, teve um destaque especial entre tantos outros que aconteceram na ocasião.  
De dezembro a fevereiro eu, meus irmãos e amigos deixávamos de lado os limites da vida na grande cidade, as aulas e os professores e mergulhávamos de cabeça na liberdade de correr pelas pedras, remar, nadar, aventurar no mar, caçar siris, guaiamuns e mergulhar entre as rochas, sem tempo para retornar de uma aventura, aguentar advertências ou reprimendas disciplinares. Calção, camiseta, snorkel, máscara e pé de pato era tudo que usávamos da manhã à noite. Foi no retorno de um longo dia de aventuras, por volta das 7 da noite, concentrados numa desculpa esfarrapada para dar ao ‘Comodoro’ Antunes sobre uma desastrosa manobra que lançou seu barco inflável sobre as rochas, danificando o motor de popa, que o ‘espanto' aconteceu.
Eu, meus irmãos, Alexandre e Ângelo e o amigo Álvaro, estávamos tão concentrados na mentira que inventariamos que ao vislumbrar o grande Jaguar em frente a uma porta que supus ser do nosso quarto não titubeei. 
Meti a mão na maçaneta e a escancarei, deparando com a visão frontal de duas mulheres peladas, abraçadas e se acariciando na cama. 
Não me recordo se elas se espantaram mais que nós. 
Por longos segundos fiquei agarrado à maçaneta tentando entender a cena. Ninguém deu um pio, nem se moveu. Todos com olhar fixo naquela cena. Elas se moveram bruscamente. Deram um salto e agarraram os lençóis como quem agarra uma tábua de salvação. Dei um pulo para trás, fechei a porta e saímos em disparada.
Agora, tínhamos dois problemas para resolver. Explicar para o pai o desastre com o barco do Comodoro e tentar entender o que tínhamos acabado de ver.  
Ora, o que tínhamos acabado de presenciar era hierarquicamente menos grave que o desastre com o barco do Comodoro. Além de ser mais fácil de explicar já que não precisávamos mentir.  Naquela hospedaria nós não olhávamos os números dos quartos. Nossa referência era o Jaguar, sempre parado em frente ao nosso quarto. Por sorte ou azar meus pais saíram enquanto nos aventurávamos no mar. Quando retornaram estacionaram na frente de outro apartamento. Explicar –mentir -  para o pai sobre o que levou ao desastre com o barco do Comodoro era o maior dos problemas. Em vista disso, tentar entender o que tínhamos acabado de ver era moleza. O prejuízo do barco foi rapidamente resolvido entre os adultos. Não contei para meu pai a cena das duas mulheres peladas. Mas, contei para minha mãe. A interpretação dela sobre o ocorrido foi tão natural e convincente que, desde então, o amor, as caricias e a libido entre as mulheres nunca se tornaram um problema, sequer um fetiche para mim, como homem. Numa noite, ao entrar no salão inundado pelo cheiro dos cigarros e do whisky, onde os adultos se debruçavam sobre a mesa da jogatina que varava madrugada, lá estavam as duas, sentadas na mesma mesa da minha mãe e do meu pai e outros jogadores. Enquanto falava com minha mãe sobre alguma coisa que fariamos no dia seguinte, eu não tirava  os olhos da morena que eu achava a mais linda das duas. Aliás, eu achava as duas muito bonitas. Ao me despedir de todos, ela me sorriu e piscou carinhosamente. 
Acho que enrubesci, fiquei quente, mas gostei daquela cumplicidade.       













quarta-feira, novembro 15, 2017

Sobre Artistas e Finanças




Quando se fala em ‘Economia Criativa’ muitas pessoas logo imaginam ‘muita grana’, sucesso financeiro, fama e fortuna dos artistas. O fato dessa ideia estar em voga atualmente confunde aspectos significativos de como a economia acontece nas artes. 
Na superfície, a ideia veste de glória os artistas que alcançam grande sucesso midiático. Entretanto, trata-se de uma ilusão. Tirante as estrelas do showbiz, os astros pops, os expoentes da indústria cultural  e os artistas que pautam suas produções no sistema de comunicação – incluindo, nesse contexto, os financiados pelos investimentos do marketing no setor editorial, cinematográfico, televisivo e as ações do mercado para alavancagem dos preços das obras de artistas vivos, a realidade da economia criativa é bem diferente do que em geral se supõem 
No tocante aos artistas, estrito senso, a ‘economia criativa’ - na realidade -é uma ficção. 
Ela não tem base concreta nos custos inerentes à produção artística e nos possíveis lucros auferidos aos autores. 
Nem poderia ter! Os fatores envolvidos na criação artística não são objetivamente mensuráveis. Alem disso,a 'mais valia' de uma obra de arte no correr do tempo beneficia financeiramente os mercadores e investidores.
Os desafios e os custos da produção artística vão muito além dos gráficos da economia monetária propriamente dita. 
Cabe ao artista, sabedor dessas limitações, entender e enfrentar outro ângulo da economia que decorre da questão existencial e de sobrevivência e, também, objetivamente, fundar uma maneira de manter incólume a liberdade criativa, a livre experimentação e a superação das dificuldades inerentes ao seu trabalho. 
Isso, claro, se ele pretende fazer uma obra emanada do frescor e que o surpreenda como criador. 
Para manter o fluxo do consumo de obras imersas nos códigos esteticos estabelecidos, o custo é basicamente o do material e do empenho promocional em torna-lo um alvo midiático de grande visibilidade e um fetiche de mercado. 
Não é fácil. Porém, é menos difícil que ousar algo novo e autentico, por excelencia. 
Na maior parte das vezes, os itens pautados na ousadia criativa tendem a exaurir os recursos investidos e, algumas vezes, podem afetar a saúde do artista. Isso porque a economia do artista, digamos assim, tem como prioridade ampliar o arco das suas investidas criativas. Opção esta que nem sempre reverte em ganho monetário. Esses itens são muitas vezes entendidos por alguns artistas como a causa do seu sofrimento e incompreensão por parte do público.
Não digo peremptoriamente: 'Dane-se o público' porque a incompreensão me apraz. E muito! 
E, também, porque há um grande egoísmo - orgulho de si - em todo criador.
Por esses e outros motivos somos tomados de tristeza quando um grande artista - na juventude ou na velhice - sofre de carência financeira. 
Nas colunas de entrada e saída da economia de um artista, os fatores não se expressam em cifras. Se expressam na ousadia, na determinação e na qualidade intrínseca da sua obra. Não é raro ver artistas muito dedicados, que não cumprem uma planilha de trabalho regular e não medem despesas para suprir sua demanda por material, que atravessam noites e dias debruçados sobre seu trabalho e que, quando se dão conta, espantam-se não apenas com o fato de o dinheiro ter acabado, mas que a ‘economia’ da sua saúde mental ou física foi um pouco abalada. 
Como inserir esses fatores numa tabela progressiva da Economia Criativa?
Inútil e infecunda tentativa! 
A Economia da Cultura se aplica estritamente aos investimentos em setores da Industria Cultural e fomenta a Cultura do Espetáculo. 
Para a criação artística não existe um plano previamente traçado, previdência social ou aposentadoria. Muitos artistas ancoram suas produções em incentivos fiscais. Mas,tal perspectiva, gera outro tipo de angústia e não supre as necessidades mais fecundas da criação. Convenhamos que fazer um 'Projeto' para cada 'inspiração' é um treco insano. 
O artista, estrito senso, que não produz com uma equipe de auxiliares, é um ser solitário, sujeito as intempéries do seu talento. 
A única vantagem dessa forma de vida é que ele é o primeiro contemplar algo belo e se extasiar ou – se decepcionar com sua mais recente criação,porque não lhe tocou a alma. 
Então, de volta ao serviço!




sábado, novembro 11, 2017

Constructor Social



    Primeiramente (LOL); Fora os carrascos da Intolerância que estapeiam ideias e agridem pessoas que as expressam. Segundamente (BIS); antes de um breve comentário sobre Judith Butler, manifesto minha discordância pelo trato estupidamente hostil às ideias da filosofa. 
    Ela não é a primeira e não será o último exemplar da espécie humana a exibir uma fórmula simplista (cultural) de superação da natureza. 
    Fazer o papel de ‘deus’, senhor dos fenômenos naturais, sempre foi a maior aspiração da cultura.
    Muitos seres humanos - intensos e geniais - já tentaram.
    Todavia, as principais características que identificam os mamíferos permanecem inalteradas.As glândulas mamárias e a gestação em útero, componente orgânico circunscrito às fêmeas mamíferas,são os mesmos desde o surgimento das especies.Tirante, claro, os marsupiais, que criaram (sic) uma bolsa intermediaria para a função de procriar.
    Enquanto os protótipos Pós Humanos – replicantes – seres fundamentalmente culturais - permanecerem matéria de pesquisas laboratoriais e anátemas religiosos, os mamíferos humanos continuarão nascendo das fêmeas dessa espécie insatisfeita e frustrada com sua restrita dimensão humana.
    Ainda que tal circunstancia natural aborreça profundamente os adeptos do 'constructo social', essa é a realidade da especie
    Que merda! Por que não nascemos deuses? Por que nosso gênero não é consequência da nossa própria vontade ou daquela formada pelo mainstream que molda os desejos, caráter, personalidade e a forma de se apresentar ao mundo?Da cultura da época,claro!
    Ah! A arcaica frustação humana por seu insignificante protagonismo na criação do Universo é uma posição diminuta e inaceitável para quem se quer deus.
    O homem chegou atrazado e cheio de pressa para desviar da desconfortável e inexpresiva posição frente as forças da natureza.
    Por isso,lançou mão da balsa da cultura.
    A balsa da cultura é uma variante em material sintético da Arca de Noé.
    Ela nos dignifica culturalmente frente a forma mais visível de deus : A natureza!
    Pressumir que ela (natureza) não nos reduzirá - enquanto seres sociais - aos seus caprichos, é uma pressunção descabida.
    Judith Butler é mais uma culturalista na frente de batalha contra as injustiças (incompletude) da natureza humana.
    Para ela a CULTURA não deve se dobrar aos fenômenos da natureza. Ela põe fé teórica na ideia de que a ‘construção social’ pode aprimorar e mesmo dar algumas lições de bons modos às arbitrariedades totalitarias da natureza.
    Se a cultura nos da garantias – livre arbítrio - de podermos incorporar o gênero que desejarmos, por que a maldita natureza tem que se intrometer na vida privada dos humanos?

domingo, outubro 15, 2017

Divagações






Domingo 15 10 2017, na estação das divagações, me ponho a refletir sobre a produção artificial de uma polemica estúpida envolvendo arte e moral, fartamente explorada pela grande mídia. Vejo, com mais espanto, uma sequência interminável de argumentos descabidos revestidos da tola intenção e conceitos vagos sobre arte e moral nos tempos correntes. 
Releitura (um subtítulo bonitinho para encobrir a incapacidade de se pensar a complexidade do tempo presente) é uma forma pueril de se reduzir o pensamento contemporâneo a um pastiche midiático, submetendo-o ao controle da máquina da comunicação social que impiedosamente massifica o pensamento da atualidade. 
Tal circunstancia é o revés de uma atitude realmente emancipatória. 
Constato com desgosto o grande estrago que o multiculturalismo e a relativismo cultural, que imperam na cultura dos últimos trinta anos, causaram nos corações e mentes da gente de hoje.  
A falsa polêmica que se alastra na atualidade levou muitos a desprezarem os cortes artístico/ científico/ético/moral lançados pela vanguarda histórica do começo do século XX .
Atribuir comparações esdrúxulas de fundo moral entre nus performáticos de hoje com obras da antiguidade grega, mesmo com as do renascimento, é jogar na lixeira as importantes transformações geradas pelo novo pensar sobre o homem, a cultura, o tempo e o mundo. Antes de tudo, é bom frisar que não se combate mais dogmas morais de uma arte oficial ou de uma ciência que emolduravam, os dois, os modelos das academias vetustas de outrora (século XIX). Naqueles templos cultuava-se as aparências do ‘belo’ e do ‘conhecimento’ cientifico, ajustados ao mundo ungido por uma elite que se sobrepunha aos demais no tocante a complexidade da experiência humana através da história.
Tentar reproduzi-lo não é factível nem mesmo para os replicantes do século XXI. Tecer um manto de fábulas num mundo desabitado por deuses do passado pode levar a produção de seriados proto medievais de grande sucesso. Todavia, na realidade, são apenas farsas, fadadas (de fadas, mesmo) a uma temporada de sucesso midiático e fim.  
O que hoje assisto são confrontos entre turbas de doidos tentando impor uma vontade sobre as demais. Seja de que lado for. Tal situação revela aspectos da pretensão dos contemporâneos. Não tendo diante de si mais dogmas para enfrentar com galhardia, os libertários fora de época se batem contra a censura etária ou, as falhas dela, no que tange o cumprimento das regras estabelecidas por lei para o consumo de produtos culturais da atualidade.  Outro aspecto é o ajuste da ignorância generalizada sobre o processo histórico que denota profundo desprezo por pensadores como Freud, Nietsche, Einstein e muitos outros que derrubaram pedra por pedra as colunas dos edifícios do saber erguidos pelos senhores do conhecimento (mainstream) que os manteve em pé por longo tempo, como proteção de  um sentido precário de unidade humana. Relegar as grandes transformações da alta modernidade a segundo plano é nada mais que retrocesso. É um tipo de conservadorismo de viés progressista que se firma na crença do bom combate contra os dogmas morais que supostamente subsistem. Pura balela. A indústria cultural de massas aniquilou esses artifícios.
Esse mundo acabou! Caput!
A façanha que o levou ao fim foi movida por sucessivas transgressões.
Francamente, não há um pingo de transgressão ou embate liberador que possa ser copilado e reeditado pela grande imprensa pelo simples fato de que ela é a voz e as cores do que o ‘status quo’ deseja e investe pesadamente.




Voltando as divagações na estação do pensamento. As fotos que complementam as imagens do local onde ocorrem minhas divagações, são alusões as obras do Suprematismo (não confundir com os deploráveis  suprematistas raciais) movimento artístico russo iniciado por Malevitch nas bordas do século XX. Numa das fotos aparece o artista cercado de suas obras em sua estação de trabalho, no tempo em que foram feitas.




A que a segue abaixo é o ajuste que a pós modernidade imprime para inserí-las no circuito de arte contemporânea, a fim de  atender as demandas dos centros culturais e do público de arte da atualidade. 
Seja no contexto artístico/ histórico, seja no contexto moral, trata-se de uma apropriação adequada às ações das instituições culturais e do mercado de arte da atualidade.
Time is money! Literalmente.
   





sexta-feira, setembro 15, 2017

Rir! Um estimulo para pensar






Ontem,o Teatro Sanders/Harvard,apresentou mais uma edição do prêmio IgNobel.
Esse prêmio é o único que considero ajustado às transformações da atualidade. Ele é conferido a pessoas cujas façanhas científicas "primeiro fazem rir, e depois fazem pensar".
As velhas austeras premiações, as solenidades das Academias de Arte e demais segmentos da indústria cultural são comemorações espetaculares, mas, circunscritas aos velhos parâmetros de consagração.
Sim! São bacanas e milionárias, porém, falta-lhes um olhar crítico e desafiador frente ao futuro, capaz de reverter o pessimismo global diante das ameaças que se acumulam.
O físico francês Marc-Antoine Fardin recebeu o IgNobel da sua especialidade graças a um estudo que investiga se os gatos podem ser considerados matéria líquida.
Outro francês, Jean-Pierre Royet, da Universidade de Lyon, usou imagens de ressonância magnética para estudar a atividade cerebral das pessoas que tem repulsa a queijo. Sua pesquisa concluiu que quando essas pessoas cheiram queijo cheddar e gruyère um centro de recompensa associado à alimentação desliga-se e outras regiões do cérebro são ativadas.
A equipe de pesquisadores liderada por Kazunori Yoshizawa, da Universidade de Hokkaido, Japão, descobriu que insetos que habitam grutas no Brasil têm “um pênis feminino e uma vagina masculina”. Por essa façanha ganhou o prêmio de biología.

domingo, setembro 10, 2017

O Sagrado,a Razão e o Terror



“O laicismo em vigor na França erradicou a parte sagrada do Homem.”
Eduard Valdman

Rousseau, (autodidata suíço) genial filósofo, teórico político, escritor, compositor, considerado um dos principais filósofos do Iluminismo e precursor do romantismo, é tido como o ‘vovô das esquerdas’. Sua teoria ‘Da Vontade Geral’ enfatiza que o indivíduo pode fazer o que desejar. Porém, quando se afasta do ‘Estado da Natureza’ e embarca na sociedade civil,o Homem, por necessidade e obrigação, deve curvar-se à vontade geral, o que significa dizer que ele terá que obedecer à vontade popular ou da maioria. Na sua obra ‘Do Contrato Social, ’ Rousseau propõe que todos os homens se unam em torno de um novo contrato social capaz de garantir a defesa da liberdade. Sua teoria se baseia em registros históricos -interpretados pôr ele -sobre as experiências das antigas civilizações onde predominava o consenso. Há muito que se refletir e questionar sobre que espécie de ‘consenso’ o pensador se referia. Marx, um dos seus filhos mais famosos, reinterpreta esse ‘consenso’ na forma moderna da ditadura do proletariado.
Contudo, tempos atrás, lendo textos de vários estudiosos sobre o legado do profícuo pensador do Iluminismo o ‘consenso’ mais se assemelhava a uma copiosa dissenção.
Tirante os acadêmicos, que amam dissecar resquícios da natureza morta, os tataranetos, pendurados nos galhos da esquerda da arvore ‘Rousseau’ creem que ela ainda dá frutos. Em contrapartida, os aboletados nos galhos da direita consideram que a arvore Rousseau produz seiva venenosa que corrói os valores da sociedade. Por motivos muito longos para expor aqui, deixei um pouco de lado a leitura de artigos sobre o pensador.
Semana passada, mais precisamente na quinta feira 7 de setembro, recebi a visita do casal Betty Herbour e Eduard Valdman, amigos da toda vida, em visita ao Rio de Janeiro. Eles passaram no meu ateliê. Antes, durante e depois do almoço o tema central do nosso encontro abrangeu as ideias de Rousseau e seus desdobramentos na atualidade. Valdman, poeta e pensador francês ficou poucos dias na cidade. Teve que retornar logo à Paris a fim de checar a finalização do seu último livro que sairá da editora na próxima segunda feira, amanhã. Eduard, ex aluno do Institut d’Etudes Politiques de Paris e Secrétaire de la Conference de Stage du Barreau de Paris é poeta e brilhante pensador. Nossa conversa se desdobrou sobre as questões cruciais que a França atravessa no momento. Sobretudo, por conta do fluxo migratório e da expansão do terrorismo. A citação no início desse texto foi extraída do livro que em breve estará nas livrarias. Um dos eixos desse livro foca nas consequências pouco analisadas, para mim inéditas e arrojadas, sobre os desdobramentos do Iluminismo, fonte no pensamento francês ‘universalizado’ sobre o qual Rousseau exerceu enorme influência. Numa resenha, publicada numa pequena brochura que Eduard me deu, o assunto é explorado de forma inquietante. Diz ele: “ A laicidade não parte exatamente do princípio de tolerância que frequentemente se evoca. Voltaire[outro expoente do Iluminismo]era inimigo furioso do obscurantismo religioso e era também violentamente antissemita[nesse ponto Eduard evoca para si a ira dos ‘libertários’]. Por outro lado, o déficit simbólico induzido pela Revolução Francesa: Morte ao Rei, a Deus, ao Pai e a todo Princípio de Autoridade findaram no Terror e na ditadura bonapartista. A grande potência da Razão, resultante da filosofia dos Iluministas, teve prolongamentos nas ditaduras marxistas. Os Direitos do Homem de 1791, inegavelmente constituíram um avanço, mas, colocaram o Homem frente a um vazio espiritual e a um princípio estreito de laicidade que hoje se mostra impotente em face ao extremismo."
Nas páginas finais da sua brochura, Eduard acentua: [A sequência] de “contrassenso primordial que aparece hoje, no momento de uma França ateia, dita França laica, que se confronta a uma possante religião – O Islã – é que provoca a França a se reconstruir. ”
No entendimento de Eduard é crucial que se repense Deus, excluído dos capítulos dos Direitos do Homem. 
Para mim, ateu, as vias para a reinvenção da civilização ocidental é ainda uma incógnita. Não sei se ela virá de uma razão mais elevada, capaz de abrir um clarão para a espiritualidade como contraponto ao conforto do materialismo, em cheque nas sociedades liberais e  que corre grandes riscos de sobrevivência.     

sábado, agosto 12, 2017

Bula alemã para pastar no tédio




A Documenta 14, considerada pelos próprios curadores como a "maior mostra de arte contemporânea", é a máquina alemã que acelera a Estetização do Mundo em direção ao mundialismo artístico. 
As mega exposições da produção atual tem como regra básica nocautear no primeiro stand os mais entusiasmados curiosos que rodam pelo mundo a cata de novidades.   
Nessa, como em outras edições, os temas tradicionais da arte se tornam  visíveis não por seus contextos históricos ou estéticos mas, pelo aditivo adicional da recriação(sic) de outros significados,engendrados pelos curadores.  A sequencia interminável de  performances se pauta em ‘puro’ ativismo político. Ora, pudera, antes se falava em ‘arte’ pura. 
Pureza, como vemos, permanece sendo a maior utopia do mundo das artes.
Que gente mais conservadora!
Alguns participantes -os mais radicais- se apresentam como ‘não’ artistas. Negam as questões artísticas e se apresentam explicitamente como performáticos excepcionalmente políticos. 
Paradoxalmente, não negam serem incluídos na ‘maior mostra de arte contemporânea’. 
Se pintar um contrato com uma rica galeria comercial e burguesa,certamente não abrirão mão de partir para a ocupação do sistema de arte. Mas, alertam que essa é uma ação tática com intuito de  implodir o sistema  por dentro.  
Tudo que diz respeito a gênero, etnia e outros tópicos do entediante manual politicamente correto, impresso nas páginas dos jornais diários, tem presença assegurada em toda megaexposição. 
A Documenta é uma versão da Bienal de Veneza, sem os canais, a arquitetura secular e os encantos da velha Itália. 
É uma Bienal com empuxo de um motor BMW de 1500 cavalos de estimação.
Recebi hoje a Bula alemã e consultei alguns tópicos. 
Sobre as intrigantes questões da arte da atualidade não há uma linha ou mesmo uma imagem.
Mas, pouco importa?
Quando se que tem de sobra uma penca de ideologias e uma farta distribuição de signos sócio político e culturais, querer ver coisas desprovidas de mensagem explicita, misteriosas e intrigantes -como só a arte sabe ser- é no mínimo, um desejo excêntrico e antiquado.
Na consulta à Bula destaquei um item que trata especificamente dos sintomas da Arte Latino Americana no contexto estético transglobal. 
A apresentação de uma das expositoras desse bloco artístico, define bem o conceito que norteia os curadores da maior mostra de arte contemporânea:”Transexual, a teuto-chilena Lorenza Böttner perdeu os braços quando criança. Sua obra pode ser vista como resistência: enquanto o diagnostico  médico e os modos de representação pretendem dessexualizar e transformar o corpo deficiente em algo sem definição de gênero.O trabalho de Lorenza erotiza o corpo trans e sem braços,equipando-o com potência sexual e política.
A artista ela mesma e as decorrências da sua vida é a Obra em si.
O ideário da ruptura radical da "Arte Vida/Vida Arte", que se afogou nos canais de Veneza na Bienal dos anos 60 do século passado, continua incentivando os nadadores a continuarem  tentando chegar na praia.

sexta-feira, agosto 04, 2017

Ostracismo SQN

 Desde os primórdios da sociedade que a punição aos criminosos é um problemão.
Na antiguidade grega, fosse por justa causa, injustamente, declínio do poder de um tirano ou de homens justos, os sucessores (vencedores) usavam o desterro ou o ostracismo, como forma de punição aos derrotados.
O exílio é uma punição cruel e severa demais, típica dos regimes autoritários que se acham donos do país. Porém, o ostracismo não!
A punição pelo ostracismo de um personagem vil que por pura ambição pessoal, sustentada por devaneios ideológicos, trouxe fome, desemprego, a discórdia e a miséria ao seu povo, me parece correta e muito adequada ao tempo presente. 
Por que não ocorre?
Ora, o que faria a comunicação empresarial para vender mais commodities se dispensasse o cortejo de lamúrias das vítimas da ‘perseguição política’?
Enquanto as esperanças da população faziam coro às ‘Utopias’ de igualdade e justiça social, os líderes progressistas eram deuses do Olimpo. 
Entretanto, ao assumir o poder, com apoio das diversas categorias sociais e de grande parte da classe média urbana, reeditando o velho discurso populista, com uma pitada de cordialidade ‘amorosa’, esses deuses, em poucos dias, se revelaram tão canastrões, desonestos e corruptos quanto os imundos mortais que dominavam o cenário político nacional.
Mensalão & Petrolão, duas táticas dos progressistas usadas para engrossar as fileiras dos parlamentares comprados nas bancas das maiores legendas do país, agregados à roubalheira, garantiam e, ainda garantem (ver:'Carniceirão' do Temer) o comando das instituições políticas da república.
Jose Dirceu, um dos deuses dos progressistas, esteve à frente do poder. Na ocasião tinha nas mãos todos os instrumentos para realizar o sonho dos eleitores. Suas tentativas nesse sentido foram mais que modestas, canhestras, medíocres e demagógicas. 
Então, como recurso de oratória, culpava a oposição. 
Até que um dia, o maior feito político do Dirceu no poder - o Mensalão – que visava cabrestear economicamente o Congresso Nacional, foi tornado público. Dirceu caiu em desgraça. Foi investigado, julgado e condenado. Não passou muito tempo na cadeia e voltou ao cenário político como um dos estrategistas do Petrolão. Foi acusado,julgado e condenado,de novo.
Ficou pouco tempo na prisão.
Pois bem! Dirceu está de novo nas lides. Todas as suas tentativas – políticas ou de simples corrupção - fracassaram. 
Seus devaneios ideológicos diluíram.Não refletem na realidade 
Qual a razão de um personagem desses, que fracassou em tantas frentes de luta e ter se mostrado um desastrado no comando das táticas de poder, ganhar tanto espaço na mídia empresarial? 
E, pior, ser compartilhado nas redes sociais até por quem dele não se lembraria, se não fosse lembrado pelos jornalistas do esquema. 
Seus textos são previsões de mais derrota e glórias à decadência. 
Ao escrever sobre Maduro, Dirceu me despertou o sentimento de piedade.
A obsessão pelo poder acelera a senilidade. 
Nessas horas penso o quanto os gregos da antiguidade eram sábios ao não punirem com a severidade do desterro ou da morte, personagens que perderam contato com o tempo e a história. Enfim, aos decadentes! 
Em casos assim, eles puniam com o ostracismo. 
Ninguém mais, além dos familiares, crédulos da seita ou amigos íntimos, deles se lembravam ou... compartilhavam.

terça-feira, abril 18, 2017




A 14ª edição da mais badalada exposição mundial de arte contemporânea inaugurou sábado(08/04). Pela primeira vez a mostra acontece em Atenas. A imprensa alemã informou que muitos moradores da capital grega nem mesmo ficaram sabendo do evento.
O blasé curador da edição preferiu que o público descobrisse a exposição por si mesmo em vez de apresenta-la como um espetáculo mundial da arte ou se deixar instrumentalizar pelo marketing da cidade. Curador muito artístico é assim! Deve contestar a massificação dos meios de comunicação e cunhar uma ‘marca’ pessoal, capaz valorizar suas escolhas estéticas no mercado de arte. Não há nenhuma ideia original. É só mais um viés do paradoxo mais palatável para o sistema da arte atual.   
Bem que eu gostaria de dar mais atenção às propostas curatoriais exóticas que surgem a cada temporada no campo das artes visuais.
De ano para ano, meu desinteresse  mais se consolida.
Adam Szymczyk, diretor artístico da Documenta 14, mostra mais uma vez o quanto é enfadonho ressuscitar experimentos do passado para ilustrar a arte do presente. O curador, inspirado nas ideias do músico vanguardista britânico Cornelius Cardew (7 de maio de 1936 -13 de dezembro de 1981), pinçou a frase do citado: "Desaprender é a chave do aprendizado" que, aliás, desde o despertar do mundo moderno foi dita das formas e estilos mais variados, para confirmar minhas expectativas sobre a gradativa e inexorável  decadência do pensamento sobre Arte. Ao ser indagado sobre o que significa ‘aprender de Atenas’, Adam Szymczyk respondeu: "Deixar o pré-concebido e entrar num estado de desconhecimento."

Ok! Baby...

sexta-feira, fevereiro 24, 2017

Efeito Colateral




Bastou  a China perceber a relevância das artes para a projeção global da política externa do país,para que o cenário das artes no Ocidente se tornasse um alvo.
Em curto espaço de tempo, os artistas do país alcançaram fama e prestigio nos círculos culturais do Ocidente. 
Concomitantemente,os novos bilionários chineses construíram museus de arrojada arquitetura para instalar mega coleções de arte nas suas regiões de origem. 
Muito dinheiro, empenho e competencia montaram uma estratégia cultural de internacionalização da arte chinesa contemporânea que mais parece um plano de ocupação militar/cultural do Ocidente.
Artistas  transbordaram as fronteiras continentais da China e vazaram pelos centros culturais da Europa e dos EUA. 
Ai Weiwei, o performático artista estrela, com seu repertório de mix de itens filosófico/político/metafórico, facilmente assimiláveis pela classe média do ocidente, se tornou ponta de lança da ocupação.
Abdicada do senso crítico de outrora e ávida por tudo que seja espetaculoso e novidadeiro, a platéia das artes deste lado do planeta, cedeu ao deslumbramento patético e se fartou na avidez por tudo que seja espetaculoso e novidadeiro.
Ajoelhou tem que rezar. Essa é a máxima da ideologia religiosa de cooptação. 
Aberta essa nova senda de sucesso e fortuna, sucedem no calendário artístico global os lançamentos dos novos ícones da arte chinesa contemporânea, de perfil mais identificável com o gosto ocidental da ocasião,formatado,antecipadamente pelos tutores e curadores que dirigem os grandes centros de arte do ocidente.
Confirmado o sucesso dessa estratégia de ocupação cultural, a China logo transformou suas feiras de cópias perfeitas das pinturas históricas do Ocidente, uma atração turística para ocidentais idiotizados que se espantam com a habilidade técnica dos copistas chineses e lá  compram milhares de  Van Goghs, Rembrantds, Renoirs, Picassos etc. mais perfeitos que os originais. 
Enquanto, com investimentos fabulosos, agem decisivamente  na superestrutura cultural global, através de emissários bem sucedidos como Ai Weiwei e, agora, com o lançamento mundial do estiloso ‘surrealismo hiper-realista’(sic) do artista  Choi Xooang, com suas pinturas de cabeças sem olhos encarando uma a outra. Centenas de mãos decepadas que se juntam para formar asas carnudas de um anjo e dos homens com cabeças de cachorro que vestem calcinhas femininas sexy. O estupido marketing da CNN, informa para seu leitor 'sem olhos', que o que lhe parece uma foto realista surpreendente é,de fato,uma imagem pintada realmente à mão.
Nesse ritmo, acumulando calhamaços de estupides,em breve, as academias e escolas de arte do Ocidente estarão copiando o estilo chinês de arte contemporânea para exportação.
Os tolos acham que o multiculturalismo é uma invenção do ocidente e que, por isso, a cultura do ocidente estaria  protegida dos seus efeitos colaterais.





quarta-feira, fevereiro 22, 2017

Peculiaridades nativas/Conheça o Brasil









O ‘populacionometro’ do IBGE afere que no minuto em que você lê esse post a população brasileira é de 207.126.193 de pessoas. 
Ao acabar de ler esse texto deverá ser um pouco mais.
Como os números que conformam esse pais, seja no tocante à população, extensão territorial, crimes contra a vida, violação de direitos e corrupção são gigantescos, me fixarei ao índice populacional numericamente inexpressivo, as chamadas minorias, camufladas entre a massa de gente comum.
A mais reduzida das minorias brasileiras é a de bilionários. O Brasil tem 65. A população de milionários brasileiros é 161,2 mil.
Agora vamos para regiões onde as minorias estão em processo de extinção ou praticamente desapareceram. Entre elas podemos destacar a comunidade caiçara, os quilombolas, a aldeia hippie de Arembepe e outras similares que cultuam a maconha, surfe, rock e artesanato.
Contudo, nenhuma dessas comunidades goza das regalias do povo do Foro Privilegiado. Esse povo, que reúne mais de 20.000 indivíduos, tem imunidades que nem monarcas de outrora possuíam. Se você imaginava que os bilionários, milionários e outras minorias poderosas são privilegiadas, quando conhecer melhor o Brasil, entenderá que nem tanto quanto imaginava.
Vejamos; um bilionário pode ter mil fabricas de cerveja, comprar uma fábrica de ketchup e querer comprar outra de hambúrgueres, ter aviões, iates, mansões maravilhosas com capelas, padres e pastores como serviçais, mas, não possuem uma Corte de Justiça só para si.
Os milionários podem sofrer de inveja dos bilionários, mas, sentirem-se abastados e felizes frente a miséria do povo local. Eles podem ter barcos, casas, viajar, comprar roupas de grife etc.Ms,não podem ter uma Corte de Justiça só para si.
Porém, os mais de 20.000 indivíduos do povo do Foro Privilegiado, tem poderes supremos. É a unica minoria que tem uma Corte Suprema de Justiça só para atendê-los.
O IBGE, Policia Federal ou Justiça de primeira instancia sequer ousam entrar nos domínios desse povo.
Eles cometem crimes, irregularidades de todo tipo, falcatruas contra o tesouro nacional na certeza de que jamais a justiça lhes alcançará.
Poucos países protegem essa minoria. Sabe-se que na América Latina, a Venezuela disputa com o Brasil a liderança quanto ao tamanho da população de privilegiados.
Na Europa, a Espanha se destaca.
Contudo, em países onde a modernidade se instalou em sincronia com as guerras de independência, como os EUA, esse povo foi extinto com a derrota do Império Britânico.

quarta-feira, fevereiro 15, 2017

Inteligencia & sensibilidade















A inteligencia e a sensibilidade são bens imateriais indestrutíveis.
Esteja certo! 
Sobrevivem a temperaturas extremas e a regimes bestiais, se recompõem e proliferam à luz do sol.
Ainda que ativistas invistam na construção de muralhas protecionistas - físicas e morais - a fim de afastar toda forma de contagio entre culturas,etnias,credos,costumes ou qualquer forma de apropriação e miscigenação, a grande beleza,a sensibilidade e a liberdade criativa continuarão compartilhando sua infindável façanha de subverter dogmas e limites artificiais a fim de nos encantar na curta existência sobre esta "terra amarga".
Enquanto falávamos sobre isso, o ambiente foi invadido por esse som (post)com poema e voz da negra norte americana Dinah Washington e cover melódico de um compositor germânico naturalizado inglês,branco e de olhos azuis,Max Richter.Esse cover foi criado para ser inserido na trilha sonora do filme de um diretor norte americano, descendente de imigrantes italianos, com hábitos,sentimentos e sensibilidade fundidos na alta temperatura do universalismo.
É suprimindo 'turbantes' em cabeças miscigenadas e retendo momentos de espontaneidade, superação e beleza que os ativistas contra a apropriação cultural pretendem combater a perversidade da globalização?
Vai durar pouco!

sexta-feira, fevereiro 03, 2017

Crônica sobre o provincialismo globalizado.


Hoje, passarei batido pelas páginas do noticiário policial que relatam o dia a dia da política,dos políticos,ministros e autoridades brasileiras, seus cúmplices, agora delatores, e empresários corruptos e corruptores. 
O noticiário político nacional se tornou uma espécie de cartório de boletins de ocorrência (B.O) empilhados sobre a mesa do delegado da PF.
Deixarei para examinar outro dia os efeitos sobre o mundo do crime procedentes do choque da “homologação 77” que, no imaginário da bandidagem nacional, equivale ao que foi o Dia de São Valentim(mais um 14 de fevereiro se aproxima)para os gangsteres da Chicago dos anos 20 do século passado, quando a cúpula de uma facção do crime foi metralhada numa garagem.
Os dois personagens que ilustram esse post se chamam: Ele, DJ (Don Juan) ela, FF (Fifi). É o casal proprietário do espaço onde, por cortesia, se instala o meu ateliê. Nosso convívio é tranquilo, porém, sou obrigado a servi-lhes rações diárias de qualidade, manter seus banheiros exclusivos limpos, repor água fresca todo dia e, sempre que desejarem lhes abrir a porta ao primeiro miado, esteja eu lendo, trabalhando, ouvindo música ou o que quer que esteja fazendo, para atender de imediato seus pedidos de cafuné ou simplesmente para se instalarem na poltrona ou sobre a mesa do computador. DJ é agora um coroa rabugento,bem mais velho que FF,uma criatura doce e amigável mas, isso não impede que convivam muito bem.
É na observação da relação do casal que me hospeda que tenho aprendido coisas interessantes. O diálogo silencioso, a sedução gestual e os afagos entre os dois se chocam com a minha observação sobre a atual situação cultural que limita os gestos, a sedução e o galanteio entre gêneros da esquisita espécie humana.
Desde as cavernas, a espécie humana tem demonstrado forte tendência para a demência e a violência. É uma espécie que deveria ser estudada em profundidade em zoológicos de segurança máxima.
Signos gravados na pedra registravam a saga de homens que estupravam e violentavam mulheres. Levou um tempo enorme até que um dia descobriram que isso é crime e que deve ser punido com severidade. Entretanto, tal correção tardia de rumo, deixou marcas indeléveis na cultura desses seres esquisitos. De um tempo para cá, o gênero feminino entendeu que tem que redobrar sua atenção para não ser vítima passiva da selvageria dos homens. Pressionando a base da razão, as mulheres conseguiram leis de proteção que lhes assegura alguma proteção. Mas, essa espécie esquisita é ardilosa. No mercado de trabalho e em outros ambientes sociais supostamente civilizados, pratica-se um tipo de violência que passa despercebida ou é relegada a simples estranheza que caracteriza essa espécie esquisita.
Vai daí que em plena Era do Conhecimento e da globalização cultural, o galanteio formoso, que tanto prazer oferecia aos ‘libertinos’, que na concepção moderna, refere-se aos pensadores e literatos europeus que se abstraíam dos princípios morais do seu período, principalmente aqueles relacionados à moral sexual,período esse em que o garboso e então jovem gato Don Juan, exercia enorme fascínio, agora corre o risco de também se tornar crime.
Essa reflexão surgiu em minha mente exatamente enquanto observava os afagos entre o casal que me hospeda e lia a notícia de que um ser humano do gênero masculino teve voz de prisão porque numa rua de Nova Iorque agrediu uma mulher chamando-lhe de ‘bela e sensualmente atraente’. A notícia, ao lado dessa, ilustrada pela face esquisita, os lábios sibilinos e os gestos grosseiros do novo presidente norte americano,confinaram meus pensamentos na visão assustadora de uma praça de aldeia provinciana, com sol a pino e calor infernal.