domingo, outubro 29, 2006

Coletivos Estéticos: Utopia ou Ideologia?

O século XXI vê renascer as ações coletivas em diversos setores. No seu ensaio sobre o coletivismo virtual colado nesse HiperBlog, Jaron Lanier www.well.com/~jaron nos fala das idéias, dos métodos e estratégias desse tipo de procedimento no universo cibernético. Seu instigante texto me dispensa da obrigação de fazer maiores considerações sobre as experiências dos muitos coletivos que transitam na internet. Os problemas cotidianos e o grande volume de informações que nos chegam todos os dias tornam exaustivas nossas intenções de manter critérios de avaliação sobre os conceitos que surgem, ou são replicados, em enorme velocidade. Esse ensaio é uma tentativa de abordagem das questões que envolvem os diferentes aspectos das manifestações coletivas nas artes e na cultura contemporâneas. Seus êxitos, fracassos e, claro, suas fragilidades frente às manipulações advindas dos diferentes setores sócio-culturais. Desconheço experiências, anteriores aos últimos vinte anos, de coletivismo estético muito ativo em nosso país, sobretudo no campo das artes plásticas. Exemplos desse tipo de procedimento estético ocorreram de forma mais consistente no teatro e na musica - o Teatro do Oprimido, Opinião, Viajou Sem Passaporte, 3Nós3, Tupi Não Dá, Asdrúbal e etc...somente para citar alguns grupos locais em atividade nos anos 60/70 e 80. Naquela ocasião os coletivos defendiam a autonomia, confrontavam o autoritarismo, desprezavam o circuito oficial de arte e cultura eram agitadores políticos e críticos da industria cultural de massas, incentivavam as pessoas a derrubarem as fronteiras que separam a arte da vida, a arte e comunidade, os instigando a se juntarem a suas manifestações de amor, consciência ou revolta na busca de consenso contra as contínuas violações do estado aos direitos do cidadão. É bom lembrar que esses grupos prezavam, acima de tudo, realizações em locais não institucionalizados. Naquela ocasião os coletivos apareciam e desapareciam, replicavam, iam e voltavam e novamente se dissolviam em controvérsias estéticas, interesses difusos de parte do grupo e outras formas de dissabores inerentes às experiências coletivas e em prol de uma suposta vontade da maioria. Hoje, mesmo não existindo uma ligação direta e aparente com seus predecessores, os movimentos coletivistas preservam alguns aspectos centrais da idéia. Porém, a expansão das práticas artísticas redesenhou o território estético e as reinvestidas dos coletivos acionaram relações diferenciadas entre a arte e o espectador. Aqui tentarei tratar, especificamente, dos modos de operação, estratégias e outros procedimentos coletivos evitando paralelos com as múltiplas modalidades da arte contemporânea circunscrita ao chamado circuito de arte. É possível que eu exagere ao afirmar que no passado recente, nas artes plásticas, os coletivos de artistas não foram marcantes. Contudo, reconheço, que de uns dez anos para cá, essas experiências começaram a se consolidar de forma mais visível no país. Mesmo não sendo imprescindível é útil recorrermos a episódios que no começo do século XX atacaram frontalmente as definições, até então correntes, sobre arte. Isso irritava aqueles que queriam que as coisas permanecessem como estavam. Porém, fortaleceu os que desejavam mudanças. É incontestável que um conjunto de propostas estéticas agregadas a outros complexos fatores mudaram o panorama artístico, radicalmente. No Brasil tais procedimentos abalaram os alicerces do provincianismo. Uma das conseqüências dessas mudanças passa pelo entendimento comum sobre o que é arte e o que não é arte. Em posts anteriores eu comentei alguns discursos de artistas da atualidade que esgotam explicações para afirmarem que o que fazem é arte. Essas questões são polemicas e por isso mesmo permanecem em discussão. Quem quiser encerra-las prematuramente, através dos artificialismos em voga, vai dar com os burros n’água. Um paralelo com o que hoje ocorre no universo virtual é inevitável. Segundo Jaron, a incorreção dos tópicos inseridos no coletivo Wikipedia, por exemplo, no ritmo que seguem, podem legar às gerações futuras uma visão equivocada sobre a atualidade, ou melhor uma Bíblia, complacente e conformista, copilada por apóstolos anônimos. Os coletivos on line se enrolaram em graves contradições.
O principal objetivo das ações grupais organizadas, efêmeras ou duradouras - que ocorrem nas comunidades pobres, em favelas, na mídia independente ou tática, na internet, nas florestas, em acampamentos de sem terras ou nas ruas das grandes capitais - é intervir na realidade local e transforma-la. Quanto mais essas ações se ajustam à filosofia do grupo mais produtivas são pra dentro, para a própria comunidade foco e para fora, para a sociedade como um todo. Baseados em recentes idéias e conceitos sobre representação e realidade, sociabilidade e perspectivas de intercâmbios entre artista/espectador, oriundos de pensadores contemporâneos, grupos de varias modalidades artísticas atuam em diversos ambientes sociais. Alem dos filósofos, pensadores e estrategistas, seu ideário também encontra importantes subsídios na física quântica. Por exemplo: os grupos que não simpatizam muito com o poder da ciência, combatem a manipulação genética sem controle da sociedade, confrontam as induções ao consumo humano regular de alimentos transgenicos, se opõem à expansão do uso de energia nuclear e etc,... se esforçam para alertar o maior numero possível de pessoas para as nefastas conseqüências da poluição ambiental. Os recentes conhecimentos da física quântica e de outros segmentos acadêmicos os municia nas ações que visam exigir dos governos e das empresas uma postura ética responsável em ralação às gerações futuras. Ao ampliarem nosso entendimento sobre dimensão, moléculas, partículas, tempo, espaço, percepção, realidade, etc. esse braço da ciência nos tornou ainda mais responsáveis sobre o futuro da vida na Terra. Além disso alguns físicos quânticos distinguem como relevante o sentimento dos indivíduos sobre o mundo e crêem possível que os fluxos mentais e a consciência podem transformar, de fato, o que chamamos de realidade. Ora, transformar a realidade é um dos objetivos das ações coletivas.
Na internet, nos documentários, livros ou em revistas podemos nos informar sobre as inúmeras pesquisas que nos colocam frente a perspectiva de reversão do velho paradigma de que a realidade é imutável. Suas teorias aportam questões que há poucos anos atrás só seriam feitas por filósofos, artistas, escritores ou poetas: Por que nos restringimos às velhas formas de relacionamento? Por que insistimos na arcaica reedição de nossas habilidades perceptivas do real? Por que continuamos aprisionados aos arcaicos movimentos possíveis da consciência e aos processos uniformes de realidade?
As ambíguas relações com a liturgia, no âmbito da civilização ocidental, preservadas nos templos, nas almas religiosas, nas práticas e rituais, agregam milhões de seres humanos que compartilham a fé e o entendimento dela proveniente de que os poderes metafísicos explicam as mazelas da vida e reduzem o sofrimento. Parecem alheios as maiores conquistas da razão e da ciência na luta contra as doenças e a dor . Por outro lado, a racionalidade, que tudo coloca em suspeição, nos ensina a olhar com desdém os fundamentos ritualísticos, suas metáforas espaciais e suas práticas corporais. Somos educados a purgar nossas dúvidas através da lógica da negação. É nesse espaço dicótomo que compartilhamos nossas existências num mesmo fluxo temporal.

Contudo, ao abrir uma janela para um novo conhecimento as recentes teorias da física quântica problematizaram, ainda mais, nossa existência, colocando em nossas mentes a possibilidade de mudanças concretas de nossas vidas no plano do real. Seus novos achados somados as tensões cotidianas de uma sociedade altamente competitiva, que mal consegue planejar o dia de amanhã, levam os indivíduos a buscarem novos significados capazes de os manterem equilibrados diante dos desabamentos sucessivos das antigas verdades absolutas. É claro que isso não explica tudo, porém, é fato, que hoje resistimos menos aos conhecimentos e experimentos desbravadores. Por essas e outras razões, explica-se que alguns artistas e coletivos estéticos atuam nos interstícios entre a mentalidade vigente e as dúvidas existenciais que nos afligem , mesmo frente ao custo de produzirem mais insegurança.
É possível que o entusiasmo pelos aspectos superficiais de uma nova, ou se preferirem, diferente utopia, seja apenas um movimento tático sem graves conseqüências. Ações rápidas geram expectativas e chamam atenção sobre si. Entretanto, se essas atitudes se instalam longo período no coletivo, em detrimento a uma maior dedicação à estratégia e a autocrítica, as conseqüências são fáceis de prever. Em pouco tempo veremos apenas os rastros de seus desaparecimentos. Contudo, caso tenham se estruturado, tanto tática quanto estrategicamente, e tenham algo novo a nos propor, vale a pena acompanhar seus movimentos.
Vejamos: regra geral os coletivos mais instigantes são aqueles que operam à margem das curadorias e do olhar controlador do estado, das grandes estruturas institucionais ou de grupos que ambicionam apenas gloria, grana e poder. Suas ações, que para muitos parecem à primeira vista banais e que outros emocionam profundamente, como os rituais coletivos de comunidades pobres, substituição de placas de ruas por um outro nome, layout de condomínios celestiais ou satíricas performances que mimetizam personagens ou situações facilmente identificáveis de poder dominante, parecem afirmar um desapego e uma entrega incondicional à vida e ao que aferem como realidade. Essas atitudes são comuns a muitas manifestações de coletivos espalhados pelo planeta. Contudo, no Brasil tais ações ainda se mostram hesitantes. Muitos grupos usam das características peculiares da criação coletiva dentro do ambiente institucional e nas galerias comerciais de arte, onde as ambigüidades tornadas produtos culturais, se afirmam como identidades artísticas, até certo ponto convencionais. Essa imprecisão é fruto da duvida que os angustia quando desejam se descolar do sistema de arte. Por essa razão recorremos à mesma pergunta de sempre: por que esses ativistas insistem em preservar o território identificado como arte? O que os submete? O que os fascina?

Toda renuncia é difícil, mesmo para aqueles que crêem que a renuncia à arte os entregará, radicalmente, à vida ou ao que chamam realidade. Mesmo permanecendo intimamente ligados a estética essa angustia os imobiliza. Talvez esses fatores não sejam suficientemente convincentes e seguros para desliga-los do mundo da arte, onde preferem continuar sendo identificados, e, portanto, inseridos na categoria de artistas contemporâneos. Agindo assim os ativistas coletivos, pensadores, criadores de estratégias de ação que buscam novas relações e novas percepções nos revelam temer mais do que ousar. É certo que vivemos num mundo pressionado pela alta especialização, onde a exclusão é uma dura condenação. Porém, ao hesitarem entre arte não arte, colocam em segundo plano a carga conceitual que os motiva. Essa indefinição os imobiliza e enfraquece, expondo-os as manipulações dos gestores culturais ligados as velhas praticas dos coletores de novidades artísticas, dos negociantes de arte e dos programas de marketing das grandes instituições culturais.Muitos acreditam, por exemplo, que a mudança do nome de uma avenida da capital paulistana, mesmo não sendo entendida como arte pela cultura vigente, pode se converter em ato útil inspirando mais ativistas a criarem mais ações táticas que levem ao desmantelamento da estrutura cultural e mental dominante. Nesse contexto os paralelos com segmentos da industria da imagem são inevitáveis, sobretudo com a publicidade. Muitos ativistas sonham em diluirem-se em espaços públicos. Talvez creiam que assim procedendo reinventam significados e símbolos capazes de transmutarem suas subjetividades artísticas e o real. Calcular efeitos, planejar ações estéticas, da mesma forma com que se planejam as campanhas publicitárias, criar situações incomuns em vias publicas, elaborar detalhadamente atos que desviem do óbvio, são coisas que encantam os ativistas, contudo, caso todos os itens do conjunto não se encaixem perfeitamente aos fins objetivados pelo grupo os equívocos se multiplicam. Quando isso acontece os traços sensíveis de suas utopias se dissolvem no ar ou na mídia. Isso ocorre com freqüência porque as ações estéticas tendem a enveredar pelo o artístico que pulsa na alma dos participantes, deixando em segundo plano os fins e a própria proposta coletiva original.Os coletivos que tentam se afirmar nos campos estético/político as exigências são ainda mais severas. Os movimentos artísticos da atualidade lhes trouxeram novos desafios à medida que conteúdo e tema não mais importam para a arte. O esmero e a técnica deixaram de ser fatores relevantes de uma obra bem como seus códigos que já nascem exauridos. Portanto, repassa-los ou torná-los ponto agregador de formas de ação coletiva político/estética em comunidades desprovidas de meios materiais podem, quando muito, encobrir práticas demagógicas resultantes de velhas e recondicionadas ideologias. Tais procedimentos além de agravarem os conflitos locais reduzem a perspectiva cultural às retrogradas manipulações paternalistas.

A sociedade ocidental contemporânea cultua a aparência. Nenhum profeta da atualidade está equipado para anunciar como e quando esse culto findará e quais seqüelas sócio – culturais deixará. Muitos crêem que o abandono do significado e a ânsia pelas ultimas novidades são conseqüências desses tempos incertos e que a arte atual é mais um dos seus reflexos. A arte contemporânea que transita no ambiente cosmopolita internacional pode até carregar mensagem política, afetiva, metafísica ou qualquer outra suposta mensagem, contudo, não são esses fatores que a inserem na grade de produtos culturais disponíveis. Nesses círculos sofisticados a intensa rotatividade de códigos e signos asfixia os conteúdos. Excluindo-se o econômico, nenhum valor ou conceito sobrevive muito tempo em sua atmosfera.

Os coletivos brasileiros que atuam nas comunidades, em torno dos movimentos sociais, organizados ou não, em favelas, em territórios desamparados pelo poder público, em espaços públicos insólitos e frente aos mais variados conflitos ambicionam estabelecer interações profundas com a localidade, dar voz aos indivíduos, valorizar o simbólico e, se possível, denunciar o abandono do poder público, o desprezo da cultura vigente e as mazelas locais. Maior parte das vezes esse esforço resulta em enorme frustração para os membros dos coletivos e para a própria comunidade que se envolve no projeto. Uma parcela considerável dos produtos resultantes dessas ações (filmes, balés, show musicais e etc...) quando apresentados ao publico de fora (platéias, espectadores, consumidores) são entendidos como ações paternalistas que apagam, ou sobrepõe, os valores culturais da própria comunidade. Quando muito, consagram os participantes na mídia, nas instituições culturais e no mercado. Sem desmerecer a idéia e o esforço desses grupos, o que nos parece é o que pouco aprofundamento conceitual no planejamento estratégico e o foco difuso das ações não são itens que consideram importantes. Em casos mais graves alguns coletivos não conseguem revela-las nem para dentro (habitantes da própria comunidade não se reconhecem) nem para fora, para extratos mais elevados da sociedade. Aqui me refiro, exclusivamente, a coletivos comprometidos com princípios e propósitos. Desconsiderei as manobras oportunistas.

Para os coletivos estéticos oriundos das comunidades pobres os problemas se agravam ainda mais. Excluindo-se as mobilizações em torno da produção do carnaval, festivais regionais e rituais religiosos as comunidades menos favorecidas materialmente enfrentam enorme dificuldade para estabelecer pontos comuns de ação coletiva e ainda obterem recursos para realizarem seus projetos. Os militantes do próprio local, além de se desdobrarem em esforços, dão de cara com enormes dificuldades de captação na iniciativa privada ou nos órgãos públicos. A competição desigual, os interesses locais das legendas partidárias, os vários conflitos internos, os labirintos da burocracia, o inalcançável acesso aos patrocinadores, enfim, obstáculos descomunais restringem os projetos aos segmentos habituais mais palatáveis a cultura dominante: os enquadrando nos eventos musicais.O filme Prisioneiro da Grade de Ferro– Auto-Retratos, do diretor Paulo Sacramento http://www.prisioneiro.com.br/ é uma obra de autor, cuidadosamente editado, que obteve êxito ao transmitir para platéias variadas as vozes da comunidade carcerária de um presídio de São Paulo (Carandiru). Essa película, sob alguns aspectos, remete a procedimentos similares as praticas coletivas, mesmo tendo sido realizada por profissionais de cinema. É muito difícil em condições tão precárias se evitar a simplificação comum às experiências coletivas em situação de confronto e risco. Contudo, uma estratégia bem arquitetada e criatividade podem ajudar bastante na difusão de uma produção estética onde a coletividade reclusa interage com a produção de maneira convincente. Os coletivos norte americanos Action Community Art http://www.actionfactory.org/ ou Critical Art Ensemble http://www.critical-art.net/ são experiências que transcenderam os limites regionais trabalhando com situações de confronto, vale a pena conhecer um pouco das suas propostas e ações.
A fragmentação das formas de produção, característica da globalização, caiu com um raio sobre as sociedades menos desenvolvidas. No caso brasileiro onde a tradição sofre profundo abandono o impacto foi grande. A mundialização não é uma coisa nova, é certo, contudo, ela ainda nos aporta problemas graves que se refletem em todos os lugares e as conseqüências atingem todos os setores, indistintamente. Alguns acadêmicos dizem que: Experiências bem sucedidas num lugar podem funcionar de forma semelhante em outro. Essa frase, oriunda do olhar tecnicista, foi tropicalizada pelos altos escalões dos governos latinos americanos. Os núcleos de poder da região foram obrigados a se adequarem à lógica do mercado global para reduzir os riscos de perderem os canais de acesso aos recursos da economia mundial. As experiências bem sucedidas das nações desenvolvidas tornaram-se tabula rasa para os gestores públicos locais, porém, como triunfos não descem escada, os benefícios não chegam a população. A adoção dessas argumentações justifica os ajustes econômicos e empurram com a barriga o crescimento do país.
As montadoras de veículos, os supermercados, os fast foods, a industria de vestimentas, laboratórios farmacêuticos, eletro doméstico e etc..., instalam-se e produzem - em graus de relativa diferenciação com os padrões adotados pelos países de forte economia e alta especialização - em qualquer lugar do planeta que possua farta e barata mão de obra, baixa escolaridade e uma parcela da população com grana para consumir . Para Os serviços que exigem melhor formação, como os operadores dos centros de telemarketing, por exemplo, que empregam pessoas com formação universitária e poliglotas, as exigências são mais severas. Quem identifica nessas diferenças um presságio, o futuro não muito distante, é ainda mais sombrio.
Para a arte e as iniciativas culturais, tirante os setores da industria da imagem, do som, entretenimento e comunicação eletrônica, o momento presente é muito preocupante. Esses segmentos são sensíveis à política local, seus vícios e suas vicissitudes. As trocas que se multiplicam a cada instante pelo mundo afora aqui encontram resistência e acabam sucumbindo aos mecanismos do poder e a mentalidade dominante, protegidas pelo que a nossa tradição tem de pior: Paternalismo.
É fato que a internet possibilita o acesso a informações e troca de experiências e idéias que se imagina adaptáveis às realidades locais. Porém, o que aqui constatamos, na maior parte dos casos, são idéias inovadoras se adaptarem aos interesses de pequenos grupos fechados de poder. Muitos se equivocam ao pensarem que isso se deve a uma fobia brasileira pela internet. Acreditam que ocorre pelo fato de não termos adentrado os domínios das tecnologias de ponta, sermos vitimas de uma cruel distribuição de renda, uma enorme população de analfabetos, bolsões de miséria e que, enfim, mal conseguirmos reinventar nosso destino. Ao contrario, a informatização das agencias do governo, do sistema bancário e o enorme contingente de telefones celulares e etc... revelam uma formidável adaptação da população aos novos meios eletrônicos de informação e comunicação. Nesse segmento triunfam os jogos eletrônicos e outras amenidades que colocam a disposição dos usuários uma vasta gama de produtos interativos. Os coletivos estéticos ainda não dispõe de estratégias capazes de atrair a massa de usuários da tecnologia de comunicação digital para suas ações. Essa é uma lacuna que necessita maior atenção dos grupos que interagem na rede. Agora, se as ações na internet podem ser efetivamente perigosas, com conseqüências devastadoras para a sociedade, previstas por muitos tecnicistas, será resultante, sobretudo, do que já vem ocorrendo nos paises de ponta. À parte as declarações paranóicas , diversos sábios alertam para perigos que rondam as novas tecnologias o universo virtual, seus produtos, métodos, objetivos e estratégiade ação.

Para finalizar algumas palavras sobre as intrincadas e ambíguas relações dos coletivos estéticos com a mídia. Alguns coletivos insinuam menosprezar a manipulação da mídia quando dizem, de forma um tanto infantil, o quanto espertos são para manipulá-la. Essa pretensão nasce de um sentimento comum a grande parte da opinião publica de que a mídia, sempre ávida por notícias e novidades, é alvo fácil quando caça fatos e pessoas, coisa que faz cotidianamente. Contudo, na prática, sabemos que as coisas não são tão simples quanto parecem. É comum as pessoas se orgulharem do mundo que constroem para si, por isso, não me surpreende que os coletivos se olhem com admiração. Penso isso diante da idéia que se instalou como um paradigma entre os coletivos mais atuantes. Eles se consideram uma espécie de enviados dos novos tempos, capazes de fazer bom uso da mídia, formular ações e quebrar padrões através das táticas de comunicação. Muitos ativistas depositam fé cega na crença de que a desinformação é uma característica do nosso tempo e que os artistas coletivos devem fazer uso disso. No meu entender, é justo o contrario, vivemos na era do excesso de informações. Até concordo que as duas situações surtam efeitos sociais similares. Porém, o que constatamos é que os espertos ainda estão do outro lado, ou seja, na grande mídia. Isso explica porque os mais destacados coletivos estéticos ajustam suas ações para caberem nos espaços dos veículos de comunicação. O que me deixa curioso é: em se tratando de comunicação, numa era em que os critérios se volatilizaram, como definir o que é bom ou ruim?

Adriano de Aquino
Outubro de 2006






segunda-feira, outubro 16, 2006

Critica:O Novo Coletivismo On-line

Esse post reproduz parte do ensaio intitulado MAOISMO DIGITAL: Os perigos do novo Coletivismo on-line de autoria de Jaron Lanier www.well.com/~jaron sobre o qual anexei alguns comentários.
Num trecho do ensaio Jaron diz: "...testemunhamos a ascensão alarmante do mito do coletivo infalível. Várias organizações da elite se colocaram aos pés dessa ideia, inspirados pela ascensão do Wikipedia, pela riqueza de Google e pelas arremetidas milionárias dos empreendedores dos negócios virtuais. Foram as agências de governo, os departamentos superiores de planejamento incorporado e as universidades que deram inicio a esse erro."

Sabemos que muitos achados coletivos podem ser tão bobos ou ameaçadores  quanto algumas invenções individuais. 
Além do mais, é um problema adicional dispensável tentar definir qual dos dois procedimentos é o mais sábio.

Hoje em dia somos compelidos a deslizar sobre uma grande onda coletivista.
Na internet esse fenômeno vem direcionando as buscas para o Wikipédia e outros sítios coletivos semelhantes.

Outrora buscávamos subsídios de forma diversificada.
Hoje, a expansão dos nichos que agregam informações anônimas, resultante de uma cultura que visa resultados imediatos, dispensa o aprofundamento em temas, despreza compromissos com as ideias e com o trabalho dedicado e se destaca como uma força do saber coletivo. 

A critica de Jaron expõe com clareza algumas variantes do método. O que nos revela é inquietante.
Para aqueles que como eu consideram os anti-spans e outros procedimentos que autorizam terceiros o bloqueio de mensagens como um fator limitador do vasto horizonte navegável da Internet é possível duvidar da correção dos tópicos editados no Wikipédia. Diante desse quadro não é um disparate fazer uma analogia com temor medieval pela vastidão dos oceanos mal assombrados que entranhava a mentalidade dominante da época.
Essa analogia é uma espécie de alerta contra o mito de um infalível saber coletivo. 
Já falei muito sobre uma nova cartografia que redefine as fronteiras de convívio para as elites cosmopolitas internacionais, que buscam aventuras em paisagens exóticas domesticadas e adaptadas nos parques temáticos que se espalham pelas regiões do planeta e que desprezam a riqueza das falas e culturas locais que, no fundo, revelam uma outra face do mesmo problema.
Essa nova onda coletivista afogou as artes, o pensamento e vem submetendo as projeções estratégicas contemporâneas dos mais diferentes setores.

Uma onda de criação coletiva voltou a excitar o ambiente artístico contemporâneo e trabalhos dessa corrente tem aparecido em muitas mostras internacionais de arte. 
Isso é mais uma das pontas do mesmo artifício. 
A complexidade dos elementos em jogo: estética, sociologismos, sobreposição de camadas desconexas de formas e códigos e a relação dessa produção com o mercado de arte me obrigam a dedicar um exame especifico sobre o assunto que será apresentado brevemente nesse HiperBlog
As partes do ensaio de Jaron. que escolhi(quase todo) expõe a extensão desse tsunami nos planos tecnológico, econômico e cultural.
Quem quiser ter acesso a integra do texto deve consultar o link do autor que colei nas primeiras linhas desse post.
Quem se interessar em dar os primeiros passos pode ir adiante com as palavras do próprio Jaron. 

Num trecho ele nos diz : "..a beleza da Internet está em conectar pessoas reais e seu valor está na troca entre elas. Se nós acreditarmos que a Internet é em si própria uma entidade que tem algo a dizer nós estaremos desvalorizando as pessoas e nos tornando idiotas."

Ao indagar por que o Wikipedia -fetiche do coletivismo on line -foi velozmente elevado ao nível de referência contemporânea, ele nos alerta para o brilho das armadilhas que podem capturar e usurpar o talento dos indivíduos, submete-los a clonagens e difundir erros ou aspectos palatáveis de um texto, extraindo a substancia autoral de uma obra literária, sem que ninguém se responsabilize por isso. 
Jaron descreve seu caso particular como um exemplo.
Ele reconhece como verdadeiro "... ter realizado um filme curta metragem experimental há aproximadamente uma década e meia atrás."
Contudo, segundo suas palavras:."..Era uma experiência baseada num conceito terrível. Eu imaginei Maya Deren agindo com mofina www.myspace.com/mayaderen. Esse filme foi mostrado uma vez em um festival, nunca foi distribuído e acho que seria mais confortável que ninguém mais o visse. 
No mundo real é fácil não ser cineasta, basta não realizar filmes.
Ocorre que mesmo tendo me restringido a uma película, o universo alternativo que é a Wikipedia insiste em me apresentar como cineasta.
Cada vez que corrijo minha entrada na Wikipedia eliminando esse dado dispensável de minha biografia, 24 horas depois ressurge alguém repondo essa informação e me tornando um diretor de cinema outra vez. 
Eu não posso pensar numa punição mais apropriada do que a Wikipedia me impõe por ter realizado esse velho filme. Somente essa semana repórteres me perguntaram duas vezes sobre minha carreira de cineasta. É possível que as pessoas que colam esses erros em minha Wikipedia bio (pelo menos antes da publicação deste artigo) pensem que estão me lisonjeando.

À medida que se impõe a sabedoria do coletivo:"... Ler uma entrada de Wikipedia é como a ler uma próxima bíblia. Os fracos traços das vozes dos vários autores e editores anônimos, embora dedicados, elevam a perspectivas de erros. 
Em meu caso particular, parece que os 'goblins' são provavelmente membros ou descendentes da velha cultura do Mondo 2000 que ligam a experimentação psicodélica aos computadores.
Eles parecem dar grande importância em relacionar minhas ideias àquelas de algumas celebridades psicodélicas. 
Editam espontânea e gratuitamente como similares coisas em tudo diferentes das ideias impares da subcultura. 
Isto só faz sentido se imaginarmos quem se ofereceria para pagar por tal dedicação e o porque de todo esse trabalho?

"...O Wikipedia é apenas uma experiência que ainda tem muito a mudar e crescer. É fato que quando revela o que as pessoas on line estão pensando carrega informações interessantes.Esse ensaio não é sobre o Wikipedia em si, ele pretende levantar o problema de como ele vem sendo usado e como foi subitamente distinguido por um elevado status.Apresentando como uma forma de coletivismo on line, que não é nada mais nada menos que o ressurgimento da velha idéia que o coletivo é sábio, o Wikipedia revela uma concentrada influência em um acesso que canaliza o coletivo e se apresenta como uma força da maioria. Isto é em tudo diferente da democracia representativa ou da meritocracia. Esta idéia não é nova e já teve conseqüências terríveis quando empurrada em cima de nós em vários períodos históricos. O fato novo é que agora sua re-introdução é movida por tecnologistas e futuristas proeminentes, pessoas que em muitos casos conheço, o que não torna o problema menos perigoso. Um estudo publicado no ano passado compara a exatidão do Wikipedia à Enciclopédia Britânica. A lentidão dos resultados desse estudo vem adiando um debate sobre sua validez. Os artigos selecionados para a comparação foram escolhidos à sorte.Dessa forma coube a Wikipedia tópicos da ciência sobre os quais o coletivo não se importa muito. “O Efeito Cinético do Isotope” ou “Vesalius-Andreas” são exemplos dos tópicos que fazem a Britânica dar duro para encontrar os autores certos para pesquisar e rever contradições de grandes volumes de tópicos diversos.Para Wikipedia esses são tópicos perfeitos. Nela há pouca controvérsia em torno desses artigos porque a rede fornece o acesso pronto a um número razoavelmente pequeno de estudantes competentes, graduados e especialistas, imbuídos da maníaca motivação da juventude.Uma opinião do núcleo do mundo do wiki é que o que os problemas que existem no wiki serão corrigidos e incrementados através do processo unfold (aberto). Isto é um processo análogo às reivindicações dos Hyper-Libertarians que põem fé infinita em um mercado livre, ou dos Hyper-Lefties que de algum modo torcem pelo sucesso dos processos de tomada de decisão por consenso. Em todos estes casos, parece-me que a evidência empírica rendeu resultados difusos. As atividades coletivas às vezes frouxamente estruturadas podem render melhorias contínuas, porém, maior parte das vezes não.Ocorre que não viveremos o suficiente para comprova-las.Primeiramente, é importante não perder de vista os valores apenas porque a pergunta sobre a sabedoria coletiva é muito fascinante.A exatidão de um texto não é o bastante. Um texto desejável é mais do que uma coleção de referências exatas. É também uma expressão da personalidade.Por exemplo, a maioria da informação técnica ou científica que está no Wikipedia já estava na correia fotorreceptora antes que o Wikipedia tivesse nascido.Usando o Google ou outros serviços de busca podíamos encontrar a informação sobre os artigos que são agora wikified. Em alguns casos observei que textos específicos do Wikipedia foram clonados dos locais originais em universidades ou em laboratórios.Quando isso acontece o texto perde parte de seu valor. Desde que os motores de busca começaram a apontar versões wikified, a correia fotorreceptora perdeu muito de seu sabor que surgia através do uso ocasional.Quando você vê o contexto em que algo foi escrito e reconhece traços do autor não apenas pelo nome, você aprende mais do que quando encontra o mesmo texto colocado de forma anônima, embasado por falsa autoridade e colocado de maneira anticontextual, preparado especialmente para o Wikipedia. A pergunta não é apenas sobre a autenticação e confiabilidade, embora importantes, o que perguntamos é algo mais delicado que diz respeito a uma voz detectada no todo. É bom ter sempre a possibilidade de detectar uma personalidade com sua fala plena de sentido, como são os casos de algumas Web pages pessoais que funcionam como os jornais ou livros.Até mesmo a Britânica tem uma voz editorial, ainda que alguns critiquem como sendo demasiado vaga, oriunda de Dead White Men “homens brancos inoperantes”.Se um Web site irônico dedicado ao cinema brincasse com meu personagem filmmaker seria uma estória diferente, engraçada e criativa ao contrario do contexto de minha bio no Wikipedia que se transformou em puro nonsense. Myspace é uma outra experiência recente que vem se tornando dia a dia tão influente quanto o Wikipedia. Como o Wikipedia, adiciona poucos dados aos atuais disponíveis na correia fotorreceptora.A diferença é que ela o faz insinuando o uso de um inspirado deslocamento dramático.Sendo basicamente composta por textos de autores Myspace não finge ser sábio. Você pode dizer pelo menos um pouco sobre o caráter da pessoa que fez uma página de Myspace. Mas é muito raro uma página de Myspace inspirar a mesma confiança e o mesmo deleite que uma publicação onde o autor é uma autoridade de reconhecido mérito.Contudo, concedo um ponto para Myspace nessa contagem! Myspace é mais rico por se tratar de uma fonte mais multifacetada de informação que o Wikipedia, embora tópicos similares se sobreponham nos dois serviços. Se você quiser pesquisar sobre um programa de tevê e saber o que as pessoas pensam dele, Myspace revelar-lhe-á mais do que as entradas análogas e enormes do Wikipedia.
E continua: O Wikipedia não é o único fetiche on line do coletivismo. Um frenético grupo de pessoas vem operando para ir além tornando Meta as rubricas on line.Tudo começou de forma inocente com a noção de criar diretórios de destinos on line como os que existem no Yahoo.Depois surgiu o AltaVista que tornou possível realizar buscas usando uma base de dados invertida ao índice da correia fotorreceptora. O Google adicionou algoritmos a suas páginas. Então vieram os blogs, que variam em termos de qualidade e importância. Isso conduziu aos meta-blogs como Boing Boing que funcionam através das pessoas identificadas que ali agregaram blogs. Em todas estas formulações as pessoas reais estão inseridas.Nesses casos um indivíduo ou indivíduos apresenta uma personalidade e fazem declaração de responsabilidade. Era de entendimento comum que a correia fotorreceptora estava ligada a pessoas e que o valor ascendia a partir da grandeza das conexões entre seres humanos reais fruindo coisas geradas por seres humanos igualmente reais. O Google hoje, ainda não é Meta o bastante para se constituir problema, mesmo quando estabeleceu ranking de suas páginas ainda permaneceu vinculado a alguma forma de autoria, porém, o acumulo dos procedimentos Meta pode vir a criar um murk (escuridão) sem sentido. No ano passado, ou nos dois anos anteriores, uma tendência de remover características pessoais ou a autoria vem sendo tratado com forte desempenho por inúmeros agentes.A remoção das características individuais visa chegar o mais perto possível da simulação da aparência no índice que emerge fora da correia fotorreceptora.Caso isso se concretize estaremos próximos de uma conversa com um profeta supernatural.Neste lugar a Internet cruza a linha da alucinação.Kelly Kevin um dos fundadores da conferência dos Hackers, editor executivo e fundador do Wired http://www.kk.org , é um amigo e alguém que tem pensado sobre o que chamam a mente Hive(quando os objetos não têm o estado individual são mais fáceis de combinar junto… e agregar serviços para dar forma a serviços mais poderosos...segundo Howard Lewis- nota adicionada por mim ao texto de Jaron ).Num Web site chamado www.fresco.org que é uma cruz entre um blog e o Whole Earth Catalog os contribuintes, incluindo eu próprio, não são hive porque são identificados. Em março Kelly reviu uma variedade de filtros de consenso como Digg e Reddit e notou uma miríade de locais agregados a correia fotorreceptora onde constatou características Meta em grande parte desses locais.Ali nenhuma pessoa real faz apreciação ou se responsabiliza no que nele aparece, o que se vê são apenas algoritmos. A intenção lhe pareceu ser a de que a maioria dos locais Meta se imponham como guardiões que zelam a passagem do gargalo por onde escoara desdobramentos infinitos.Em abril Kelly revisitou popurls agregados a correia fotorreceptora e constatou uma nova maioria Meta. A partir daí a equação revelou que um algoritmo coletivo se deriva de outros algoritmos coletivos que por sua vez derivam do outros coletivos que carregam trechos de textos ou textos inteiros de escritores profissionais reconhecidos que foram posteriormente agregados aos popurls por escritores amadores anônimos...Raramente os popurls incluem referencias sobre os dados que agregam.Tais referencias estão enterradas dentro das notícias que lhes deram origem,agregadas no Google, por exemplo.As noticias ou textos originais só podem ser descobertos se você escavar varias camadas agregadas para encontrar as fontes que são as raras entradas criadas realmente por escritores e por editores profissionais que assinam seus nomes.Por isso nos popurls os dados são no melhor dos casos iguais, sem contexto ou autoria.Kevin diz que através dos popurls podemos entender a mente hive. Para ele quando se perfura as camadas a mente hive se revela estúpida.Por que então tanta atenção à ela?
Certamente porque existe... uma conexão pedagógica entre a cultura da inteligência artificial e o estranho fascínio pelo coletivismo anônimo on line. Maior parte dos usuários do Google e do Wikipedia mencionam freqüentemente serem memória introdutória para que as IA (inteligências artificiais) se desenvolvam. Um popurls que visitei esta manhã especulava que IA pôde aparecer dentro do Google daqui a alguns anos. George Dyson quis saber que se tal entidade já existisse na rede como percebe-la no Google?No meu ponto de vista não cabe discutir a existência de entidades Metafísicas mas sim enfatizar como prematuro e perigoso que tais expectativas aprisionem intelectos humanos.
A partir do principio de que o agregador é mais rico do que agregado não fica difícil entender a elevação artificial do Meta e muito menos perceber porque o mito do coletivismo se tornou popular nas grandes organizações: O sucesso desse princípio dispensa responsabilidade individual sem correr riscos.Vivemos uma época de tremendas incertezas acopladas a uma enorme fobia por responsabilidade, devemos funcionar dentro das instituições que não são leais a nenhum executivo e muito menos aos membros de níveis mais baixos.Os indivíduos estão receosos de dizerem coisas erradas sobre a sua ou em sua organização, por isso é mais seguro se esconder atrás de um wiki ou de algum outro ritual de agregação Meta...
ultimamente tive possibilidade observar resultados curiosos quando participei de um wiki sobre wikis. O que eu vi é perda da introspecção, a negligência para as nuances de opiniões e o crescimento de uma tendência que preserva a opinião oficial ou normativa de uma organização.Por que não se grita sobre a recente epidemia de usos impróprios do coletivo? Parece-me que a razão é que as velhas e más idéias quando refrescadas e empacotadas pela nova tecnologia reeditam um certo encantamento.
Mais adiante ele diz:... O coletivo nem sempre é estúpido. Em alguns casos especiais pode ser brilhante. Por exemplo, há um ritual demonstrativo apresentado freqüentemente aos estudantes que iniciam em escolas de negócio.Uma das versões desse ritual coloca um grande frasco de jellybeans na frente de uma sala de aula. A cada estudante solicita-se quantos feijões estão dentro do pote. É um mistério, porém, a média das suposições revela, geralmente, um certo grau de exatidão.Este é um bom exemplo do tipo especial de inteligência que se pode obter de um coletivo.Esse traço peculiar foi comemorado como uma sabedoria das multidões, embora eu pense que a palavra sabedoria foi aí colocada de maneira equivocada. Tal ritual se assemelha a mão invisível de Adam Smith e pode ser uma das razões do surgimento dos algoritmos do rank da página do Google....O fenômeno é real e pode ser útil. Mas não infinitamente útil pois o coletivo pode ser também demasiadamente estúpido...A razão que o coletivo pode ser valioso é que seus picos de inteligência e estupidez não são os mesmos do que os geralmente produzidos por indivíduos. Ambos os tipos de inteligência são essenciais. O que faz um mercado trabalhar, por exemplo, é a união da inteligência coletiva e individual. O mercado não pode existir somente na base de preços determinados pela competição. Necessita também dos empreendedores que enxergam acima dos produtos em competição. Ou seja os indivíduos inteligentes, homens do mercado que fazem as perguntas que serão respondidas pelo comportamento coletivo.São eles que põe os jellybeans no frasco. Há determinados tipos de respostas que não podem ser fornecidas por um indivíduo. Quando um burocrata do governo ajusta um preço, por exemplo, o resultado é freqüentemente inferior à resposta que viria de um coletivo razoavelmente informado que consiga escapar dos efeitos das variadas formas de manipulações...Aqui devo fazer um comentário ao esforço do Linux e similares. As várias formulações sobre software livre são diferentes do Wikipedia e dos Meta. Os programadores de Linux não são anônimos e o sucesso pessoal é uma motivação que mantem tais empresas em movimento. Mas há algumas similaridades, uma delas é a falta de sensibilidade, ou voz, no sentido estético do projeto.Essa é uma característica negativa comum aos softwares abertos e ao Wikipedia...O coletivo é bom para resolver problemas que exigem resultados que podem ser avaliados por parâmetros de desempenho alheios a controvérsias, porém, são ineficientes quando o gosto e o julgamento são dados importantes....eu penso que é importante demarcar o limite entre o pensamento e a mentira coletiva: O coletivo é provavelmente mais clarividente quando não está definindo suas próprias perguntas e quando a integridade de uma resposta pode ser avaliada por métodos simples (tal como um único valor numérico) e quando o sistema de informação nos revela a filtragem através de um mecanismo de controle de qualidade onde os indivíduos têm um grau elevado de responsabilidade. Sob essas circunstâncias um coletivo pode ser mais argucioso do que uma pessoa. Ao se quebrar qualquer dessas circunstâncias o coletivo torna-se errático e ruim.
Diante de exemplos autênticos da inteligência coletiva percebi que os bons resultados são em parte guiados ou inspirados por indivíduos de bom-senso que dele participam. Essas pessoas ajudam o coletivo a focar argumentos e a corrigir falhas comuns à “mente hive”. Equilibrar a influência entre pessoas e coletivos é o coração do projeto das democracias, das comunidades científicas, e de muitos outros projetos de longa duração. Algumas velhas idéias podem despertar novo interesse quanto mais aprimorado seja o uso da “mente hive”.O mundo pré-Internet fornece bons exemplos de controle que pode melhorar o desempenho da inteligência coletiva. Por exemplo, a imprensa independente publica uma notícia atraente sobre políticos escrita por repórteres de reputação, como o relatório de Watergate de Woodward e de Bernstein.No correr dos fatos muitos outros escritores fornecem revisões do produto, tais como Walt Mossberg do Wall Street Journal e David Pogue do New York. Esses jornalistas informam com determinação e critério os percalços, os resultados e o preço da eleição. Sem uma imprensa independente, composta de indivíduos com idéias próprias e responsabilidade autoral o coletivo torna-se estúpido e equivocado, como foi demonstrado em muitos exemplos históricos. (eventos recentes na América refletem enfraquecimento da imprensa, em minha opinião).As comunidades científicas também conseguem do mesmo modo manter a qualidade com um processo cooperativo que inclue verificações e contrapesos. Tais procedimentos se constituem filtros de retenção ou uma “cortina”, no sentido ideal qualquer um pode ter acesso, desde cumpram as exigências da meritocracia.O coletivo não melhora o processo acadêmico onde os indivíduos apresentam suas idéias originais bem construídas, para o mundo acadêmico esses são os dados que realmente importam.Um outro exemplo: Os empreendedores não são os únicos “heróis” do mercado. O papel de um banco central em uma economia não é o mesmo de um oficial do partido comunista em uma economia centralizada de planejamento...Nenhum mecanismo é perfeito, porém ainda nos beneficiamos das velhas instituições. Certamente sempre houve abundância de péssimos repórteres, cientistas acadêmicos iludidos, burocratas incompetentes, corrupção e assim por diante.A pergunta que se faz é como percebe-las e reduzir as possibilidades de erros reincidentes? As experiências acumuladas do mundo pré-Internet nos revelam que “sim”, somos capazes de perceber e corrigi-los identificando os responsáveis.Porém, a mente hive seria capaz de percebe-los e revelá-los?
Aqueles que até aqui partilharam as idéias de Jaron se informaram sobre as questões que pairam e as duvidas que permeiam os setores de ponta na chamada pós-modernidade.Aqueles que quiseram ir mais fundo recorrendo a versão original do ensaio tiveram oportunidade de se informar sobre outros textos do autor . O melhor disso tudo é que podemos constatar vozes autonomas e originais rompendo o silencio e atravessando a cortina de fumaça que encobre as decisões consensuais, os equívocos ocultados pela fé cega no novo coletivismo on line, o glamour envolvente do ambiente cosmopolita internacional e os laboratórios das novas tecnologias da informação adentrando a dimensão dos interesses, as mentiras e as verdades do mundo em que vivemos e as razões da atração generalizada pelos ícones da contemporaneidade, tanto no plano das pessoas reais quanto numa misteriosa,e por isso mesmo atraente,dimensão Meta."

Adriano de Aquino
Outubro de 2006

O Nome do Belo




De um objeto sem nome não sabemos o que fazer.
Maurice Blanchot

O homem carrega dentro de si o medo do desconhecido; para disfarçar este medo, ele atribui um nome ao fantasma que não conhece. A fala toma conta da coisa, uma espécie de abrigo onde o homem se protege, negando a coisa e reconstituindo-a longe do terror do real. O objeto, depois de nomeado, passa para o mundo da linguagem. Como um ser atravessado pela palavra, o homem se aproxima ou se distancia do mundo e das coisas, apropria-se do real e tenta dominar o desconhecido. A coisa e o mundo tornam-se imagens e conceitos, longe daquilo que o homem não desejava ver: as suas obscuras existências que ameaçam o seu saber organizado. Para se tornar mestre dos animais, Adão lhes impôs um nome aniquilando suas existências, (Hegel citado por Blanchot). Na busca da cômoda ilusão de ver um mundo ordenado e deter o incômodo do desconhecido, o homem usa do poder da palavra, subtraindo do ser a sua existência, mergulhando-o no nada da linguagem. Retendo enigmas inexplicáveis. A compreensão equivale a um assassinato da coisa, o conceito é a ausência do ser. Por mais que a fala se aproxime do objeto, há sempre um abismo entre o que se vê e o que se enuncia. O objeto é sempre diferente dos inventários das percepções possíveis. O medo nos esvazia, causa pânico. É preciso encontrar um lugar, um conceito, para se depositar o que não se entende. É impossível para o homem suportar a coisa sem nome. O acesso mais fácil ao objeto ocorre a partir do que se pode falar sobre ele, condição imposta pelo desejo de conhecimento. Para isto é preciso nomear o desconhecido, submetê-lo à lei da fala. O inexplicável é sempre um fantasma que angústia o homem. Ao se defrontar com a arte e sua maldição do incompreensível, ele procura se defender atrás de um nome. É como se o objeto sem uma designação ferisse o olhar.

"Je ne peins pas une famme, je fais um tableau¨.

Matisse

O artista inventa a ilusão de uma obra para transgredir a linguagem, ou como queria Bataille, para pensar o impossível. Ao acumular um sistema de signos perverso, o olhar do artista vem reclamar a presença de um sujeito angustiado no conhecimento do mundo, um sujeito que desafia o desconhecido. A arte não pretende explicar o mundo, mas transformar sua imagem e aprofundar seu enigma. Ela tem como tema a essência da linguagem, uma linguagem inquietante e contraditória, cercada de incertezas, que são as próprias incertezas do homem diante de seu destino. Com a experiência moderna, a arte mergulhou num túnel atrás do novo, de possibilidades desconhecidas de olhar. Momentos do belo que assumiram designações, uma mania do ocidente de tudo regulamentar e encaixar num determinado lugar. Todo movimento tinha um nome, gerando um desencadeamento de "ismos", que fazem a história do belo moderno. O homem recorre à palavra para esconder seu medo de não entender esse objeto silencioso, que projeta uma sombra desconhecida e provocadora. A materialidade da arte poderia ser um fato sem explicação, embora ela garanta sua existência independente de conceituações; o homem precisa explicá-la, nomear sua intimidade, para se sentir seguro do terror daquilo que não faz parte do seu modelo de conhecimento. É interessante ver, como exemplo, as origens de certos nomes do belo moderno: A ironia de um crítico ao jovem pintor francês George Braque, ao afirmar que este reduzia o mundo a cubos, veio dar nome ao movimento de onde saiu as principais tendências da modernidade: o Cubismo. O Dadá veio de uma palavra tirada por acaso do dicionário "Larousse", que significava "Cavalo", na linguagem infantil. Palavra que não definia nenhum programa, a não ser, a estranheza e a irreverência de um grupo de artistas com a sociedade e a própria arte. Não se fala para dizer alguma coisa, mas para dominar o mundo e as coisas, para evitar o fantasma que não se sabe de onde veio e para que serve. Ou para negar a natureza da obra de arte, torná-la legível e estabelecer uma retórica da ordem cultural. Mas a fala não é suficiente para deter o complexo de "problemas" e "segredos" que envolvem uma obra de arte. Merleau-Ponty nos fala de um olhar interior, um terceiro olho que vê a obra de arte, que vê o nada que ela acrescenta ao mundo para celebrar o enigma da visualidade. Depois de mais de cem anos de arte moderna marcada de rupturas e cortes com a história, era preciso se livrar da angústia do novo contra a tradição, encerrar este tempo moderno e fazer retornar o que foi esquecido. O que poderia vir depois do desencanto com o moderno e seus estilos, para dar conta dos novos procedimentos na linguagem da arte, só poderia ter um nome: Pós-Moderno, e encerrar definitivamente o difícil desejo de esquecer o passado e voltar o sonhar com ele, sem o complexo de culpa de não ser moderno. A realidade da obra de arte não se limita à realidade definida por um conceito; qualquer definição não passa de tautologia. A arte vive este drama do lugar incerto, da necessidade de um nome que não a define. Ela não busca nem a verdade, nem a utilidade, ela imita realidade imaginárias, para estabelecer novas relações simbólicas com o mundo. Se não há falas sem respostas, a obra fala para demandar de quem a olha, respostas silenciosas. Sustenta a fala do outro mas não se deixa seduzir pelas verdades contidas nela. O desejo de dar nome, classificar o estilo, explica-se pelo fato de que a percepção é condicionada por costumes e convenções. "Só se vê o que estamos preparados para interpretar'", diz Peirce. Como o sábio que se limita dentro de seu próprio saber, vê o que está ao seu redor a partir do que sabe. Por ser enigmas, as obras de arte irritam a teoria da arte (Adorno) e incomodam o olhar desavisado. Elas se resumem em questões insolúveis, porque, se respondem alguma coisa, respondem para si mesmas, falam de suas inquietações particulares. A designação pós-moderna é também mais um lugar incerto para acomodar um outro momento incompreensível da arte, às custas de novas explicações. A identificação serve para fingir uma percepção a respeito da estranheza da arte com o cotidiano, ou escamotear o medo diante do silêncio da obra, que resiste aos conceitos, ao tempo e ao riso do contemplador. O sintoma pós-moderno faz retornar a nostalgia da tradição diante de um espelho moderno que reflete o velho desacordo entre o conceito e a obra de arte. Este objeto escorregadio, onde o homem sublima sua violência primitiva, muda de forma, muda de cor, troca de matéria e recebe outros nomes.


Almandrade
artista plástico, poeta e arquiteto

quarta-feira, outubro 04, 2006

Bienal de São Paulo:Um morto barulhento

Controvérsias reaparecem a cada nova edição da Bienal São Paulo. Ela se origina na crise das formas de amostragem de arte, conceituação e modelo de gestão dos grandes eventos. Muitos afirmam que as mega-exposições há muito deixaram de ser um elo intermediário ativo entre a pluralidade das experiências estéticas e o publico. Essas opiniões coincidem com os protestos de vários grupos contra a investida mercantil sobre os produtos artísticos, associados a esse tipo de evento.

Críticos das feiras de arte e das grandes mostras internacionais focam suas ofensivas sobre os métodos do marketing cultural que enfiou turismo, antropologia, divertimento, arte e cultura num mesmo saco, melhor dizendo, num mesmo ambiente refrigerado e lacrado contra ruídos da cultura contemporânea que ficam do lado de fora.

As grandes mostras tornaram-se paquidermes em processo de desintegração. Os curadores investem sobre o que resta de orgânico sobre um material em decomposição.

As sucessivas mudanças artísticas provenientes da dinâmica da era dos meios eletrônicos expandiram consideravelmente as formas de expressão.

Qualquer pessoa minimamente informada supõe que a variedade de informações hoje disponibilizadas produziu um enorme impacto na vida social, Achar que a criação artística ficou imune, protegida no casulo da genialidade criativa é pura tolice.

Porém, heróicos curadores, se prontificam a salvar os restos mortais da instituição e reabilitá-la, transformando-a num zumbi transglobal.

Será que acreditam poder voltar no tempo e nos surpreender, reeditando as polêmicas bienais do passado, realizadas entre os anos 60 e 80.

Quem não se lembra da controvertida Bienal de Veneza de 1980, que serviu de vitrine à versão de Charles Jencks para o pós-modernismo.Esse foi o último elo de ligação efetiva das grandes mostras com as questões expressas pela arte, a reflexão e o entusiasmo do público. A partir de então assistimos a repetição do mesmo show com pequenos cortes particulares.
Esses cortes são resultantes do sopro criativo dos curadores. Muitos concordam que as grandes mostras tornaram-se rituais que orbitam em torno dos curadores. Cultuados e temidos, essa nova espécie de “mecenas” vem perturbando o sono de muitos artistas. De um tempo para cá o mundo das artes foi envolvido por uma atmosfera artificial carregada de ansiedade.
Motivos não faltam.
O mais significativo tem origem nas vertentes radicais dos movimentos estéticos para além da vanguarda modernista.
As atitudes artísticas que antecederam os últimos vinte anos, marcadas pela transitoriedade, romperam barreiras e descortinaram conceitos, trazendo à tona novas formas de expressão. Uma enorme variedade de estilos coincidiu com a atração generalizada pelo efêmero, despindo as obras da contemporaneidade das características outrora reconhecíveis como “arte burguesa”. Porém, tais atitudes resultaram num paradoxo que parece não preocupar alguns artistas e gestores das instituições culturais. Dentre as inúmeras questões a mais aparente é a consolidação de um estilo mundial de arte inscrito nas performances, instalações, intervenções coletivas, grafites e outros gestos identificados como formas de arte mais representativa da atualidade.

Ocorre, entretanto, que tais gestos já duram mais de vinte anos, ou seja, se projetam acima da média de vida de quase todo estilo internacional de arte. A história é farta em exemplos que nos confirmam que a longa permanência de um modo de arte conduz ao esgotamento levando grande parte da produção a procedimentos quase mecânicos e a ostensiva banalidade. É inconcebível, mesmo para um leigo, que artistas, diretores e curadores desconheçam o calendário das correntes estéticas da segunda metade do século XX, quando a Bienal de São Paulo passou a existir. Uma rápida olhada sobre a descontinuidade de estilos pode esclarecer muita coisa. A pop art que surgiu na Inglaterra de meados dos anos 50, realizou todo o seu potencial na Nova York dos anos 60. O expressionismo abstrato dominou as décadas de 1940 e 1950. O minimalismo desenvolveu-se durante os anos 50/60 etc.

É, portanto, no mínimo curioso que as diversas variantes da produção artística atual, ligadas à idealidade e a estética de muitos artistas do período que antecede os anos 80 e que se autodenomina livre plural e transitória desvencilhada de regimes estéticos ou sistemas, seja tão longeva.

Além disso, a relutante insistência da Bienal de São Paulo em permanecer surda às criticas contra a idéia de reunir obras de arte em torno de um tema tornou-se uma teimosia típica das dinastias do passado. Na edição 2006 por exemplo, na falta de um mote próprio, apóia-se em distintos campos do saber que lhe confiram substancia. Persistindo no equivoco escolheu o titulo Como Viver Junto, inspirado em seminários de Roland Barthes no Collège de France realizados em 1976-77. O que essa escolha nos revela? Dentre as muitas vicissitudes, a falta de parâmetros apropriados ao tempo presente e uma certa preguiça de empenhar-se na busca de uma configuração capaz de revelar uma parte da crise e a diversidade da produção artística da atualidade. Reflexos objetivos dessa política podem ser vistos na perda da visibilidade pública das expressões estéticas comprometidas com a tecelagem de tramas simbólicas, ou seja, narrativas. Em resumo, na sua extensão mais objetiva essa política impõe uma visão “única” da arte da atualidade.

Coisa velha e decadente, aqui em Kassel, Lisboa, Madri ou Istambul.