quinta-feira, novembro 19, 2015

As artimanhas da moral absoluta.



As argumentações dos progressistas -made in Brasil e dos democratas - politicamente corretos - made in USA- convergem para um ponto comum.Para os dois vetores do protagonismo político moderado as democracias do ocidente são os principais culpados pela expansão do terror mundo afora. 
As argumentações diferem em alguns detalhes(armas,petróleo), todavia, se estabilizam na certeza de que a mais devastadora violência contra a humanidade se origina dos três pilares do vicio,da dominação e da ganância que conduzem ao crime.São eles:a democracia, as garantias à liberdade individual e o livre mercado .
Os multiculturalistas são unanimes em afirmar que esses vetores, expandidos em operações culturais,econômicas e militares além mar, se constituem armas de guerra política. Vem dessa hipótese maluca a ideia de que o maior erro das potencias ocidentais foi tentar impor a democracia na regão,em detrimento da cultura das castas religiosas.Quando se condena as práticas insidiosas do livre mercado não se aponta os governos corruptos como únicos responsáveis.A tendencia é apontar a permissividade criminosa dos cidadãos que vivem nas democracias do ocidente como cúmplices do sistema.Isso é um blefe que,em certa medida,no entendimento dos progressistas, relativiza a violência jihadista contra civis.
Para os combatentes da jihad islâmica esses itens representam a base de uma ofensiva autócrata contra a qual os fieis devem opor resistência, dispondo inclusive a própria vida ao sacrifício se atirando na missão divina de espalhar o terror enquanto ato de auto defesa dos valores culturais e territoriais mais autênticos. 
Do 11 de setembro aos dias atuais, os combatentes da jihad islâmica tem angariado simpatizantes no ocidente.
Alguns intelectuais dessa banda do mundo estabeleceram uma muralha de proteção onde guardam os argumentos de defesa que atestam,antes de tudo, que os crimes cometidos pelas democracias ocidentais contra aquela região do globo e aos muçulmanos em geral,são inomináveis e infinitamente mais violentos e destruidores. 
Tomarei aqui uma citação fora dos padrões mais elegantes das correntes liberal/progressista do ocidente para ilustrar minhas reflexões.
Todos já estão cansados de saber o que pensa Chomsky sobre a insidiosa vilania das democracias ocidentais.Também estamos fartos de saber que os progressistas nativos consideram os neoliberais os maiores assassinos do planeta.Isso significa dizer que se você não enxerga a realidade por esse viés é porque é um reacionário conivente com o Terror imposto aos povos do Oriente Médio,America Latina,Leste Europeu,Africa e demais vitimas do capitalismo eurocêntrico e norte-americano. 
Todavia,poucos se importam com o que pensa sobre o terrorismo(se é que pensa)os velhos comunistas, para quem os neoliberais,multiculturalistas, progressistas e o escambau são uma tralha burguesa e que,ao fim e ao cabo, merecem -todos- "uma boa bala,um bom paredão e uma boa morte."
O trecho que segue é parte de um artigo intitulado "Atentado em Paris: as lágrimas de crocodilo dos dirigentes europeus e dos EUA " de autoria de Edmilson Costa,secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista Brasileiro.Diz ele:”Esse atentado em Paris se enquadra nas ações de terrorismo puro e simples. Cerca de 130 pessoas foram assassinadas, nenhuma delas possuía relação com o governo ou tinha realizado qualquer ação contra o islamismo. Foram mortos simplesmente por estar no lugar errado, na hora errada. Tratou-se, evidentemente, de um ato bárbaro que ceifou a vida de inocentes, executado por fanáticos, sem nenhum critério político, ideológico ou militar. Na verdade, os executores desse massacre eram apenas peões guiados desde longe por interesses geopolíticos e econômicos do imperialismo, tanto europeu quanto norte-americano.” 
Como vemos o arauto do comunismo foi mais explicito que os liberais/progressista ocidentais na sua condenação aos atos do terror em Paris. Ainda que os comunistas,assim como os jihadistas, sofram alergia crônica à democracia, o autor dessas linhas foi menos “compreensivo” com o terror avulso que os grupos politicamente corretos -made in USA, os progressistas nativos e os multiculturalistas ocidentais no tocante aos atos da sexta feira sangrenta.
Fica evidente que para um comunista ferrenho o “terrorismo puro e simples” sem objetivos políticos nobres,como o deles,é uma violência gratuita.Para um comunista,o terror de inspiração ideológica, cometido em nome de uma ideologia igualitária,fundada na hipótese insana de que o extermínio das diferenças é o caminho para paz, fundamenta a moral na qual a execução em massa dos inimigos burgueses é um terror justificável..
Todavia,todos os segmentos do protagonismo político fluente nas democracias ocidentais são unanimes em admitir que a democracia,as liberdades individuais e o livre mercado são os principais responsáveis pela crescente violência no mundo.
Essas vertentes, a parte algumas diferenças, desprezam as características violentas inseridas na gênese das culturas religiosas.
Todos isentam o islamismo como fomentador de uma cultura da violência.Coincidem na premissa de que a violência contra as mulheres,as minorias étnicas e religiosas e contra tudo mais que permeia o leque da diversidade cultural,são refratários a violência e devem ser redimidos da culpa.
É incrível que uma mentira tão maquiavélica ainda subsista em pleno século XXI. 
Para esses indivíduos, amputar clitóris, dilapidar mulheres supostamente promiscuas, vetar o prazer ao gênero feminino, açoitar e matar infiéis,subestimar crenças,punir com a morte os homossexuais, decapitar os apostatas,doutrinar mentes desde a mais tenra infância é 'natural' as culturas religiosas e,como tal, devem ser respeitadas como algo inofensivo à sociedade.Multiculturalistas defendem abertamente essa tradição por acreditarem que sua permanência não lastreia a opressão,o medo e,claro,o ‘boom’ da violência por todo o planeta.Dado que os muçulmanos, na era global,se tornaram cidadãos do mundo,a arrogância, fundada na moral sagrada, lhes autoriza mudar radicalmente o mundo a fim de elevar a humanidade,como um todo, à categoria de servidores obedientes a Alá.
No seculo passado,a sua maneira, os eugenistas nazi tinham a mesma pretensão de controlar a raça do mundo. 
É difícil encontrar hoje algo mais violento do que isso!
Para esse intento,comum aos diversos vetores do protagonismo politico da atualidade, a democracia ocidental é um estorvo que deve ser combatido até o juízo final.

sexta-feira, novembro 13, 2015

Asas da Carne






































Não leio,comento e compartilho qualquer comentário sobre a frenética escalada de preços das obras de arte.Seja nos leilões ou operações avulsas do mercado. O afã da grande imprensa e do público em geral pelo hipódromo financeiro das artes é motivo de grande frenesi.Propagar  os recordes dos preços de venda de um objeto de arte é apenas tietagem histérica  de quem confunde valor com preço e trabalha de graça para o sistema.O tiete pós moderno responde como um automato aos estímulos da atualidade manifestando orgulho pelos preços estratosféricos que as obras atingem no mercado. O sucesso financeiro de algumas celebridades ocorre,sobretudo,por conta do altos preços propagados pela comunicação social,segmento estratégico do marketing. Depositar crédito nesse mecanismo é pura tolice.Altos  preços excitam o público avido por disputas sem nexo algum. Essas tolices, ao lado das pinturas do Bacon, revelam a grotesca atração dos 'incautos' pela ostentação e a estupidez. Um fato econômico não é um fenômeno artístico.Pagar-se somas elevadas para obras de arte não significa acrescentar virtudes e valor artístico a uma obra de arte. 
A trupe dos boquiabertos e deslumbrados -incluindo alguns artistas embasbacados - festeja os 'lances' que se concretizam em lucros estupendos dos intermediários.Ganhos que os autores e mesmo a arte em si,pouco se beneficiam materialmente.Quem lucra são os intermediários. Nada mais que isso. É bom para um artista vender suas obras  a fim de sobreviver de forma digna com o fruto do seu trabalho e dar segmento a sua produção. 
Os índices do mercado são vitais apenas para operações objetivas das Bolsas de Valores e Mercadorias.Entretanto,usar esses índices como exegese é de uma estupidez cavalar que me enche de vergonha da especie humana e do que ela é capaz.
O fato que interessa e sequer é mencionado é que a ostentação de hoje - o mega preço atingido pela revenda do  tríptico do Bacon tendo Lucian Freud como modelo, pintado em 1969 - coloca em segundo plano o  dado sublime que é o dialogo criativo entre os artistas.Essa obra abre à visão sensível, puramente artística e profundamente afetiva, que irmana os habitantes de um mesmo mundo.
É,em síntese,um registro magistral do afeto sublime que nos une aos amigos.
Monetizar tudo,inclusive fenômenos amorosos, é a banalidade mais recorrente aos imbecis.
A foto ‘Asas de Carne” com o tempo se tornou uma especie de premonição.A interação fotografo/artista estabelecida nas duas pontas da imagem,tanto no olho que captura quanto no modelo que é registrado,se materializa em fina ironia que sabiamente previa o que uma sociedade futura,altamente competitiva e subjugada ao status e ao preço das coisas, faria com as obras dos artistas.
Tiram a carne e devastam a alma.
Depois festejam e dividem os lucros.
Suprema ironia!



Adriano de Aquino

postado em 13/11/2013  TL/