quarta-feira, dezembro 19, 2012

domingo, dezembro 02, 2012

terça-feira, novembro 20, 2012

POBREZA OSTENSIVA


POBREZA OSTENSIVA
(comenta/post)
A soberba por trás da sucessiva divulgação dos bilionários ganhos financeiros das operações do mercado de arte (leilões, feiras, marketing cultural e planos de ações táticas visam,sobretudo, gerar falsa polemica em relação aos preços, em detrimento do valor intrínseco de uma obra de arte. Essas estrategias nada acrescentam-alem de grana- a substancia 'espiritual' das obras do passado,assim como não projetam inteligência no presente.
São,apenas,táticas que aviltam a sensibilidade e a inteligencia. Não somente do ponto de vista do desprezo absoluto pelo valor intrínseco da criação e da arte e seus desdobramentos no campo do sensível. Essa dinâmica artificial revela como essas jogadas são grotescas,um verdadeiro deboche dos cultuados vencedores a todo o percurso do homem na longa e interminável caminhada sobre o planeta. No plano do real tudo é acachapante,beira o ridículo. O homem não é um exemplo de sabedoria e sensibilidade.
Mas,também não precisa ser tão estupido a ponto de dedicar sua existência em comemorar ganhos financeiros. Ha que se saber a medida certa para não ostentar a competição como vitoria que concentra mais opressão econômica e indulgencia cultural.
É isso que agora acontece no des-mundo da arte. O brilho do mercado se tornou ‘A’ inspiração de muitos artistas que moldam seus perfis de acordo com as tendências estéticas oscilantes na intenção de projetar sua marca e gerar demanda para sua produção.O jogo é frio e taxativo e, como tudo mais que se molda no real, amesquinha o espírito humano. O que mais se destaca nessa exibição de poder econômico é a boçalidade e o grotesco. Episódios repugnantes de subserviência e inveja são os sentimentos que mais se destacam diante dos lances financeiros que visam elevar à gloria eterna um objeto consagrado pela cultura mercantil de um tempo.Só podemos lamentar diante da bilionária pobreza que excita os ânimos e a ambição e despreza os sentidos e as experiências oriundas das trocas com obras de arte que,paulatinamente, deixa de lado o poder de proporcionar encontros com a sensibilidade,a graça,a beleza e a inteligência para se converter em maquininha para faturar bilhões de $s.
Na mão de boçais tanto a riqueza quanto a pobreza podem ser ostensivas.

segunda-feira, novembro 19, 2012

O DES-MUNDO DA ARTE










  1. NAUFRAGANDO EM NÚMEROO DES-MUNDO DA ARTE 
    NAUFRAGANDO EM NÚMEROS
    Se vc está de saco cheio das enfadonhas analises dos experts(mestrando em arte ou jornalismo cultural gerado nas universidades do país)que se dedicam a escrever sobre o que é 'bom' em arte,enaltecendo um 'gênio' da atualidade ou,fica irritado quando le nos cadernos culturais notas de exaltação aos preços da obra de uma celebridade da arte contemporânea, hoje,não tem mais esse motivo para se aborrecer. Esses produtos da mídia se tornaram obsoletos do ponto de vista cultural.Ao adotarem as funções mecânicas de uma ferramenta do sistema de marketing planejado para alavancar as vendas de novos produtos estéticos,eles se tornaram resenhas financeiras.
    A informação mais complexa e rica sobre pensamento e arte se perdeu nos arquivos dos velhos jornais.
    O que hoje aparece com destaque e impressiona tanto os artistas quanto os consumidores de mitologia artística pós-moderna são os movimentos do mercado de arte. De um tempo para cá eles se tornaram os marcos da arte balizada pelo viés econômico. As disputas por preços se tornou uma espécie de roteiro de novela. A mídia faz uma resenha diária dos episódios. No penúltimo capitulo um artista bate seu próprio recorde. No capitulo seguinte os jornais informam que uma rival acaba de ultrapassar o lance da concorrente. Mas, afinal, você se pergunta; sobre o que estão falando?Será que o ápice da inteligencia de quem escreve e a submissão de quem lê se restringe a lógica do consumo:o melhor deve custar mais?
    A manobra lembra a estrategia da Volkswagen na disputa com a Fiat pelo mercado de classe media instruída.
    O marketing parte do principio de que o público não sabe nada, ninguém ousa comentar e não tem outro interesse além do status das marcas e das ofertas dos concorrentes.
    Aliás,no geral, o que hoje se destaca no mercado de arte são os modelos híbridos de artesanato cafona com preço de grife sofisticada.
    Mas, isso é café pequeno quando se trata de grandes cifras do mercado internacional de arte.
    Nesse canto luxuoso do planeta abrigam-se os apaniguados. Essa gente tem poucas semelhanças com a espécie humana comum. Seus super poderes financeiros os coloca acima dos simples mortais. Porém,esse status não os protege contra os lobos do sistema.
    Ao contrario.
    Nesse mundo de códigos voláteis todos são vitimas presumíveis.Só lhes falta a chance e a oferta certa para tomarem a rota do senso comum,onde critério e escolha não mais lhes pertence.
    Já enterrei todas as assinaturas de periódicos.
    A internet viralizou as promoções.O que um carteiro levava dois dias para entregar,a web deposita as carradas na sua caixa postal.Em milésimos de segundos,zilhões de bits de propaganda invadem sua rede.
    Mesmo que delete compulsivamente todo o entulho supostamente informacional,você não será esquecido pelos remetentes bem intencionados que te lotam de bits porque acreditam que estão fazendo um bem danado ao enviarem publicações sobre a soberba do mundo artístico da atualidade e suas estratégias de difusão cultural.
    Ingênuos ou malévolos, engoliram e compartilham o slogan: ‘informação[ainda que babaca] é poder’.
    Sai dessa mano!
    Informação também é manipulação e controle!
    Compartilho com vocês as ultimas ‘infos’ (na ordem de importância financeira)que recebi –de graça- sobre as ocorrências mais ‘expressivas’ divulgadas com destaque pela mídia internacional sobre a arte da atualidade.
    É um desfile de soberba!

    Essa merda tem algum valor?
    Abre novas perspectivas sobre o conhecimento? Ampliam a nossa percepção sobre o fenômeno da arte? Nutrem nossa existência?Transcendem a mediocridade do real?

    http://www.ft.com/cms/s/2/982b100c-2f3f-11e2-b88b-00144feabdc0.html#axzz2COFHSOPJ

    http://www.artinfo.com/news/story/839048/is-keith-haring-undervalued-insiders-bet-big-on-a-correction

quarta-feira, outubro 17, 2012

O Belo Entorpecido







Bette diz:  Quero ter amor pela arte outra vez.
Acho que entendo você.
Quem não entende? Essa historia do dinheiro...
Eu sei. Agora, de repente, não existe mais. Dinheiro, eu quero dizer.
Ainda existe algum.
Bom, claro. Quer dizer, eu espero que seja verdade...
E parece que nós todos passamos diretamente da luta pela sobrevivência para a posição de semi estabelecidos e supérfluos.
Esse é um curto dialogo entre os marchands nova-iorquinos Bette Rice e Peter Harris, personagens do livro Ao Anoitecer  de Michael Cunningham, autor do sucesso literário e cinematográfico As Horas. O cenário onde esse diálogo acontece é uma sala do Met. N.Y,sob a boca escancarada e cheia de dentes de um tubarão afogado em formol e lacrado dentro de um grande aquário. Virei as paginas na perspectiva de que o dialogo entre os dois galeristas transbordasse para digressões sobre estética  contemporânea, marketing  e negócios e,claro,um bom e instigante romance.
Porém,o curto e inconclusivo dialogo ai de cima não se estende para pensamentos mais intensos e profundos sobre a expectativa de Bete em pensar que se afastando do negocio da arte poderá restabelecer uma ligação mais profunda e substancial com a arte.
Será?
Diletantes,amadores e entusiastas são,certamente, mais propensos e sensíveis à arte.Contudo,essas características não garantem escolhas autônomas e criteriosas.  
Cunningham domina a técnica de criar sequencias de palavras que sugerem imagens quase cinematográficas.Ele capricha nos detalhes e nos apresenta uma perspectiva charmosa e atraente,porém,superficiais. Esse romance é quase um roteiro cinematográfico. 
O que me atraiu para essa leitura foi a apresentação da orelha do livro que instiga o leitor a mergulhar na 'imersão profunda da crise existencial dos quarenta anos’  a partir do foco do seu narrador,Peter Harris.
Ora,pensei, já passei dos quarenta e a crise de que me lembro é de que o 'dinheiro ainda existia',só que, naquela ocasião, a arte não naufragara ainda em seus domínios. 
O anseio de Bette- “Quero ter amor pela arte outra vez” soa como um desejo incompleto. 
Lamentavelmente, o sufoco do dinheiro sobre a arte, que consumiu grande parte do oxigênio do sistema, não se estendeu a diálogos e reflexões substanciais sobre  a arte dos nossos dias ou mesmo sobre as questões que mobilizam  de fato os artistas a fazerem arte.
Uma pena! 
Fica a questão: a embriagues financeira dos últimos anos, que alterou substancialmente as relações entre  preço e valor, fez a arte desaparecer? 
Se fez, por que Bette aspira "amar outra vez" algo que deixou de existir?
Além disso, antes de me dedicar a leitura, imaginei que Cunningham traria a baila a extinção da critica e uma serie de questões  recalcadas pelo glamour apatetado e inebriante que se apoderou do ambiente artístico contemporâneo e das resenhas sobre o assunto publicadas nas revistas e jornais.
Minha opção por ler um autor da atualidade seria um revés na rabugice que me impede de “amar a literatura pós-moderna, nem que seja por uma vez"?
Isso não é de todo verdade, há  pouco tempo li o romance  As Benevolentes de Jonathan Littell,um autor contemporâneo instigante que concebeu um livro profundo sobre a banalidade do mal pelo foco de um oficial nazista, durante a Segunda Grande Guerra Mundial .
Outro detalhe que me fez decidir a encarar Ao Anoitecer foi o fato de que no interregno entre leituras sou compelido  a  retornar  aos clássicos. 
Vejo isso com alguma suspeita. 
Seria eu um melancólico saudosista?
Se isso for verdade serei obrigado a continuar mentindo.
Ou será apenas mais uma ilusão bem apropriada ao tempo presente? 
Bem, que se dane!
Se for verdade é uma verdade indolor tendo em vista que a opção pelos clássicos me propicia muito prazer.  Na semana passada me deliciei com A Cartuxa de Parma, o extraordinário romance de Stendhal que, diga-se de passagem, a recente tradução deu outro sabor à leitura e se revelou  mais aprimorada que a antiga. Não pensem que ando pra lá e pra cá com um livro a tiracolo. Nada disso!Tomando emprestado a  “imersão” da qual fala o apresentador da orelha do romance de MC,essa palavra é a  que melhor traduz  a situação na qual me encontro.Desde meados fevereiro estou mergulhado no ateliê e,nos últimos dois meses, esse mergulho alcançou profundidades extremas depois de confirmada minha exposição para dezembro próximo só com pinturas  recentes,quer dizer,desse ano. 
Nos intervalos entre as sessões de trabalho meu contato com o mundo exterior ocorre via internet, em visitas virtuais ao plenário da Suprema Corte  e  leituras. O clima de pré-exposição foi, alias, um dos fatores que me levou a apanhar Ao Anoitecer. Eu atinei que ao sabor desse romance eu afinaria meu paladar (e humor) para as ocorrências que se desdobram durante a abertura, os comentários e aos acontecimentos que giram em torno dos quadros pendurados na parede de uma galeria durante uma exposição. Ao contrario do que supunha ou desejava, meu paladar não foi apurado pelo romance  que, ao invés de  mergulhar nas vicissitudes do ambiente da arte contemporânea,  tece uma teia de ilações entre  beleza e  terror, frente ao despertar de um desejo  ardente que se apossou do narrador e que foi engatilhado  pela visita inesperada do belo e entorpecido  Ethan, irmão caçula  da sua mulher. 
Em algumas passagens, fora da trama principal, Peter toca aqui e acolá em acontecimentos envolvendo artistas, objetos e negócios da arte,porém,não vai fundo. Como não pode faltar numa obra pós-moderna, a narrativa  é recheada de  referencias literárias 'apropriadas' dos velhos e bons clássicos. Isso fica  explicito numa cena notadamente inspirada no delírio ético/estético  de Aschenbach ( homem de meia-idade)   personagem central de Morte em Veneza(Thomas Mann) que sentiu dolorosamente, como tantas vezes antes, que a linguagem pode apenas louvar, mas não reproduzir, a beleza que toca os sentidos.
Para amar a arte novamente Bete terá que superar um árduo obstaculo fundado,sobretudo,no poder afirmativo do dinheiro e na avalanche de códigos e produtos estéticos que a titulo de arte,dolorosamente,torna opaco e quase inalcançável o acesso a beleza que toca os sentidos. 


sábado, agosto 25, 2012

ARTE – UMA MARCA DIVERTIDA


Adriano de Aquino

F for fake!
O consumo desenfreado não deve parecer uma ação anárquica, um ato alucinado e sem controle. O consumidor, ansioso por novidades e com grana no bolso, tem que sentir o poder que tem nas mãos. Ele pertence à categoria mais elevada nos indicadores de cidadania dos dias atuais. Por essa e outras razões consome mais coisas do que necessita pra sobreviver. Essa modalidade de individuo pode comprar o que bem entende, porém, esse apetite tem que parecer uma ação moderada, fruto da escolha. Equilíbrio emocional e conforto são qualidades intrínsecas às pessoas de posse. Desde os primórdios da aristocracia os bem-aventurados comiam um leitão inteiro como se estivessem fazendo uma refeição frugal, na maior elegância. Gula sem posses é sinal de necessidade e carência. Coisa de necessitado. Um consumidor altivo devora o mundo com a fleuma de um monge budista. Pensando nisso técnicos em difusão do consumo criaram programas infalíveis. Eles partem de um principio elementar; o consumidor desconhece a fórmula e os componentes químicos / sintéticos que temperam o sanduiche da sua preferência. Mas, a ignorância sobre os ingredientes e os meios de produção daquela massa alimentar esquisita, não é impedimento para que ele engula, sem pestanejar, o manjar que deseja. A única exigência do consumidor mais arguto é que a embalagem tenha uma informação nutricional detalhada que cita valor energético, carboidratos, gorduras trans out, sódio e etc. Alias, pouco importa essa tabela porque nenhum consumidor leva consigo um medidor de elementos químicos de alta precisão. É só mais um artifício esperto da indústria de alimentos para organizar a bagunça entre oferta e procura.   Os técnicos de indução de consumo tornaram-se os regentes da orquestra que toca o mercado.Tudo muito bem bolado pra que o consumidor não se desespere e compre coisas que não são compatíveis com seu status social. Pra que tudo funcione convenientemente vigora no mercado um índice de marcas e preços, uma espécie de GPS do consumidor. Coexistem agora  milhares de marcas especificas como a Louis Vuitton, por exemplo, que é uma marca tradicional  para consumidor endinheirado, porém,a réplica pode ser comprada em qualquer esquina do  Champs Elysées  por preços módicos.Existem também as marcas genéricas que agregam tudo que se pode imaginar. Algumas instituições e  eventos de ARTE suprem a grande demanda por produtos sensíveis na vitrine dos bens culturais. No século passado essa rubrica só operava com produtos aferidos por críticos, estudiosos e um sistema mercantil legitimado por critérios qualitativos. Hoje em dia a categoria genérica ARTE agrega qualquer coisa que antes era apresentado numa lojinha de curiosidades. 
ARTE É VIDA, VIDA É ARTE essa é  a ideia genial que está por trás do negocio.  Uma brincadeira curiosa e divertida deixou de ser uma brincadeira e se tornou uma performance artística na qual os participantes revivem uma cena do conto infantil A Bela Adormecida. Para ser mais atrativo ainda o evento de ARTE deve oferecer um desfecho bem real, como o que ocorre agora na Ucrânia. Os participantes desse momento de ARTE- homens e mulheres- assinaram um contrato no qual se comprometem a casar-se caso a moça ‘desperte’ após um beijo. 
Não é genial?
Regra - ARTE hoje tem que ter regra, formulário e texto complexo para a atualização cultural do consumidor- dispõem que cada uma das Belas selecionadas dormirá por três dias na obra do artista ucraniano-canadense Taras Polataiko no Museu Nacional de Arte de Kiev e, durante o sono, vão ser beijadas por homens que tentarão despertá-las.
Os homens são instruídos a não tocar nas moças – apenas beijá-las nos lábios uma única vez – após consumirem balas de menta.
A instalação fica em cartaz até o dia 9 de setembro.
Essa modalidade de ARTE pode não produzir nenhum êxtase, mas, certamente, vai gerar casamentos surpreendentes. 
E, por acaso, algum não é?

segunda-feira, agosto 20, 2012

Demagogia fotogênica



Adriano de Aquino


Liberdade de expressão, livre imprensa e segurança para o exercício profissional dos jornalistas são itens determinantes da qualidade de vida de um país. Não é mera coincidência que países que as garantem e resguardam ocupam o topo da lista da qualidade de vida das nações. A organização Repórteres Sem Fronteiras tem uma lista diferente e bastante especifica. Nela a organização define a linha que separa os países que dão garantias à livre expressão do pensamento e condições seguras ao exercício profissional dos jornalistas e órgãos de imprensa daqueles países onde a informação e a comunicação são controladas pelo estado.  Pra evitar descer em direção ao inferno eu prefiro checar a lista de baixo pra cima, assim me afasto gradativamente do calor escaldante do inferno.No índice de liberdade de imprensa 2011/2012 a Síria, Bahrein e Iêmen obtém os  piores rankings de sempre,porém,cabe  a Eritreia (179) a liderança contra a liberdade de expressão, seguida da Coreia do Norte (178) Turcomenistão  (177)Síria(176)Iran(175)China(174) Sudão(170)Bielorússia(168)Cuba(167) Colômbia(143)Rússia(142) Zimbábue, Venezuela, Omã, Fiji, Camboja(117) Peru(115) Bolívia(108) Equador(104) Brasil(99) Paraguai,Chile(80) Argentina,EUA, Romênia(47). A lista é  encabeçada pelos ‘top 10’ – Canadá(10) Cabo Verde (9)Suíça(8)Islândia,Luxemburgo(6)Áustria(5)Estônia,Holanda(3)Noruega(2) Finlândia(1)

RSF:"Este ano, o índice revela muitas mudanças nos rankings, mudanças que refletem um ano que foi incrivelmente rica em acontecimentos, especialmente no mundo árabe," Repórteres sem Fronteiras disse hoje como divulgou seu índice de liberdade de imprensa anual 10. "Muitos meios pagaram caro pela  cobertura das aspirações democráticas ou movimentos da oposição. Controle de notícias e informações continuaram a tentar os governos como condição de sobrevivência para os regimes totalitários e repressivos. O ano passado também destacou o papel de liderança desempenhado por internautas na produção e divulgação de notícias."Crackdown foi a palavra do ano em 2011. Nunca a liberdade de informação foi tão intimamente associada com a democracia. Nunca os jornalistas, através de seus relatórios, afligiram tanto os inimigos da liberdade. Nunca atos de censura e ataques físicos contra jornalistas foram  tão numerosas. A equação é simples: a ausência ou supressão de liberdades civis leva necessariamente à supressão da liberdade de imprensa. Ditaduras medo e proibição de informações, especialmente quando se pode prejudicá-las.”

Diante dos fatos a situação do Assange me desperta algumas questões. Se nos basearmos na lista do RSF, o Equador não seria uma perspectiva lógica para o exílio de um militante como o Assange que esmiúça e difunde na web as frestas e os ardis da maquina de guerra norte americana. O Equador tem um lote considerável de ‘arquivos confidenciais’  que assanhariam o espírito libertário de um sujeito como o Assange. Impossível se refugiar no Equador e fingir desconhecer o modo operante do governo de silenciar a oposição. A Diretoria Nacional do MPD que se define uma organização de esquerda que luta pela vigência dos direitos humanos e as liberdades públicas, declarou a favor do direito de asilo a Julian Assange, mas na oportunidade denunciou o duplo discurso do governo de Correa e exigindo a liberdade imediata dos presos políticos encarcerados pelo governo e a cessação da perseguição para os mais 300 enclausurados por sabotagem e terrorismo.A oposição equatoriana em nada parece com o PSDB. Há pouco as autoridades do Equador apreenderam computadores e mobiliários da revista Vanguardia por criticar o governo por supostos descumprimentos trabalhistas que chegam a US$ 20,8 mil (cerca de R$ 42,2 mil).Membros do Ministério das Relações Trabalhistas e da polícia chegaram à sede da revista ontem por volta das 15h locais (17h no horário de Brasília) e retiraram os equipamentos do escritório.Durante a ação, um assessor jurídico do veículo também foi preso. De acordo com funcionários da publicação, a operação aconteceu de forma violenta. O editor da Vanguardia, Iván Flores, afirmou que eles foram notificados da ação no mesmo dia da intervenção e que teriam três dias para resolver o problema trabalhista, mas que acabaram tendo apenas três horas. É a terceira vez que a revista perde seus computadores, a primeira foi em suposto roubo e a segunda por violação de um contrato de locação com o Estado.
Pouco tempo atrás um site do PC local informou que  dez jovens equatorianos, entre trabalhadores e estudantes foram presos em Quito no dia 3 de março em meio a uma Marcha pela Água, Vida e Dignidade dos Povos. Até hoje não foram libertados e sofrem processos de atentado a segurança do Estado. Os países do Unasul também não se destacam como zonas onde a liberdade de expressão é uma garantia para os jornalistas, blogueiros e  imprensa. É inegável que o Brasil deu um grande passo nesse campo, porém, a ameaça e a violência são constantes no cotidiano do cidadão brasileiro. Como separar a atividade de um repórter ou blogueiro do dia a dia do cidadão que vive num país onde a violência atingiu índices comparáveis aos dos países em guerra civil. A violência no campo e nas cidades, não apenas no Brasil, em toda a America Latina, é crescente e assustadora. É muita ingenuidade imaginar que tal circunstancia não reflete na atividade de um repórter,jornalista ou blogueiro.

LINK RFS:




domingo, agosto 12, 2012

O PROPÓSITO OCULTO DO ÓBVIO ULULANTE.

Adriano de Aquino
agosto de 2012


Estudiosos consideram a manipulação o pólo negativo da conscientização. Pelos parametros básicos das relações sociais a pessoa é ‘sujeito’ e como tal deve ser tratada.Entretanto, a pessoa, no âmbito das sociedades organizadas, orientadas para o consumo e submetidas a propaganda, é passível de ser convertida em ‘objeto’. Este é um risco permanente que afeta com maior vigor as pessoas desprovidas de uma dimensão critica e seletiva, tornando-as vulneráveis aos estímulos gerados pelos meios de comunicação,difusão e propaganda e, facilmente arrebatadas pela demagogia política . A manipulação alcança maior exito quando o manipulador descarta tudo o que é raciocínio crítico do individuo. Via de regra, o homem sem o auxílio da crítica fica desprotegido e não consegue perceber quando é apanhado no jogo do manipulador.Assim como não percebe a combinação química dos alimentos e produtos que ingere, engole toda a substancia oferecida. Isso porque os estímulos da manipulação são percebidos de forma inconsciente; por meio dum arranjo hábil que permanece oculto à consciência,criando uma espécie de falsa consciência e, a partir dela, a vítima das práticas da manipulação ilude-se de que tomou uma decisão racional, fez uma escolha por conta própria e por plena consciência,digamos. Aproveitando-se de forma irresponsável de uma disposição fundamental do homem e da sua interdependência com o grupo social com o qual se identifica, o sistema encontra resposta na paralisia da capacidade de objetivação e distanciamento do sujeito,suprimindo a liberdade de escolha criteriosa.
‘De fato, a manipulação deve ser considerada como a mais desumana de todas as formas de opressão.’
Mas,nem a mais cruel ou dissimulada opressão consegue obliterar o senso crítico de todos os indivíduos ao mesmo tempo. 
No plano cultural, mesmo em tempos de explosão consumista como o que agora vivemos, pressionados pelos estímulos da mídia e da propaganda direcionada para o consumo de itens destacados no menu dos espetáculos,da glória das celebridades e da arte consagrada pelo primado dos indicadores mercantis, persiste a resistência  contra a submissão do indivíduo. A resistência crítica é algo que nem mesmo o poder totalitário e a impregnação maciça e sistemática  da propaganda dissipa por completo.Pensadores e indivíduos munidos de uma visão crítica sobre os fatos do mundo e comprometidos com a liberdade de pensamento e expressão, tangenciam o poder dominante e subvertem os ditames da hierarquização cultural ‘manipulada’ por uma suposta imparcialidade da informação .
No plano político, a  democracia só exerce seu papel mais relevante quando o poder constituído cumpre corretamente suas funções, não extrapolando o uso da maquina pública, não discriminando a opinião contrária em beneficio dos aliados,respeitando os deveres constitucionais e se abrindo ao diálogo com a sociedade .Quando isso não ocorre e o poder constituido tenta ocultar,mentir e silenciar os escândalos  pela barganha econômica, negociatas, ameaça à livre expressão, manipulando os meios de comunicação,promovendo ações coercivas dos agentes do poder contra o cidadão e incentivando sua militância  a  praticas agresivas contra os opositores o que temos é um simulacro de democracia e, em casos mais obtusos, uma ditadura.

Posfácio: "A essência da propaganda é ganhar as pessoas para uma ideia de forma tão sincera, com tal vitalidade que, no final, elas sucumbam a essa ideia completamente, de modo a nunca mais escaparem dela"(...) "A propaganda quer impregnar as pessoas com suas ideias. É claro que a propaganda tem um propósito. Contudo, este deve ser tão inteligente e virtuosamente escondido que aqueles que venham a ser influenciados por tal propósito nem o percebam." (Joseph Goebbels)

terça-feira, julho 31, 2012

Os meninos perdidos


Adriano de Aquino

Uma tragédia permanente, um canal aberto para o inferno que não encontra um fim. Por esse abismo deslizam um grande numero de penitentes. O que mais comove é a multidão de crianças condenadas a essa aberração que comprova o abandono extremo do qual só se livram atravessando para a morte prematura. Enquanto duram, são atrações semivivas dos confins do mundo e uma constatação escandalosa da incompetência das sociedades modernas e ricas de atendê-los e fazer valer os princípios fundamentais da vida e dos direitos humanos. Mostrem-me as mais festejadas vitorias políticas, as mais racionais metodologias de produção de bens, alimentos, mobilidade, conhecimento e diversão, a face oculta da lua, os magníficos  templos religiosos, as vestes douradas do Papa, a pompa dos políticos, as mais promissoras pesquisas sobre Deus e seu avatar cientifico o Bóson de Higgs, o ultimo hit da tecnologia de comunicação, as mais badaladas e milionárias  artes da atualidade que reclamam para si a renovação, os homens mais ricos do planeta,as mais belas modelos,o ultimo hit da moda e os reluzentes  monumentos hi-tech da contemporaneidade e vos direi:nada disso,por maior  esplendor que irradie, ofusca o espectro desse  inferno. 
A  completude civilizatória é um sonho, uma miragem?
Quando se fala em canal aberto para o inferno, pensamos imediatamente em alguns países da África. A tendência de afastar de nós tamanha tragédia é compreensível, todavia, a crueldade contra as crianças não é atributo exclusivo dos povos africanos. Da uma olhada ao seu redor, passeie pelas ruas da sua cidade não apenas com objetivo de usufruir as ofertas e o conforto da metrópole e constatará o contingente de meninos perdidos vagando pelas ruas. Mas, a concentração e a larga escala da brutalidade dos conflitos africanos centra o foco da mídia global nessa região. A persistência de um poderoso paradoxo cultural que se espraia pelo continente, embaça a visão externa sobre os conflitos sangrentos nessa parte do globo e imprime, no olhar estrangeiro, a ideia de que a África é uma alegoria cruel das adversidades da modernidade. Se por um lado a resistência cultural das muitas etnias africanas que se negam a abandonar suas tradições seculares é motivo de orgulho para alguns, para outros, essa resistência, que alcançou seu auge na luta contra a dominação colonial europeia e vem conformando com muita dificuldade nações soberanas,suprimindo as ditaduras violentas e corruptas,abrem perspectivas animadoras . Essa onda renovadora divide em dois  o continente e as opiniões do mundo sobre a África. De um lado a tentativa de mudança gradativa para regimes mais abertos e de outro, o sobressalto diante do terror imposto pelos golpes de estado, as milícias, os banhos de sangue e os massacres descomunais que reativam o cenário de horror. Essas violentas manifestações impressionam e prendem  a atenção da comunidade mundial por força do calibre das iniquidades praticadas contra as crianças. 
Numa visita ao Senegal tive oportunidade de conhecer um centro de ajuda aos órfãos das guerras africanas. Mantenho contato com pessoas ligadas a essa organização que informam sobre os benefícios das ações solidarias da comunidade  internacional e, também, das dificuldades crescentes com a retomada dos confrontos no Sudão, que empurra um enorme contingente de crianças para a frente de batalha,a miséria, a fome e a morte. No Brasil, os meninos perdidos não são órfãos da guerra civil. Porém, isso não significa que estejam livres da tirania e menos expostos à crueldade. Algumas organizações brasileiras sérias tentam reduzir o contingente de meninos perdidos. Essa é uma missão árdua que carece tanto de recursos financeiros quanto humanos, além de expor os colaboradores aos conflitos armados nas comunidades dominadas pelo trafico. As políticas públicas brasileiras para esse setor são tímidas, quase caricatas e, maior parte das vezes repressiva, o que só piora a situação dos jovens.








Voltando à retomada do terror sudanês contra as crianças; em junho passado o NYT publicou uma matéria assustadora feita pelo repórter Jeffrey Gettleman. Seu texto nos coloca frente a frente com o drama dessas crianças e a imprevisibilidade de uma solução de caráter prático. Abaixo um resumo da matéria.
John Prendergast, cofundador do Enough Project, luta para acabar com o genocídio e crimes contra a humanidade. Ele trabalhou há 20 anos  com os Meninos Perdidos. "Os sobreviventes pareciam uma história terminada, para nunca mais ser repetida", disse ele. "Mas, aqui estamos nós novamente."
O Sudão, talvez mais do que qualquer outro país na região, parece ter uma capacidade destrutiva de voltar a  afundar-se nos piores dias do seu passado. Muitas nações africanas enfrentaram a guerra civil mas, quando os conflitos chegaram ao fim, algumas começaram a se organizar. Ate mesmo a Somália, crivada de balas, aos poucos se livra do caos. Entretanto,por  56 anos com poucas tréguas, os sudaneses  tem sido vitimas da guerra. Uma guerra sem fim que  se espalhou por muitos lugares.Uma característica da estratégia de contra-insurgência do governo sudanês é um ataque impiedoso contra civis, desencadeado no sul, na década de 1980, nas Montanhas Nuba na década de 1990 e em Darfur no início de 2000.Agora, em 2012, as Montanhas Nuba são novamente o alvo do bombardeio da força aérea sudanesa que forçou aldeias inteiras a se retirarem para as cavernas do cume, deixando os campos e os mercados vazios e as pessoas à beira da inanição.
O derramamento de sangue em Nuba é dirigido por alguns dos mesmos funcionários responsáveis ​​por massacres anteriores, como o presidente Omar Hassan al-Bashir, no poder desde 1989, e Haroun Ahmed, governador do estado, que abrange as Montanhas Nuba. Ambos são procurados pelo Tribunal Penal Internacional , acusados de crimes contra a humanidade pelo  derramamento de sangue em Darfur e Bashir além de serem  também acusados de genocídio. A atual ofensiva parece centrar seu alvo nas crianças de Nuban. Elas estão na mira das ações criminosas e, muitas vezes, não há para onde correr.Um zelador no campo Yida disse que 14 meninos que tentavam chegar aqui foram mortos a tiros em um posto do Exército sudanês. Estilhaços de bomba feriram outros. A doença está varrendo o campo e muitas crianças que chegam a Yida nas costas de suas mães estão tão magros e doentes que são imediatamente levados para o hospital de campo e entubados para receberem alimentação.
Antes mesmo da sua independência em 1956, o Sudão tem sido marcado por tensões que se alastram do centro para periferia com explosões e destruições arrasadoras. O governo central tem uma tradição de brutalidade e os grupos minoritários do interior estão fortemente armados e tem, para aumentar a dose de azar da população, uma tradição de insurreição.A situação desesperante leva os pais a expedirem seus filhos em odisseias que se estende por toda a frente de batalha e pântanos infestados de malária. Essas crianças, vítimas da crueldade maciça, estão repetindo um dos capítulos mais sórdidos da história do Sudão: o périplo ameaçador dos chamados  Meninos Perdidos  que, durante a guerra civil na década de 1990,vagavam  aos milhares através de centenas de milhas, esquivando de  milícias, bombardeios e leões.
Agora, uma nova geração de Meninos Perdidos está ressurgindo de uma guerra que, apesar de um acordo de paz, nunca findou completamente.
Musa Haidar, 14, recentemente refugiado em Yida é um dos 1.000 meninos que chegam todos os dias ao campo que se expande num mar de lonas brancas das Nações Unidas entre a selva verde exuberante. Com Haidar estavam outros oito meninos com roupas rasgadas e barrigas cheias de grama, seu único sustento alimentar por vários dias.Eles estavam com os pés descalços, observando atentamente um enorme tonel de feijão  fervendo  e prontos para uma refeição real e uma nova casa: uma caixa de papelão em uma cabana infestada de ratos."Não sabemos mais sobre os nossos pais", disse Haidar, se atrapalhando para enfiar os botões quebrados nas casas de uma camisa doada. "Mesmo se voltarmos, não encontraremos mais ninguém.”
Esse  resumo da uma ideia do tamanho e largura da vala escancarada para o inferno  que se abre para os meninos do Sudão.

quarta-feira, julho 25, 2012

Neo Renascimento




Adriano de Aquino
julho de 2012



Toda organização aspira ao controle. Essa regra básica de convívio em grupo se expande para diversos vetores da vida. Além de regular os impulsos humanos aos procedimentos fixados por um padrão geral, ela formata preceitos mais sutis que determinam os códigos particulares que portamos ao longo da existência. Somos,em síntese, criaturas cultivadas pelos valores do grupo a que pertencemos.São esses princípios  que, em parte, nos constitui como individuo. Porém, a conformação autônoma do individuo se consolida na consciência da sua diferença. É a posse dessa consciência que leva a pessoa a questionar os modelos impostos pelo grupo e torna exequível a construção da particularidade. Eu me chamo Adriano, na ocasião do meu nascimento não tinha condições de escolher meu próprio nome, meus pais o fizeram. Não sei que sentimentos os levaram a escolha do meu nome. Seja lá o que for, com o passar do tempo acabei entendendo que esse nome era algo que me pertencia.  Por um longo período, ao qual se costuma chamar da idade de formação, as minhas escolhas pessoais se limitavam a singelas ações lúdicas. Todavia, a maior parte do tempo útil eu era obrigado a cumprir os deveres e obrigações que me tornariam no futuro um individuo socialmente produtivo e apto a desenvolver um hipotético potencial, do qual eu não tinha a mais vaga ideia. Havia uma vitrine de modelos a serem adotados. Escolher um era tarefa penosa. Meus desejos eram multifacetados. As profissões regulares e as ambições objetivas,bem como, os signos de riqueza e poder, não me encantavam. Eu desejava, antes de tudo, a liberdade. Como podem perceber eu enfrentei desde cedo um problema de gestão. Por volta dos dezessete anos uma atração inexplicável me levou a, antes de me interessar por arte, desejar ser artista. Mas, ser um artista não era para mim uma atitude inspirada numa categoria poética ou na rebeldia libertadora, como expressada posteriormente no consagrado aforismo de Beyus: “Toda pessoa é um artista”. Ha muito tempo circula no ambiente cultural miríade de especulações sobre esse axioma. Mas, antes que essa frase se tornasse um 'modelo' inspirador para alguns grupos estéticos contemporâneos, ocorreu um fato concreto. O que levou o artista alemão a cunhar essa expressão emblemática, tornando-a uma bandeira artística, foi o fato de ter aceitado na sua classe 142 candidatos recusados pelo sistema seletivo de uma academia  de artes. Essa confrontação com o status quo  adquiriu o contorno de um manifesto contra as disciplinas acadêmicas e, posteriormente, se desdobrou em ações radicais contra qualquer critério estético. 
Essa atitude política, digamos assim, foi gradativamente inserida no circuito da arte a ponto de se constituir, em curto espaço de tempo, um modelo hierarquizado. A parte as questões interessantes suscitadas pela citação, ser artista, para mim, implica em se debruçar não apenas nas cercanias da política das artes e no modo operante  de produzir objetos estéticos,ações ou conceitos que visem sedimentar um modelo de arte(estilo) ou extravasar  a verve contestadora no plano cultural. O desempenho de um artista  não se restringe apenas a assentar no mundo real as formas de um desejo latente ou  ações táticas concernentes a um discurso estético / político. 
Desde os primeiros passos enxerguei a experiência artística como fonte de saber e conhecimento que viabiliza a entrada nos domínios da beleza. A vigência dos paradigmas atuais, por mais tolerantes que possam parecer, exige do proponente um livre transito no ambiente cultural. Existem varias formas de alcançar essa permissão. A mais frequente acontece na partilha de códigos comuns entre pares e demais instâncias que inserem o trabalho artístico no meio social. Gostemos ou não, isso é uma sentença que obriga um artista a dar uma resposta social a sua atividade criadora que, paradoxalmente, de social propriamente dito, não tem nada. 
O fato é que conquistar o reconhecimento dá uma trabalheira danada. É bom que fique claro que para alcança-lo não é necessário um raro talento artístico. A dedicação extrema em direção a um objetivo especifico desempenha um fator preponderante na compleição de uma rede de relacionamentos que abre portas e facilita o acesso no ambiente cultural. A partir daí surgem os degraus da escalada rumo ao reconhecimento e, quem sabe, ao sucesso. Nesse estagio poucos se perguntam se o esforço vale o reflexo fugaz do que distinguimos como sucesso. Alçar ao sucesso exige muito trabalho, paciência e perseverança no gerenciamento das trocas sociais. Para cumprir à risca esse percurso o sujeito tem que se ajustar aos jogos políticos sob a jurisdição da alta ansiedade. Talvez, por isso, ao atingir o sucesso muitos dizem que a recompensa é pífia. Não há nada de novo no que digo. A produção moderna de bens culturais esta submetida a esse método, portanto, é bobagem lamentar a injustiça do sistema que empurra a maquina que explora os desejos. 
Para aqueles que  o reconhecimento público é o teto do mundo, a frustração diante do real e a decepção frente à dureza do sistema, caem como um flagelo que abate com mais violência o artista que elucubra ampla expectativa na propagação pública do elevado conceito que tem sobre si próprio.
A  distancia vislumbra-se uma geleira intransponível, um Everest de carne e concreto. Na proximidade, no olhar do seu interior, as galerias e instituições culturais, pontas do sistema de arte, se convertem em espaços especializados, legitimados como organizações onde os bens artísticos encontram exteriorização, projeção social e perspectiva de ganho financeiro.
Nesses espaços, as singelezas ou  irreverências dos artistas e de suas obras vaporiza otimismo, convidando o espectador a protagonizar um mundo de experimentos singulares.
Ainda que tudo funcione como o previsto, demanda-se dos frequentadores apenas uma abertura para o novo, uma espécie de convite ao assombramento que estimula surpresas e sensações que  possibilitam, em tese, reconstruir o mundo a partir do foco de que arte é vida e vida é arte.  As ações estéticas contemporâneas cultuam essa ideia. A mesura que circula no ambiente das artes contemporâneas é consequência direta dos meios de comunicação.Esse conjunto de fatores propõem  excitar as mentes e fazer o coração bater mais forte  ao situar o  espectador como protagonista do seu tempo.A  tolice humana não se esconde ai, está oculta em outro lugar.  Num lugar estéril onde se erguem os mitos para adoração e se lustra o novo ícone que substituirá o antecessor. Esse procedimento é sustentado pelo que se convencionou chamar de depuração qualitativa, que nada mais é que um recurso artificial, uma réplica dissimulada, em estado bruto de um compacto upgrade turbinado do percurso da historia da arte. Esse engenho torna-se mais sedutor quando uma autoridade cultural (curadores, diretores de instituições, centros de arte, escolas, museus, jornalismo cultural, marchands, mestrandos/doutorandos etc.) projeta diante dos olhos do espectador sua visão da arte do momento como uma perspectiva de consagração inquestionável  sobre seu valor. 
A garantia da linha sucessória desse empreendimento é a longa tradição da ideologia mercantil e a confiança na neutralidade cientifica do observador especializado.
Sua eficiência está fortemente vinculada à insegurança expressa por indivíduos que subestimam suas escolhas quando da busca por códigos estéticos vencedores, significados e lucros. O sistema de arte é parte de um complexo de negócios movido por interesses distintos. Sem desprezar o esforço dos intelectuais que refletem sobre as relações entre arte e sociedade, o processo criativo - aquele que dá corpo à arte- é movido por substancias que só se sustentam na liberdade plena. Tudo que acontece fora desse tempo/espaço é especulação movimentada por desígnios táticos, econômicos ou políticos. A criação, em si, não se submete as regras fixadas por comandos formais, pois, para que o processo criativo flua é fundamental que o artista se permita a insubmissão que torna a experiência criativa imune a  lógica que afeta a produção de bens e as compensações objetivas. A arte se forma num tempo impreciso e indefinível. O que está à frente ou muito distante acontece simultaneamente. Tentar abordar esse instante através de modelos lógicos é um convite ao atraso e à frustração ou,no plano das ideias,base para fundamentação teórica e estratégias de ideologização.
Em tempo de incertezas, quando a linha graduada de valor se dissolve por entre visibilidade e preços, o processo criativo é subestimado e adentra-se a penumbra. Nessa atmosfera opaca e densa o mundo vai paulatinamente sendo povoado por objetos,ações e feitos estéticos insólitos em estreita ligação com os anseios por novidade, matéria prima preferencial das redes de comunicação,dos ditames do espetáculo e em consonância com o modelo dominante. 
Suponho que quando a sombra esmaecer surgirá a nossa frente não uma nova arte, mas, um volumoso mostruário de ícones, portando pomposas etiquetas de identificação transcritas em breves súmulas e ornamentadas com sedutores cifrões.





domingo, junho 17, 2012

Aquecimento global / congelamento de ideias.



Considerando-se que o aquecimento global é uma ocorrência inquestionável me pergunto; o ativismo ecológico em suas múltiplas manifestações, maior parte das vezes apocalípticas, sobre as causas do aquecimento global tem fundamento cientifico?
Antes de refletir sobre isso, encontre um lugar fresco e agradável e previna-se contra a tempestade de informação intencionada que desaba sobre o individuo. Evite, tanto quanto possível, circular nas ruas da cidade/evento que se tornou o Rio. É isso, o Rio deixou de ser uma cidade das gentes e se tornou um cenário para mega eventos. Vias preferenciais entupidas e transito caótico compõe o panorama da capital mundial da salvação planetária com sede no Rio Centro.E vem ai a Copa e as Olimpiadas.
Nesses dias dobre a atenção aos apelos demagógicos não só dos homens públicos. Aproveite para refletir sobre as propostas apresentadas no fórum das nações. Se tiver tempo e paciência, estenda os critérios de analise para as apresentações artístico/culturais que insinuam, entre outras coisas, que os artistas inspirados no tema da sustentabilidade são protagonistas de um novo tempo, intérpretes de uma luta titânica contra o consumo, a manipulação da comunicação social, o capitalismo e a destruição planetária radical.
Afinal, as pessoas não estão congeladas, muito pelo contrario. Espocam, aqui e ali, opiniões bem fundamentadas que contestam as ideias mais espetaculares e catastróficas, propaladas pela mídia, de que o aquecimento global é provocado, principalmente, pelo fator humano. Não tenho nenhum motivo especial para acreditar que as sociedades humanas são zonas de equilíbrio, bom senso, harmonia e solidariedade. Ao contrario, considero o ser humano uma ameaça constante, um bicho desajustado. Em bandos se tornam mais perigosos quando, ao tenta superar sua insignificância, afrontam a natureza e o tempo com ignorância e prepotência.
A ignorância é um dado desculpável frente aos mistérios da vida, a imensidão cósmica e outros acontecimentos colossais, entretanto, a prepotência que leva o homem a crer que o fenômeno do aquecimento global é consequência direta das suas ações, não poderia ser mais um surto megalômano?Entendo que com a superpopulação é urgente que se amplie a participação na manutenção e proteção dos recursos naturais. Até porque, se não houver uma política séria nesse campo, em breve o mundo não terá mais comida, os oceanos estarão vazios, as florestas peladas, as praias desaparecerão embaixo de montanhas de dejetos.  Nas ficções podemos até nos deliciar com a luta de um herói humano, armado apenas de astucia e uma lança, contra um Tiranossauro Rex. Todavia, no plano do real sabemos que isso é apenas uma metáfora que se encaixa na incansável tentativa humana de vestir um anão com vestes de gigante.
No fluxo das festividades sustentáveis, repostar esse vídeo pode parecer apenas uma provocação. Mas, o fato é que a discussão sobre o nosso futuro sobre o planeta é mais ampla e profunda do que aparenta. Em resumo: salvar a própria pele é o pano de fundo de toda a empreitada humana. E, claro, se os avanços tem que servir para alguma coisa,então, no mínimo,que se instale na cultura, de forma definitiva maneiras mais inteligentes e racionais de sobreviver, impondo a menor destruição possível à natureza.
Adriano de Aquino

sexta-feira, maio 18, 2012

Covas vazias


'Net.art está morta,viva a net art'. [haja saco!]
Que semana profícua! Os ensinamentos que circularam esses dias nos jornais foram estupendos. Aprendi, por exemplo, que o modernismo foi uma invenção estéril que só beneficiou alguns artistas devassos, mercenários e egoístas. Revelações eletrizantes desse tipo me levaram a encarar a realidade. Encará-la, nas palavras de um milionário messiânico, me acerta na cara a constatação de que a realidade é uma MERDA! No ano passado algumas almas irrequietas disseram nos jornais, provando por A + B, que o holocausto não existiu e que se trata de uma invenção do Spielberg com objetivo exclusivo de ganhar dinheiro com ficção apavorante. Quer dizer, não apenas os artistas do decadente modernismo eram engôdos, os artistas pós modernos (leia-se 'contemporâneos') também não contribuem para a cultura e a educação do POVO (em maiúscula).Diante disso, um rico benevolente, desprovido de interesse pessoal, se outorgou, de forma 'natural' -amante da natureza que é - o cargo de manda chuva de uma cruzada em prol da educação à partir dos enunciados estéticos  contemporâneos expostos no interior do esfuziante paisagismo tropical que mandou construir. 
Nossa!Que missão relevante!Muito mais nobre que todo o modernismo espalhado nos museus das grandes metrópoles do mundo. 
Outro fenômeno que afirmam também ser ilusório e inútil, como o modernismo, é o tal do 'mensalão'. Algumas pessoas juram que o mensalão não existiu que é uma invenção de um bando de maníacos (algo em torno de 100 milhões de pessoas integram esse bando de alucinados). E, vejam,aprendi isso tudo e a semana ainda não terminou. Pode ser que amanhã surjam novas 'revelações' estrondosas que mudarão o andamento da historia. Ops! Mal acabo de descrever essa perspectiva abro uma pagina do jornal El Pais e dou de cara com a velha exaltação em torno da morte da arte ou de algum feitio de arte.( de novo?!)
El Pais: 'Net.art está morta,viva a net art'. [haja saco!]'Apesar dos pessimistas, net.art não está morta, tal como mostrado por iniciativas contínuas de projetos e criados para a rede. Um dos mais recentes, SPAMM , que significa Museu de Arte Super Moderna [mais um slogan], que é apresentado em Bruxelas, na quarta edição do Transnumériques Les , conhecido por ser um lugar que conseguiu derrubar um dos principais tópicos de arte digital que é encontrar uma maneira para compensar economicamente obras intangíveis e infinitamente reprodutíveis dos seus artistas.'Desde a era da vanguarda histórica ( arcaico segmento artístico insatisfeito com o inutil modernismo ) se mata a arte que, permanecendo insepulta,continua a circular pelo mundo gerando zilhões de dólares para coveiros e se negando a tomar o caminho da tumba. Entende-se,portanto,que a arte em si morreu,porém, qualquer subtítulo que a mantenha lucrativa a retem na UTI.
Eita! mundão idiotizado!


quarta-feira, maio 02, 2012

Falando de Arte


A única versão de O Grito de Edward Munch que ainda estava em mãos privadas,mais um desenho preparatório de Paul Cézanne para a pintura Os Jogadores de Cartas e importantes obras de Mark Rothko, Francis Bacon e Andy Warhol são as estrelas da noite de leilões da primavera em Nova York (os leilões de outono e inverno prometem ainda mais frizon no ambiente artístico) 
"Ainda ha vida, peônias brancas" de Edouard Manet ,alcançou ontem  no leilão de Christie de Nova York a soma de  US $ 17 milhões cada uma (mais de 13 milhões de euros).
Um estudo  de Cézanne, segundo um expert, 'redescoberto'(sic)este ano, será o must da temporada .Antes da 'redescoberta' e desde 1953 essa obra estava nas mãos de um colecionador do Texas.O  mundo da 'arte' estava desolado pois acreditava-se ser quase impossível obter 'mais valia' com uma das poucas obras do mestre francês que ainda restava disponível para operações mercantis. Quer dizer, o colecionador texano não estava nem um pouco desolado.Além de usufruir da obra todos esses anos agora deve estar morrendo de rir. Será esse esboço, feito em azul e ocre,cuidadosamente preservado, alvo de especulações milionárias? Para Brooke Lampley, diretor de vendas da casa de leilões, essa obra: "marca uma virada na pintura de Cézanne, revelando o processo artístico que redefiniu o posicionamento dos personagens da sua obra-prima." Como podem notar um expert em vendas bem treinado dispensa qualquer avaliação histórica  ou mesmo uma critica mais aprofundada sobre a posterior escolha do Cezane para a finalização da sua pintura  "Os Jogadores de Cartas".  
Bem, deixa pra lá. 
Afinal, algumas obras desse milionário leilão primaveril agitaram seu tempo e contribuíram para promover uma revolução estética. Hoje,se inserem como atrativos no promissor  ciclo financeiro do mercado de arte.
Nos dias atuais, goste você ou não, as coisas funcionam assim.  
Esse troço de contestar a excessiva monetização de tudo tornou-se um traço inerente às personalidades rancorosas.
O sujeito - se é que essa singularidade tem algum sentido num mundo submetido à diversidade subvencionada por terceiros-contestador e que criticamente se contrapõe a manipulação da informação e aos indicadores socioeconômicos difundidos pelos meios formais de comunicação, é um solitário. Solidão prospectiva e contestatória não é páreo para os ícones da contemporaneidade.Proteste em grupo! De preferencia no meio da multidão.
Damien Hirst, um sucesso incontestável do movimento estético 'arte/negócio' entendeu isso quando era adolescente. Desde então ele se posiciona no centro das novas propostas estéticas que ostentam sucesso financeiro sem precedentes na historia da arte ou, se preferirem, nas agendas mais ricas do mercado da arte.
As instituições culturais também despertaram para esse 'novo tempo.'
Vejam isso:
O Museu de Arte Contemporânea da Austrália reabriu as portas em 29 de março após estar fechado por 18 meses. Agora, após 56 milhões dólares em investimento, o Museu abriu suas portas com excitantes novidades.
A instituição convidou o artista conceitual Stuart Ringholt (40)apontado pelo jornal australiano The Age como um dos Top 10 da Austrália, para 'criar' um troço que estimulasse as pessoas a irem ao museu.Sabedor de que a arte pela arte já não leva ninguém a sair de casa, Stuart criou uma modalidade de visitação especial: todo mundo nu (menos os funcionários do museu).
"Quem está nervoso?"
Com essa pergunta Ringholt deu inicio ao percurso guiado da exposição.
Num dado momento, motivado pela excitação  dos visitantes, o artista bradou:
"Gente! Isso é muito bonito. Somos extremamente sexualizados por nossas roupas. Sem elas, somos naturais."
O ápice da atração de Ringholt foi quando ele anunciou que um casal de funcionários do MCA,devidamente vestidos, os acompanharia por todo o percurso.
-"Gente, explicou o artista, por razões de segurança os guardas permanecerão vestidos".Mas,acrescentou: "se eles tiverem que  fazer o passeio por dois dias seguidos é possível que tirem suas roupas no segundo dia,.Senão eles se sentirão muito desconfortáveis estando vestidos em torno de tanta carne humana em natura."
Ele se desculpou pelas câmeras de segurança, brincando que "a gravação será mantida por três meses, para o gozo do pessoal da segurança."
Assim, 32 homens e 16 mulheres participaram de um momento único propiciado pelo talento de Ringholt que revelou na ocasião que a sua ansiedade tinha diminuído. A maioria dos visitantes concordou.Estavam todos mais tranquilos.
O passeio terminou com um copo de vinho espumante na esplanada do museu com vista para o Sydney Opera House. Perguntado se ele tinha algum plano para levar suas excursões para museus no exterior, como o Metropolitan de Nova York, Ringholt mostrou-se animado. -Quem sabe? Perguntou o artista
Tracey, uma das participantes da experiencia,não quis revelar seu sobrenome. Entretanto,ela disse que trabalha para "uma organização cristã" e que o que viu nesse percurso  "não tinha a arte como foco."
Então é isso; falar de arte nos dias atuais é não ter a arte como foco. 

domingo, fevereiro 19, 2012

Pérolas & Porcos


Produzir bens duráveis,gerar conforto e suprir as demandas de consumo são itens  que se tornaram imprescindíveis à vida contemporânea.  Cada dia que passa aumenta o arsenal de produtos disponíveis no mercado. Com isso o refugo se amplia enormemente e as técnicas de descarte não conseguem acompanhar o ritmo. Nos paises mais ricos esse contraste se agrava a cada dia,nos paises pobres, onde o consumo é mais reduzido,o problema também é grande e  não pode ser desprezado. Até que as campanhas de reciclagem surtam efeitos concretos e a cultura da seleção criteriosa e o tratamento correto dos dejetos se torne uma realidade seremos obrigados a conviver lado a lado com as pocilgas.Além disso,a tendencia em acumular novos problemas sem solucionar problemas do passado é uma  característica humana a ser considerada.Desde o lançamento do Sputnik -o primeiro objeto a entrar em órbita em 1957 - a evolução tecnológica permitiu que naves, foguetes e outras centenas de satélites explorassem o espaço tranquilamente.Atualmente, cerca de 17.000 destroços com mais de 10 centímetros giram em torno da Terra. Por volta do dia 20/09/2011,  a Nasa informou que um satélite americano desativado de 6,3 toneladas ingressou  na atmosfera terrestre e se desintegrou, provavelmente sobre o oceano Pacífico, no oeste dos Estados Unidos.A agencia não sabe exatamente aonde caíram os destroços.Tempos atras um satélite russo colidiu com outro americano. Esses fatos reacenderam  o debate sobre os riscos do acúmulo de lixo espacial para quem vive aqui embaixo. Os avanços do conhecimento humano não tem preço mas, enquanto os buracos negros não provem o contrario, a vida humana sobre o planeta é um fenomeno precioso que merece ser preservado.Quando medidas concretas serão efetivamente aplicadas? Para quem vive aqui embaixo é uma incógnita.  
Adriano De Aquino

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Faíscas civilizatórias



Adriano de Aquino
fevereiro de 2012
A importância da internet e das redes sociais na vida contemporânea transcende os recursos técnicos e o seu alcance global. Tanto isso é um fato que o físico Michio Kaku e o biólogo da evolução Mark Pagel divergem radicalmente sobre aspectos do sistema que em certa medida, são invisíveis aos milhões de usuários da rede mundial de computadores. O único ponto que os dois têm em comum é o fato de que estamos vivenciando um importante processo de transição cultural. No resto, é só confrontação. Ótimo que esse confronto de ideias ocorra à luz dos refletores e não no ambiente fechado dos titulares e doutos em alta especialização sobre temas complexos da atualidade.
Concordo.Não ha duvida de que estamos no limiar de uma nova cultura. A ponta visível dessa nova cultura é extremamente atraente e sedutora. Ela oferece ao público sistemas complexos de processamento de dados em meio à transição da metodologia analógica para a digital. Se isso já é, em si, um mega desafio, acrescente-se o fato de que ao mesmo tempo processa-se a substituição de plataformas tecnológicas. Tudo de modo rápido, direto, ultra eficiente e quase imperceptível para o usuário. Os novos desenhos de produtos motivados por essa indústria se sucedem velozmente. Quase todo dia novos equipamentos, cada vez mais velozes e fáceis de operar, surgem nas vitrines. Além disso, numa rápida olhada, a cultura digital é pródiga em facilidades. Nela os meios e os fins cabem na palma da mão e são sensíveis ao toque dos dedos. É claro que além da utilidade e beleza dos objetos, os preços praticados pela indústria eletrônica de ponta é cada dia mais acessível a uma maior gama de  consumidores.Um fator preponderante para o sucesso desse setor é que esse meio de comunicação encurta a distancia não apenas entre amigos e serviços, mas,também, entre o individuo, os fatos e as celebridades, em tempo real, mundo afora.O brilhantismo ou deslize de um personagem político e a gafe de uma celebridade podem ser rapidamente compartilhados por milhares de seguidores. Essa maravilha da comunicação em rede dá ao usuário a sensação de que todos que transitam no ciberespaço são protagonistas dos fatos mais importantes da atualidade o que, inexplicavelmente, lhes confere uma espécie de poder de desviar consciências e alterar a realidade. Centenas de Viral Vídeo Chart em prol da democracia na Síria, posts sobre os resultados do último Grammy, álbuns de fotos de amigos da juventude 'quando o mundo era muito melhor', copy/paste de matérias jornalísticas, textos, trechos bíblicos, filosóficos, manifestos políticos, etcetera, transitam na rede num tal volume de dados que seria possível montar uma biblioteca de Alexandria a cada 24 horas.  As redes sociais despertaram milhares de ativistas políticos que transferiram a velha pratica dos comícios relâmpagos para o ambiente cibernético onde conclamam o povo a aderir as mais variadas formas de ação política e,em casos mais prosaicos, a uma salvadora orientação espiritual em prol do sucesso pessoal,rumo a felicidade, através da devoção cibernética a Deus.Contudo, os aplicativos das redes sociais servem, de fato, às trocas de ideias,talentos,fatos e mexericos na esfera virtual. Os posts e comentários são curtidos em alguns casos, apenas por uma dezena de amigos. Ver mais que isso é cultivar a esperança no surgimento de uma nova utopia. Uma utopia virtual que se disseminaria por entre postagens, conclamando a participação do internauta em causas libertarias que empolgam multidões, ultimam revoluções vitoriosas e propõe libertar presos políticos na China, em Cuba e nos mais remotos cantos do planeta onde grassa a opressão.
Michio Kaku é um entusiasta da internet e das redes sociais. Ele está agora no Brasil participando de alguns eventos no Campus Party. Ontem, numa entrevista ao site de VEJA ele se revelou um adepto da transformação que vem sendo propiciada pela internet. Na ocasião chegou a afirmar que o destino do Facebook é crescer e que seu papel na sociedade é o mesmo exercido pela fogueira ao longo do processo civilizatório: "se, no passado, o ser humano se reunia em torno do fogo para contar e ouvir histórias, hoje, as pessoas usam a plataforma para compartilhar o que sabem e se informar. Ainda trocamos informações sobre quem fez o quê, quem está se destacando, quem está seguindo tendências, quem está se envolvendo em escândalos".
Mark Pagel,ao contrario de Michio Kaku,acredita que estamos sendo amansados por grandes coisas sociais que acontecem na Internet, como o Facebook. Segundo ele estamos sendo domesticados por esses meios e, com isso, dia a dia, exigimos menos de nós mesmos e abandonamos aos poucos a inovação para sobreviver.
Embates dessa natureza não ilustram apenas a adaptação e o desempenho operacional das pessoas frente às novas tecnologias. Eles dizem muito mais que isso, pois, é do confronto de ideias que nos habilitamos a inserir as nossas duvidas no fluxo dos litígios que movem o processo de transformação cultural. A história nos alerta que negar enfaticamente ou aceitar passivamente as novas tendências artísticas, culturais e comportamentais não é sinal de acuidade intelectual ou argúcia pragmática. Ainda que os extremos delineiem territórios inconciliáveis que nos demanda esforço de compreensão, é no bojo do confronto entre os extremos que se move o processo de inovação cultural. As inovações tecnológicas criam ferramentas e protocolos, porém, sozinhas, não consolidam transformações culturais. Olhar com desdém as partes do jogo em curso pode parecer uma atitude de superioridade cultural fundada num passado glorioso, mas, de fato, nada mais é que um modo ingênuo de encarar as contradições mais importantes do nosso tempo.
O protagonismo é uma ação consciente. Ao contrario das reações intempestivas é o protagonismo atuante que nos leva a refletir sobre as forças em jogo e nos permite olhar para dentro das áreas cinzentas de uma proposta, colocando, frente a frente, as ideias e métodos das diversas correntes do pensamento. É essa conjetura que faz da cultura um foco determinante tanto no plano econômico como político.
No meu entender o protagonismo é mais influente quanto mais se manifesta em atitudes e ações respaldadas em ideias originais, advindas da reflexão criteriosa sobre aspectos plurais das questões em jogo. Afinal, a gênese da inovação não é monopólio de um só pensador.   
O embate entre o entusiasta Michio e o pessimista Mark Pagel não é confronto destinado apenas aos especialistas. Ele é tão importante que deveria ser configurado como videogame e baixado gratuitamente.