quarta-feira, junho 17, 2015







Em dezembro de 2010 publiquei nesse blog uma crônica  com o título  Avançados & Reacionários. A convergência dos extremos.” Quem se interessar em ler,clica no link.  
A  referida crônica edita um hipotético dialogo entre duas pessoas com pontos de vista antagônicos sobre as ocorrências que tomaram conta do sistema da arte da atualidade. 
Na minha trajetória de cinquenta anos de atividade artística sempre evitei a retórica conservadora que visa proteger a arte dos  'acintosos ataques’ externos.
Considero tal premissa uma presunção desmedida.Quando a arte carecer de suporte externo ela terá exaurido sua potencia intrínseca e selado seu atestado de óbito.
As incontáveis teses que decretavam a morte da arte até hoje aguardam o resultado da autopsia e as cinzas da cremação.
Entendo que segmentos que operam na intermediação da arte criem estrategias para difundir os produtos estéticos que hoje se agregam à linha de produção que abastece os terminais de exibição,difusão e venda de arte.Confundir essas operações,que tratam das circunstancias restritas ao gosto,investimento financeiro e preferencias estéticas de uma época com  imanências do sentido sensível da arte é um engano que resulta em crendice e ignorância.  
Porém,encarregar o artista dessa missão é algo inconcebível.O artista que faz o papel de escudeiro da arte é um mitificador,um crente da religião da arte,impedido por força do dogma a dessacraliza-la e,portanto,interagir livremente num campo onde reina a liberdade. No percurso da minha atividade confrontei diversos adeptos da sagração dos eleitos,feitas por teóricos,críticos e agentes do sistema e montadas para alavancar artistas e afirmar  ‘modelos’ de arte.
Desde sempre tive consciência que tal atitude reverteria em oposições sistêmicas o que, por um lado, é compreensível e até certo ponto desejável porque que se trata de estimular a consciência para enfrentar as complexas manobras da massificação. 
Quem se posta contra os meios que visam modelar o status da arte e do artista,seja através do culto as personalidades supostamente investidas de uma revelação simbólica da verdade,seja pela ação afirmativa dos índices praticados pelo negocio da arte,não  espera nada diferente.
O que é diferente e gratificante é constatar que no correr do tempo meu posicionamento é compartilhado em diversas manifestações de repudio ao culto das celebridades.Inúmeras pessoas,exauridas pelas técnicas de consagração impostas pelos meios dominantes de difusão e que se dedicam a refletir sobre o fazer artístico,não apenas no plano da transcendência ,mas,também,sobre os procedimentos pragmáticos e a política que se instaurou nos domínios da criação,descortinam um amplo  horizonte  para especular sobre as perspectivas do sujeito frente as novas modalidades de projeção,consagração e consumo dos produtos culturais.  .
Nesta postagem usei a mesma montagem  de fotos que ilustravam a crônica mencionada.Numa das fotos, Beyus,o profeta do “todo mundo é um artista” é colocado ao lado da foto de duas alegres ‘fruidoras’ do fenômeno artístico contemporâneo.Entendam o riso e a descontração.Uma das pontas que predomina na fruição estética da atualidade é o hedonismo.
Para aqueles que se aventuram a refletir para além das aparências porque acreditam que a arte guarda valores intrínsecos e reserva um 'mistério' que vale a pena adentrar,compartilho um trecho do livro Estetização do Mundo do Gilles Lipovetsky & Jean Serroy que, através de uma objetividade lancinante,rompe com o culto da sacralização que ainda embaça a visão sobre o fenômeno artístico na atualidade.
Em linhas gerais,tal atitude converge para a mesma atmosfera desmistificadora onde transcorre o dialogo hipotético da crônica citada.
Um detalhe:para uma visualização mais legível das paginas,clique sobre o box.  





Na luta pela sobrevivência o sujeito faz coisas as vezes impensadas, tolas, violentas ou calculadas as quais, mais adiante, pode não se orgulhar. 
A sobrevivência é uma determinação natural Dela ninguém escapa.
Ela não poupa fracos ou fortes.Ricos, medianos ou pobres. Seres dóceis ou brutamontes,calculistas frios e determinados ou emotivas são obrigados a dar seu quinhão de vida para essa prova crucial da existência.Pode-se lutar pela sobrevivência com elegância ou mesmo com ostentação.Entretanto,ainda que os monges e iluminados creiam que dessa pecha estão salvos,o mínimo redutor comum da sobrevivência é despertado quando o primeiro sopro de oxigênio invade o pulmão da criatura que dela só escapa(ou vence?) com a morte.
Pelos idos dos anos 20/30 do século passado Walter Benjamin precisava de grana para continuar manter o esqueleto em pé e o organismo nutrido e funcionando.Nessa época escreveu uma série de roteiros para programas radiofônicos difundidos em Berlim e Frankfurt. A maior parte desses programas foi feita pela voz do autor. Apesar de não se orgulhar muito do trabalho que diz ter feito apenas devido a dificuldades financeiras, Benjamin foi um dos pioneiros para a expansão do rádio que surgira na Alemanha três anos antes.
Qual seria a motivação de tal decepção?Eis uma pergunta jamais respondida.
A editora Nau lançou no Brasil o livro A HORA DAS CRIANÇAS - narrativas radiofônicas (projeto editorial da Rita Ribes Pereira com tradução de Aldo Medeiros) que reúne textos de 86 programas com periodicidade variada, 60 dos quais o próprio Benjamin se encarregou da leitura.Para quem gosta do autor trata-se de uma oportunidade para conhecer como o pensador via e se comunicava com o mundo das crianças da sua época,as quais dedicava uma hora de leitura.
Vendo hoje a grade de produtos que o sistema de comunicação empresarial hipermoderno oferece às crianças, uma questão se destaca.
Poucos anos após o termino da programação radiofônica que durou aproximadamente três anos, Benjamim veio a conhecer e sofrer na própria pele a dura realidade e as trágicas consequências que se impôs sobre a sociedade alemã da qual se tornou uma vitima.
Quantos assíduos ouvintes da Hora das Crianças tornaram-se instrumentos da vontade nazista?
Hoje se discute se existe, de fato, uma relação entre a grade de ofertas de produtos pelo sistema de comunicação de massas o consumismo desbragado e a escalada da violência perpetrada,inclusive,contra e por crianças.
No campo dos estudos culturais o ensaio de Benjamin “A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica” (1936) descortinou a perspectiva da arte frente os novos meios tecnológicos de difusão.Entretanto,a previsibilidade sobre as consequências do uso desse sistema em grande escala permanece uma incógnita.
Não encontrei arquivos de voz da programação. Para compensar colo aqui o link de um belo conto/poema do Benjamin que já postei tempos atrás.