terça-feira, junho 11, 2013

A ARGÚCIA DO OLHO



Desde o seu surgimento, na Renascença, a perspectiva como elemento de composição pictórica, foi paulatinamente se consolidando no imaginário artístico e nas praticas pictóricas como um novo conhecimento. Imaginem como antes do advento da perspectiva se processava a informação e se organizava uma cena representativa do ponto de vista de um pintor?  Imaginem, também, as conexões de códigos comuns compartilhadas entre observador e imagem pictórica. Para que essa  imaginação se constitua numa abordagem mais proveitosa é necessário nos munir dos relatos históricos, porém, esse recurso, no modo de uma narrativa, por si só, não nos conduz para um ponto especifico no tempo e no espaço,nos colocando dentro do episodio e submetidos as categóricas sócio culturais, hábitos e costumes dominantes. Uma imersão através das camadas da historia pode nos descrever em detalhes muito precisos as condições de vida, cultos e estrutura social. Essa atmosfera nos consente montar um cenário de suposições que, como um roteiro cinematográfico, nos coloca diante da cena como visitantes. Basta um passo para frente e estaremos noutra camada do tempo, um passo atrás, no período medieval. Os estilos pictóricos desse período, por razões diversas, (inclusive, por disciplina, método e balizamento cultural) são testemunhos de que a ilusão visual de profundidade não era um conhecimento exercido na pratica pela maior parte dos artistas. No entanto, pela marcante influência dos gregos (e romanos, em evolução à arte grega) esse intento, como narram historiadores, era latente no interesse dos artistas pré-perspectivistas. Contudo, a ideia de somar aos seus conhecimentos e técnicas a profundidade ilusória como um elemento relevante na composição de uma pintura, permanecia um grande desafio a ser superado.Para alcançarem um efeito espacial persuasivo, ainda que de forma rudimentar, muitos artistas usavam as linhas diagonais como forma de obtenção de espaço interno de representação Esse processo empírico ficou conhecido como espinha de peixe. Apesar das excelentes pinturas do período a pergunta que se coloca é: por que artistas tão dotados não tinham se dado conta, até então, da existência do ponto de fuga?
Várias especulações rondam essa ‘santa ignorância’ ou melhor, essa forçosa impossibilidade. As hipóteses mais fantásticas discorrem sobre um obstáculo de natureza orgânica, neural mesmo, que me parece bastante arbitrária. Outra, explica essa impossibilidade como algo não atribuído a fatores cognitivos e técnicos, mas, a subordinação à doutrina de perímetro conferida pelo  olhar religioso,portanto,quase uma regra. Nessa demarcação o geocentrismo, quando muito o heliocentrismo, ainda que parcialmente tolerado, eram limites intransponíveis ao saber. Um tabu. Galileu- nascido 45 anos após a morte de Leonardo- legou para a humanidade uma contribuição extraordinária com o seu método científico em contraposição a metodologia aristotélica, soberana para a ciência da época e que reinava absoluta no agrément religioso.Pois bem,com todo o seu gênio, Galileu que além de sábio  era cristão, não logrou escapar da Inquisição .Mas,isso é outra historia,porém,serve aqui para ilustrar que as idas e vindas em matéria religiosa atravancavam o desenvolvimento da ciência e,por que não dizer,da representação artística de mundo, subjacente a doutrina da  Igreja Católica.
É senso comum que o processo de transformação cultural dos modos de fazer é complexo demais. Primeiro porque exige uma abertura da percepção do real e segundo, porque uma das perturbações mais corriqueiras da cultura diante do impacto do novo é a tendência dos agentes dominantes de se refugiarem na tradição, ou seja, naquilo que é estabelecido. Além disso, o surgimento de algo previsível, no plano do sensível, por si só, não desfaz os códigos antecedentes, os diluindo inexoravelmente no passado. Mas, ainda que um novo conhecimento seja sutilmente percebido por artistas muito especiais, as ferramentas e técnicas e não apenas eles, disponíveis não davam conta de opera-las simultaneamente e no mesmo ritmo em que esse novo saber  é absorvido e hierarquizado nos códigos estético-culturais dominantes. Quando o conhecimento (ciência) e a sensibilidade (ousadia) se amalgamam, abre-se um portal para as mudanças mais substantivas da cultura.
Ainda que no ano 1000, o matemático e filósofo árabe Alhazen, na sua obra Perspectiva já tivesse, teoricamente, fornecido uma base óptica da perspectiva,suficiente para fundamentar pinturas onde os objetos eram dispostos de modo convincente e esquematizava, pela primeira vez, a compreensão de que a luz projeta-se em formato cônico no olho humano, Alhalzen não era um pintor. Ele estava mesmo era preocupado com a óptica, não com métodos de representação comum aos pintores.As interelações entre  conceito e concepção estética não é matéria simples . Além disso, conversões cônicas são matematicamente difíceis, de forma que a construção de um desenho utilizando-se delas seria bastante demorado e, na ocasião, talvez, impraticáveis. Porém, nada impede que especulemos que os grandes mestres da pintura msmo antes da consolidação desse saber, vislumbraram no método Alhazen as bases mais perfeitas para a representação pictórica. A perspectiva é um expediente geométrico que reproduz de forma convincente a ilusão da realidade. Os objetos, dispostos no plano seguindo uma orientação precisa da luz, tamanhos e proporções, organiza os fatos visuais e os estabiliza, colocando  o observador num ponto ao qual o 'mundo' todo converge.
Alguns estudiosos estimam que muito antes do uso corrente da perspectiva pelos artistas do resnascimento,outras culturas ja a utilizavam,ainda que de forma simbólica, para definir as posições de personagens mais importantes do registro visual.Porém,essa é uma hipotese que levanta muitas discordâncias.O fato incontestavel é que o conjunto de ações e o acervo de obras do renascimento confirmam que a consagração da perspectiva na obra pictórica é um feito que se consolida com o renascimento. A  emblemática frase de Leonardo Da Vinci fornece uma pista do impacto cultural causado por sua aplicação: ‘a pintura é uma coisa mental’. O pensamento de Leonardo, neste caso, é um contraponto ao de seus contemporâneos. Além de estimar para a arte o mesmo status da ciência, Leonardo deu ao olhar uma compreensão mais complexa do que as apresentadas até então pelos seus pares.É claro que ao deflagrar tal afirmação Leonardo tinha em mente objetivos precisos em relação a sua obra .Na ocasião,contudo,ninguém imaginaria  o quanto esse aforismo seria poderoso para as transformações propostas pelos  artistas modernos que tempos depois se beneficiariam da noção de que a arte é um processo mental.
Essa introdução, na sua perspectiva temporal, é uma tentativa de ilustrar as investidas dos sucessores de Leonardo que, como ele, firmaram sua produção a partir do primado do olhar como meio mais eficiente para alcançar o saber e sua consequente difusão. Nesse contexto, a pintura se constituía o meio mais ajustado a ideia de perfeição. Contudo, apesar da potência liberada por tal evento, as hierarquias estéticas, montadas após o renascimento, culminaram na configuração das academias, dando margem a rigidos modelos que privilegiavam a técnica e o método em detrimento da experiência singular da autoria. Com o passar do tempo, exauridas, as academias foram eclipsadas pelos cortes  modernos advindos do impressionismo, expressionismo e demais ismos, até atingirem seu ápice na ruptura moderna promovida pela vanguarda histórica.
Pois bem, penso que nesse parágrafo ficou  claro que pretendo questionar a investida da pós modernidade  contra  o primado do olhar como o eixo da abordagem das artes plásticas ou artes  visuais.Tirante os aspectos subjetivos que ocorrem no contato  entre observador e uma obra de arte, excluindo-se os  itens relativos a sensibilidade,coisa difícil de mensurar,o que temos como fator predominante é que para as artes visuais o  olhar é o campo primordial,porque não dizer;exclusivo.Desprezar esse sentido, em prol das sensações tocantes,é  entorpecer  o olhar,quase o fechando. 
Entretanto, os cortes estéticos promovidos pela vanguarda histórica e por movimentos artísticos subsequentes, infligiram nos artistas uma serie de reflexões que visavam, no fundo, estender para fora do plano bidimensional suas investidas mais radicais. Vou pular citações de caráter descritivo sobre as diversas correntes estéticas do modernismo para ir direto a um ponto que me parece comum a maior parte das estratégias das vanguardas contemporaneas. Como a representação naturalista, os limites da condição do objeto estético contemplativo, os domínios das grandes narrativas, os temas nobres da arte e as ideologias estéticas consagradas já haviam sido relegados ao passado pelos cortes mais representativos do modernismo, os artistas pós-modernos se depararam com um grande dilema. O espólio da modernidade empurrou para as gerações seguintes um desafio intimidador. Se por um lado as novas gerações se beneficiavam dos avanços alcançados num curto espaço de tempo pelo modernismo, por outro, se viam compelidos a romper com o passado ou serem arrastados para confrontos indigestos. Rejeitar, apriorísticamente, os paradigmas modernos ainda predominantes foi uma saida. Tal atitude, a principio, pressupõe uma ousada emancipação em relação aos postulados herdados. Mas, só a principio e apenas para os incautos, porque, o olhar arguto desvenda rapidamente a trama que fertiliza os procedimentos que se sucedem e revelam um artifício penoso,por vezes mimético e sem consequências renovadoras  para o pensamento e para a arte. É muito chato explanar aqui o porquê da profusão de teorias (hoje, todo mundo tem uma só pra si) e fundamentos que se sobrepuseram desde as ultimas décadas do século XX.Mas,basicamente,podemos dizer que elas proliferaram para embasar e emprestar significado para intenções um tanto banais a titulo de paradigmas estéticos dignos de atenção. A sucessão veloz e ininterrupta de paradigmas individualizados deu corpo a uma miríade de estilos artísticos que leais à pluralidade, deitaram e rolaram num padrão estético dominante, gerador de coisas artísticas inspiradas em autobiografias estetizadas, misturadas a sub antropologia acadêmica e atitudes burlescas e iconoclastas. Não podemos deixar de lado as citações proto-revolucionárias com pitadas, aqui e ali, de condimentos filosóficos e referências especificas ao campo da arte.Uma espécie de troca de códigos entre 'colegas'. Um paradoxo tão evidente é a parte mais sedutora do cardápio da pós-modernidade.
Se aventurar num tempo despojado de história não é mole!
O curioso disso tudo é que ao lançar ao mar a sequência da historia o que sobra é nada mais que uma montanha de escombros. Em terra de ninguém e desprovida de historia, pegar um naco do  Warhol juntar com um  pedacinho de pintura paisagística japonesa e 'rasgar' a superficie numa alusão pueril a obras de um artista do passado pode resultar em espanto e histeria novidadeira,no sentido mais rentável dos termos.
É muito chato explicar aqui, em detalhes, a profusão de teorias que se sobrepuseram para embasar os desígnios singulares que seguem à risca as técnicas da comunicação e do espetáculo. Porém, um ponto me parece significativo nesse conjunto. Aí, voltamos ao inicio desse texto que trata o olhar como o sentido privilegiado para abordagem das propostas artísticas. Mas, sei lá porque diabos, os herdeiros da modernidade lançaram esse recurso no quinto dos infernos e priorizaram suas experimentações com ênfase no sensorial, na micro narrativa,na conceituação egocêntrica  e em caixinhas de surpresa  para apresentação de cenas estéticas bombásticas (feito para os grandes eventos,toda Bienal tem uma),aludindo uma espécie réplica compacta e pronta para o consumo das massas de um "choque do novo",troço que a midia cultural adora e  registra como polêmica. As instalações,objetos insólitos,atos,gestos, atitudes e pequenas narrativas de natureza intima, por razões evidentes, lançaram ao mar o primado do olhar como eixo  prioritário na relação autônoma  entre  observador e a arte.O que vale e o que se  deve imprimir no imaginário do espectador é o sentido do espetáculo multimídia,cenográfico,caleidoscópico que, no entender dos autores e curadores das grandes mostras institucionais,arrepiam os sentidos do observador, refletem uma cultura multifacetada e a pujança da sociedade contemporânea.É nos intertícios dessa modalidade aparentemente tolerante que qualquer expressão pode se converter em obra de arte. Para que o fenômeno se complete,os agentes do sistema de arte,as instituições,galerias,mídia e editoras emitem um certificado de reconhecimento cultural. Bem, nesse ponto é preciso fazer justiça. Os curadores, agentes mais interessados nesse jogo, o elegeram  por razões que dizem respeito a estratégias específicas de natureza acadêmica ou econômica, em sincronia com o sistema de arte,para  difundir suas conjecturas teoréticas.
Oh! Ideias!O que elas são capazes de promover.
Para encerrar, falarei da minha surpresa ao ir essa semana à escola de arte aqui do Rio para uma conversa  informal  com alguns estudantes. O texto acima, parte das anotações que mandei para um fórum sobre arte há alguns anos, foi o foco da minha apresentação. Há muito tempo eu não ia a escolas de arte. No caminho divaguei sobre a predominância dos modelos estéticos fundados no sensorial, nas instalações, gestos, atitudes e demais procedimentos afins que nos últimos trinta anos são predominantes nas Bienais globais, tem grande visibilidade midiática e se destacam nos eventos institucionais e oficiais de arte. Será que lá verei simulações dessa vertente da arte de grande destaque curatorial?
Que nada!Qual não foi minha surpresa quando constatei os corredores apinhados de cavaletes, pinturas penduradas por toda parte,salas repletas de estudantes enfronhados na velha prática pictórica.
Tem alguma coisa aí a se aprender? 

segunda-feira, junho 03, 2013

UM ESCAFANDRISTA NA BIENAL DE VENEZA


Transitando pelas vielas atemporais, transpondo biografias estetizadas, objetos multiformes, verbetes de antropologia cultural,estetização dos discursos ideológicos e miríades de erários auto confessionais, alinhados sob o pórtico da arte do século XXI, o escafandrista devotado busca no seu navegador indicações sobre o percurso a ser seguido nessa inspeção. Encontra no seu navegador de ultima geração o mapa traçado por Lawrence Alloway em seu livro a Bienal Veneza 1895-1968. Sim, pensa ele, o lugar é precisamente esse!
Mas, logo percebe que no correr desse curto espaço de tempo algo estranho aconteceu na Bienal de Veneza. A tentativa de mostrar a abundância da arte contemporânea ao mesmo tempo em que se tenta remover as ervas daninhas da incerteza para fora do contemporâneo a fim de adequá-la aos novos ciclos da arte, de solução prevista,levou a Bienal de Veneza a perder gradativamente  substância sensível, ao mesmo tempo em que ganha lastro especulativo espetacular.
Esse conjunto de fatores acrescido as intempéries do mar e da atmosfera geopolítica foram desastrosas para a estabilidade da instituição. Recarregar de nova potência um corpo em decomposição é missão hercúlea e com fortes tendências ao fracasso. Nesse item, o escafandrista marcou na sua tabuleta de avaliação um X sobre a opção:"resultados insatisfatórios". A danosa corrosão, provocada pela clausura do sistema de arte frente aos novos desafios da atualidade, somado a fatores objetivos de natureza econômica e mercadológica e pretensiosamente politica, se impôs  no mesmo  passo em que degradou impiedosamente essa histórica instituição de arte. Essa que,alias, é a mãe de similares espalhadas pelo mundo e que algumas já pereceram há muito tempo. Pesada demais e imprópria para navegação em tempos hiper modernos, a Bienal de Veneza afunda mais rapidamente que as edificações maravilhosas dessa cidade emblemática. Apesar da diversidade entre os pavilhões nacionais onde as nações tentam mais uma vez mostrar um perfil  supostamente inovador sob o viés do deus do tempo pautado numa máxima ultrapassada : "vejam quão contemporâneos somos" o que se registra como evento singular é sua sobrevida como parque temático ilustrativo das questões periféricas à arte mas que tocam e se impõem como ações mercantis subvencionadas por políticas culturais ambíguas que ainda cultua a 'critica' ao sistema da arte como o motor propulsor das transformações sócio culturais.Ha muito não é mais!
Um dos exemplos observáveis são as repetições do mesmo recurso estratégico usado pelos EUA para a consagração da arte norte americana(POP)na edição de 1960.Hoje, a China e outras nações, antes periféricas no circuito internacional da arte,recorrem ao método  que daquele tempo para cá, se tornou um  padrão. As Bienais se tornaram uma espécie de antítese da arqueologia. Enquanto esse campo do conhecimento se esmera em  revelar ao mundo a "descoberta" da tumba de um desconhecido faraó  que, de fato, um dia foi  soberano, as Bienais se esmeram em mumificar lendas contemporâneas.
A visão do século XX,  projetada por  Allan Bloom,( A Cultura Inculta) como  o século da crise intelectual, quando as universidades ruíram  pela “falta de conhecimentos dos estudantes, desde os clichês da libertação à substituição da razão pela "criatividade" dando espaço para ideias continentais vulgarizadas de niilismo e desespero e  de relativismo disfarçado de tolerância”, inspira os devaneios profundos do escafandrista que se põem a imaginar  o século XXI  no papel do  'exterminador do  futuro'. No registro dessa pesquisa submarina resta apenas uma pequena anotação de pé de página, em contraponto ao aforismo do Beyus:"Toda pessoa é um artista" o escafandrista sublinhou: “Nesses moldes,definitivamente,eu não sou um artista”




sábado, maio 25, 2013

Um matrimonio feliz




A visão do cérebro como uma espécie de área social ( ou de serviço)onde atuam  forças politicamente rivais parece, a principio, uma  fantasia divertida. Algo que caberia perfeitamente num roteiro de filme de ficção cientifica. Ocorre que alguns filósofos e cientistas estão levando a complexa rede neural muito a sério e se aprofundando em pesquisas que poderão suscitar uma nova compreensão sobre o que se passa e como se relacionam o provedor(cérebro) e o software (mente).Por milhares de anos se questionou sobre as funções do cérebro ou sobre o que é realmente  a mente e, mais ainda,quais as funções da mente? Entre esses três elementos sobrevém,inevitavelmente, um enigma: qual a relação existente entre cérebro e mente?
Sobre esse labirinto de hipóteses, o site Edge  postou no Tópico:MIND. em [1.8.13] http://www.edge.org/conversation/the-normal-well-tempered-mind  uma conversa com Daniel C. Dennett 
Daniel Clement Dennett é um proeminente filósofo norte americano. Suas pesquisas se prendem principalmente à filosofia da mente (relacionada à ciência cognitiva) e a biologia. Dennett é também  um dos mais proeminentes ateus ou,que diabos isso signifique.Pode-se imaginar que se trata de  algo similar a um Papa do ateísmo da atualidade. Para Dennett, os estados interiores de consciência não existem. Em outras palavras, aquilo que ele chama de "teatro cartesiano", isto é, um local no cérebro onde se processaria a consciência, não existe, pois, admitir isto seria concordar com uma noção de intencionalidade intrínseca. Para ele a consciência não se dá em uma área especifica do cérebro, como já dito, mas em uma sequência de inputs e outputs que formam uma cadeia por onde a informação se move. Essa ideia é desenvolvida em  A Ideia Perigosa de Darwin,um dos livros de Dennett .
Com o titulo "The normal well -Tempered mind"(Normal mente bem humorado,em tradução literal)cabe muito bem na interpretação pessoal que fiz da conversa do Dennett
No meu entender, suas investigações penetram numa preciosa região da mente e podem desvendar um novo conhecimento de nós,seres pensantes.
Uma das virtudes do conhecimento é elucidar questões cruciais que atravancam a vida e dificultam o acesso à felicidade. O bom humor é,para mim, um elemento fundamental desse jogo.É ele que promove e sustenta de forma consistente a  reversão da insatisfação pessoal diante dos reveses impostos pela realidade objetiva.Hoje,o bom humor,  é  um valor capital,muito  mais importante que a fortuna, a glória e outras vetustas  representações sociais e o qual vale a pena se dedicar com afinco.Nessa conversa Dennett abre algumas portas no corredor do conhecimento. Suas palavras podem auxiliar e fortalecer nossa determinação em não gastar um tempo precioso com tolices e disputas estúpidas.
Após desfazer um erro cometido há alguns anos, Dennett avisa ao leitor que  reiniciou um novo percurso nos labirintos da mente. Adotando um desvio do mito ou “Alegoria” da caverna, uma via clássica da história da Filosofia,onde  Platão discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do Estado ideal. Dennett, todavia, prefere a via do desmonte da mente em mentes mais simples e, em seguida, em mentes mais simples ainda, até encontrar a mente que pode ser substituída por uma máquina. Esse procedimento,chamado de funcionalismo homuncular,tem inicio na pessoa. A partir dela inicia-se uma sucessão de quebras em duas, três, quatro ou sete sub pessoas que são basicamente agentes. Esses homúnculos encetam um retrocesso que é apenas um regresso finito, o qual se deve tomar cada um deles e dividi-los em um grupo de homúnculos especializados. Seguindo esse procedimento chega-se a partes que podem ser substituídas, como numa máquina.
Para Dennett, essa é uma ótima maneira de pensar sobre a ciência cognitiva. É o bom e velho AI(Inteligência Artificial) da qual  Dennett é um conhecido  estudioso . Mas, sua critica sobre o procedimento adotado anteriormente, o levou a rever aspectos da ideia, basicamente certa quando foi concebida, mas que  um grande erro quase o direcionou para um câmara  sem saída. Nas suas palavras: “Eu estava naquele momento encantado com o neurônio lógico McCulloch-Pitts. McCulloch e Pitts tinham reunido a ideia de um neurônio artificial muito simples, um neurônio computacional que tinha várias entradas e uma única saída.Suas pesquisas  provaram que, em princípio, uma rede neural feita desses neurônios lógicos pode calcular qualquer coisa que você queira calcular. Isso foi muito emocionante para mim,pois, significava que, basicamente, você pode tratar o cérebro como um computador e tratar o neurônio como uma espécie de elemento básico de comutação. Isso foi, certamente, uma simplificação excessiva. Todo mundo sabia que  era uma simplificação excessiva, mas as pessoas não percebem o quanto, e, mais recentemente, tornou-se claro para mim que é uma dramática simplificação excessiva, porque cada neurônio, longe de ser um switch lógico simples, é um agente com uma agenda e  são muito mais autônomos  e muito mais interessantes do que qualquer switch.” Ele continua sua explanação preliminar dizendo que:” A pergunta é: o que acontece com as suas ideias sobre a arquitetura computacional quando você pensa em neurônios individuais não como escravos obedientes ou como máquinas simples, mas como agentes que têm de ser mantidos na linha e que tem que ser devidamente recompensados a ponto de formarem  coalizões e cabalas, organizações e alianças? Esta visão do cérebro como uma espécie de área social de forças politicamente rivais parece uma espécie de fantasia divertida, mas, agora está se tornando algo que eu levo muito  a sério e é alimentado por uma série de diferentes correntes."
Bem, se sua mente não foi banhada pelo tédio e você chegou até aqui tentarei expor uma parte simples do conceito de Dennett que alegrou meu cérebro, ou mente? 
Ele comenta uma passagem fascinante do trabalho do biólogo evolucionista David Haig sobre os conflitos intrapessoais. Haig coloca algumas questões ao nível da genética e até mesmo ao nível do conflito entre os genes que você recebe de sua mãe e os genes que você recebe do seu pai, os chamados genes madumnal e padumnal. Desse amálgama surge um vetor iridescente que estimula uma nova visão sobre a mente humana. Segundo Haig; se os genes madumnal e padumnal ficam fora de sintonia, graves desequilíbrios podem acontecer. Esses desequilíbrios aparecem na pessoa como determinadas anomalias psicológicas. A partir daí surgiu a compreensão de que o cérebro não é um sistema bem organizado comandado  por um painel de controle hierárquico, onde tudo está em ordem.Numa visão um tanto  dramática,para mim  claustrofóbica, da mente como um escaninho entupido de docs. externos,padrões de procedimento, normas de conduta social,aspiração e desejo e onde se processa a burocracia 'existencial' a partir da compreensão de que somos o que pensamos e que,em sintese, um núcleo separador de escolhas  boas e más. Na verdade, a mente é  mais parecida  com a  anarquia, com  laivos de democracia. Às vezes você pode alcançar a estabilidade através da ajuda mútua entre genes e atingir uma espécie de calma, então, tudo é ótimo. Mas, a possibilidade de que  coisas 'fora do lugar' ou mesmo uma aliança ‘madrasta’ ganhe o controle, acontecimento  bastante comum,sua mente te coloca no inferno. Se isso ocorrer, em algumas pessoas ocorre com muita frequência, o indivíduo começa a ter obsessões, delírios, compulsões inexplicáveis e assim por diante. Por outro lado,  uma mente bem-humorada possui uma organização suave que  orienta o individuo pelo bom caminho. Essa é uma conquista, algo que só é alcançado quando tudo está bem, mesmo quando, no âmbito geral, a humanidade e a maioria das pessoas estão tirando as calças pela cabeça. Em parte isso explica também que mesmo diante da zorra global, grande parte das pessoas vive relativamente bem em ajuntamentos conflitosos e  gigantescos.
Finalizo essa nota com uma observação interessante nas palavras do próprio Dennett:  “O que estamos vendo agora na ciência cognitiva é algo que eu tento  antecipar há  anos, e, agora, está acontecendo. Está acontecendo tão rápido que é difícil manter-se atento aos seus desdobramentos.Estamos afogando em dados e, também, estamos felizes. Jovens brilhantes que cresceram em meio a esse turbilhão  e para quem isso é  apenas uma segunda natureza, estão imersos em pensar em termos computacionais bastante abstratos.Coisa que tempos atrás era simplesmente impossível, mesmo para  especialistas.Agora uma criança motivada adequadamente pode chegar a faculdade já preparado para  adentrar essas questões. É muito emocionante.Eles estão indo rápido,quase  fugindo de nós.Vai ser divertido assistir.A visão do cérebro como um computador está mudando velozmente. O cérebro é um computador,porém,muito  diferente de qualquer computador que você está acostumado.Não é como seu desktop ou laptop, não é como o seu iPhone, exceto em alguns aspectos.É um fenômeno muito mais interessante. O que Turing nos deu, pela primeira vez (sem Turing você simplesmente não podia fazer nada disso)foi  uma maneira de pensar de forma disciplinada sobre os fenômenos que têm, como eu gosto de dizer, trilhões de partes parecidas que nos leva a especular o que  aconteceria caso deixássemos  as ovelhas ou os porcos  recuperarem seus talentos selvagens.”
A conversa é enorme e cheia de texturas fantásticas.
Quem quiser ir adiante aciona o link no corpo desse texto.


domingo, maio 12, 2013

OBJETO LACUNA

Tom Friedman's pizza sculpture.
Photo:Fred R. Conrad/The New York Times

Adriano de Aquino
05/2013

Hoje é um risco (!) falar sobre arte sem focar preços, visibilidade midiática, indicadores de status cultural, marketing e... espetáculo.Mas,se porventura, a cabeça falante ousar criticar o sistema que tudo disciplina,porém,aparentando tudo tolerar, é bem provável que receba os mais arrebatados xingamentos . Afinal, resistir pra que?Aliás, resistir também pode ser taxado pela galera dos contentes de reacionarismo, recalque e outros adjetivos mais ofensivos ainda.
Que assim seja!
Ainda que a gradual supressão da crítica ou de uma fala sensível, quer dizer, fora dos padrões palatáveis aos meios de comunicação, à margem dos códigos dominantes ou das igrejinhas mais 'influentes' no jogo da ocasião seja um fato incontestável,poucos ousam falar sobre isso. Nos dias atuais a vertente do pensamento crítico se tornou um sub item sofisticado para a fruição de poucos interessados e uma prática anacrônica dispensável para o bom funcionamento do sistema de arte. O que ela poderia acrescentar para a reflexão sobre o fenômeno artístico vem sendo operado satisfatoriamente pelas súmulas curatoriais e pela mídia cultural.
Para mim, como artista, esse fato assenta uma série de questões. A primeira delas revela um amálgama nocivo que essa tendência tenta ocultar atrás de resultados financeiros estonteantes e na fixação, no ambiente artístico,do culto ao deleite fugaz. Uma simulação ‘pop Cult’ procura induzir no público a ideia de que existe hoje, como jamais ocorreu na historia, um consumo(interação) imediato de produtos estéticos de ponta . O alicerce desse milagre não é a arte em si, em contato direto com o público, mas, o sucesso das fórmulas institucionais e mercadológicas que viabilizaram maior acesso do público a arte.
Penso que muitas pessoas estão mobilizadas pelo glamour dessas instâncias intermediarias situadas entre a arte e a sociedade,seja pela colossal oferta de produtos estéticos,seja pelo lastro de dinheiro e patrocínios administrados por instituições culturais que,diga-se de passagem, mais parecem parques temáticos da arte contemporânea. Essa magnânima oferta pode, a principio, ser entendida por muitos como uma ação afinada com o pluralismo cultural e em prol da diversidade estética.Será isso mesmo?
Se por um lado o imediatismo das ações do mercado associado às estratégias institucionais promove um fluxo maior de dinheiro no sistema, por outro, abre uma lacuna que estigmatiza o objeto sensível reduzindo o campo de avaliação das suas qualidades intrínsecas e o tonando suscetível, antes de tudo, ao alvitre dos agentes de intermediação, colocando em segundo plano a apreciação estética autônoma e despachando para o quinto dos infernos os valores da arte em detrimento do preço e do status cultural a ele anexado. Isso explica, em parte, o apogeu alcançado pela cultura do espetáculo na contemporaneidade.
Mas, a que custo?
Em contraposição aos acontecimentos de aparente liberdade criativa que hoje despontam por todo lado, observo uma armadilha. O aclamado abandono da imitação naturalista, a proliferação de estilos,a inefável decadência dos salões oficiais -bienais & etc. hoje em disputa frontal pela frequência do público com as feiras de arte e similares- o louvor ao discurso 'outsider' visando o exito das teorias de ação tática sobre os espaços consagrados, na esteira dos ‘não’ dos autênticos, expressados pelos artistas da vanguarda histórica em prol da liberdade criativa e contra o adestramento estético oficial,se tornaram,de poucos anos para cá,ecos de um passado longínquo sem nenhuma ressonância efetivamente transformadora na cultura da atualidade.Lamentavelmente,resultaram na formação de novos paradigmas que fundamentam atitudes e procedimentos similares aos das escolas de arte do passado só que numa velocidade mais acelerada. Como se pode notar a questão central não acontece no plano artístico,quer dizer,nos domínios das propostas estéticas substanciais ou mesmo inovadoras em confronto com correntes estabelecidas e consagradas.Sequer sugere ou aponta alternativas inusitadas de apresentar um trabalho artístico ou ofertar ao público novas modalidades de fruição da arte, mas,sim, consolidar ainda mais os velhos métodos de projeção social de estilos, visibilidade, comunicação direcionada e inserção mercantil dos produtos estéticos.
Afinal,o vale tudo é,em si, uma afirmação: se libertar de que, se tudo é permitido? Aliás, mais permitido ainda se sua voz encontra eco na mídia e comentários enaltecedores endossam sua celebração. Se tiver, então, resposta imediata na conta bancária é uma glória.
Não pensem que acho uma corrupção ou um desvio de conduta um artista viver bem do seu trabalho. Ao contrario! Penso que o artista deve prezar sua atuação tanto no que tange a liberdade criativa quanto no plano profissional/financeiro. A pergunta que coloco é uma variante desse fator e coloca em questão o seguinte: produzir sua obra, alheio às circunstancias das operações institucionais e de mercado é uma modo consciente de estar no mundo?
Deixo a resposta para cada um dos leitores!
Minha ideia inicial não era expor tantos pontos de vista, mas sim tocar num ponto especifico de uma matéria publicada hoje na coluna Art Review do jornal NYT. Mas,sabe como é,uma coisa leva a outra.Todavia,prometo que sobre o que se segue não postarei juízo de valor.
No inicio da matéria: “40 Nations, 1,000 Artists and One Island “ Roberta Smith alerta o leitor dizendo: “Algumas pessoas odeiam feiras de arte e a maioria das pessoas acaba por odiá-las por algum tempo. É moda ser sarcástico e condescendente com eles, mas isso é muito fácil. Feiras de arte, agora e no futuro próximo, representam esforços coletivos - senão as esperanças e sonhos - de milhares de pessoas que querem a arte como centro de suas vidas.”
Absorvi essa abertura com certa ironia mas, sem sarcasmo, e segui lendo o texto deglutindo discordâncias,porém,evitando deixar crescer uma resistência intransponível que me impedisse de seguir adiante na matéria até seu final.
Lá pelo meio da segunda página a Roberta foi fundo ao situar essa vontade da arte como centro existencial de uma vida, ao criar mais uma categoria de apreciação estética adaptável para pessoas de uma certa idade. Sem sarcasmo algum penetrei nesse labirinto conjectural:
“ No final do percurso algumas dicas merecem uma atenção especial : O estande da L & M Arts de Barbara Kruger se "você olhar bem," apresenta uma prestigiosa escolha de obras de arte para pessoas de uma certa idade.” Mais adiante,fechando a matéria Roberta alude tambem ao gênero nas artes,criando uma outra perspectiva de inserção para além da questão propriamente artística: “ Não quero deixar de mencionar com justeza os esforços dos artistas do sexo feminino que parecem particularmente fortes.” 

sábado, abril 20, 2013

O ABISMO TE OLHA ENQUANTO VOCÊ ADMIRA A PAISAGEM



A variedade de substancias tóxicas que poluem a atmosfera não afetam apenas as condições climáticas do globo. Sua  irradiação atravessa as camadas protetoras e atingem diretamente as pessoas e as sociedades, deflagrando conflitos de múltiplas conformidades. Miss Sarajevo  já completou maioridade,porém,mais da metade das suas colegas de concurso não tiveram a mesma sorte. No meio do caminho foram curradas, vilipendiadas publicamente por conta das suas etnias ou religião, quando não  mortas e jogadas em covas comuns.
Em 1991, depois que a Croácia declarou sua independência e a minoria sérvia do país se dobrou ao direcionamento assassino de Milosevic, as forças federais da Iugoslávia invadiram a Croácia, dando início à guerra. Em 1998, foi a vez de Kosovo, província ao sul da Sérvia, lutar por sua independência. O problema na região era mais delicado pelo fato de o território de Kosovo ser considerado berço cultural e religioso para os sérvios. Nos três meses de conflito o mundo assistiu a barbárie de uma  ‘limpeza étnica’ contra os albaneses - 90% da população de Kosovo – em grande parte massacrada por Milosevic, então presidente da antiga Iugoslávia. Cerca de 20 mil pessoas morreram no conflito e mais de 400 mil ficaram desabrigadas. 
As guerras pela independência naquela região ocultam intenções terríveis de fundo étnico e religioso. As fronteiras regionais são abismos profundos onde se lançam corpos e se oprime as culturas locais. 
A pergunta que se coloca é: o que tem levado as guerras modernas pela independência a se transformarem em caçadas étnicas e religiosas e punições coletivas aleatórias e generalizadas?
Enquanto Milosevic praticava abertamente seus crimes,no Cáucaso,mais precisamente na Chechênia, Djokhar Dudaiev, presidente nacionalista da República da Chechênia, declarava a independência do seu país (1991). Em 1994 o presidente da Rússia Boris Iéltsin enviou quarenta mil soldados para evitar a separação da região da Chechênia - importante produtora de petróleo.Os insurgentes chechenos infligiram grandes baixas aos russos. As tropas russas não tinham conseguido capturar a capital chechena, Grózni, até o fim daquele ano. Os russos finalmente tomaram Grózni, em fevereiro de 1995, após pesada luta. Em agosto de 1996 Iéltsin concordou com um cessar-fogo com os líderes chechenos, e um tratado de paz foi formalmente assinado em maio de 1997.Mas,ao contrario do que se esperava um novo confronto armado foi retomado em setembro de 1999, dando início à Segunda Guerra da Chechênia, tornando sem sentido o acordo de 1997. Os separatistas chechenos ainda pretendiam a independência da Chechênia e organizaram operações na própria república da Chechênia, como também ataques terroristas em outras regiões da Rússia, incluindo Moscou.Uma década de guerra deixou a maior parte do território sob controle militar. Guerrilheiros islâmicos chechenos invadiram a vizinha república russa do Daguestão e anunciaram a criação de um estado islâmico. A maioria da população, em ambas as repúblicas, é muçulmana sunita. Os militares russos expulsaram os rebeldes para a Chechênia em setembro, mês em que atentados contra diversos edifícios em cidades russas mataram mais de 300 pessoas. O governo responsabilizou diretamente os separatistas e enviou tropas à Chechênia.Apesar da pressão por um cessar-fogo, o governo da Rússia rejeitou a mediação internacional. Mas as denúncias de massacres, estupros e torturas cometidos pelas tropas russas contra centenas de civis levaram o governo russo a aceitar, em março de 2000, a visita de representantes da ONU à Chechênia. Mas as emboscadas e os ataques suicidas contra as tropas russas prosseguiram, assim como os bombardeios aéreos russos. Em junho de 2000, o presidente Vladimir Putin colocou a Chechênia sob administração direta da Presidência da Federação.Em março de 2003, o governo russo organizou um referendo na Chechênia, sobre a nova constituição local, que estabelece subordinação da república a Moscou. A lei foi aprovada por 96% dos eleitores, mas o referendo foi considerado irregular e condenado internacionalmente. Num pleito igualmente criticado, em outubro de 2003, Akhmad Kadyrov, foi eleito presidente da Chechênia, com 81% dos votos. Em setembro de 2004, uma escola em Beslan foi palco de uma das maiores barbáries da atualidade. Terroristas chechenos aprisionaram, torturaram e mataram crianças, pais e professores. O líder separatista Shamil Bassaiev assumiu a autoria desse e de outros ataques, como a explosão no metrô de Moscou, em fevereiro do mesmo ano.Uma semana depois  do atentatado de Boston que até agora matou seis pessoas(uma criança,duas mulheres,dois policiais em serviço e um dos autores do atentado além de ferir centenas de pessoas)levanta algumas questões: qual seriam as  intenções dos irmãos Tsarnaev em estender os conflitos regionais para o território norte americano?
Muito se pode especular sobre esse ato. Primeiro é que ele tenha alguma ilação religiosa punitiva contra os Estados Unidos, especificamente. E, segundo é que se esse não foi um ato isolado,mas, um ataque programado por grupos terrorista, uma espécie de  jihad chechena  que pretende abrir uma nova frente do terror para além do âmbito regional.
O ultimo ataque terrorista dos grupos chechenos aconteceu em 2004 contra crianças e professores em Beslam,Ossétia do Norte e o penúltimo de que se tem noticia ocorreu no  Teatro Dubrovka de Moscou, em 2002.
A diáspora chechena se espalha por quase toda a Europa.
Existem milhares de refugiados chechenos na Áustria, e outros milhares na Polônia, França, Turquia, Cazaquistão, Dubai e em outros lugares (bem como as comunidades espalhadas nos Estados Unidos). Alguns analistas dizem que  onde quer que estejam os chechenos se destacam como  uma nação à parte e que a maioria do  povo é constituída de "refugiados". Talvez 20 por cento, talvez um pouco  mais, de todos os chechenos não deixaram Chechênia nos últimos 20 anos. Dzhokhar A. Tsarnaev (19) o suspeito sobrevivente  dos atentados de Boston, nasceu em uma família chechena. Ele era apenas um bebê quando Boris Yeltsin enviou tanques para subjugar sua nação rebelde. Neste ponto nós sabemos muito pouco sobre as motivações do suspeito. Tudo o que sabemos é que, para a sua geração, a Chechênia tem sido sempre um lugar de violência, sequestros, viúvas,  órfãos e estupro: um lugar de onde fugir e não mais voltar. Dzhokhar Tsarnaev  que foi capturado depois de um confronto com a polícia em um subúrbio de Boston na sexta à noite e seu irmão, Tamarlan, 26 anos, morto depois de uma perseguição policial na noite anterior  tornam mais relevante ainda a pergunta sobre o que levou esses irmãos a se inclinarem tão destrutivamente na borda do abismo? São muitas as motivações possíveis. Uma das mais gritantes pode ser tirada da conclamação  do líder militante Chechan Doku Umarov feita em  2007: "Hoje no Afeganistão, Iraque, Somália, Palestina, nossos irmãos estão lutando", disse ele. "Nosso inimigo não é apenas  a Rússia, mas todos  aqueles que estão em  guerra contra o Islã."
Como se não bastasse  que a  América tenha que se  indispor com jovens como Adam Lanza, Dylan Klebold e tantos outros assassinos em massa da história recente,surge no horizonte uma nova  modalidade inescrutavel de ameaça. Nos EUA  há armas suficientes para matar qualquer um e, um louco,  pode sempre encontrar um motivo qualquer  para  promover uma chacina.Se  os irmãos Tsarnaev - jovens de origem chechena aparentemente adaptados na América – tiveram acesso a ideologia jihadista e, além disso,  foram intoxicados pelas variantes da violência moderna, não é de todo  improvavel que o que vimos em Boston foi resultante  de uma overdose  de  violência,disponibilidade de meios  e propósitos insanos que, quando reunidos, geram morte e destruição em grande  escala. Torço para que esses fatores letais não se encontrem novamente.

domingo, março 31, 2013

SÁBIOS PREFEREM TRATAR DA SABEDORIA ( A Cultura Personalista)






É um fato incontestável que expoentes do meio artístico e cultural da atualidade ainda prefiram tratar, como os sábios do passado, apenas dos  tópicos relativos ao que se convencionou chamar de  sabedoria.
Esse é o  modo contemporâneo  de dar maior relevância as pressupostas sabedorias da atualidade. 
É comum em nossos dias algumas celebridades midiáticas da literatura e das artes, considerarem sábias suas opiniões sobre o Ulysses de Joyce ou a obra de Cézane. Acreditam-se  sábios o suficiente para difundirem publicamente que consideram chatas as obras dos dois personagens da historia, apesar das suas opiniões em nada abalarem a obra dos ofendidos e sequer elevar  as suas ao Panteão da cultura e da arte. 
Essa preferência, comum às celebridades dos nossos dias, que estetizam suas biografias, preferencias ideológicas, sócio/comportamentais, conceitos morais, sexuais etc., é um registro do quanto a presunção coletivista está imersa na estupidez, na  vaidade e a arrogância personalista.
            



sábado, março 23, 2013

MUDANÇA DE CURSO


 A descrença generalizada nas representações políticas oficiais, nas negociatas do poder, nas instituições do estado e nos pactos entre as forças globais dominantes, não é sinônimo de apatia. Ao contrario, é uma afirmação inconteste de que esse sistema já não da mais conta  dos problemas do mundo. A sociedade civil mundo afora está farta de promessas não cumpridas, do desrespeito fragrante à cidadania, aos direitos humanos, à liberdade de expressão. As velhas e comprometidas interfaces de comunicação e os modelos de mídia estatal/empresarial,bem como  a manipulação da informação,  deixaram de ser um mistério insondável  para o cidadão. Muitas vezes, somos obrigados a engolir disparates que não mais exprimem as mudanças sociais empreendidas pela sociedade. Mas, isso não quer dizer que nada está sendo feito para alterar essa realidade monitorada por sistemas de poder. Apesar das marcantes diferenças regionais e da dispersão dos direcionamentos ideológicos, hoje podemos perceber que entre os diversos povos do mundo existe uma sintonia muito profunda que, antes do advento da Internet, só poderia ser sonhada por poetas e visionários. As redes sociais derreteram as fronteiras nacionais e seu impacto geopolítico ainda não foi  devidamente dimensionado. O compartilhamento das lutas e demandas entre os povos de todas as nações é uma das características do ativismo cibernético que hoje constitui uma forma de ação, cada dia mais intenso.
Para quem pretende violar a liberdade na Internet esse vídeo é um alerta sobre como as coisas estão acontecendo nesse novo mundo.


quinta-feira, fevereiro 28, 2013

(INACABADO)


 "Tudo o que se pensa ou é afeto ou aversão." (Robert Musil)

Logo que convidado para participar do projeto Olhar de Artista, pedi à equipe da Coletiva Projetos Culturais que levantasse um inventário da obra do Ivan Serpa. Passando pelas páginas desse relatório fui, pouco a pouco, contemplando os desenhos, pinturas e objetos, categorias nas quais o artista transitou com desenvoltura e produziu em abundância, mantendo em todas as frentes o nível de excelência. 
À medida que folheava, rememorava obras que em alguma ocasião eu havia ­visto - em alguma exposição, nas casas de pessoas conhecidas, nos museus ou em catálogos e livros. Num dado momento, me deparei com uma anotação que me pareceu inusitada. Explico: todos que têm o habito de folhear livros de arte sabem que as informações técnicas são registros complementares importantes. Ainda que esse registro descreva os meios, as dimensões e os materiais usados na realização da obra, ele não traduz os aspectos sutis inerentes à sua complexidade. Essa troca segue um padrão que permite ao leitor navegar entre imagens e dados complementares e deles tirar, de acordo com a intenção de cada um, elementos para reflexão. Dizia,então, ter me deparado com uma reprodução com o título “Série Geomantica - Técnica: óleo sobre tela - Dimensões: 200 x 138 - Data: 1973”. Ocorreu-me uma sensação singular. Não sei por que razão, a palavra “(INACABADO)” fechada entre parênteses na sequência do titulo me motivou uma interferência abrupta, mudando o curso dos meus devaneios. Esse corte, digamos assim, me remeteu de imediato a uma passagem em que Lewis Carrol expressou as dúvidas de Alice diante do enigma do ser e, por conseguinte, das suas relações com as coisas do mundo: ”Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei essa manhã? Tenho uma ligeira lembrança de que me senti um bocadinho diferente. Mas, se não sou a mesma, a próxima pergunta é: afinal de contas quem eu sou? Ah, este é o grande enigma!”
Ora! Questionei-me: por que surgiu essa passagem secreta que esconde em seu labirinto o enigma do que somos nas cercanias do inacabado? Num flash percebi que somos inacabados. Aceitei de bom grado a sacada intuitiva de ceder à tentação de trilhar o caminho proposto por Alice, colocando para o leitor as minhas conjecturas sobre o mistério que envolve a criação e preserva a vitalidade de uma obra de arte ao longo do tempo. 
Aqui, uma alusão ao enigma Mona Lisa surge como um contraponto ao que entendemos,no âmbito da arte, como obra acabada. A condição de 'acabado' abarca somente a aparência da obra enquanto objeto sensível sujeito a interpretações variáveis. Leonardo da Vinci influenciou seu tempo e as gerações posteriores com suas poucas obras que, inacabadas ou não, foram copiadas e estudadas ao longo dos séculos. Para além do sorriso enigmático, das proporções inusitadas para época e de outros saberes nela contidos, o que apreendemos com a Mona Lisa é que inexiste obra acabada. Assim como, na criação, um ponto de partida não prevê necessariamente um ponto de chegada, há um dado momento em que um pensamento, uma obra ou uma ação, no estado em que são deixados pelo autor, se integram ao mundo real. Nesse sentido, 'inacabada' é a condição categórica de toda obra de arte que se ajusta no real, quer dizer, se fixa no mundo das coisas aparentemente prontas, pretensamente definitivas,preservadas pelas sucessivas gerações.
Até mesmo as ações estéticas pautadas na volatilidade das coisas e carregadas de substâncias efêmeras que, em tese, se dissolveriam no ar após sua concepção, guardam secretamente a intenção de seus autores de serem inseridas no conjunto da cultura e perpetuadas na história da arte. 
O paradoxo de grande parte da produção contemporânea que, por um lado, subestima a tradição mas,por outro,exalta as instituições que lhes dão visibilidade, se acentua no imperativo de que o acabamento artístico, hoje consagrador de uma obra de arte, pode ser aplicado para qualquer expressão trivial. 
 A construção de nós mesmos é uma tarefa intensa, até certo ponto ilusória e sempre inacabada. Ela se releva, sobretudo, na aspiração pela completude que repousa no pacto imperecível com o nosso tempo e para além dele. Esse nos fazer é inerente ao processo criativo que por natureza é alheio às certezas que coabitam o mundo das coisas materiais e das finalidades das mesmas. Ele acontece  na sequência infindável da experiência que, como um moto continuo,  jamais se completa. 'Inacabada', portanto, não é apenas a pintura da Série Geomântica, mas toda a obra do Serpa, assim como tudo que nos cerca,e, também, todos nós. 
Distanciando-nos do enigma de Alice e tomando o atalho de retorno ao mundo das coisas e das causas, nos deparamos com o “lugar da arte”, em que a necessidade de posicionar itens artísticos na hierarquia cultural tende a classificar uma obra como um produto acabado, ajustado aos códigos dominantes que o tornam, em síntese, merecedor da consagração social. Para que isso funcione bem, é necessário ordenar um sistema que alinhe os produtos prontos, encerrados em códigos e sujeitos aos caprichos do gosto, do dinheiro e das tendências do mercado.
Conheci Serpa por ocasião da exposição “Opinião65”. Desde aquela época meu olhar sobre o sua obra é movido pelo afeto. A qualidade e diversidade da sua produção despertaram em mim questões profícuas que pulsam como reflexões instigantes até os dias atuais. Se nos corredores do Bloco Escola e na cantina do MAM(anos 60/70) alguns “exegetas” não admiravam a diversidade de estilos em um só artista, eu confessava meu encanto por essa característica singular do Serpa. Naquela ocasião enxergava o arco da investigação estética do Serpa como um ataque contra as fronteiras impostas à criação. Essa admiração me levou desde então a estimar a dúvida, acima da certeza, como a mais produtiva via para o conhecimento. Talento, inquietação, liberdade e coragem são valores fundamentais para um artista. Hoje, com a decadência da crítica, com o triunfo da crendice e do deslumbramento generalizado pelos mitos consagrados pela mídia e pelo mercado, esses valores tendem a parecer estranhos, coisas do passado distante. Parecem superados pelo poder afirmativo das curadorias globalizadas, pelas técnicas do marketing cultural, pelas estratégias institucionais, pela submissão à centralidade da economia e outros itens que consolidam a cultura geral.
É bom ressaltar que a adolescência da minha geração se via no meio do fogo cruzado dos combates ideológicos, tanto no campo político como no âmbito artístico e cultural. Para os jovens artistas de então, criticar, investir contra o modernismo oficializado e se bater contra a arte consagrada eram coisas que fazíamos com orgulho, satisfação e muito estilo. Não era preciso ser muito incisivo para contestar publicamente o oficialato cultural – a mídia da época cultuava as polêmicas estético-culturais, dando a elas alguma visibilidade. Mas, não era nas paragens da comunicação, como hoje observamos acontecer, que ocorriam os embates mais estimulantes. Ainda estavam frescos na memória dos artistas os cortes da vanguarda precedente; eles ecoavam alto na minha geração. Os choques estéticos entre as correntes do expressionismo abstrato com as vertentes do construtivismo brasileiro em paralelo a arte engajada, só para citar alguns exemplos, tinham nos legado um acervo de obras, discursos, teorias e manifestos. Desse confronto acalorado gerava as ideias mais instigantes. E era ali, nesse caldeirão de contradições, que os jovens artistas gostavam de meter a colher. Afinal, os jovens são sempre recrutados para frente de combate. Se nessa idade você não tivesse muita clareza do lado em que iria combater, era bom que se decidisse rápido ou correria o risco de ser jogado numa trincheira da qual levaria uma vida inteira tentando escapar. 
Bem, lá estava eu, em 1965, aos 19 anos, participando da exposição Opinião65 ao lado de Ivan Serpa, juntamente com artistas promissores e outros de carreira já consolidada. Por motivos específicos e certamente movido por sua liberdade de ir e vir, Serpa criou em torno de si uma espécie de enigma: transitava com talento e competência pelas variantes estéticas em flagrante conflito, afirmando, categoricamente, sua poderosa força criativa frente aos desafios que se propunha.
Foi em 1973, durante os preparativos da minha viagem para Paris, onde moraria por alguns anos, que recebi com tristeza a notícia da sua morte. Hoje, passados 40 anos, folheando as páginas dessa espécie de inventário, ponto de partida do meu olhar sobre a obra do Serpa, me sobrevém a segunda parte da pergunta de Alice: “Afinal de contas quem eu sou? Ah, este é o grande enigma!”. Um enigma que, entre outras coisas, me adverte: Eu sou muitos!
 Adriano de Aquino

sábado, fevereiro 23, 2013

Enlatados & Orgânicos



ENLATADOS

A visita da ativista Yoani ao Brasil abriu uma avenida de especulações. O hipotético envolvimento da blogueira com financiadores argutos que tramam, através dela, uma suposta conspiração contra o regime cubano foi o foco das manifestações de repudio. As 40 perguntas ‘irrespondíveis’ disponibilizadas na Internet por seus detratores, apostaram na desqualificação da ativista e,ao contrario do que imaginavam,perderam feio a aposta. Yoani teve o foco voltado para ela e cresceu como imagem pública para milhares de  pessoas que até bem pouco tempo mal sabiam quem ela era. Yoani não gastou munição, não  se descabelou,gritou ou  retribuiu com arrogância as provocações que recebeu em todo percurso de sua visita.

Uma das perguntas mais pueris incidia sobre a fonte financeira da sua cibermilitância. Entre outras tolices, a pergunta sugeria que além de rica ela é deslumbrada pela fama. A tentativa de a situa-la  como uma espiã da CIA,igualada em ambição pelo sucesso a uma Paris Hilton morena, de  tão tola  só  provocou   risos.  A militância juvenil brasileira pró Cuba, extravasou seu ódio contra ela, porém, como lhe falta massa critica para questiona-la de forma séria, recorreu ao tumulto e as ameaças.

A impressão de que assistimos choques ideológicos foi totalmente enganosa. O que vimos foi a  inépcia  para o dialogo e o sumiço da  política. Diante das novas formas de ativismo político tentar reduzir o debate a confrontos juvenis é uma manobra desonesta das lideranças políticas que proliferam na America Latina como um todo e no Brasil em particular e que se beneficiam  com o atraso dos movimentos políticos.

O ativismo contemporâneo eficiente passa ao largo disso. Brotado nas ruas das grandes cidades ou dos píncaros da pirâmide social, ele não reproduz   os clássicos  conluios entre a o poder econômico e a representação parlamentar que se fincam na base do sistema. Ao contrario,ele nos mostra  uma visão critica bem elaborada que concentra suas ações na demolição sistemática dos interesses que ligam o capital ao poder político.Ha algo novo acontecendo que precisa ser bem avaliado para que tenhamos uma perspectiva clara sobre os acontecimentos que nos cercam.     

ORGÂNICOS
Em uma entrevista ao jornal The Washington Post (11 de novembro de 2003) o financista Georges Soros abriu fogo cerrado contra o presidente  George W. Bush, afirmando que sua prioridade era tira-lo  da presidência do país.Na entrevista Soros enfatizou que esse era o  "foco central da minha vida" e "uma questão de vida e morte". Ele espalhou publicamente  que iria sacrificar toda a sua fortuna para derrotar o presidente Bush caso  " alguém estivesse disposto a garantido-lo".Como  Soros é, alem de financista um homem de ação, doou de cara  US $ 3 milhões para o Centro para o Progresso Americano , mais US $ 2,5 milhões para MoveOn.org , e $ 20 milhões  para a América Coming Together . Esses grupos trabalhavam arduamente para apoiar os democratas na eleição de 2004.Em setembro de 2004 ele dedicou mais dinheiro para a campanha e iniciou uma turnê própria,de  estado em estado, onde apresentava para a plateia o discurso: Por que Não Devemos Reeleger o presidente Bush.Essa caminhada   teve como ponto de partida o National Press Club , em Washington, DC. A transcrição online do seu  discurso teve grande impacto  entre os eleitores,foi  recebido com sucesso e trouxe  incontáveis adesões. Em 2006,quando questionado  sobre sua afirmação em A Idade da falibilidade que apontava os EUA como  "o principal obstáculo para uma ordem mundial estável e justa", Soros respondeu  de forma inequívoca que tal afirmação:  "coincide com a opinião prevalecente no mundo”. E foi mais incisivo ainda quando prognosticou: “ eu acho que é um pouco chocante para americanos ouvir que os Estados Unidos define a agenda para o mundo. E, o resto do mundo tem de responder a essa agenda. Ao declarar uma "guerra contra o terror" após 11 de setembro, vamos definir a agenda errada para o mundo( ...)porque, a guerra cria inevitavelmente vítimas inocentes ". 
Até a eleição presidencial de 2004 Soros não era um grande doador para causas políticas nos Estados Unidos, mas de acordo com o Center for Responsive Politics, durante o ciclo eleitoral 2003-2004, Soros doou 23.581 milhoes de dólares para vários grupos  dedicados a derrotar o presidente Bush. 
Bem, Soros perdeu a batalha e Bush se reelegeu, estendendo seu mandato presidencial de janeiro de 2001 q janeiro de 2009.Para a surpresa de uns e entusiasmo  de  outros,a aposentadoria do Bush não freou o animo de Soros que  em agosto de 2009, doou US $ 35 milhões para o estado de Nova York destinar para crianças carentes entre  3 a 17 anos, sem limite quanto  número de crianças que se classificariam para o programa.Além desse  ato, Soros destinou um adicional de US $ 140 milhões para ser  aplicado no fundo do Estado de Nova York.Esse  dinheiro foi fruto da restituição da Lei de recuperação Federal de 2009.E não parou por ai, em  outubro de 2010, Soros doou US $ 1 milhão, a maior doação da campanha, a Drug Policy Alliance para financiar a Proposição 19  que, caso tivesse passado na votação de novembro de 2011, teria legalizado a maconha no estado da Califórnia.
Em outubro de 2011 a agencia Reuters levantou uma lebre quando distribuiu na imprensa uma  história que dava a entender que  bilionário  Soros era um dos financiadores dos Occupy Wall Street. Um dos objetivos do movimento é protestar contra o 1% mais rico da nação. Após essa  publicação  vários comentaristas apontaram  erros  na história da  Reuters.Contudo,o artigos intitulado: "Quem está por trás dos protestos de Wall Street?" permanece como uma incógnita para os leitores. Na chamada o artigo afirmava que o movimento Ocupar Wall Street "pode ​​ter sido beneficiado indiretamente pela  generosidade de um dos homens mais ricos do mundo.Ninguém sabe ao certo se isso é  verdade. A  Reuters não negou o que divulgou sobre os elos financeiros e ideológicos  entre Soros e a Adbusters - grupo anti-capitalista do Canadá. Sob esse assunto a  lebre continua no ar.Para desviar o foco do mistério,  em setembro de 2012, Soros anunciou que doou US $ 1 milhão para o "SuperPAC" Prioridades de Ação EUA . Aguarda-se agora outras noticias sobre a atividade ‘subversiva e anti conservadora’ de um dos homens mais ricos do mundo.
A resposta imediata de que Soros pretende se tornar ainda mais rico e poderoso é banal demais para estimular a reflexão. A segunda resposta imediata: Soros está deprimido e quer destruir o capitalismo, é subjetiva demais para nos levar adiante. Já, as recentes modalidades de ativismo político, podem nos dar algumas respostas e despertar uma boa reflexão. Uma coisa é certa: o velho antagonismo capitalismo x socialismo ja deu o que tinha que dar. Foi dissolvido na centralidade da economia e na dinâmica do mercado. Ninguem vive para sempre.Isso vale para pessoas e ideias. Nem todo dinheiro do mundo fara com que Soros ultrapasse a meta de vida dos mortais.Porém isso não impede que a inteligencia transponha fronteiras temporais.O que sabe Soros, que muita gente ainda não sabe, sobre a proximidade de um novo pacto global? O que ele vislumbra ao apoiar financeira e ideologicamente movimentos sociais em transito na atualidade. Vivemos um tempo de constantes mudanças. Quem sabe ainda não estamos cientes das profundas contradições que movem de fato o nosso tempo?