sexta-feira, outubro 21, 2011

Pêsames ao desvario pós humano




Assistir nos noticiários os vídeos do linchamento de Kadafi, entremeado por discursos dos líderes mundiais que celebraram sua execução, confirmou minhas piores expectativas para o futuro. Do futuro não apenas da Líbia, mas, dos valores elementares da civilização.
As declarações de Obama, Sarkozy e Cameron, líderes de três poderosas nações do Ocidente são ofensivas, covardes e criminosas.
Até os ratos dos esgotos de Sirtia, cidade natal e ultimo refugio de Kadafi, ficaram espantados diante da violência da execução sumaria do ditador.
Entretanto, seres pós - humanos, supostamente sensatos, qual milicianos em festa, procederam de forma deplorável. Só faltou, após os discursos, saírem atirando pro ar celebrando uma manifestação de extrema brutalidade como se fosse um ato de justiça.
A morte de Kadafi não foi um ato de justiça, foi um assassinato.
Muito antes do conflito dos últimos oito meses eu já torcia para resistência rebelde
líbia destituir Kadafi do poder e dar inicio a uma nova etapa política, regida pela democracia e pelo estado de direito que trouxesse alegria e prosperidade para o povo daquele país.
Temia que as forças em jogo tendessem para soluções extremas como a adotada na morte e desaparecimento dos restos mortais de Osama Bin Laden. Infelizmente, foi o que vi acontecer. Se esse método prevalecer, dois episódios próximos nos alertam para isso, retornaremos ao tempo dos justiceiros do velho oeste. Imaginar que a morte de Kadafi evitaria um julgamento que poderia constranger o Ocidente é uma desculpa esfarrapada que confirma  a liberação indecente e inaceitável  da pratica de crimes bem adequados.  
Celebrar um método inumano, adotado, alias, pelo próprio ditador Muamar Kadafi nos seus 42 anos de tirania, é  afirmar sua validade, melhor dizendo, legitimá-lo.
Sarkozy, Cameron e Obama, irmanados na hipocrisia, fizeram a guerra contra Kadafi. Assistimos a invasão da Líbia, porém, nunca se pronunciou uma declaração formal de guerra. Tal procedimento só poderia ocorrer com a autorização dos Parlamentos desses países. Sabemos que tal prerrogativa não seria fácil de obter. O que vimos foi uma manobra vil em que a OTAN, desrespeitando descaradamente a resolução da ONU que autorizava uma “intervenção humanitária”, matou indiscriminadamente e promoveu, em nome da paz e da democracia, crimes contra a vida, as instituições do direito e aos valores mais caros da humanidade.
Para quem deseja a liberdade e a extinção do terror imposto ao povo libio pelo cruel ditador o que assistimos foi um show de terror,  igualmente apavorante.