sexta-feira, janeiro 29, 2016

Melancolia


Camadas de fuligem, bolor e fungo afixaram na estrutura carcomida onde se aloja o centro decisório do governo e da administração pública brasileira. As coisas mais novas, feitas ontem, quando imersas na cultura política nacional depressa adquirem aspecto decadente. Naquele ambiente o novo surge adaptado ao velho padrão mediano do gosto e do consenso. 
Com isso, as duas últimas gerações de brasileiros são obrigadas a medir a passagem do tempo pela ampliação da defasagem entre a arcaica tradição brasileira e o impulso transformador que move-lá fora- o mundo da atualidade.
A cultura politica brasileira está imersa no caldo da sublimação catatônica das experiências fracassadas do passado, liquefeita aos acontecimentos desastrosos do presente e aditivado pela extrema ideologização das políticas públicas.O objeto resultante desse amalgama foi a edição do populismo de esquerda.Consolidados no poder trataram da imediata substituição dos métodos mais aprimorados de tecnicidade nos campos cruciais para o desenvolvimento como educação, saúde, justiça social e trabalho,pela demagogia paternalista de grandes resultados eleitorais.
No Brasil as políticas sociais são efêmeras porque projetadas para durar uma eleição.
Intencionalmente desestruturadas, as políticas sociais voltam no próximo pleito como nova promessa de campanha. Assim, ‘macunaimamente’ original, o Brasil assiste o tempo passar sem que nada se transforme concretamente.
Até mesmo os debates políticos, ancorados na divisão ideológica do mundo que ocorria em meados do século XX, continuam na pauta das atualidades da vida política brasileira.
Nunca me senti tão Brasil como hoje ao acordar e ler:
“Delfim está com saudade da ditadura” Maria da Conceição Tavares
Oh!Fui catapultado no tempo.
Que barato!
Que puta estranha sensação acordar em outro tempo.
Tirante o cheiro imaginário do bolor fétido dos infrutíferos debates dos anos 60/70/80, a reedição do seriado Delfim & Maria da Conceição Tavares é a cara do governo Dilma e o apogeu da Era petista.

sexta-feira, janeiro 22, 2016

‘Énouement’



Tem manhãs que desperto sacudido por sonhos juvenis.
Creio que todos os sonhos que se desenrolam em nossas vidas são pré-produções infantis,gravados entre a infância e a adolescência e exibido por toda nossa existência.
"Não podemos esmorecer!" 
Este foi o último alerta que vi estampado nas faixas erguidas por uma multidão de jovens alegres na terra dos sonhos. Senti uma certa discrepância entre as imagens e a mensagem. Mas, o mundo dos sonhos é pleno de mistérios e enigmas que misturam tempos que se foram, mas, sei lá porque, permanecem. 
Sequer procuro desvendar. Ao longo do dia sou contemplado com as sensações apanhadas nos domínios dos sonhos e sinto um certo desconforto em compartilha-las na dimensão da realidade real.
Enfim, sou muito egoísta com meus sonhos.
Todavia, depois que o artista John Koening publicou seu "Dicionário das Tristezas Obscuras" me dediquei a achar uma 'nova' palavra- no sentido de genuína - que pudesse expressar as tentativas de conectar as várias dimensões do real. Encontrei na palavra ‘Énouement’, cujo o verbete alude ao advento da “sensação agridoce de ter chegado no futuro, visto como tudo aconteceu, mas não ser capaz de contar para o seu EU do passado” uma significação estimulante.
Era isso que me faltava. 
Que Freud me perdoe, mas sou persuadido a admitir que para além dos traumas germinais o mundo atemporal dos sonhos tem uma espantosa sinergia com o ciberespaço(vice e versa) e os meios virtuais de percepção do mundo.
A cultura digital é forjada no sonho que constrói mundos virtuais tão palpáveis quanto o real. Tangíveis a ponto de nos levar a indagar: Onde acontece a realidade real? 
Como não tenho queda por fantasias surrealistas, minha tendência é considerar o real como o ‘sítio do absurdo’. 
É nele, no real, que tudo é possível.É nele que se processa a fantasia, os sonhos, a vida cotidiana, a mesmice,a opressão e as revoluções.
A convergência da realidade real com a realidade virtual dilatou os canais da percepção e, por conseguinte, ampliou a comunicação interpessoal. 
A vida e o mundo se estenderam para horizontes antes vivenciados apenas por poetas e destemidos aventureiros que habitavam nossos sonhos juvenis de liberdade.
Essa é a revolução que se processa AGORA que poucos tem o dom da graça de perceber e compartilhar em tempo real. 
Caso compartilhem, como contemporâneos do evento, pouco ou quase nada conseguem transferir para o EU do passado que vos fala. 
Diante disso é pura tolice olhar o momento atual com o paradigma que atribui totalidade ética/moral ao fator presencial. Essa virtude imposta ao EU ficou no passado por limitar o entendimento de que a experiência humana só se realiza na materialidade - corpo e a alma fincados no tempo real – que, por tratar-se de uma raridade experimental acontece em fases cruciais da existência como no nascimento, gozo, dor e na morte. 
Entende-la como a única ocorrência digna de uma existência sem ‘vícios’ adquiridos na realidade virtual, é uma recorrência ao passado por temor do presente/futuro.
O duplo SER - um consciente e presencial, outro virtual e alienado - é puro blefe de quem ainda acredita na unidade do SER como estagio mais elevado da consciência.
A realidade é múltipla. Por que o SER não seria também?
As realidades se complementam e o SER que as interpenetra se expande em múltiplas percepções sensoriais. 
Torço para que se instrumentalize mais rapidamente possível as ferramentas tecnológicas para a humanidade alcançar uma terceira, quarta e quinta dimensão do real sem a necessidade de uma mediação mística, uso de drogas alucinógenas ou delírio ideológico/ fundamentalista que, de acordo com a tradição arcaica, finda em servidão, tortura e guerras.
Alcançar esse estágio da evolução levará a humanidade a democratizar o acesso a dimensões hoje intransponíveis para os ‘caretas’ que, lamentavelmente, compõem a massa dos realistas crédulos e obcecados pela economia da subsistência e pelo poder político. 
Tal fenômeno acarreta na mais ousada evolução da espécie.
Induzir um fundamentalista religioso radical ou um militante convicto a atravessar a limitada dimensão condicionada do real é mais transformador que uma guerra sangrenta para derrota-los. 
A realidade ficará mais complexa e rica e o mundo um lugar melhor para se viver.
O diabo desse sonho é que a opção de vivenciar plenamente a realidade me leva direto para os domínios da frustração. 
Talvez, por isso, o alerta: "Não podemos esmorecer!" tenha amplo significado nas muitas dimensões do real.
Ele se manifesta também como resistência objetiva ao corrupto e seu “Poder” de convencer a massa de que ela é impotente para vencê-los.
O fato é que não É!
Estamos em plena transformação. 
Antes do advento das redes digitais,a resposta correta e exemplar da Operação Lava Jato, da PF, do MP e da PGR ao clamor da população, se restringiria ao campo do desejo.Além disso,sem essas ferramentas muitas pessoas sequer saberiam da extensão e malefícios causados pela população de pilantras e corruptos e seus associados que achacam o presente e comprometem o destino das futuras gerações de brasileiros.
Aos poucos os pegaremos! 
Ainda tem muitos deles escondidos que serão progressivamente alcançados

domingo, janeiro 10, 2016

Narco Fashion

Relutei por um tempo compartilhar o artigo do link. 
Me negar a replicar, ainda que de forma numericamente insignificante,a maciça visibilidade de mais tolices, além das que já abundam no Brasil, é um procedimento que adotei nas redes sociais. 
Porém, o culto piegas ao ‘marginal justo’ contra o Estado opressor e injusto, mantido por uma sociedade hipócrita, omissa e criminosa denunciada e combatida por bastiões da verdade,como os 'astros' dessa pantomima moralista,é uma babaquice que me desperta repulsa. 
Diante de mais um embuste me sinto na obrigação de revidar a carolice oportunista das celebridades histriônicas, como é o caso dos personagens centrais do artigo desse link. 
“A vida é um negócio. A única coisa que muda é a mercadoria. Você não concorda? ”
É raro ver tamanha platitude para expressar encanto pelo cartel mexicano das drogas. 
Todavia, foi assim mesmo, com essa indagação carregada de admiração que em 2012 Kate del Castillo, uma das atrizes mais famosas do México,fechou um tuíte expressando desconfiança no governo mexicano e admiração pelo traficante El Chapo.
Politica,propriamente dita,Zero!
Justiça social e segurança pública,então,nem se diz.
As sociedades mais pobres não merecem esses benefícios admiráveis que em países onde a lei é um valor inegociável, conferem alguma segurança a sociedade.. 
Para engrossar o caldo de uma mitologia contemporânea eletrizante,como num filme de Hollywood, Kate protagonizará nessa entrevista com o ator Sean Penn, um deslumbrado por personagens engajados em causas dispares que podem ir da militância histriônica por um Chávez a uma rebeldia alucinada sem qualquer causa política aparente.
Esse é o perfil 'outsider' de um ator conturbado pela contradição entre o "negocio" milionário que exerce e o ser humano -tocado pela lucidez- que interpreta na vida real. 
O resultado desse trailer de conflito existencial pode ser lido na matéria em tom de roteiro de blockbuster dramático,em forma de elegia ao tráfico de drogas.
A vida, ao contrário do deslumbramento da dupla, é muito mais complexa que um "negócio", seja ele qual for. 
Ainda que a cultura do espetáculo invista os tubos para formatar a mentalidade do espectador e explodir as bilheterias, a existência, a dor humana e a própria realidade é que definem o mundo, à revelia dos padrões morais, da estética hollywoodiana e das lendas que transbordam a atualidade.
A cabecinha doidivana da Kate e o deslumbre ativista do Penn, se esborracham na medíocre tentativa de converter El Chapo em um Emiliano Zapata.
O artigo é uma fogueira de vaidades.
Uma disputa de narcisismos entre Penn e El Chapo com a doidivana Kate del Castillo como plateia.
Porém,o que transparece como fato inconteste é que um oceano de inteligencia e talento separam Sean Penn de John Steinbeck, responsável pelo roteiro do filme Viva Zapata! do Elia Kazan 
Na verdade, El Chapo sequer tem a estatura de um Pancho Villa, ex-domador de cavalos, ex-bandido e guerrilheiro, que liderava os camponeses do Norte com o objetivo de combater o Exército Federal e os grandes proprietários, conquistando vilas e cidades e que, em determinado ponto da conturbada história mexicana, se aliou a Zapata,dois sinônimos dos maiores líderes revolucionários mexicanos.
Em resumo:"a secreta visita ao homem mais procurado do mundo" é um estardalhaço promocional ridículo que seria mais eletrizante caso os dois protagonistas acompanhassem El Chapo no seu novo domicilio pelo tempo em que lá permanecer.
Até a próxima fuga, rastreada em tempo real por um reality show compartilhado em rede, com Kate e Sean como o casal da missão especial.

Read more: http://www.rollingstone.com/…/fea…/el-chapo-speaks-20160109… 
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terça-feira, janeiro 05, 2016

Um Olhar Entrevista: Adriano de Aquino





Os primeiros dias de um novo ano inspiram mudanças e avaliações sobre realizações de um tempo que passou. 
Rememoriza-los nos induz a rever com um novo olhar não apenas os arquivos físicos mas, também, mentais, ideias, sensações e opiniões que nos mobilizaram num período. 
Os registros de um tempo,quando revistos, abrem novas oportunidades para repensar o momento presente.
A entrevista à Paola Bonelli em novembro de 2014(link) toca em temas que abordo com certa frequência neste blog.
Falar descontraidamente é bem diferente de escrever burilando de forma mais concisa o que penso sobre diversos assuntos.

sexta-feira, janeiro 01, 2016

Trópico do Entreguismo



Enquanto a grande imprensa nacional especula sobre as razões da vizinha Argentina se transformar de país muito rico em muito pobre e a mídia nativa chapa branca argumenta em favor dos investimentos promissores do governo brasileiro no Porto de Mariel, em Cuba, e sobre as benesses do financiamento do BNDES às empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato para obras de infraestrutura nas ditaduras africanas, a China vai de mansinho arrematando nacos estratégicos do ‘terreno baldio’ abandonado pela anorexia das políticas petistas para a infraestrutura nacional.
A política energética petista, imantada na corrupção e no delírio megalômano do PT, reduziu a Petrobras a um escombro.
Ainda que o governo use o sindicalismo amestrado para se manifestar em período eleitoral em defesa do patrimônio nacional do pré sal e dos braços produtivos e comerciais da companhia, o fato é que ela está sendo paulatinamente canibalizada. A estratégia petista para o setor derrubou as últimas porteiras permitindo a escalada chinesa no setor energético nacional. A desidratação da estatal brasileira oculta um programa de governo que poderíamos chamar de “Mais China” – ‘colonizador do bem’- na economia nacional.
Duas companhias chinesas recém-criadas (China National Petroleum Corporation (CNPC) e China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) atuam agora fortemente no setor de petróleo e gás brasileiro. Numa jogada de cartas marcadas o consórcio chinês venceu o leilão de Libra, alavancando sua atuação para três blocos de operação no pré-sal. Se incluirmos as investidas no pós-sal, a China possui hoje 12 blocos. O próximo passo das empresas chinesas será no segmento de refino.
Tudo leva a crer que nesse setor os governos petistas visavam afogar a a Petrobras em má gestão, escândalos, dividas gigantescas e forte estresse financeiro para depois desafoga-la recorrendo a medicina milenar chinesa.
Mesmo os adeptos da privatização do setor petrolífero ficaram boquiabertos pela condução direcionada do governo para um comprador. Muitas pessoas advertem: a roubalheira e a gestão destrambelhada dos governos Lula/Dilma visavam quebrar a coluna vertebral da companhia para depois privatizar os nacos do flagelo.Senão,como explicar a opção preferencial dos petistas pelo capitalismo chinês?
Quem vê adiante já prevê a proporção do desastre ao avaliar essa medida como um risco para as contas externas do Brasil. A crescente presença do capital chinês no setor deve elevar as exportações de petróleo para a China, ac ampliando a dependência da economia brasileira em relação à China que, diga-se de passagem, é o principal destino de nossas exportações.
Esticando as pernas para o setor hidrelétrico, outro setor estratégico que os governos petistas asfixiaram,a companhia China Three Gorges (CTG) venceu o leilão das usinas Jupiá e Ilha Solteira em São Paulo. Localizadas no rio Paraná, as duas hidrelétricas eram as mais cobiçadas entre as 29 usinas leiloadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Aflito em fazer caixa o governo deu pulinhos de alegria ao arrecadar 17 bilhões de reais em bônus de outorga – valor pago pelas empresas pela concessão.
E não para por ai!
Começamos o ano de 2016 com perspectivas negativas para a economia. Hora certa para o capital chinês pôr para andar o projeto de uma estrada de ferro que rasgará a floresta amazônica.
Troço de louco!
Parece até roteiro de filme.
Partindo do Rio de Janeiro,do Porto Maravilha, mais precisamente da Estação Central do Amanhã(triste amanha), a ferrovia se estenderá por 5.300 quilômetros atravessando o Brasil profundo e atingindo o Peru, passando por Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre.
A nova aventura ‘neocolonialista’ em Terra Brasilis será administrada por ‘Fliz Callaldo’, substituto asiático do aventureiro germânico que cortou a floresta amazônica com um barco a vapor.
O aventureiro asiático pretende fazer isso de trem.
A Dilma, que anunciou um trem bala que nunca chegou, deve estar louca para autorizar a façanha dos chineses que cumprem o que prometem.
Que se dane as políticas ambientais.
O progresso não deve ser emperrado por um bando de ecochatos.
A ferrovia pretende cortar uma serpentina no que resta da maior reserva de biodiversidade no planeta.
A devastação do meio ambiente tem como objetivo reduzir os custos de transporte do petróleo, minério de ferro soja e outras commodities oriundas da “colônia” latino-americana para a metrópole na China. Por conta disso e para alavancar sua produção industrial, a China envidará todos os esforços para ligar o litoral atlântico brasileiro à costa peruana do Pacífico. Os chineses, doravante os donos da bola energética brasileira, chamada carinhosamente pelos petistas como ‘commodities neoliberal’, vão fazer tudo que lhes der na veneta para reduzir os custos de transporte do que, por força de um contrato, lhes pertence.
A Dilma acha que os chineses são com ela e o PT que prometem tudo mais não realizam nada.
São inconsequentes contumazes!
Temo pelas gerações futuras que terão que enfrentar o modelo de capitalismo expansionista chinês, amparado no poderio bélico da segunda maior potência econômica do mundo.
Todos conhecem a obstinação daquele povo.
Quem não conhece basta ver a extensão e resistência da secular Muralha da China e dar uma olhadinha nas obras monumentais contemporâneas e outros megaempreendimentos que os chineses realizam de olhos fechados, para se ter uma ideia de como eles irão pressionar os nativos latino americanos que ainda estão por nascer e ousem resistir.