segunda-feira, novembro 30, 2009

Suiça- Ferrugem nos nervos de aço inox


UDF – Partido dos cristãos fundamentalistas quer proibir a construção de minaretes na Suíça.
O governo federal já se manifestou publicamente contra a iniciativa popular, criticada no exterior, e vai recomendar aos eleitores e ao Parlamento a rejeição da proposta. A iniciativa "contra a construção de minaretes", com 114.895 assinaturas de apoio, foi entregue ao Ministério do Interior, em Berna, nesta terça-feira (08/07), pela União Democrática do Centro (UDC) e pela União Democrática Federal (UDF). Os dois partidos pedem a inclusão na Constituição suíça de um artigo com o seguinte teor: "A construção de minaretes é proibida". Eles argumentam que, com isso, querem impedir um "símbolo de ambição pelo poder e domínio político-religioso".
O ataque histérico dos fundamentalistas cristãos é digno de tratamento. Segundo o site Swissinfo a religião vem gradualmente perdendo importância naquele país. Um recurso disponibilizado no site permite visualizar a oscilação do numero de fieis e suas religiões. Podemos ver que em 1970 os cristãos representavam 97,76% da população. Em 2000, reduziram para 79,27%, ao mesmo tempo em que os suíços sem filiação religiosa passaram de 1,14% para 11,11% da população, quer dizer que o numero de pessoas sem filiação religiosa é bem superior ao numero de islâmicos que em 2000 representavam 4,26% da população.A diminuição do numero de cristãos - católicos ou evangélicos – e a reduzida presença mulçumana é um dado importante e,no meu entender reflete uma perspectiva otimista de uma sociedade que detém alto grau de escolaridade e desenvolvimento humano. A crescente tensão motivada por lutas religiosas inspiram “cruzadas” intolerantes e destrutivas. A expansão dos conflitos religiosos, manipuladas por correntes religiosas fundamentalistas que, aterroriza os povos do Oriente Médio, é um testemunho do tamanho do abismo que seremos obrigados a encarar. Espero que os cristãos fundamentalistas suíços não queiram através de atos coercivos, reproduzi-los na Europa.

Arruda:"SOU INOCENTE"


Arruda: Gosto do modelinho. Não posso usá-lo. Sou inocente!

Há oito anos O INOCENTE José Roberto Arruda, então líder do governo Fernando Henrique Cardoso no Senado, foi obrigado a renunciar por violação do sigilo do painel de votações. Agora, governador do Distrito Federal o mentiroso se tornou o dono da bola. Espelhado em seu exemplo os sacerdotes do DEM enalteciam o poder partidário de conversão do escroque em gestor austero, comprometido com o corte de gasto e ajuste das contas. O convertido atingiu alta popularidade na capital do país, passando a ser a maior expressão política do DEM. O sucesso do INOCENTE chegou a tal ponto que se tornou um dos principais candidatos a uma futura Vice-Presidência em uma chapa de oposição encabeçada pelo PSDB nas eleições de 2010.
Mas, um curto circuito na Caixa de Pandora, mostrou o governador se esbaldando no seu habitat natural,
Se vivêssemos num País regido pelo pleno Estado de Direito e Cidadania, assistiríamos incontáveis desfiles do Arruda presidiário trajando sua “coleção” milionária de uniformes criada pelos mais famosos e caros designers do planeta. Com a fortuna acumulada pelo esquema de corrupção Arruda abriria os desfiles de moda de toda estação. A gravação em que Arruda conversa sobre o destino da montanha de dinheiro recolhido junto a empresários que prestam serviços ao governo, abriria todas as apresentações. Mais um sonho de verão escaldante. Ou melhor:um delirio.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Ahmadinejad e Lula. Um encontro que nunca existiu.


23 de novembro de 2009

O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad esta no Brasil para uma visita oficial. Dentre as mais conhecidas idéias de Ahmadinejad encontra-se a da extinção do estado de Israel. Enquanto não tem condições militares concretas para realizar seu sonho ele vai brincando de historiador. Em seus pronunciamentos afirma que o Holocausto não existiu. Bem, se para ele o Holocausto não existiu é melhor não aborrecê-lo perguntando se as recentes atrocidades cometidas por seu governo contra o povo iraniano existiram. Muito menos se continua em andamento o programa nuclear clandestino em Teerã. Ahmadinejad veio ao Brasil para ter um encontro privado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Levando-se em consideração determinadas diferenças, Lula tem algumas afinidades com o líder iraniano. No tocante a historia, por exemplo, os dois têm visões estranhíssimas. Ainda que o “nunca na “historia desse país” não tenha a mesma carga de demência, Lula também é um sujeito exótico no que diz respeito a historia. Em vários pronunciamentos o presidente brasileiro sugere que o Brasil “quase” não existia antes da chegada de seu governo. Afora esses detalhes curiosos fico imaginando o papo entre os dois.
No papel de “mediador” de conflitos mundiais Lula tem se mostrado um estabanado. De Honduras às negociações com os vizinhos Paraguai, Venezuela e Bolívia o presidente brasileiro pesou contra os interesses brasileiros. Agora, se metendo no complicadíssimo quadro dos conflitos no oriente médio, Lula anuncia que: "com todos eu vou conversar sobre a paz." Se ficasse só nisso eu teria esperança de que a visita de Ahmadinejad seria apenas turismo governamental. Coisa, aliás, que o presidente brasileiro muito aprecia. Mas, infelizmente não parece ser só isso. Em entrevista Lula afirmou que o povo e "alguns" governantes do Oriente Médio querem a paz. "O que precisamos detectar agora é quem não quer a paz, a quem interessa que não haja paz no Oriente Médio? Esse alguém que está ganhando com a não existência da paz precisa ser colocado para escanteio", Diz isso, sem ao menos levar em consideração o fato de que Ahmadinejad defende abertamente o fim de Israel e assumidamente dialoga com organizações terroristas.

domingo, novembro 22, 2009

Nelson Rodrigues O Filho (ARRIMO) do Brasil


"Na hora de odiar, ou de matar, ou de morrer, ou simplesmente de pensar os homens se aglomeram. (...) A opinião unânime está a um milímetro do erro, do equívoco, da iniqüidade. (...) Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar." (Nélson Rodrigues)
Nota: 1. arrimo
Enviado por Dicionário inFormal (SP) em 27-10-2008.
Sustentáculo, sustentação. Muro de arrimo (muro de sustentação)

Cuba Libre:Yoani Sánchez




A blogueira cubana de 34 anos, acusada de ser inimiga do Estado pela imprensa oficial, vem fotografando os “agentes secretos” cubanos que acompanham a sua rotina à distância, vigiam sua casa e muitas vezes a seguem onde quer que vá. Para mostrar que não se submete a pressão publicou em seu blog fotos dos "seguidores" com o seguinte comentário: "Minha relação com o cinema sempre foi nas poltronas, na penumbra de uma sala. Até que comecei a viver meu próprio filme, uma espécie de thriller de perseguidores e perseguidos, onde cabe a mim escapar e me esconder (...) Agora, que recuperei minha condição de bípede, larguei a muleta", conta ela, que foi puxada pelos cabelos e chutada pelos agentes do governo que a sequestraram. "Estou de volta. Para me defender, comecei a fazer testemunhos desses seres das sombras que, como vampiros, alimentam-se de nossa humana alegria, nos inoculam o temor através da pancada, da ameaça.O bloqueio econômico a Cuba não impede que o governo invista em modernos sistemas de invasão eletrônica visando controlar a vida das pessoas .Essa é a característica comum a todos os regimes autoritários. A ordem é cercear Yoani na blogosfera e ameaça-la na vida real. Custe o que custar essa é uma missão do governo cubano. Esse episodio macabro redimensiona minhas preocupações em relação a CONFECOM – Conferência Nacional de Comunicações que ocorrerá dia 14 de dezembro em Brasília. A Executiva Nacional do PT informa que no evento a intervenção petista se dará de duas maneiras: “uma, ao lado das lutas especificas de cada área; outra, mais ampla, na construção de um novo modelo legal para todo o setor das comunicações(...) criando instrumentos de controle público e social e considerando a mudança de cenário provocada pelas tecnologias digitais”.

sexta-feira, novembro 20, 2009

Zumbi e os facistas


Enquanto as autoridades e setores da sociedade italiana festejam a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para que Battisti seja extraditado o ministro da Justiça Tarso Genro, da a entender que há uma tendência no governo brasileiro de manter o ex-extremista Cesare Battisti no País por razões "humanitárias e políticas". Depois de conceder refúgio a Battisti, ato que desencadeou o conflito, o ministro resolveu aumentar a fervura da crise ao disser que identifica influências "fascistas" nas ameaças de setores do governo italiano a vida do “nobre” cidadão Battisti. Tarso justifica a atitude de setores do governo brasileiro em prol de Battisti dizendo-se muito preocupado com os destinos da “democracia” na Itália. No seu costumeiro tom sacertodal o ministro da justiça disse que: "A Itália não é um país nazista nem fascista, mas vem sendo constatado um crescimento preocupante do fascismo em parte da população italiana”. Mais adiante em sua homília Tarso complementou que "O fascismo vem ganhando força inclusive em setores do governo.” Concluindo o sermão da semana o ministro pontificou: "Não faz sentido entregar um perseguido ao carrasco”.
Nessa manhã ensolarada, em memória do herói Zumbi dos Palmares me veio à mente o episodio dos dois negros cubanos, os pugilistas Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, com os quais o ministro foi implacável,os caçando,prendendo e restituindo à ditadura cubana rapidamente.

terça-feira, novembro 17, 2009

Driblando a realidade


O Instituto Nacional de Educação, em Cingapura, escola de formação de professores ganhou no correr dos anos enorme reputação. O rápido avanço da educação no país, que partiu de um patamar semelhante ao africano em 1960, para figurar hoje entre os melhores do mundo em sala de aula, pode ser creditado à condução de uma política adequada de transformação social e ao fabuloso desempenho da Faculdade Nacional de Educação.
Esse fato, facilmente mensurável, colocado em comparação com aos pífios resultados do setor no Brasil só se explica por fantásticas explanações dos ufanistas de plantão. Os argumentos mais freqüentes desses patriotas se baseiam nas diferentes dimensões populacionais e territoriais desses países. Ao priorizar esses itens o avestruz patriótico ataca com a velha esperteza nacional em driblar obstáculos para esconder fracassos. Se por um lado a dimensão territorial e populacional serve para colocar o país de dimensões continentais como um gigante poderoso por outro reconhece que o gigante tem o cérebro atrofiado. Se para entender os desafios é necessário priorizar a dimensão territorial, as questões sobre investimentos públicos e tecnologias educacionais, tão necessárias ao desenvolvimento humano, tornam-se inalcançáveis, pelo menos para as duas ou três próximas gerações de brasileiros. Além disso, ampliar a dimensão do problema educacional por força da dimensão territorial é uma forma de reduzir o mérito de Cingapura. O leitor que tiver saco de ir adiante vai se deparar com argumentos fantásticos. O objetivo dessa manobra é obscurecer os fatos distorcendo a dimensão dos desafios dos países em foco. Nesse contexto, os problemas de Cingapura são “fichinhas” se comparados a dimensão do Brasil e seus postergados desafios. É a velha ginga do malandro agulha!Orgulhoso de sua retórica o defensor da política educacional do governo brasileiro se esquiva dos problemas e começa a tecer argumentos de difícil avaliação. Gaba-se da elevação do orçamento publico ao mesmo tempo em que revela uma relação equilibrada entre investimento e o PIB. A maneira de um mago das finanças os gestores do sistema educacional apresentam gráficos demonstrativos do investimento publico e do fluxo de almas salvas do analfabetismo. Parecem satisfeitos com o que apresentam, pois imaginam que desenhar gráficos resolve problemas e que justifica o salário que recebem. Os mais ousados tocam na tradicional cultura da corrupção, porém, a situam em circunstancias locais, não como um fenômeno nacional endêmico que leva qualquer projeto sério ao fracasso. A verdade é que a corrupção que prolifera em todos os níveis da economia brasileira provoca um fantástico efeito negativo sobre a competitividade do país. Num artigo sobre a corrupção no mundo publicado pela revista Veja, Eliana Giannella Simonetti e Denise Ramiro mostram que: “Em sua visita ao submundo da corrupção, os estudiosos do Banco Mundial, do Banco de Desenvolvimento da Ásia e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts concluíram que, de modo geral, o problema atinge de maneira mais perniciosa países que passam por períodos de transição, de sistemas políticos autoritários para a democracia, de mercados fechados para a abertura comercial, do centralismo econômico para um menor intervencionismo do Estado na economia. Afeta também os que têm o poder econômico concentrado, grande riqueza natural e uma máquina estatal inflada. Ou seja, o Brasil está numa situação difícil. Atende a quase todos os requisitos detectados pelos estudiosos. Cingapura está na outra ponta. Ali os negócios fluem sem sangrias excessivas para o Estado.
O economista Marcos Fernandes, coordenador da escola de economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, autor do livro A Economia Política da Corrupção no Brasil, calculou o impacto do mal da corrupção no crescimento do país. O resultado é impressionante. O Brasil hoje ocupa a 59a posição num ranking internacional de corrupção (nesse ranking, a Finlândia, o país menos corrupto, ocupa o primeiro lugar). O Brasil perde até para Botsuana e Suriname. Ainda segundo Marcos: Se o país conseguisse atingir o patamar dos Estados Unidos, o 15ª mais bem posicionado nessa lista, ganharia a cada ano 2 pontos percentuais de crescimento econômico. É muita coisa. Significa afirmar que, hoje, a economia brasileira poderia crescer num ritmo anual de 6% semelhante ao invejável desempenho da Índia. “Posto de outra forma significa dizer também que, se há dez anos os níveis de corrupção brasileira e americano estivessem equiparados, o PIB nacional no ano passado teria sido maior em 380 bilhões de reais”. Em Cingapura onde os negócios fluem sem sangrias excessivas para o Estado e a corrupção não corre solta o povo obteve ganhos reais. Isso é o que podemos chamar de uma partida justa.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Entropia



Luiz Fernando Marinho Nunes
Rio 01/11/2009
“Quanto ao destino, que alguns consideram o senhor de tudo, o sábio ri-se dele. De fato, mais vale ainda aceitar o mito sobre os deuses do que se sujeitar ao destino dos físicos. Pois o mito nos deixa a esperança de nos conciliarmos com os deuses através das honras que nós lhes rendemos, ao passo que o destino tem um caráter de necessidade inexorável“ – Epicuro
A Termodinâmica pode ser considerada uma filha da revolução industrial, já que seu objeto inicial como ciência foi compreender o conjunto das transformações da energia que naquele momento da história o homem aprendeu a mobilizar em quantidade e densidades jamais imaginadas anteriormente à criação da caldeira a vapor.
Ao longo de sua evolução a termodinâmica, que ampliou seu alcance para além das caldeiras e do Ciclo de Carnot, criou uma série de grandezas que visam explicar ou tornar quantificáveis certos fenômenos e comportamentos. Apropriando-se das definições de Energia, Trabalho e Calor originárias da Física, inventou a Entalpia, a Energia Interna, a Energia Livre de Gibbs, os coeficientes de atividade e também nossa querida Entropia.
A termodinâmica é uma ciência que tem uma particularidade interessante; nela jamais a variável tempo é considerada! Apesar disto, como veremos no final, pode auxiliar nas respostas às questões mais profundas sobre a natureza deste mesmo tempo.
Além disso ela tem um charme especial, só alcançado por não ciências como a poesia ou as primas matemática e filosofia. As variáveis termodinâmicas são produto de uma criação humana. Elas são construídas de forma a permitir que sejam quantificadas a partir de medidas tomadas de parâmetros observáveis na natureza, mas elas não existem no plano concreto, material: são produtos da mente tanto quanto o verso “minha terra tem palmeiras”.
A estrutura da termodinâmica se constitui em torno de duas leis que vão determinar os limites em que certas transformações podem ocorrer. Há uma terceira Lei, de Planck, que leva a outro conjunto de considerações que não pretendo examinar.
A primeira lei nos informa que a energia deve ser conservada em todos os processos usuais, ordinários, que não envolvam as transformações de massa em energia (e=mc2). Uma grandeza termodinâmica importante surge como necessidade de “operar” a primeira Lei, a Entalpia, usualmente expressa pela letra H. A entalpia não suscita apreensões, não nos remete a outros campos do conhecimento, não nos obriga a refletir sobre as cosmologias. É acessível mesmo aos cérebros não treinados, pois explica algo intuitivo, o princípio da conservação da energia. Daí nenhum filósofo tentar se apropriar dela para tentar explicar outra coisa, imitando as parábolas de Cristo. É verdade que Cristo foi certamente o Senhor das Parábolas, mesmo para aqueles que não acham que tenha qualquer parentesco divino. Já a maior parte dos filósofos, ao se apropriar de conceitos da termodinâmica, o fazem canhestramente, sem que a história contada e o objeto da explicação tenham uma simetria forte[1].
A Primeira Lei, entretanto, não impõe nenhuma restrição sobre o sentido das transformações.
Uma segunda lei vai tentar resolver este problema, e para isso foi criada outra variável, a Entropia (S).
A expressão matemática da segunda lei é:
∆Stotal ≥ 0
[1] Numa curiosa manifestação da Lei das Séries, justo hoje, 1/11/2009, ao escrever este parágrafo me deparei com um caso de lamentávelaplicação do conceito de entropia à sociologia, no texto do Ferreira Gullar publicado no O Globo e que colocarei em anexo como exemplo.
É surpreendente que uma expressão matemática tão simples esconda em si um conjunto de implicações com tão grande complexidade!
Antes de explorar estas nuances, vamos registrar o texto que define a Segunda Lei da termodinâmica e que ganhou a expressão matemática já mostrada: “todos os processos acontecem na direção em que a mudança de entropia total é positiva, aproximando-se de zero no limite quando o processo se torna reversível.”
Para completar o raciocínio é necessário definir ∆S, ou seja, a Variação da Entropia.
Tchan, tchan, tchan, tchan..., a partir deste momento todos saberão o que é Entropia!
Pois o ∆S é igual quantidade de calor trocada num processo reversível, dividido pela temperatura em que o processo acontece.
Ou seja, ∆S = ∫dQ rev/T. O dQ que apareceu aí é uma pequeníssima quantidade de calor trocada a cada passo. Já a Integral (∫) só indica que devemos ir somando o resultado da divisão destas pequenas quantidades pela temperatura, ao longo a transformação. Pronto. É só isso.
Um aspecto importante para o entendimento da Entropia, assim como da mais simplória Entalpia é que ambas são definidas como Funções de Estado. Explicando parabolicamente – meu Jesus Menino, que ousadia! - Função de Estado é como a beleza das mulheres. Não interessa como foi produzida, seja natural e selvagem, esculpida por um bisturi, criada pelo uso de cosméticos, modelada nas academias ou construída com ajuda de banhos de leite de cabra como fazia Cleópatra. A beleza está ali para nosso deleite e, se o observador tiver sorte, desfrute. As Funções de Estado são assim. Só dependem da situação específica do sistema num dado momento, como sua pressão, o volume e a temperatura. Não interessa o que aconteceu antes, como o sistema chegou àquela condição. São variáveis ahistóricas, não há como a partir delas buscar pegadas e deslindar o passado.
Mesmo sabendo que espremendo bem o que já foi dito obtenha-se quase nada, numa operação que o leitor não fará por condescendência ao autor, a Entropia já deve estar se tornando mais íntima. É como uma visita antes misteriosa que agora anda pela casa de peignoir e pode ser espreitada em portas entreabertas e pelos buracos de fechadura; o sucesso seria se alguns já estivessem pensando em chamá-la de Entrô.
Como afirmei no primeiro parágrafo, a termodinâmica foi criada para explicar fenômenos de um mundo que se industrializava. Daí a quantidade de coisas que podem ser facilmente entendidas no nosso cotidiano por aqueles tiveram um treinamento básico no assunto.
Com um pouquinho de termodinâmica entende-se porque um carro a gasolina ou a diesel é tão ineficiente, porque os carros elétricos podem almejar outro nível de aproveitamento da energia, o que seria elegantíssimo se na maior parte das vezes a energia elétrica não tivesse sido gerada em usinas térmicas através de processos quase tão ineficientes como o do próprio motor do automóvel. Também se pode entender porque a gela quando se abre a tampa provocando uma expansão adiabática, ou como funciona o ar condicionado. Andar num mundo decifrável nas suas pequenas coisas é um presentinho que a termodinâmica concede aos que passaram pela dificuldade de estudá-la.
Desde o início a termodinâmica, e a entropia em particular, cutucou aspectos do imaginário humano que de certa forma estão na base do que se constituiu como a fronteira da filosofia e da ciência, tão misturadas no início e que, a meu ver, começam a convergir novamente. Falo, por exemplo, das tentativas de se produzir o “moto–contínuo”, que foram transferidas dos laboratórios para as clínicas psiquiátricas depois que a termodinâmica desconstruiu qualquer expectativa de sucesso.
Abrindo um parêntese, já que falei de distúrbios psíquicos que se manifestam em buscas insensatas, identifico uma similitude entre os primeiros termodinâmicos e Freud, que ao procurar criar uma ciência da mente, construiu entidades como o Inconsciente, o Ego, o Superego e o Id. A diferença entre Freud e Carnot é que a Entalpia pode ser quantificada e serve para projetar uma caldeira, mas a tentativa de operar a mente a partir dos conceitos da psicanálise, com seu Inconsciente que anos de sofazinho não tangenciam decifrar, ainda não levou a nada.
Voltando à termodinâmica e à Entrô, ela permite especular sobre coisas menos terrenas. Por exemplo, os que acreditam no Inferno e estudaram termodinâmica sabem que ele é isotérmico. A alta temperatura do inferno tem que ser igual em todos os pontos desse espaço de ex-pecadores, pois se assim não fosse o espectro um engenheiro – não são só advogados e presidentes do BC que populam o inferno - acabaria aproveitando o diferencial de temperatura para construir uma máquina térmica que funcionaria como ar-condicionado. Parafraseando Galileu – dêem-me uma alavanca e um ponto de apoio que moverei o mundo - o termodinâmico promete: dêem-me um diferencial de temperatura que eu construo uma máquina térmica.
A entropia, que até o momento foi abordada nos termos de sua relação com o calor também pode ser analisada sob a ótica da probabilidade. A entropia pode ser relacionada com o grau de aleatoriedade de uma distribuição molecular. Imaginem a água em estado sólido. Suas moléculas têm um grau de organização maior que a mesma água ao se transformar em vapor. A Entropia do vapor é maior que a do gelo.
Por extensão, a entropia explica que uma pedra que estava instavelmente equilibrada numa ravina e rola para o vale, atingindo um estado de menor energia e de maior probabilidade, não volta a subir. Tanto sabemos disto, e assim usamos intuitivamente a termodinâmica, que só perdemos tempo admirando com curiosidade algumas pedras quase que impossivelmente encarapitadas sobre outras e jamais as que estão no chão. Também a observação tão comum na política de que se o jabuti está na árvore é que alguém o colocou lá é termodinâmica pra caramba.
Outras reflexões mais complexas são induzidas pela análise termodinâmica. Por exemplo, a evolução do universo, que sendo um sistema fechado (no limite o único) estaria condicionada pela diminuição da quantidade de energia disponível para realização de trabalho?
Daí derivam os cenários imaginados pelos físicos, como a possibilidade de um universo oscilante, que pode colapsar e se recriar a partir de novos “big-bangs”, mexendo profundamente com o que Shakespeare chamou da vã filosofia dos que preferem não ver que há mais coisas entre o céu e a terra do que se pode explicar.
Num exemplo de mau uso da Entropia há a justificativa tosca dos toscos criacionistas que pretendem que o processo evolutivo dos seres vivos seria impossível já que o Universo caminharia obrigatoriamente da ordem à desordem, do mais complexo ao mais simples. Esquecem que a Terra não é um sistema fechado e que basta a luz do sol, um fluxo de energia externo, para permitir que se produzam organismos mais organizados, com uma diminuição local da entropia.
A partir deste ponto as coisas vão se complicando, tanto em sua formulação como em suas consequencias.
Há os estudos sobre os sistemas auto-organizadores, típicos da biologia, e tão superiores à nossa tecnologia habitual, herdeira direta de uma lógica cartesiana, operando em regiões longe do equilíbrio, muito organizadas mas também flexíveis, que nos remeteriam a outro conjunto de questionamentos para os quais a irreversibilidade – fortemente associada ao conceito de entropia - está na raiz.
Vou escolher de forma arbitrária um problema específico para encerrar este texto, que inicialmente foi “vendido” com uma promessa de entendimento e clareza, mas que agora se anuncia como gerador de mais perplexidade. Deixo de lado outros temas de interesse como a discussão do significado da informação sobre a entropia dos sistemas.
Trata-se da questão da flecha do tempo. Uma das curiosidades da física, tanto a Newtoniana como a Quântica, é que nelas o tempo é reversível. Nada na física obriga o tempo caminhar do passado para o futuro! Daí os construtores das máquinas do tempo não serem usualmente internados nos hospitais psiquiátricos, como os que perseguem o moto-contínuo – os alquimistas que buscavam a pedra filosofal estão definitivamente incorporados ao mainstream depois do domínio das reações nucleares– mas ao contrário, passaram a ser sistematicamente convidados a participar de eventos científicos.
Para nos ajudar a escapar do mundo de Einstein, dominado pelo tempo reversível e pelo determinismo, que se apoiou em Espinosa, transformando o homem num autômato[2] em nome da unidade da natureza, sobraram as indagações dos filósofos, com destaque para Bergson e muito bem expressa por Popper ao escrever: “considero o determinismo laplaciano – confirmado como parece estar, pelo determinismo das teorias físicas e pelo brilhante sucesso delas – o obstáculo mais sólido e mais sério no caminho de uma explicação e de uma apologia da liberdade, da criatividade e da responsabilidade humanas”.
Pois no centro de um novo mundo onde a flecha do tempo não admite simetria se insere com certeza o conceito de Entropia que nos auxiliará a percorrer o caminho estreito mas promissor entre a prisão do mundo determinístico e o mundo arbitrário e ininteligível do acaso.
[1] A afirmação é de Ilya Prigonine, prêmio Nobel de Química
Anexo
Exemplo de mau uso da Entropia a serviço de outros interesses
Trecho comentado do Artigo “Em Direção à desordem”
(Ferreira Gullar – O Globo 1/11/09)
A sociedade carioca entrou em entropia desde que o tráfico instalou-se nas favelas.
Conforme a segunda lei da termodinâmica, os sistemas físicos tendem à desordem (errado, como já vimos – a menos que seja um sistema fechado). A perturbação da ordem em um sistema chama-se entropia (pode dar o nome que quiser mas a perturbação não é entropia, que no máximo seria uma medida probabilística da ordem/desordem). Como, por exemplo, os ruídos numa transmissão radiofônica (meu deus, que exemplo!). Isto vale para outros sistemas como a sociedade humana (isto o que, o ruído ou a tendência a desordem?), cuja ordem é mantida pelas leis que regem o comportamento de seus integrantes(o problema é que as leis não regem de fato os comportamentos, não é?). A sociedade carioca entrou em entropia (entrar em entropia – na qual não se entra, pois como vimos, sendo uma função de estado, a cada instante tem-se uma - deve ser para ele algo como entrar em coma) desde que nos anos 70, o tráfico começou a instalar-se nas favelas. Essa tendência a desordem pode ser revertida se o governo e a sociedade (que obviamente inclui os traficantes, que não se disporão a reverter nada), se dispuserem a isso. (não se separa com vírgula o sujeito do predicado, como acabou de me lembrar o Windows Office)
[1] Numa curiosa manifestação da Lei das Séries, justo hoje, 1/11/2009, ao escrever este parágrafo me deparei com um caso de lamentável aplicação do conceito de entropia à sociologia, no texto do Ferreira Gullar publicado no O Globo e que colocarei em anexo como exemplo.
[2] A afirmação é de Ilya Prigonine, prêmio Nobel de Química